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outubro 5, 2011
Viagem à terra do Marlboro por Paula Alzugaray, Istoé
Viagem à terra do Marlboro
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 30 de setembro de 2011.
Fundação Bienal traz importante coleção de museu de Oslo e promove viagem não linear à arte norte-americana dos últimos 30 anos
Em nome dos artistas – Arte contemporânea norte-americana na Coleção Astrup Fearnley/ Fundação Bienal de São Paulo, SP/ até 4/12
Habituados que estamos às irregularidades e aos sobressaltos entre as obras das bienais de São Paulo, torna-se surpreendentemente tranquilo caminhar pelas arejadas salas dedicadas a Matthew Barney, Jeff Koons, Cindy Sherman, Doug Aitken, Felix Gonzalez-Torres, Nan Goldin, Richard Prince – entre outros artistas icônicos norte-americanos dos anos 80 e 90 – no terceiro andar da exposição “Em Nome dos Artistas – Arte Contemporânea Norte-Americana na Coleção Astrup Fearnley”. Programada em comemoração aos 60 anos da Bienal de São Paulo, a mostra expõe um recorte de 219 obras do acervo do museu norueguês. A escolha do curador Gunnar Kvaran, diretor da instituição, se deu sobre 50 artistas norte-americanos ativos entre 1980 e 2010 e mais uma “concessão poética”: uma coleção de obras do artista britânico Damien Hirst de tirar o fôlego.
A exposição está dividida em três “capítulos”. A introdução – triunfal – fica por conta do britânico Hirst, que foi tachado de sensacionalista depois de incendiar a arte e a opinião pública nos anos 90 com seus animais dissecados e conservados em tanques de formol. “Decidimos trazer Hirst porque ele tem uma posição especial na coleção”, afirma o curador Kvaran. “Em 1993, quando ele surgiu, fomos provavelmente a primeira instituição europeia a adquirir suas obras.” Por esse motivo, a coleção Astrup Fearnley tem uma boa representatividade de seu trabalho e, assim, torna-se possível ao público compreender a trajetória e as motivações escatológicas desse artista controvertido. “Além do mais, há um link entre Hirst e a nova geração norte-americana”, sugere Kvaran.
O link fica evidente no terceiro andar do Pavilhão da Bienal, onde o curador instalou o capítulo dos grandes nomes dos últimos 30 anos. Se Hirst colocou animais em aquários nos anos 1990, o norte-americano Jeff Koons começou a instalar ícones da vida americana dentro de vitrines já no início dos anos 1980. Em “Three Ball Total Equilibrium Tank” (1985), ele coloca três bolas de basquete em um aquário e antes disso, em 1981, criou um tanque de luz fluorescente para os aspiradores Hoover e as enceradeiras Shelton. Com clara influência das sopas Campbell’s de Andy Warhol, os altares domésticos de Koons são bem anteriores à série que fez dele o grande artista pop depois de Warhol e antes de Hirst: “Made in Heaven” (1991), em que se autorretrata em cenas de sexo tórrido com a atriz pornô italiana Cicciolina, com quem foi casado entre 1991 e 1992. Em uma sala proibida para menores, há duas fotografias do love de Koons com Cicciolina.
O roteiro da arte produzida na terra do Marlboro continua no segundo andar, onde Kvaran optou por instalar a nova geração, ainda não consolidada – embora o suficiente para ser introduzida em grandes coleções, como a do colecionador Hans Rasmus Astrup, que está entre os 200 maiores do mundo. No segmento “young americans” há muito mais experimentalismo – o que faz desse andar um espaço mais parecido ao das bienais – e gratas revelações, como Paul Chan, com sua magnífica instalação luminosa “The Seven Lights”, dividida em sete salas.
Andrea Matarazzo fala das controvérsias de sua gestão em entrevista exclusiva por João Luiz Sampaio, Maria Eugênia de Menezes e Ubiratan Brasil, www.estadao.com.br
Andrea Matarazzo fala das controvérsias de sua gestão em entrevista exclusiva
Entrevista de João Luiz Sampaio, Maria Eugênia de Menezes e Ubiratan Brasil originalmente publicada no caderno Cultura do Estadão em 8 de setembro de 2011.
Secretário de Estado da Cultura de São Paulo fala sobre polêmicas e mudanças em projetos
Leia também : Dossiê MIS e Paço das Artes: A morte anunciada de um modelo de gestão
Na entrevista a seguir, o secretário de Estado da Cultura, Andrea Matarazzo, aborda temas como o Festival de Inverno de Campos do Jordão, a nova sede do Museu de Arte Contemporânea e as trocas no comando do Museu da Imagem e do Som, em declarações repercutidas na classe artística paulista.
Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão
"Pretendo transferir o comando do festival, hoje feito pela Santa Marcelina e pela Escola Tom Jobim, para a Osesp. A Santa Marcelina estava sobrecarregada. Como teremos uma ampliação do projeto Guri, preferimos redistribuir o festival. A Osesp ainda está preparando o projeto, mas a intenção é manter a orientação pedagógica atual."
O Estado apurou:
A Osesp já está sobrecarregada. Tem tocado mais e ensaiado menos. Aumentou consideravelmente seu número de concertos. Em 2009, segundo o Relatório Anual de Compromisso Social, foram 228 apresentações, além de 51 ensaios/concertos didáticos; em 2010, o número subiu para 252, mais 60 ensaios/concertos didáticos. Esses dados não incluem as sessões de gravações. Por conta do acúmulo de trabalho, os ensaios de segunda-feira foram cancelados. A Osesp também não tem experiência pedagógica na execução de um evento nos moldes de Campos do Jordão. Sua academia, bastante recente, conta com apenas 20 alunos e ainda não apresentou resultados pedagógicos consistentes.
O tamanho do festival
"O festival terá a dimensão de sempre. Não terá a dimensão que teve em 2010, quando cresceu muito. Na última edição, não houve redução, mas uma volta ao tamanho usual."
O Estado apurou:
Havia um processo de crescimento do festival, anunciado em 2009 e interrompido em 2011. Houve redução no número de concertos, que passou de 83, em 2010, para 55, em 2011. Também houve diminuição de orçamento - de R$ 6,5 milhões para R$ 5,5 milhões -, de duração - de 29 para 20 dias - e do número de bolsistas - de 170 para 164.
Nova sede do MAC
"O prédio está pronto. Negociamos R$ 10 milhões para a manutenção. Mas tive a surpresa de receber uma carta falando do problema do centro acadêmico da Faculdade de Direito da USP. Mas terei uma reunião com o reitor para definir uma data. Vazio o prédio não vai ficar. Poderíamos instalar uma coleção contemporânea da Pinacoteca, por exemplo."
O Estado apurou:
Diante da relutância do reitor, a Secretaria começou a negociar com a Pinacoteca. O prédio seria destinado a acomodar coleções privadas contemporâneas. As negociações entre Secretaria e USP só foram retomadas após interferência direta do Palácio dos Bandeirantes. Reitor e secretário se reuniram na Casa Civil.
Complexo Cultural da Luz
"Não houve corte de 30%. O complexo nasceu com um tamanho, mas foram acrescentando coisas nele: uma escola de dança, uma central de produção de cenários. O contrato assinado não previa o tamanho do prédio. Agora, chegamos às medidas ideais. São 71 mil m², que é o tamanho do Lincoln Center."
O Estado apurou:
O contrato assinado entre a Secretaria e o escritório Herzog& deMeuron, em 2008, baseava-se em um programa elaborado pela empresa inglesa Theatre Project Consultants. Nesse documento, que consta como anexo do contrato, estavam previstas a Escola de Dança e a Central de Produção. Havia também tamanhos especificados para todas as áreas.
Escola Tom Jobim
"A sede da escola dentro do Complexo Cultural da Luz foi reduzida porque estava superdimensionada. Havia espaço previsto para 4 mil alunos. Mas a escola só tem 1.800. Ela vai abrigar a escola integralmente, com capacidade para até 2 mil alunos."
O Estado apurou:
A área prevista para a escola dentro do complexo não se baseava em uma previsão de crescimento, mas nas necessidades do número atual de alunos. Em abril de 2010, a área destinada à Tom Jobim era de 5.900 m². Em julho deste ano, essa previsão caiu para 2.580 m², um tamanho inferior à área que a escola já ocupa em sua sede atual: 3.700 m².
Museu da Imagem e do Som
"A troca de diretoria no MIS foi necessária, pois o museu era caro e restrito. Então, fomos ajustando as diretorias, apertando os controles. André Sturm não foi indicado por mim. Apenas sugeri o seu nome ao conselho, que aceitou minha sugestão. A Organização Social do MIS não estava cumprindo metas. Eu poderia ter simplesmente descredenciado e colocado outra no lugar. Sempre que sentir que os recursos públicos não estão bem aplicados, vou interferir sem cerimônia."
O Estado apurou:
"Não foi apenas uma sugestão. Houve pressão política para que o conselho aceitasse o nome de André Sturm", diz Eide Feldon, ex-presidente do Conselho do MIS. "Faltou negociação." Ela também assegura que não houve descumprimento de metas por parte da OS. "Tivemos crises, mas todas as metas estavam sendo cumpridas. Ele não tinha motivos para descredenciar a OS." A lei que dispõe sobre as Organizações Sociais do Estado, assinada pelo governador Mario Covas em 1998, é clara: apenas o Conselho Administrativo da OS pode "designar e dispensar os membros da Diretoria". O professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas, Mario Engler, explica que a legislação não prevê que caiba ao governo nomear ou destituir os membros de uma OS. "Essa influência do poder público até pode acontecer, mas em um cenário de descumprimento reiterado das obrigações por parte da OS."
SP Escola de Teatro
"O novo prédio, na Praça Roosevelt, está pronto. Só tivemos uma dificuldade na compra dos móveis e do elevador. Eles não mudaram ainda porque estão enrolando um pouco. Existe espaço suficiente para todas as atividades da escola. Eles é que fizeram o projeto do prédio. Eu herdei isso. Eles é que dimensionaram, agora tem que caber."
O Estado apurou:
A diretoria da escola nega ter participado diretamente da elaboração do projeto da sede na Praça Roosevelt. Não haveria, no novo prédio, área suficiente para abarcar todas as atividades que hoje são desenvolvidas pela SP Escola de Teatro em sua sede provisória, no Brás.
Conselho da Osesp
"Não vou me meter no Conselho da Osesp. Se aceitaram a indicação de Lilia Schwarcz é porque ela tinha qualificações. Não me parece que haja algo estranho no fato de ela ser mulher de Luiz Schwarcz. Não há impedimento legal."
O Estado apurou:
Em agosto, deixaram a Fundação Osesp os conselheiros Luiz Schwarcz, Pérsio Arida, José Ermírio de Moraes Neto e Celso Lafer, que foram substituídos por Lilia Schwarcz, Alberto Goldman, Fábio Barbosa e José Carlos Dias. A troca seria uma maneira de manter Schwarcz, que foi o principal responsável pela escolha da maestrina Marin Alsop para o posto de regente titular, ligado à instituição, já tendo em vista o encerramento do mandato de Fernando Henrique Cardoso na Presidência do conselho.
outubro 3, 2011
Pintor retrata artistas pernambucanos como criminosos em exposição no Recife por Júlio Cavani, Diário de Pernambuco
Pintor retrata artistas pernambucanos como criminosos em exposição no Recife
Matéria de Júlio Cavani originalmente publicada no jornal Diário de Pernambuco em 3 de outubro de 2011.
Na exposição Capturados: retratos de 25 artistas pernambucanos, o pintor Roberto Ploeg mostra colegas como Gil Vicente, José Cláudio, Tereza Costa Rêgo, Gilvan Samico e Badida, entre outros, retratados como criminosos que acabaram de ser presos. As pinturas os apresentam com rostos baixos, como quem foge da câmera. Uma metáfora da prisão que é o retrato e da relação de fuga-aparição dos artistas com o público.
A exposição fica em cartaz até 29 de outubro na Galeria Mariana Moura (Rua Professor José Brandão, 163, Boa Viagem). Visitação: De segunda à sexta-feira, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 13h Informações: 3465-5602
Leia o texto de apresentação da mostra:
Capturados
Os padrões visuais do fotojornalismo policial são traduzidos para a linguagem da pintura nesta série de retratos de artistas contemporâneos pernambucanos. As definições de enquadramento e iluminação são baseadas em fotos de criminosos que acabaram de ser levados para as delegacias. A gestualidade corporal expressada pelos "modelos" vem das "poses" dos indivíduos recém-encarceirados. O vocabulário espacial da foto de jornal (espontânea, imediata, instantânea, quase mecânica) transforma-se em uma premissa estética a ser adotada por Roberto Ploeg ao pintar seus semelhantes.
Esconder o rosto, evitar olhar para a câmera, cobrir a cabeça com a camiseta e ocultar as mãos algemadas são reações comuns de bandidos que não querem ser reconhecidos nas páginas dos jornais. Para artistas, revelar e tornar pública a identidade pessoal pode ser algo incômodo, supérfluo ou, pelo contrário, até mesmo essencial. A obra sempre é mais importante que o criador, que se sentirá livre para se esconder atrás (ou fora) dela, a não ser nos trabalhos de natureza performáfica ou explicitamente autorreferente (como os autorretratos). O verbo separa o sujeito do objeto, mas ao mesmo tempo cria uma ligação sintática entre os dois.
Apesar de Pernambuco ter atravessado duas décadas como o estado com maior número relativo de homicídios no Brasil (estatística digna de parâmetros internacionais, dado o grau de violência urbana do país), foram poucos os artistas locais a abordarem o assunto em suas produções poéticas. Na série de pinturas Ecce Homo (2007), por meio de telas inspiradas em reproduções de fotos policiais jornalísticas, Ploeg registrou o sentimento onipresente de insegurança da população. A experiência daquela época serviu de pesquisa prévia para os procedimentos cênicos agora simulados. No lugar de pintar homens presos, porém, ele passa a simbolicamente incriminar a própria comunidade artística de que faz parte e assim se projeta na questão.
Com influencia visível e assumida de David Hockney, artista inglês que equipara a fotografia casual à pintura em trabalhos como os Polaroid Portraits, Roberto explicita marcas fotográficas (luzes de flash e sombras recortadas) em suas telas. Antes de pintar os artistas, ele os fotografou e usou as fotos como referência direta para a confecção dos quadros. A câmera, portanto, tem papel determinante sobre o resultado final.
Os retratados são usados, de certa forma, como atores. Há uma direção por parte daquele que os pinta (e os fotografa). A naturalidade está em suas personalidades físicas, traços faciais e estruturas anatômicas, mas não em suas posturas dramáticas no momento da captura. A ficção se impõe sobre o realismo.
A referência ao universo policial não deve, apesar de tudo, quebrar algumas intenções celebrativas evidenciadas pelas obras, pois há um indisfarçável desejo de confraternização por parte de Ploeg, que aceita o risco de brincar com coisa séria. A própria intimidade necessária para a realização de tais pinturas aponta para a amizade existente entre os envolvidos no processo. O ato de prender pode estar simplesmente no gesto de retratar, aprisionar dentro de um retrato, enquadrar.
Todas essas tensões se dilatam em maior ou menor grau de acordo com cada artista apresentado. Os temperamentos pessoais interferem sobre a pertinência simbólica do retrato e a própria obra artística de cada um pode repercutir sobre a exposição dos rostos e corpos. Gil Vicente e Carlos Melo já retrataram a si mesmos em suas obras, seja por desenhos ou fotografias. Ao transportá-los para suas pinturas, Ploeg cria uma consequente continuação daqueles autorretratos ou performances públicas. Reynaldo Fonseca e Gilvan Samico, apesar de consagrados, não costumam mostrar a face na mídia. Assim, evitar olhar para a câmera do pintor seria um comportamento mais comparável ao de uma celebridade resistente diante de um paparazzi do que ao de um criminoso comum. Há casos em que a imagem midiática da pessoa em questão é desconstruída: Thina Cunha, mulher elegante, que sempre figurou em colunas sociais, é recontextualizada em trajes domésticos informais; Tereza Costa Rego, bastante evidenciada publicamente e aberta às lentes de todos, vira o rosto, de óculos escuros, e usa as mãos para tentar bloquear a abordagem do fictício fotógrafo.
Ploeg é um pintor no sentido consagrado do ofício. Figurativo, perfeccionista, narrativo. Sua missão essencial é representar o mundo por meio da aplicação equilibrada de tinta sobre uma superfície. O interesse pelo retrato, mais do que um exercício de gênero, vem de sua formação humanista herdada dos estudos da Teologia da Libertação, que o trouxeram da Holanda ao Brasil há 32 anos. Retratar (pintar o outro) é estar disposto a passar horas debruçado sobre o corpo e o espírito de alguém. Se os personagens da exposição são artistas de Pernambuco, é porque são esses que estão ao seu redor, sem regionalismos. Caso ele vivesse em outra cidade ou país, seu interesse recairia sobre os colegas daquela suposta situação geográfica. Não há como assegurar, contudo, que ele encontraria tanto acolhimento afetivo em outra paisagem.
Interior de SP entra no circuito da arte por Juliana Coissi, Folha de S. Paulo
Interior de SP entra no circuito da arte
Matéria de Juliana Coissi originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 3 de outubro de 2011.
Instituto Figueiredo Ferraz exibe coleção particular com Adriana Varejão, Tunga, Iole de Freitas e outros
Inaugurado em Ribeirão Preto, novo museu terá parceria com instituições de arte da cidade de São Paulo
O colecionador João Carlos de Figueiredo Ferraz, 59, abre ao público amanhã em Ribeirão Preto, no interior paulista, o instituto que leva seu nome e pretende pôr a região no mapa das artes do país.
Com um acervo de quase mil obras, entre quadros, esculturas e instalações, Ferraz, paulistano que vive na cidade do interior desde os anos 80, pode ser considerado um dos maiores colecionadores do país, segundo especialistas ouvidos pela Folha.
Entre os artistas de seu acervo estão Leda Catunda, Adriana Varejão, Vik Muniz, Tunga, Iole de Freitas e Nuno Ramos, além de estrangeiros.
Agnaldo Farias faz a curadoria de "O Colecionador de Sonhos", mostra de abertura do museu, com 154 obras do acervo de Ferraz. A visitação, de terça a sábado, é gratuita.
Segundo Farias, um acordo com a Pinacoteca do Estado, o Instituto Tomie Ohtake e o Itaú Cultural deverá propiciar a ida de exposições desses espaços, na capital paulista, para exibição no Instituto Figueiredo Ferraz.
"Vamos receber e também propor exposições", afirma Farias, que já foi curador da Bienal de São Paulo.
Fora do eixo Rio-SP, a referência para a arte contemporânea é Inhotim, instituto próximo a Belo Horizonte, com um acervo de 500 obras.
"Boa parte das obras lá foram elaboradas para aquele espaço. No meu caso, é o oposto: eu tinha já coleção e faltava espaço para ela." O colecionador quer, agora, concretizar um segundo desejo: promover em 2013 uma exposição inédita que reúna obras de artistas que despontaram na década de 1980 em torno do ateliê Casa 7. Nuno Ramos, que fez parte do grupo e está na mostra atual, diz que faltam ações no país como a de Ferraz.
"Vejo um número razoável de colecionadores, mas poucos que conseguem mostrar a coleção ao público."
Mostra na Bienal reúne o que há de mais valorizado no mercado de arte por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Mostra na Bienal reúne o que há de mais valorizado no mercado de arte
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 2 de outubro de 2011.
Ao trazer ao país um conjunto de obras praticamente impossível de ver num só local, a exposição já se justifica
Estranho apenas é que o time com que se comemoram os 60 anos da bienal tenha estado fora de suas 29 edições
"Em Nome dos Artistas" é não só uma mostra, mas um grande compêndio da produção mais valorizada pelo mercado de arte nas últimas duas décadas.
Pode-se até duvidar que Matthew Barney, Jeff Koons, Richard Prince ou Cindy Sherman, alguns dos ícones em exibição no edifício do Ibirapuera, permaneçam referências tão importantes como são hoje nos futuros livros de história da arte.
Entretanto, os valores que suas obras já alcançaram os colocam na história de qualquer jeito.
Assim, a mostra, com o acervo de um dos grandes colecionadores de arte contemporânea do mundo, o norueguês Hans Rasmus Astrup, ganha no país feição especial.
Salvo raras exceções, essas obras milionárias nunca estiveram por aqui e são conhecidas ao vivo apenas por quem já saiu do país.
Mesmo para os viajantes, no entanto, seria praticamente impossível ver num só local o grupo de obras e artistas ali reunidos. Por isso, ao trazer ao país esse acervo, a exposição já se justifica.
SEGMENTOS
Organizada pelo curador Gunnar Kvaran, também responsável pelo museu Astrup Fearnley, que é a sede da coleção, em Oslo, a mostra divide-se em três segmentos.
O primeiro, do artista inglês Damien Hirst, reúne oito trabalhos de várias fases de sua carreira, entre eles "Mãe e Filho Divididos", uma vaca e um bezerro cortados ao meio, dispostos em vitrines de formol.
A obra sensacionalista do polêmico artista britânico, um das primeiras da mostra, dá o tom espetacular que segue nos demais pisos.
No segundo andar do pavilhão, estão 39 artistas da nova geração norte-americana, dispostos em uma montagem dinâmica, que busca provocar diálogos.
A diversidade de temática e de suportes imprime aí um ritmo mais próximo do que se costuma ver no pavilhão em tempos de Bienal.
Finalmente, no último piso, estão os consagrados. Aí, a cenografia da mostra, a cargo de Daniela Thomas e Felipe Tassara, replica uma montagem bastante museológica.
Conjuntos significativos de obras de Prince e Sherman, artistas que levaram a discussão da fotografia ao limite, ganham destaque, assim como a montagem de Barney, desenhada por ele mesmo.
Estranho apenas é o caráter esquizofrênico da exposição, que comemora os 60 anos da Bienal de São Paulo com um time que, majoritariamente, esteve fora de suas 29 edições -talvez por pertencer a uma tendência da arte marcada pelo comércio.
Artista faz árvore de bronze em Inhotim por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Artista faz árvore de bronze em Inhotim
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 2 de outubro de 2011.
Giuseppe Penone rodeou escultura com plantas reais que vão incorporar obra à paisagem real de Minas Gerais
Italiano integrou a 'arte povera', movimento italiano dos anos 70 conhecido pelo uso de materiais precários
Debaixo de uma tenda, Giuseppe Penone foge do sol e olha para sua árvore de bronze. Ela está suspensa por hastes metálicas entre cinco plantas de verdade num descampado de terra vermelha.
Sua ideia é que as copas das árvores reais em torno da sua artificial acabem engolindo a escultura e fundindo as formas naturais às pensadas pelo homem, numa espécie de arquitetura ao contrário.
"Usei a árvore como matéria que se plasma no tempo", diz o artista italiano, que acaba de construir o trabalho no Instituto Inhotim, em Brumadinho, no interior mineiro. "É um material fluido."
Não é a primeira vez que ele usa árvores em seus trabalhos, mas, no caso do Inhotim,paraíso do magnata Bernardo Paz que mistura selva e arte contemporânea, a obra do artista se transforma.
Penone integrou a escola estética da "arte povera" (arte pobre) surgida na Itália nos anos 70. Pertenceu à geração de artistas que via na natureza ou em descartes do cotidiano as formas quase prontas de seus trabalhos. Uma ideia de que arte se constrói com nada ou quase nada.
Os conceitos do movimento ganham outras dimensões ao entrar em contato com a paisagem local, que vai dos descampados ainda não ocupados por obras aos jardins transformados por artistas como Doug Aitken, Cildo Meireles e Adriana Varejão.
IMAGENS AUTOMÁTICAS
"São imagens automáticas da nossa existência, toda obra parte da ideia de que ela é já existente", diz Penone. "Quando faço uma escultura, estou mostrando seu processo de fatura, é esse processo que se torna o conteúdo."
Em seus primeiros trabalhos, por exemplo, o artista interferia no crescimento das árvores, pregando objetos aos troncos para que fossem engolidos no desenvolvimento da planta.
Também embaralhou as raízes de três árvores, para que crescessem juntas.
Penone começa sem saber o resultado final, pensando a escultura como ato em transformação ao longo dos anos, da mesma forma que o corpo humano cresce e definha.
Seu próprio corpo está em muitos trabalhos. Ele chegou a replicar as formas das mãos e dos pés em argila e a estampar em chapas de vidro toda a extensão da própria pele num trabalho dos anos 70.
Duas décadas depois, reproduziu a textura da casca de árvores em pedaços de couro, na tentativa de mesclar peles vegetal e animal.
"São todas motivações ligadas à ideia de escultura, formas que ocupam um espaço", diz Penone. "Até a respiração produz formas diretas."
Essa ideia ele explorou em outra série, feita de vasos de argila com o mesmo volume de ar que ele calculou caber em sua boca. Agora, espera ver surgir, nas copas de suas árvores, uma espécie de catedral de folhas.
Centro mineiro inaugura série de obras na quinta
Muito perto da árvore de bronze de Giuseppe Penone, será inaugurada também nesta quinta uma espécie de colmeia feita de sacos de cimento pelo artista norteamericano Chris Burden.
Na mesma pegada natural, a brasileira Marilá Dardot criou vasos de flores no formato de letras do alfabeto, que visitantes poderão mover para compor frases e palavras num dos amplos gramados de Inhotim.
Penone, Burden e Dardot engrossam a lista de novas aquisições, que conta ainda com o brasileiro Marepe, que construiu uma espécie de calha d'água tortuosa, e o suíço Thomas Hirschhorn.
No caso de Hirschhorn, a obra que ele apresentou na Bienal de São Paulo em 2006 ganha nova versão no Instituto Inhotim: uma espécie de labirinto que mistura referências filosóficas e atrocidades de guerras recentes, como imagens de corpos destroçados.
Na mesma galeria, um vídeo de Cinthia Marcelle retrata um grupo de malabaristas que bloqueiam um cruzamento no trânsito, enlouquecendo motoristas.
Noutro espaço, estão obras dos alemães Lothar Baumgarten e Isa Genzken. Enquanto ele reinterpreta e classifica paisagens da Amazônia nas telas do holandês Albert Eckhout, ela reapresenta sua obra da última Bienal de São Paulo.
Também entra para o acervo uma série das famosas pinturas enviadas por correio do artista chileno Eugenio Dittborn, homenageado com uma retrospectiva na Bienal do Mercosul agora em Porto Alegre.