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Como atiçar a brasa

 


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setembro 21, 2011

Faces da pintura contemporânea por Ana Cecília Soares, Diário do Nordeste

Faces da pintura contemporânea

Matéria de Ana Cecília Soares originalmente publicada no Caderno 3 do jornal Diário do Nordeste em 21 de setembro de 2011.

Duas exposições coletivas, em cartaz a partir de amanhã no CCBNB em Fortaleza, debatem questões a respeito da pintura, sob o olhar de produções recentes desenvolvidas por artistas brasileiros

Por muitas vezes foi decretado o fim da pintura. O fato é que ela nunca deixou de ser realizada e continua com intensa vitalidade, transformando-se em corpo híbrido a partir do diálogo com outras linguagens artísticas. A pintura vive e se fortalece nos processos de criação, abre novas possibilidades de ser para as poéticas artísticas.

As exposições "Entre 8" e "Pintura ampliada", que estreiam amanhã, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB- Fortaleza), mostram algumas das faces assumidas pela pintura na contemporaneidade, revelando diferentes olhares sobre a temática abordada.

Em "Entre 8", o foco está na presença da pintura em outras mídias, assim como o seu impacto na variedade de meios possíveis no campo da arte e da própria ação pictórica. A proposta reúne oito artistas de diferentes cidades brasileiras, cujos trabalhos permeiam a fronteira entre esses meios e habitam áreas de interseção com a pintura.

Segundo os artistas Bruno Vieira e Thiago Martins de Melo, participantes da "Entre 8", paradoxalmente, em uma exposição cujo foco é a pintura, "o elemento da fotografia clareia certos aspectos, incorporando abordagens que derivam da pintura e provendo artistas de uma fonte imagética aparentemente diversa a este que é o território e o potencial mais controverso da arte contemporânea".

Em "Pintura ampliada", o intuito é a negociação entre a pintura e uma ideia de mundo. "O diálogo entre as obras expostas nessa mostra não se encontra na sua aparência imediata, mas na transformação simbólica que a pintura sofre na contemporaneidade, isto é, uma constante negociação entre a sua história e os incômodos questionamentos sobre a sua morte", diz o curador Felipe Scovino. Ele também conta que, entre as principais mudanças incorporadas pela pintura contemporânea, está a capacidade de comunicação com outros campos artísticos, permitindo uma série de experimentos. "Essa é uma discussão que está acontecendo em vários lugares. A exposição traz um recorte da produção recente. Através das obras de Álvaro Seixas, Hugo Houayek e Rafael Alonso, podemos entender um pouco essas transformações vividas pela pintura, e a maneira como ela se tem modelado".

Posted by Gilberto Vieira at 1:21 PM

Por um equilíbrio de forças por Luisa Duarte, O Globo

Por um equilíbrio de forças

Matéria de Luisa Duarte originalmente publicada no Segundo Caderno do jornal O Globo em 19 de setembro de 2011 e replicado no blog Cubo Branco.

Em meio ao frenesi da ArtRio, é hora de pensar na fragilidade dos outros pontos do circuito

O desejo não é fazer o papel de quem vem estragar a festa munida de algum tipo de frustração ou recalque. Nem de longe são estes os afetos que mobilizam esse texto. Mas sim uma necessidade de se instaurar um debate em meio ao alarido causado pelo sucesso da feira ArtRio, ocorrida na semana passada. Um êxito de vendas e de público – segundo a organização foram negociados em vendas de obras cerca de R$120 milhões e mais de 30 mil pessoas estiveram nos armazéns ao longo dos cinco dias de evento.

Antes de mais nada, faço coro aos que elogiam a feira, estive lá e, de fato, parecia muito bem produzida e organizada, bem como acho fundamental que o Rio de Janeiro volte a ter um papel relevante no circuito da arte do país depois de anos e anos eclipsado.

Uma feira é um dos vetores de um circuito de arte. O valor cultural e econômico de um trabalho de arte é estabelecido por uma espécie de rede que inclui diversos agentes – galerias, colecionadores, curadores, recepção do público, museus, instituições, jornalistas, críticos. O mercado tem um lugar nessa rede que valida artistas e suas obras, mas em um circuito desequilibrado como o nosso o lugar ocupado pelo mercado está, hoje, grande demais. E o problema não está no mercado, este faz cada vez melhor o seu papel. O problema está em outros pontos do circuito. Em um cenário no qual museus e instituições são extremamente frágeis, no qual acervos e coleções públicas são escassas, no qual o espaço para a crítica de arte é cada vez menor, em um cenário como este é preciso parar e pensar quando se testemunha um frenesi como o que se viu durante e após o sucesso da ArtRio.

Artistas se referindo ao evento como um “momento mágico”... Menos, menos. Seu sucesso é inquestionável e sua existência bem vinda. Mas será que a mesma elite econômica da cidade e do país que foi até a feira gastar o seu dinheiro tem olhos abertos para as instituições da sua cidade e do seu país – como vai o MAM, como vai o MASP? Vejam bem, acho que feira é feira, espaço não de reflexão e educação, mas de venda e compra de arte - mesmo que espaços curados como os Solo Projects promovam um respiro “reflexivo”. Assim, não reclamo para a feira um papel que não é o dela, mas reclamo da sociedade, de nós mesmos, dos agentes do circuito e do poder público – forte aliado da ArtRio – um olhar mais atento para as fragilidades do circuito como um todo.

No circuito do país, tanto o espaço para o exercício da crítica é escasso, quanto a formação de acervos públicos é frágil. A crítica é um lugar no qual elementos como aposta e dúvida têm vez. A presença da crítica é fundamental na constituição de um espaço público da arte. Na crítica existe a chance de se rever o consenso e contribuir para uma história da arte que nem sempre coincide com aquela desenhada pelo mercado. Já as coleções públicas de museus e instituições são os lugares por excelência para se contar uma história da arte e, consequentemente, os lugares para uma educação do olhar. Sem falar que espaços de ponta como um MoMa (Nova York) e uma Tate Modern (Londres) são hoje verdadeiros chamarizes turísticos de suas cidades. Só que, nestes casos, existe a inteligência de se aliar o turismo que rende dinheiro, com um papel consciente de elites econômicas que contribuem para a existência daquelas coleções públicas. No Brasil as elites econômicas ainda não têm essa consciência. É exemplar o caso do MASP. Na última década o museu chegou a ter a luz cortada por falta de pagamento quando era então presidido por Julio Neves, por sua vez arquiteto do edifício que abrigava a Daslu, o então maior complexo de vendas de roupas de luxo do país. Proximidade com os donos do dinheiro nunca faltou ao MASP. Mas se pergunte se alguém, algum dia, hesitou em gastar R$ 10.000 em uma roupa ou, no lugar disso, contribuir minimamente para o acervo do MASP ou a manutenção do maior museu da sua cidade e empreender assim um papel de cidadão que intervém no destino público da arte realizada no país em que vive e no qual crescerão os seus filhos?

A maior coleção de arte construtiva do Brasil, de Adolpho Leirner, foi oferecida mais de uma vez para instituições brasileiras. Nenhuma delas se interessou ou encontrou condições para viabilizar a compra. Resultado, a coleção encontra-se hoje em uma instituição norte-americana. O mesmo ocorreu com parte da obra de Helio Oiticica. Esses fatos relatam a nossa própria incapacidade de preservar e exibir tesouros da nossa cultura. Estes seriam passos fundamentais para a formação de um país, de uma cultura, e da gente que aqui vive.

Em um circuito de arte cujas forças são tão desequilibradas como é o caso do Brasil é preciso, em meio ao frenesi causado pelo evento ArtRio, recordar a nossa precariedade de fundo. A arte tem, em si mesma, uma capacidade de crítica, de ruído, de atrito com o mundo – “I shop therefore I am”, trabalho de Barbara Kruger que ilustra esse texto fala criticamente sobre a arte como mercadoria mimetizando a lógica da publicidade. Não edulcorar a relação entre arte e mundo, não domesticar a arte, é também o que pode ocorrer quando temos um circuito mais equilibrado. Ou seja, temos em mãos o desafio de instaurar um contexto no qual o descompasso entre os diversos vetores que constituem o circuito da arte seja menor. Para isso é preciso ter olhos abertos para perceber a importância de uma feira de arte, bem como também notar a fragilidade do contexto no qual ela está inserida.

Posted by Gilberto Vieira at 11:38 AM | Comentários (3)

setembro 20, 2011

A Reinvenção da Paisagem por Mario Gioia, Bravo!

A Reinvenção da Paisagem

Matéria de Mario Gioia originalmente publicada no caderno de Artes Visuais da revista Bravo! em setembro de 2011.

As Bienais de Curitiba e do Mercosul têm por tradição revelar novos artistas. Entre eles, criadores que tratam de forma inovadora um gênero tradicional.

Dois eventos importantes do calendário das artes visuais do país passam a coincidir as datas a partir deste ano, tornando a região sul um ponto de encontro para apreciadores e colecionadores. Tanto a Bienal do Mercosul, que chega à oitava edição, quanto a VentoSul, mais conhecida como Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Curitiba, na sexta edição, costumam apresentar artistas que prometem despontar no circuito em um futuro bem próximo. Entre os jovens nomes apontados pelas mostras neste ano, dois se destacam por indicar uma tendência forte na produção artística atual. Marcelo Moscheta e Marina Rheingantz, cada um a seu modo, reinventam o tradicional gênero da paisagem.

Nascido em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, Moscheta explora os mais diversos suportes: desenho, objeto, instalação, gravura, fotografia. E apesar de já desfrutar de grande prestígio em espaços mais tradicionais da arte – ele tem obras no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e na Pinacoteca do Estado de São Paulo – ele prefere explorar lugares distantes dos grandes centros. Foi na fronteira entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai que Moscheta concebeu o trabalho exposto agora na Bienal do Mercosul. O artista percorreu mais de 2,5 mil km coletando e catalogando rochas, marcando coordenadas, lavando as peças e pensando em como apresentar isso numa exposição. O resultado está em uma instalação que envolve as próprias pedras encontradas no caminho, desenhos de viagem e cartazes. “Essa experiência de viajar e conviver com entornos agrestes despertou o seu interesse em retratar a memória de um lugar, elaborando um procedimento de classificação similar ao arqueológico”, diz a chilena Alexia Tala, curadora adjunta da bienal.

Pintura de memória

Já Marina Rheingantz dedica-se à pintura, que usa como um diário de memórias pessoais. Seu estilo tem chamado a atenção de instituições – uma de suas grandes telas integra o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo –, de colecionadores – há muita procura por seus quadros na galeria paulistana Fortes Vilaça – e de exposições coletivas importantes, caso da 6ª VentoSul. Paulista de Araraquara, Marina apresentará em Curitiba uma série de novas telas que remetem ao período em que morou no Chile, em 2005, e registram paisagens andinas. “Faço uma pintura de memória”, diz ela, que usa menos a fotografia como referência, se comparada a outros nomes elogiados de sua geração, como Ana Prata, Rodrigo Bivar e Rafael Carneiro. Todos eles renovaram em alguma medida a pintura nos últimos anos e foram notados pela crítica e pelo mercado.

Posted by Gilberto Vieira at 1:05 PM

Malba completa dez anos em Buenos Aires por Silvia Colombo, Folha de S. Paulo

Malba completa dez anos em Buenos Aires

Matéria de Silvia Colombo originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 20 de setembro de 2011.

Museo de Arte Latino-Americana, casa do 'Abaporu' de Tarsila, promove seminário e exposição especial para a data

Criado pelo empresário Eduardo Costantini, museu abriga obras de Diego Rivera, Torres-García e Antonio Berni

A casa do "Abaporu" está em festa. Começam amanhã as comemorações dos dez anos da abertura do Museo de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, ou Malba, como é conhecido.

A tela de Tarsila do Amaral é uma das estrelas da exposição, repaginada para a celebração, junto a obras de grandes nomes da arte do continente, como Diego Rivera, Xul Solar, Torres-García, Antonio Berni, Wilfredo Lam, entre outros.

Integram também os festejos uma mostra do venezuelano Carlos Cruz-Diez e um seminário que reunirá curadores de diferentes museus pelo mundo, como o MoMA, de Nova York, e o Museum of Fine Arts, de Houston. Do Brasil, virão Marcelo Araújo, da Pinacoteca, e Rodrigo Moura, do Instituto Inhotim.

O Malba foi criado pelo empresário do ramo imobiliário Eduardo Costantini, 65, a partir de sua coleção particular, na época com 228 obras.

"Eu pensava em colecionar até o fim da vida e depois doar tudo para um museu já existente", contou à Folha, em Buenos Aires. Costantini, que fala baixo e sorri muito, disse que mudou de ideia quando surgiu a oportunidade de comprar o terreno no qual hoje está o museu, na avenida Figueroa Alcorta, em Palermo.

"Esse lugar pedia um museu. Está perto dos parques, numa avenida de grande visibilidade." Adquirido o espaço, foi realizado um concurso, do qual saiu vencedor o projeto dos arquitetos argentinos Gastón Atelman, Martín Fourcade e Alfredo Tapia.

A coleção então cresceu e hoje conta com mais de 500 obras. O museu se expandiu para outras áreas. Possui um cinema cuja programação se volta para a produção independente e que sediará um festival só com produções latino-americanas.

O Malba também planeja crescer espacialmente: há um projeto de expansão subterrânea, sob a praça República del Perú, ao lado do prédio principal.

Costantini conta que tem uma relação especial com o "Abaporu" (1928), tela que adquiriu em Nova York, nos anos 90, por US$ 1,4 milhão.

O empresário viajou recentemente ao Brasil com a tela, para que o quadro participasse de uma mostra em Brasília, a convite da presidente Dilma Rousseff.

"Sempre me perguntam por que eu não vendo o 'Abaporu' para o Brasil, toda hora me fazem propostas", conta Costantini. "Mas não quero vender. O que sugeri à presidente foi que ela estimulasse um grupo de empresários brasileiros a fazerem um Malba em São Paulo. Aí eu levaria o 'Abaporu' e outras obras."

Os planos, porém, parecem ter ficado por aí. "Quando disse o valor que seria necessário para o investimento, acho que ela se assustou", conclui Costantini, rindo.

Posted by Gilberto Vieira at 11:02 AM

Bienal levanta fundos com estrelas e jantar por Sílas Martí, Folha de S. Paulo

Bienal levanta fundos com estrelas e jantar

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 20 de setembro de 2011.

Na mostra que celebra os 60 anos da Bienal de São Paulo, o foco está naquilo que não foi visto em profundidade nas últimas 29 edições.

Além de Jeff Koons, a exposição "Em Nome dos Artistas" vai ocupar todo o pavilhão da Bienal com obras de megaestrelas da arte contemporânea, como Damien Hirst, Matthew Barney, Cindy Sherman e Richard Prince, do museu Astrup Fearnley, de Oslo. "Essa produção é muito robusta e foi pouco vista no Brasil", diz Heitor Martins, presidente da Fundação Bienal. "Ela pode preencher uma lacuna no circuito expositivo."

Tentando dar cabo de outra lacuna, de orçamento, a Fundação Bienal de São Paulo faz hoje em seu pavilhão um jantar para angariar recursos para a 30ª Bienal, que sofreu com cortes de verbas do Ministério da Cultura. A fundação ainda não obteve autorização para captar os R$ 30,4 milhões da 30ª Bienal. Só com o jantar de hoje, com convites a R$ 5.000, garantiu R$ 1,8 milhão.

Posted by Gilberto Vieira at 11:00 AM

Michelangelo 3.0 por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Michelangelo 3.0

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 20 de setembro de 2011.

Quando tinha 17 anos, Jeff Koons ligou para um hotel em Nova York para falar com o hóspede Salvador Dalí (1904-1989). Foi atendido, e logo o garoto estava frente a frente com o surrealista espanhol.

"Ele vestia um casaco de pele de búfalo e um prendedor de gravata cravejado de diamantes", conta Koons em entrevista à Folha. "Decidi naquele momento que também seria um artista assim."

Koons soube moldar a extravagância a seu favor e segue uma lógica hiperbólica: excessos kitsch, vulgaridade e total falta de vergonha.

Na virada do século, esse americano de 56 anos foi um dos pivôs da entrada das artes visuais na indústria do entretenimento, com poderosas linhas de montagem, orçamentos inflados e estratégias agressivas de marketing que emulam as de Hollywood. Os valores de suas obras -uma delas foi arrematada, em um leilão há três anos, por nada menos que US$ 26 milhões (R$ 46 milhões)- poderiam até bancar um filme.

Entre seus trabalhos mais conhecidos estão cachorrinhos metálicos gigantes, esculturas e pinturas em que aparece transando com a estrela pornô Cicciolina, sua ex-mulher, e uma estátua dourada de Michael Jackson com seu chimpanzé de estimação. Treze de suas obras serão exibidas no país na mostra em homenagem aos 60 anos da Bienal de São Paulo, que começa na próxima terça com um amplo apanhado da arte-espetáculo surgida nos Estados Unidos pré-crise.

"Na cultura americana, você não é artista se não dialoga com Hollywood", resume Koons. "Por isso contratei a Cicciolina como modelo, a mulher como 'ready-made'."

Foi na sessão de fotografias em seu estúdio, diante de 150 assistentes, que ele caiu de amores pela ex-atriz pornô. "Flertamos e ficamos muito apaixonados."

Embora vendido ao mercado da arte como fotogramas de uma fita pornográfica que nunca existiu, Koons chama a série que fez com Cicciolina de diálogo franco com o barroco e o rococó, enxergando ali, sem modéstia, ecos de mestres franceses como Fragonard, Boucher e Manet.

"Sou um artista romântico, não gosto de ficar sozinho no ateliê. Por isso, estou rodeado de gente que me apoia nessa estética", diz Koons. "Não é uma fábrica, não fazemos produtos. Pensamos cada trabalho com o maior grau possível de poesia."

E também a maior escala possível de grandeza. "Nunca faço nada grande só para ser grande, mas certas ideias merecem mais força", afirma. "Sei que artistas competem com política, com a indústria do entretenimento, e sempre quis estar na linha de frente." Se a América adotou celebridades como figuras de culto, Koons esculpiu o ícone desse movimento.

Michael Jackson e seu macaquinho Bubbles são feitos de cerâmica dourada, posando juntos num chão forrado de pétalas de flor reluzentes.

"Ele é uma espécie de Cristo contemporâneo, o tipo de adulação que damos a celebridades é semelhante ao culto a figuras espirituais no passado", diz Koons. "De certa forma, essa obra é próxima da 'Pietà' do Michelangelo."

Leia íntegra da entrevista
folha.com/no977440

Posted by Gilberto Vieira at 10:53 AM

setembro 19, 2011

Onda permanente por Nina Gazire, Istoé

Onda permanente

Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na seção de Artes Visuais da revista Istoé em 16 de setembro de 2011.

FAD - 5º Festival Internacional de Arte Digital/ Museu Inimá de Paula, BH/ até 2/10; 2ª Mostra 3M de Arte Digital/ Memorial da América Latina, SP/ até 2/10

Foi-se o tempo em que arte digital era novidade no Brasil. Hoje esse circuito está tão estabelecido que dois festivais acontecem simultaneamente em duas capitais brasileiras. O FAD – Festival de Arte Digital está em sua quinta edição e tem sempre como sede a cidade de Belo Horizonte. “Hoje possuímos um edital público do qual temos cerca de 60% de participação de brasileiros contra 40% em 2008”, comenta Tadeus Tee, diretor do festival. Com o tema centrado na cinética, o evento alavanca novos nomes da arte digital brasileira, como o artista e publicitário carioca Cadu Lacerda, que participa com a obra “Parassimétrica”, um código computacional que transforma a digitação das letras e números em cortes de uma escala cromática.

“Se você olhar a produção nacional em relação ao volume de obras internacionais, nós teremos menor quantidade. Mas, em qualidade e técnica, estamos cada vez mais próximos dos estrangeiros”, comenta Julius Wiedmann, editor da Taschen e curador da segunda edição da Mostra 3M de Arte Digital, que acontece em São Paulo. Com o boom de exposições e festivais dedicados à arte digital, Wiedmann aponta que é cada vez mais necessário buscar um diferencial curatorial. Assim, nem tudo o que ele expõe pertence ao universo digital. “Na mostra, há obras feitas com tecnologia analógica, mas que questionam a influência do digital no mundo em que vivemos”, afirma. Outra intenção da Mostra 3M é a de apontar o perfil dos artistas que trabalham com arte digital. “No Brasil, eles geralmente tinham formação em artes, mas isso está começando a mudar agora”, comenta Wiedmann. Exemplo é o designer brasileiro Paulo Barcellos, que realiza uma série de trabalhos focados na criação de interfaces entre humanos e computadores. Seu “Colors of Movement” é uma experiência interativa que revela através das cores o espectro total dos movimentos de quem se posiciona em frente à obra. “O importante na arte digital é a sua interdisciplinaridade e acho que isso é que deve ser mostrado. Não basta a tecnologia pela tecnologia”, enfatiza o curador.

Entrevista Julius Wiedmann-curador da 2º Mostra de Arte Digital 3m

Você pode apontar quais foram são as diferenças entre a primeira e a segunda edição do Festival 3M?

As diferenças são grandes. Nesta segunda edição nos voltamos para uma curadoria de arte contemporânea feita a partir de plataformas digitais. Na primeira edição foi voltada para outro tipo de produção, como propagandas e animações feitas em plataforma digitais. Agora, quisemos olhar para os artistas contemporâneos cuja produção foi feita a partir de plataformas digitais. Inclusive, na mostra, existem algumas obras que executadas com tecnologia analógica, mas de alguma maneira, dialogam com a lógica contemporânea do mundo digital em que vivemos.

A produção brasileira vem se equiparando em relação a produção internacional, tanto em quantidade quanto em qualidade. Existe algum diferencial entre a produção brasileira e a produção internacional?

Se você for olhar a produção nacional em relação ao volume de obras produzidas no campo digital em relação ao internacional, nós teremos menos quantidade. Temos artistas incríveis e de grande qualidade, como por exemplo, o Márcio Ambrósio que está participando de uma residência na Bélgica, ou até mesmo o Paulo Barcelos, que está na Mostra 3M. Acho que estamos chegando junto dos estrangeiros. A diferença é a tradição internacional dos grandes centros de produção como os Medialabs da Europa e EUA. Lá como a disponibilidade de recursos para esse tipo de produção é maior, obviamente, é lá também que estão os grandes expoentes. Tradicionalmente, no Brasil, os artistas vêm das escolas de arte. Lá fora, isso necessariamente não acontece. O Jonathan Harris, por exemplo, não estudou em uma escola de artes_ ele é formado em computação. Na exposição temos artistas formados em Ciências da Informação, Engenharia e outros artistas que não possuem artes na formação, mas que por estarem em um campo ligado ao digital, acabam se voltando para as artes. Aqui isso está começando agora. São poucos os artistas brasileiros que não possuem a formação em artes, mas que trabalham com ela. Na mostra 3M também temos artistas cuja formação é em design. Os artistas mais novos é que estão começando a participar dessa tendência. Eu acho que um artista é um artista independente de sua formação. A diferença é que lá fora, ainda, você tem possibilidades de execuções mais grandiosas. Mas em termos de criatividade e técnica acho que estamos chegando junto da produção estrangeira.

Entrevista com Tadeus Tee – Diretor do 5º Festival de Arte Digial-Belo

Atualmente estamos vivendo um boom de festivais dedicados a arte digital no país. Como você avalia isso? Qual é o diferencial do FAD em relação a outros festivais do gênero?

Eu sempre digo às pessoas que no caso de Belo Horizonte, neste fenômeno que é global, a cidade tem mostrado certa vocação para arte através das mídias. Hoje abrigamos cerca de 10 ou 12 ações distribuídas ao longo do ano. Entre projetos de residência artística aos festivais de pequeno e médio porte como é o caso do FAD. Claro que temos uma centralização de ações em São Paulo e Rio de Janeiro, mas não vejo de forma isolada, cidades como Belém, Porto Alegre, Salvador entre outras. No FAD 2010, por exemplo, tivemos a presença de três artistas do norte e nordeste do País. A Arte é também o reflexo de uma sociedade no seu mais amplo campo de atuação e representação. O número crescente de fóruns, simpósios, festivais, feiras e eventos midiáticos e artísticos é o espelho do que vivemos diariamente, do que está inserido incondicionalmente, muitas vezes, na vida das pessoas. Apesar de falarmos de arte digital e parecer que tratamos do futuro, em sua maior parte estamos retratando mesmo é o presente. O FAD em Minas Gerais se diferencia por dois pontos; A valorização artística vem antes da valorização tecnológica; O FAD fomenta a produção e possui grande preocupação na formação de novos artistas e pensadores ou técnicos digitais através das ações do educativo e disponibilidade para novos nomes nas atividades do festival.

Por se tratar de um festival internacional de arte digital, muitos artistas estrangeiros participaram dessa edição e de outras anteriores. Você acha que existe alguma diferença entre a produção brasileira na área e a de outros países?

Existe. As principais diferenças partem do domínio sobre as ferramentas. Não é geral, mas na maioria das circunstâncias quando se obtêm o domínio técnico, o resultado final é diferenciado. Neste ponto os estrangeiros são estudiosos. O Brasileiro é mais prático. Da tentativa e erro, mais do que do estudo. Não falo de estética, pois o Brasil tem suas peculiaridades que por sua vez vem de influências da própria cultura que estamos inseridos. No âmbito dos conceitos, teorias e ensaios, os Brasileiros tendem a dominar melhor a linguagem teórica para seus trabalhos e ações, conseguindo uma equivalência, comparativamente, na proposição dos seus trabalhos. Isso mesmo que a distância, por exemplo, entre a baixa e a alta tecnologia se explique ainda por fatores econômicos, mas que nem sempre podem ser usados como justificativas. O acesso é em dúvida uma barreira, mesmo em tempos de Google e outras facilidades. A forma como a arte digital no Brasil se iniciou, vinda em sua maioria da influência dos grandes nomes da video-arte, também influencia na técnica a na estética.

Posted by Gilberto Vieira at 6:53 PM

Arte questiona fome e miséria, Jornal do Commercio

Arte questiona fome e miséria

Matéria originalmente publicada no caderno Cultura do Jornal do Commercio em 17 de setembro de 2011.

Duas intervenções movimentaram o Mercado de São José

Quem circulou pelas redondezas do Mercado de São José e da Igreja Nossa Senhora da Penha, durante o final da tarde da última sexta-feira (16), certamente se deparou com uma cena incomum. Os protagonistas dela, porém, não eram desconhecidos de ninguém. Talvez apenas para quem costuma andar pelo Recife sem notar sua gente.

Moradores de rua do bairro de São José foram convidados pelo carioca Rubens Pileggi para participar da intervenção X da questão, que se propôs a levantar questionamentos sobre a fome e a miséria de uma forma bastante crua. No mesmo ambiente, a performance Veste nu, dos artistas Daniel Toledo e Ana Hupe, também chamou a atenção dos transeuntes por um motivo óbvio: os dois circulavam pelo local com um macacão estampado com as imagens de seus próprios corpos nus.

Posted by Gilberto Vieira at 3:51 PM

Arqueologia de imagens por Suzana Velasco, O Globo

Arqueologia de imagens

Matéria de Suzana Velasco originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Globo em 19 de setembro de 2011.

Libanês Akram Zaatari, que recolhe a História nos arquivos pessoais, apresenta cinco trabalhos na Bienal de Istambul

ISTAMBUL - Quando o libanês Akram Zaatari começou a filmar em Beirute, no início da década de 1990, a cidade vivia um momento de efervescência cultural, uma esperança com o fim da Guerra do Líbano que se refletiu na criação e misturou as artes na capital. O artista formado em arquitetura que fizera seu mestrado em estudos de mídia em Nova York, porque nos anos 1980 não havia escolas de cinema no país, não precisava mais sair de Beirute. Zaatari trabalhou na TV, fez curtas-metragens, muitos filmes documentais e, quando se deu conta, carregava a classificação de artista. Com seu interesse pelo documental, aproximou-se da fotografia, mas nunca abandonou o audiovisual, como no recente vídeo "Amanhã tudo ficará bem", um dos destaques da 12a Bienal de Istambul, que foi aberta anteontem para o público com curadoria do brasileiro Adriano Pedrosa e do costarriquenho Jens Hoffmann.

Com uma linguagem que se separa de suas obras mais documentais, ele é um dos cinco trabalhos de Zaatari na bienal, e será apresentado na 17a edição do festival VideoBrasil - do qual o artista já participou cinco vezes -, que começará no dia 30 deste mês, em São Paulo.

- Gosto do trabalho de campo, de conversar com as pessoas, fazer muitas perguntas, perguntas que geralmente ninguém faz - diz Zaatari, entre goles de chá turco, num café em frente à bienal. - Levo minha prática documental ao meu trabalho artista. Não estou interessado em construir ficções, mas em sustentar imagens na realidade. Meu trabalho é como o de um arqueólogo, de escavar informação.

A arqueologia de Zaatari se evidencia em quase todas as obras expostas na Bienal de Istambul. "Sem título (O livro de cartas de família e amigos de Nabih Awada)" surgiu de uma dessas conversas de prospecção, com um prisioneiro político comunista libanês em Israel que montou um livro com as cartas recebidas na prisão, onde ficou entre 1988 e 1998, dos 16 aos 26 anos. A obra, que consiste em imagens do livro, revela uma das marcas do artista, de recolher a História nos arquivos pessoais - uma marca forte também desta Bienal de Istambul.

Zaatari conheceu a família de Nabih Awada quando fez um filme sobre prisioneiros políticos em Israel, para o qual coletou cartas dos presos. No fim dos anos 1990, as filmagens, que dominavam seu trabalho, começaram a dividir espaço com essa "fotografia arqueológica". Em 1997, o artista foi um dos criadores da Arab Image Foundation (Fundação Árabe da Imagem), uma organização sem fins lucrativos destinada a pesquisar e preservar a fotografia do Oriente Médio, do Norte da África e de comunidades árabes pelo mundo. Ele foi atrás de álbuns de família, revirando fotos e mais fotos e buscando entender como e em que contexto elas foram tiradas. E assim esse método invadiu seu trabalho, uma arqueologia de imagens refletida em imagens.

Depois de escavar arquivos de fotos e colecioná-las, Zaatari se torna um editor, e então reconhece que constrói ficções, e não apenas revela informações neutras ao espectador. Na série de fotos que domina a sala dedicada ao artista na bienal, casais posam para a câmera do estúdio fotográfico Shehrazade, que existiu por mais de 50 anos em Saida, cidade libanesa onde o Zaatari nasceu. Desde 1999, ele se debruça sobre os negativos do estúdio, de cerca de um milhão de imagens, a maioria feitas pelo dono do local, Hashem el Madani. Grande parte dos parceiros de "Práticas de estúdio - Casais" é formada por pessoas do mesmo sexo, que ora posam lado a lado, ora beijam-se na boca ou brincam de marido e mulher com véus de noiva.

- Queria entender o papel de um estúdio fotográfico numa cidade conservadora como Saida. As imagens que selecionei mostram como as pessoas usam aquele espaço como um teatro, onde podem atuar. Não há como não interpretar esses registros com os olhos de hoje. Mas não podemos saber se são casais ou estão apenas brincando - diz o artista, cuja sala individual na bienal faz parte do núcleo sobre identidade e sexualidade, temas recorrentes em sua obra.

Pistas são dadas por observações de Madani que Zaatari exibe ao lado das imagens. O dono do estúdio diz que de todos os casais se beijando que fotografou apenas um era heterossexual - e, mesmo assim, o homem roubou o beijo na hora do clique. A partir das imagens do Shehrazade, o artista criou ainda o vídeo "Mãos em repouso", acentuando a posição da mão dos fotografados. Outra série do projeto "Práticas de estúdio", montada por Zaatari com fotos de Madani e exibida na bienal, mostra homens e mulheres que pagaram ao estúdio para ter fotos suas carregando armas.

Em meio a essas obras de pesquisa, surgem as ficções intencionais, como o poético vídeo "Amanhã tudo ficará bem", um diálogo entre dois amantes que se separaram há dez anos e conversam de longe em tempo real, como num chat de internet, mas com a escrita - e o tempo lento - da máquina de escrever. Há uma expectativa de reencontro, simbolizada por cenas do pôr do sol de 30 e 31 de dezembro de 1999 - imagens entre os muitos crepúsculos que Zaatari já filmou e guardou. O vídeo é dedicado ao cineasta Eric Rohmer, em cujo filme "O raio verde" uma mulher observa o pôr do sol, esperando o raio verde, que representa a esperança daqueles que o conseguem ver. Para o artista, a obra fala da esperança de encontro, a mesma que leva em suas perguntas a cada trabalho de campo.

- A minha geração encontrou muitas formas de produzir. Éramos teimosos, tínhamos a expectativa de mudanças com o fim da guerra - diz Zaatari. - Hoje a arte no Líbano é uma elite, mas é o espaço em que as pessoas podem dizer o que quiserem. Não tenho esperança na política, acredito que a arte hoje seja o único modo de se pensar os hábitos sociais, as possibilidades políticas, a História.

Posted by Gilberto Vieira at 3:36 PM

Caráter intimista e minimalista dá ritmo repetitivo a bienal turca por Fabio Cybriano, Folha de S. Paulo

Caráter intimista e minimalista dá ritmo repetitivo a bienal turca

Matéria de Fabio Cybriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 17 de setembro de 2011.

A 12ª Bienal de Istambul, organizada pelo brasileiro Adriano Pedrosa e pelo costa-riquenho Jens Hoffmann, que abre hoje na Turquia, abandonou todo caráter espetacular de um evento desse tipo.

Ao invés de obras grandiosas e montagens sensacionalistas, ela se organiza de forma intimista em 59 salas: 54 com mostras individuais de artistas; cinco com coletivas.

"Sem Título (12ª Bienal de Istambul)", que fica em cartaz até 13/11, pretende ser tão minimalista e sofisticada como as obras do cubano Felix Gonzalez-Torres (1957-1996), reconhecido por tratar questões pessoais, como sua homossexualidade, e político-sociais com um grande rigor formal.

No entanto, com sua montagem elegante, de pequenos ambientes revestidos em alumínio -criação de Ryue Nishizawa-, a Bienal se assemelha de fato à casa de um colecionador, com obras em pequenos formatos, plasticamente impecáveis, o que dá ritmo um tanto repetitivo à exposição.

O exercício retórico se acentua com os temas das coletivas. Em "Death by Gun", nome do trabalho de Gonzalez-Torres que se refere a vítimas de armas de fogo, a mostra reúne basicamente obras com armas, como a emblemática "Shoot", de Chris Burden.

Assim, a Bienal parece contradizer sua inspiração, sendo demasiadamente explícita, o que, para o público, pode ser bastante educativo.

Posted by Gilberto Vieira at 2:58 PM

Istambul homenageia Gonzalez-Torres por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Istambul homenageia Gonzalez-Torres

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 17 de setembro de 2011.

Obras do artista cubano-americano morto há 15 anos inspiram exposições da bienal que começa hoje na Turquia

Três de seus trabalhos estarão na mostra que comemora os 60 anos da Bienal de São Paulo que começa no dia 27

Em 1997, um ano depois de sua morte, Felix Gonzalez-Torres foi um dos artistas centrais na Bienal de Istambul. Suas ideias servem agora de matriz conceitual da edição da mostra que começa hoje.

Sem expor nenhum de seus trabalhos, os curadores usaram cinco propostas de Gonzalez-Torres para balizar a mostra em torno de conceitos como fronteiras, doença, amor e morte.

Esse cubano-americano é conhecido por dar medidas do corpo humano e aspectos autobiográficos à secura matemática do minimalismo que varreu os EUA nos anos 60.

Nesta Bienal de Istambul, suas abstrações são comparadas às esculturas metálicas da brasileira Lygia Clark, pioneira do neoconcretismo, movimento que privilegiou aspectos orgânicos do corpo em detrimento da exatidão industrial do construtivismo.

Theo Craveiro, jovem artista que explora o legado de Clark e Hélio Oiticica, está no mesmo núcleo da mostra, contrapondo o vigor da vida à racionalidade mais dura dos minimalistas.

"São artistas que trabalham questões políticas e sociais", disse Pedrosa à Folha enquanto preparava a Bienal de Istambul. "Mas partem do político com preocupações visuais, formais e estéticas."

SÃO PAULO

Enquanto na Turquia as obras se articulam como eco do pensamento de Gonzalez-Torres, a mostra em homenagem aos 60 anos da Bienal de São Paulo, que começa para convidados no dia 27, terá três de suas obras.

Uma cascata de luz, uma pilha de folhas de papel e um tapete de balas embrulhadas em celofane azul vão estar no pavilhão da Bienal como exemplos dessa estética frágil e corporal explorada por Gonzalez-Torres.

No chão, as balas, que o artista pede que sejam comidas pelos visitantes, somam 130 quilos, o peso dele e do amante, que morreram em decorrência da Aids nos anos 90.

Era sua metáfora para um corpo consumido pela doença, só que mascarado e diluído em algo doce e brilhante.

Posted by Gilberto Vieira at 2:51 PM

Os vizinhos do Museu de Arte Contemporânea por João Grandino Rodas, Folha de S. Paulo

Os vizinhos do Museu de Arte Contemporânea

Matéria de João Grandino Rodas originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 12 de setembro de 2011.

Se a USP não opinasse sobre o gigantismo e a inclinação comercial do projeto ao lado do prédio que deve acolher o MAC, faltaria à transparência

A transferência do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP para um prédio no Ibirapuera seria boa tanto para o MAC, que teria lugar amplo para expor seu acervo, quanto para o parque, que ficaria mais valorizado. O público seria o maior beneficiário. A universidade, que tem entre seus objetivos a prestação de serviços à comunidade, faria apenas sua obrigação. Contudo, há importantes aspectos a serem sopesados por sua administração, sob pena de responsabilização por ação ou por omissão. É intenção do governo abrigar o acervo do MAC em local mais visível, tendo iniciado, há anos, reforma do prédio projetado por Niemeyer. Começaram, então, conversações entre a Secretaria de Estado da Cultura e a USP, sem que, até o momento, tenha sido assinado convênio para a transferência, em razão da demora na reforma (ainda não concluída).

A mudança do MAC acarretará custo de manutenção predial 15 vezes maior do ora despendido pela USP, beirando os R$ 18 milhões por ano. Por se tratar de "joint venture" entre Secretaria da Cultura e USP, nada mais equânime do que a partilha das despesas.

Frise-se que 80 a 85% do orçamento da USP é gasto com pessoal, pouco restando para investimentos em prédios, laboratórios e bibliotecas, pesquisa, bolsas de apoio à permanência estudantil etc. O MAC, para transformar-se em um dos maiores museus de arte contemporânea do globo, necessita de apoio do Estado.

O lançamento do Clube das Arcadas foi feito pelo Centro Acadêmico XI de Agosto, pessoa jurídica privada, em 10 de agosto, nas dependências da USP (salão nobre da Faculdade de Direito). Divulgou-se que o clube teria ginásio de esportes, quadras de tênis, piscina semiolímpica, teatro com 380 lugares, bar, shopping center e estacionamento com 900 vagas.

O art. 2º da Lei Estadual Paulista nº 3.093, de 11 de agosto de 1955, condicionou a doação do terreno ao centro "à construção de praça de esportes, destinada à cultura física dos alunos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo".

Cabe na letra e no espírito da lei, que não pode ser interpretada extensivamente, a construção de shopping center, teatro e 900 vagas de garagem? É legal e ético que o centro se associe a terceiro, constituindo outra pessoa jurídica privada, com o intuito de explorar comercialmente o espaço doado? É cabível solicitar doações de particulares sem apresentar aprovações da prefeitura a projeto que, por conta da área que abrigará a edificação e da miscelânea de finalidades, é controverso? Tratando-se de área envoltória de bem tombado, não deveria apresentar licença de órgãos como Condephaat e Conpresp?

Diante disso, a USP estava em pleno direito quando oficiou à Secretaria de Estado da Cultura, fazendo perquirições que levassem ambas a meditar antes de assumir a parceria.

Face a empreendimento complexo, que pode parecer ao público como vinculado à universidade, não é estranho nem inamistoso a USP declarar publicamente não ser partícipe nem apoiadora e não ter responsabilidade por ele; tampouco quando pede que o centro e as firmas associadas, ao divulgar o projeto, não o façam nas dependências da instituição e, caso utilizem o complemento "da Faculdade de Direito da USP", destaquem que a USP nada tem a ver com o clube.

Se a USP aderisse à transferência do MAC sem fazer observações sobre o gigantismo e o viés comercial que o projeto vizinho tomou, a partir do lançamento em território da USP, feito por mentores que utilizam seu nome para completar sua identificação, faltaria à transparência e aos princípios republicanos.

JOÃO GRANDINO RODAS é reitor da USP e desembargador federal aposentado

Posted by Gilberto Vieira at 2:20 PM