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setembro 16, 2011
Uma arte urgente por Camila Molina, O Estado de S.Paulo
Uma arte urgente
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 16 de setembro de 2011.
Aberta ontem e sob o tema ''Sem Título'', a 12ª edição está focada na política e se inspira no cubano González-Torres
Isimsiz, em turco, quer dizer "sem título" e é este o tema da 12.ª Bienal de Istambul, inaugurada ontem para convidados na Turquia e que a partir de amanhã poderá ser vista pelo público.
"A exposição é sem título porque o significado está sempre mudando no tempo e no espaço", diz o curador brasileiro Adriano Pedrosa, parafraseando o artista cubano-americano Félix González-Torres (1957- 1996), escolhido como "inspiração" de toda a mostra, que em 2009 teve como mote "O que mantém a humanidade viva?".
A edição da bienal turca, com curadoria de Pedrosa e do costa-riquenho Jens Hoffmann, é limpa e ordenada e traz a presença maciça de artistas do Oriente Médio e também de criadores latino-americanos. É uma mostra que quer tratar de arte e política, mas numa linhagem intimista, sem grandes alardes.
Temas como violência, história, cruzamento de fronteiras e a homossexualidade de González-Torres, que não comparece, propriamente, com obras no evento, são os ramos da 12.ª Bienal de Istambul, que ficará em cartaz até 13 de novembro. "É importante o fato de González-Torres ser um artista latino-americano entre o Norte e o Sul, gay, e que subverte as tradições modernistas da abstração ou do minimalismo com conteúdos urgentes, pessoais, políticos", afirma Adriano Pedrosa sobre a eleição do artista cubano como vetor da exposição.
O caráter intimista desta Bienal, considerada uma das mais independentes e experimentais da Europa, já se dá, à primeira vista, por sua expografia. Pela primeira vez, a mostra, feita a partir do montante de 2 milhões (recursos, na maioria, vindos do poder privado turco) está concentrada nos prédios 3 e 5 do complexo conhecido como Antrepo e não espalhada pela cidade.
Pelo projeto expográfico do arquiteto Ryue Nishizawa (da famosa dupla japonesa Sanaa), os espaços expositivos se transformaram em espécies de contêineres nas cores cinza e branca, leves para o percurso dos visitantes.
Uma maioria de trabalhos sobre papel, fotografias e objetos dá o tom das cinco mostras coletivas da Bienal, indicadas pelos nomes de trabalhos de série de González-Torres: Sem Título (Abstração), Sem Título (Passaporte), Sem Título (História), Sem Título (Morto por Tiro) e Sem Título (Ross) - este, o nome do companheiro do artista cubano que morreu em 1991, vítima da aids. As exposições ramificam-se em pequenas mostras individuais, destacando, assim, alguns participantes.
Já a seleção de artistas brasileiros, até então não divulgados pelos curadores, mistura gerações e, curiosamente, aposta em jovens (e criadores de raiz conceitual) como Jonathas de Andrade (nascido em 1982) - que está em dois segmentos da exposição, representado por suas instalações intimistas feitas com fotografias e páginas de diários -, Clara Ianni (nascida em 1987) e Theo Craveiro (nascido em 1983). Mas há a presença de nomes já consagrados, como Leonilson, Lygia Clark, Lygia Pape, Adriana Varejão, Jac Leirner, Rosângela Rennó, Renata Lucas e Claudia Andujar.
DESTAQUES DA BIENAL
Três Tiros
Um dos momentos de destaque e sutileza do segmento Sem-Título (Death by Gun) é o diálogo entre a capa pop que o artista Roy Lichtenstein criou para a revista Time em 1968 sobre o título Gun In America; três fotografias jornalísticas sobre a execução de um vietcongue em Saigon; e os registros da série Shoot, de Chris Burden, documentando uma performance com tiro em 1971.
Formalistas
Na mostra Sem-Título (Abstração), com grande presença de artistas brasileiros, a sala com a obra Falha (2003), de Renata Lucas, é a criação de um tablado conceitual com formas geométricas de madeira que se liga com os desenhos com retângulos e triângulos de 1977 da húngara Dóra Maurer, figura histórica da Bienal.
Frutas
Maçãs estão disponíveis para o público na obra Sem Título (Natureza-Morta Adiada), do colombiano Gabriel Sierra. A mesma fruta aparece na caixa de vidro com formigas de Theo Craveiro e o cubano Wilfredo Prieto corta uma melancia em Politicamente Correto, de 2009.
História
Em There Has Been a Miscalculation, da mexicana Julieta Aranda, um compressor faz revirar, dentro de uma caixa de acrílico, uma massa de livros de história triturados.
Exposição de esculturas leva a arte contemporânea ao Parque Dona Lindu, Diário de Pernambuco
Exposição de esculturas leva a arte contemporânea ao Parque Dona Lindu
Matéria originalmente publicada no caderno Cultura do Diário de Pernambuco em 16 de setembro de 2011.
Os quase mil visitantes registrados no primeiro dia da exposição Estruturas de convivências, em cartaz desde domingo na Galeria Janete Costa (Parque Dona Lindu), oferecem uma resposta significativa à curadoria de Márcio Almeida e Beth da Matta para obras e esculturas em grandes formatos dos pernambucanos Paulo Meira, Gil Vicente, Marcelo Silveira, Zé Paulo, Eudes Mota e do próprio Almeida, dispostas no andar térreo deste espaço. As esculturas suturam conceitualmente os 10 anos de convivência do Spa e, a tirar pela vernissage, sugerem que o espaço Janete Costa, até agora utilizado apenas para a exposição de Abelardo da Hora, pode se firmar como vitrine de expressões mais conceituais e de familiaridade crescente com o público recifense.
“Um dos critérios foi convidar artistas que de uma forma ou de outra participaram da trajetória dos 10 anos do Spa das Artes. A escolha do título Estrutura de convivências partiu de duas premissas: estrutura enquanto estrutura física e estrutura enquanto sistema. Em relação à estrutura física, trata-se da atenção à realidade material da obra. Em relação à noção de sistema, note que esses artistas compuseram uma geração que é justamente a que pensou o Spa. São criadores que conviveram intensamente no próprio evento”, afirma Márcio Almeida.
Segundo o organizador, a noção de convivência também apresenta outros agenciamentos. “De certa forma, todos os elementos que compõem as obras, são também elementos de convivências do cotidiano: cadeiras de balanço na obra de Gil Vicente; a estrutura cadeira na obra de Eudes Mota, o sobretudo na obra de Paulo Meira, o couro na obra de Marcelo Silveira…”, comenta, fazendo referência às sete obras da mostra, entre as quais Roupas de casa, de Marcelo Silveira, 11 confessionários para 11 de setembro, de Eudes Mota e Elos combináveis, de Braz Marinho.
Já Beth destaca a disposição espacial dos objetos. “Buscamos olhar para artistas que trabalhavam obras tridimensionais. Nesse sentido, a relação com a Galeria Janete Costa é fundamental. Por exemplo, optamos por não ter obras nas paredes para que os espectadores pudessem circular entre e ao redor de cada trabalho”.
Marcelo Silveira explica
Além da obra obra Roupas de casa, exposta em Estruturas de convivências, o pernambucano Marcelo Silveira lança, no próximo dia 24 de setembro, das 17h às 20h, em seu ateliê localizado na Rua do Apolo, 94, o livro Manual dos manuais ou livros das explicações, título em que apresenta textos críticos, entrevistas, imagens de suas obras, assim como uma proposta: o leitor deve descobrir as maneiras de como manusear esta edição gráfica concebida por Priscila Gonzaga.
“A ideia de produzir o livro partiu de um outro trabalho, os manuais de Liêdo Magalhães, além da observação da infinidade de manuais que orientam o indivíduo a fazer todas as ordens de coisas, desde o manual de modos de vida até manuais de como manusear um instrumento”, conta.
“As pessoas em geral não leem os manuais. Primeiro manuseiam o produto e depois partem para os manuais. Já esse manual que apresento é mais do que um produto gráfico é a convivência de pessoas explicando coisas. Por isso que a ideia inicial do título Manual dos manuais foi acrescida de Ou livro das explicações; é um produto gráfico com garras que convidam o usuário a tanto incluir outras informações como descobrir o modo de funcionamento do livro. Tem partes que são dobradas e para ter acesso a todas as informação é necessário descobrir suas regras de funcionamento desses vários formatos de papel, dessa infinidade de imagens de outros trabalhos.”
Na edição destaque para textos de Paula Braga, Fabiana Bruce, Ana Luisa Lima.
“A começar pela sua visualidade, o manual de Marcelo vai além da forma do livro e se afirma como objeto, criação, impressão e publicação artística. Paradoxalmente livro único, porém composto de formatos diversos, muitas maneiras de leituras e vários manuseios. E vai além do próprio artista, quando ele abre mão da condição de único autor e compartilha a autoria com diversos artistas e profissionais envolvidos na feitura desta obra”, sugere a artista Virginia Maria Neves Baptista em apresentação à obra.
Spa das Artes chega ao fim com festa no Dona Lindu, Jornal do Commercio
Spa das Artes chega ao fim com festa no Dona Lindu
Matéria originalmente publicada no caderno Cultura do Jornal do Commercio em 16 de setembro de 2011.
Oito atrações sobem ao palco este domingo (18/09), a partir das 17h
Depois da maratona de eventos dedicados às artes visuais, o SPA 2011 chega ao fim com programação voltada para os ouvidos. A festa de encerramento da décima edição da Semana de Arte leva ao Parque Dona Lindu, a partir das 17h do domingo (18/09), shows de oito atrações pernambucanas.
Entre os convidados, há desde nomes consagrados até novos artistas da cena independente. Exemplo do primeiro caso é cantor Di Melo. Já dentre os novos alternativos, está Tagore, cujo som, com influência udigrúdi, pode ser conferido em seu primeiro EP, Aldeia, lançado este ano. Completam o time as bandas Comunidade Azougue, Pé Preto, Muzambo, Raybans e A Caranava do Delírio, além do cantor Júnior Black.
setembro 15, 2011
Feira de arte no RJ vende R$ 120 mi em obras por Pedro Soares, Folha.com
Feira de arte no RJ vende R$ 120 mi em obras
Matéria de Pedro Soares originalmente publicada no caderno Mercado da Folha.com 14 de setembro de 2011.
Num sinal do crescente interesse pela arte brasileira, a primeira edição da feira ArtRio levou ao píer Mauá, na zona portuária do Rio, 46 mil pessoas e gerou negócios de R$ 120 milhões durante os cinco dias do evento.
Encerrada no domingo, a feira contou com 83 galerias --quase metade do exterior. Nos estandes estavam à venda cerâmicas do espanhol Pablo Picasso, pinturas e esculturas do colombiano Fernando Botero e obras de modernistas brasileiros como Volpi e contemporâneos como Ernesto Neto.
Os números superaram as expectativas iniciais de organizadores, que previam 20 mil visitantes e negócios de R$ 100 milhões. Eles atribuem o sucesso ao fato inédito de o governo do Rio ter concedido isenção de ICMS para todas as obras vendidas, inclusive as comercializadas por galerias estrangeiras.
Em sua edição de estreia, a ArtRio conseguiu bater a SP Arte, pioneira no país, tanto em público como em movimento financeiro.
Realizado em maio, o evento paulistano foi visitado por 18 mil pessoas e girou cerca de R$ 40 milhões, segundo estimativa dos galeristas, já que a organização do evento não divulga um número oficial de negócios.
"Nossa intenção é nos tornarmos a quinta maior feira de arte do mundo", disse Elisangela Valadares, uma das idealizadoras da ArteRio.
Museu de grandes novidades por Paula Alzugaray, Istoé
Museu de grandes novidades
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno Artes Visuais da revista Istoé em 9 de setembro de 2011.
Em retrospectiva, Nelson Leirner apresenta trabalho surpreendente produzido durante o ócio
São toneladas de mickeys, patos donalds, gorilas, pokemons, pretos velhos, bolas de futebol e outros ícones-bugigangas da cultura de massa mundial. Eles se multiplicam à profusão, saltam de uma escultura para outra, investem contra telas, gravuras, instalações. Embora toda essa matéria visual seja organizada na forma de padrões repetitivos, a novidade e o ineditismo expressos na obra de Nelson Leirner são inesgotáveis. Surpresa e exclamação são as emoções proporcionadas pela retrospectiva “Nelson Leirner 2011-1961=50 anos”, em São Paulo, onde mais de 40 obras apresentam a capacidade de reinvenção permanente de Leirner.
A exposição começa com “Banca de Jornais” (2008), instalação que não deixa dúvidas sobre o caráter apropriacionista, colecionista e duchampiano da obra desse grande artista paulista. Posicionado no corredor de entrada da Galeria do Sesi, o quiosque expõe uma coleção de fascículos e revistas recheadas de brindes e quinquilharias. Além de configurar um “readymade” na melhor acepção do termo (principal estratégia artística de Marcel Duchamp, em que eleva o objeto banal ao cerne da obra de arte), a banca é uma representação simbólica do grande intuito de Nelson Leirner: perguntar “o que é arte”.
Com curadoria de Agnaldo Farias, a mostra avança com pujança, dividindo a obra em três fases: os primeiros anos, a maturidade que o artista alcança com uma obra polimórfica e o grande desfecho, com a instalação inédita “Hobby – Um Nenhum Cem Mil” (2011). O trabalho foi realizado, literalmente, na forma de um hobby: cada um dos cartões que compõem a instalação foi produzido em momentos de ócio e intervalos do oficio artístico. “Sempre falo para mim: preciso colecionar alguma coisa e parar de fazer arte. Não consigo encontrar alguma coisa para fazer. A não ser a coleção que eu fiz do “Hobby”, que para mim não era arte, não tinha essa intenção”, diz Nelson Leirner. O resultado é simplesmente um de seus melhores trabalhos.
Uma semana de fotografia por Nina Gazire, Istoé
Uma semana de fotografia
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada no caderno Artes Visuais da revista Istoé em 9 de setembro de 2011.
SP-ARTE/FOTO / Shopping Iguatemi, SP / de 15 a 18/9
Com expectativa de receber cerca de 7 mil visitantes durante os três dias de evento, a SP-Arte/Foto acontece em São Paulo com a presença de 750 obras de 26 galerias brasileiras e internacionais. Com esses números, a feira se consagra como a maior do gênero na América Latina. Neste ano, além de trazer trabalhos raros ou inéditos de nomes consagrados da fotografia, como Thomas Farkas, Caio Reisewitz, o italiano Massimo Vitali e os peruanos Irmãos Vargas, há também a forte predominância da produção de artistas migrantes de outras artes visuais – como escultura, arquitetura e pintura – em trabalhos experimentais com a técnica fotográfica. Um exemplo é “Walldrawing”, da série “Amostras de Arquitetura”, da artista Lucia Koch, representada pela Galeria Nara Roesler. Nessa série, a artista realiza registros de desenhos e grafismos feitos no interior de caixas de papelão. Sob a lente da artista, esses interiores se parecem com grandes ambientes, como salas, quartos e até mesmo cubos brancos de galerias de arte.
Além de apresentar a produção fotográfica contemporânea, a feira conta com um ciclo de palestras e debates gratuitos com artistas e convidados internacionais, como o curador e crítico peruano Jorge Villacorta, uma das maiores autoridades em fotografia latino-americana da atualidade.
Um brasileiro na Berliner Liste por Paula Alzugaray, Istoé
Um brasileiro na Berliner Liste
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno Artes Visuais da revista Istoé em 9 de setembro de 2011.
BERLINER LISTE 2011 / Berliner Liste - TRAFO, Berlim / de 7 A 11/9
A Berliner Liste é a maior feira de arte da capital alemã. Expõe mais de cem galerias internacionais e recebe uma média de 13 mil visitantes por edição. Até aí, nenhuma novidade. Poderia ser mais uma feira no hiperinflacionado calendário europeu, mas o fato é que a Berliner Liste tem o notável diferencial de ser reconhecida como a “feira da descoberta” de novos talentos. Isso porque recebe inscrições não só de galerias, mas também de artistas autônomos, sem vínculos comerciais com marchands. Esse é o caso do fotógrafo paulistano Max GPinto, selecionado para expor na 8ª edição da Berliner Liste, na cidade que hoje é tida como a capital da arte jovem mundial.
Entre os 80 artistas expositores, a maioria é natural de Berlim, ou residente na cidade. Mas há também chineses, israelenses, franceses, suíços, russos, sérvios, norte-americanos. Além do brasileiro, nenhum outro latino-americano. Max GPinto expõe pinturas que dialogam com a linguagem da colagem, atualizando tradições que vão do objeto trouvé dadaísta à pop art. Destaque para a série intitulada “Errr”, realizada a partir de apropriações de prints fotográficas da agência Reuters de jornalismo. A intervenção do artista se dá na carga de tinta de impressora que “suja” – ou “pinta”, segundo o ponto de vista – a imagem. “A série remete aos avisos de erros nas impressoras mais antigas. O título vem da foto apropriada e as imagens mostram o nome das agências de notícias. É proposital, talvez tenha a ver com meus dois focos de trabalho, entre arte e jornalismo”, diz Max GPinto, que é pintor, fotógrafo e editor de fotografia da revista ISTOÉ.
Robert Polidori e a beleza entre os escombros por Antonio Gonçalves Filho, O Estado de S. Paulo
Robert Polidori e a beleza entre os escombros
Matéria de Antonio Gonçalves Filho originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 14 de setembro de 2011.
Principal nome entre convidados da SP-Arte/Foto fala da sua atração pela ruína urbana
A cada ano que passa, a SP-Arte/Foto ocupa um espaço cada vez maior no nono andar do Shopping Iguatemi. Na quinta edição da mostra, que será aberta nesta quarta-feira, às 16 horas, para convidados (e quinta-feira para o público), mais dez galerias foram incorporadas às 15 que normalmente participam do evento, organizado pela empresária Fernanda Feitosa. A expansão é facilmente explicável por meio dos números: em 2010 as vendas cresceram, atingindo algo em torno de R$ 2 milhões (180 fotos vendidas). "Das novas galerias responsáveis pela expansão do espaço da mostra, nove são novas", revela, destacando entre elas duas estrangeiras, a espanhola Senda, de Barcelona, e a americana 1500 Gallery, de Nova York, que traz para a mostra fotos do canadense Robert Polidori, nome imediatamente associado à catástrofe provocada pelo furacão Katrina, que arrasou a cidade de New Orleans, nos EUA, em agosto de 2005.
Polidori concedeu uma entrevista exclusiva, por telefone, ao Caderno 2, anunciando para 2013 (ou 2014) outra exposição individual no Brasil no Instituto Moreira Salles (a última foi realizada aqui há dois anos pelo mesmo IMS). Aos 60 anos, o fotógrafo já tem um número considerável de discípulos - entre eles o italiano Paolo Ventura, na mostra -, impressionados com suas imagens de casas abandonadas pelos moradores de New Orleans e de aposentos arrasados pelo desastre nuclear de Chernobyl, além das ruínas provocadas pela estagnação econômica de Cuba.
Para a mostra, porém, o fotógrafo não traz ruínas, mas imagens da interminável restauração do Palácio de Versalhes, que acompanha há quase 30 anos e parece longe do fim. "Na verdade, Versalhes está em reformas desde Luís XIV, porque cada sucessor usou o palácio como instrumento político, criando cenários espetaculares para impressionar estrangeiros", observa.
Você costuma associar as imagens de casas em ruínas a uma tentativa de registro histórico que leva em conta a presença espiritual daqueles que viveram nesses aposentos. Há de fato essa dimensão metafísica nesses cômodos, você que leu madame Blavatsky? Seus detratores dizem que as fotos de New Orleans ferem a ética por explorar a tragédia. O que diz disso?
Há de fato essa dimensão metafísica, mas ela tem pouco a ver com Blavatsky e mais com a questão do superego das pessoas que viveram nesses cômodos destruídos e que ainda guardam vestígios delas por meio de objetos com os quais tinham afinidade. A memória da paisagem devastada desses aposentos remete a dois filósofos em particular, Pitágoras e Giordano Bruno, o primeiro como mestre que obrigava os discípulos a memorizar aspectos de quartos vazios - os loci - e Bruno como criador de um sistema de memória que me interessa particularmente. Toda a controvérsia surgida por causa das fotos dos aposentos abandonados de New Orleans não faz o mínimo sentido. Não estetizei a miséria nem desafiei princípios éticos. É antiético ir a um funeral? Essas fotos são documentos históricos como qualquer outro, como um registro de guerra, por exemplo.
No entanto, há uma estranha beleza que emana dessas ruínas, sejam elas as da série Lower East Side de Nova York, que mostra aposentos invadidos após a morte de seus ocupantes, ou dos decadentes casarões de Havana com suas paredes descascadas.
Sim, mas não faço pintura nem cinema e muito menos foto de arquitetura. Parei de fazer filmes quando tomei consciência do que significavam esses aposentos, pois o cinema não consegue provocar o impacto da imagem estática de um cômodo devastado pelo tempo. Definitivamente, não estava tirando vantagem da situação em que se encontram os cubanos, mas acho que Fidel fez pouco para preservar a arquitetura de Havana, que parou no tempo, mais particularmente nos anos 1950. É uma visão incrível, porém provocada pelo imperativo econômico. É diferente dos aposentos do Lower East Side, em que as pessoas morriam nos apartamentos depois depredados por garotos. Não se trata de violar o habitat de ninguém. Não fiz isso nem em Chernobyl nem em New Orleans. Essas fotos de interiores constituem um registro histórico e ao mesmo tempo um réquiem pela catástrofe provocada pelo próprio homem. A cada ano vemos o nível da água aumentar por causa da poluição, da superprodução industrial.
Por falar nela, suas fotos da Índia, de 2007, integram uma série atípica cheia de pessoas e de poucas cenas interiores. Elas o impressionam mais do que antes?
O que me tocou na Índia foi como o arcaico e o moderno convivem. A massa de pessoas nas ruas me impressionou, há gente demais em todos os lugares e vemos que essa é uma situação insustentável, pois o desastre ambiental torna-se previsível num quadro de hiperconsumo de água e energia. A natureza da fotografia é provocar uma modificação instantânea na realidade. Quando você vê um quarto, ele não se move, tem um lado pictórico, uma integração da forma com a metáfora dos cômodos pitagóricos memorizados, o que não ocorre com pessoas em trânsito.
Na mostra SP-Arte/Foto são exibidas fotos da restauração do Palácio de Versalhes, que você acompanha desde 1984. Como você se interessou por ela?
Percebi que, por trás desses projetos de restauração, que vêm desde a época de Luís XIV, persiste uma tentativa de revisionismo histórico. Seus sucessores no trono logo perceberam que era possível usar Versalhes como demonstração de poder, promovendo mudanças permanentes. Interessava-me particularmente o retrato da sociedade francesa colado às paredes de Versalhes como uma espécie de superego coletivo destinado a impressionar e oprimir o olhar estrangeiro.
Há na mostra fotos de Paolo Ventura, que tem obsessão por interiores, e do brasileiro Rogério Canella, que fotografa casas em ruínas. Parecem ser seus discípulos. E seus mestres, quem são?
Conheço o trabalho de Ventura, mas não sei se ele se considera meu discípulo. Creio que os mais próximos são Yves Marchand e Romain Meffre, que fotografaram as ruínas de Detroit após o êxodo da população para os subúrbios provocado pela bancarrota econômica da cidade. Quanto aos meus mestres, Walker Evans permanece como minha referência maior.
Você continua pessimista em relação ao futuro?
Não sei se a palavra é pessimista. Corremos o risco de desaparecer por causa do modelo econômico que adotamos e que torna a situação insustentável. Mas a cultura brasileira parece ter um componente singular, que é essa relação sentimental como o mundo. Admiro também os mexicanos, que influenciaram muito a minha arte.
Romântico, com peso por Nina Gazire, Istoé
Romântico, com peso
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada no caderno Artes Visuais da revista Istoé em 2 de setembro de 2011.
O pintor Rodrigo Andrade resgata o elemento soturno do romantismo, em imagens noturnas e muita densidade de tintas
Recuperar a tradição figurativa da pintura romântica em pleno século XXI. Esse foi, em parte, o objetivo do pintor Rodrigo Andrade na sua série de paisagens noturnas denominada “Velha Ponte de Pedra e Outras Pinturas”. O artista apresenta oito obras inéditas, dando continuidade à temática iniciada com a série “Matéria Noturna”, apresentada na 29ª Bienal de São Paulo. “São cenas ou, talvez, situações atemporais por serem imagens de pontes velhas. As pontes são muito pitorescas e propícias para a pintura. São temas supertradicionais e ao mesmo tempo muito vulgares. Você encontra em diferentes períodos da pintura, principalmente no romantismo”, explica.
Para pintar as pontes de pedra, fotografadas durante uma viagem à Escócia, Andrade resolveu fazer também sua própria ponte entre duas tradições distintas da figuração ao unir fotografia e pintura na produção das imagens. Depois de projetar fotografias das pontes sobre as telas de grandes dimensões – algumas com até quatro metros de comprimento –, o artista criava uma máscara com a imagem da foto, onde posteriormente aplicava a tinta a óleo. Essa técnica dá ao trabalho uma consistência material significativa, que transparece nas paisagens. Cada tela possui imponentes 50 quilos de tinta. “Nessas pinturas acontece esse movimento duplo: a perspectiva e a ilusão do figurativo te levam para dentro, enquanto a materialidade te expulsa do espaço da pintura”, comenta Rodrigo Andrade, que também compara as cenas noturnas às mise-en-scènes dos filmes de David Lynch. “Resgato essa ilusão do cinema dando uma espacialidade interna ao trabalho. Elas parecem um filme do David Lynch por causa do aspecto soturno e escuro das imagens”, diz o artista, que começou a trajetória nos anos 80 com uma linguagem expressionista, e passou boa parte dos anos 2000 envolvido em uma pesquisa com o peso e a presença matérica das tintas no espaço.
Cinema transcendental por Paula Alzugaray, Istoé
Cinema transcendental
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno Artes Visuais da revista Istoé em 2 de setembro de 2011.
Meditação, transe / Mendes Wood, SP/ até 24/9
A cineasta Maya Deren dá uma aula sobre como filmar a performance em “Meditation on Violence”. Como dar conta da complexidade da coreografia em um tempo em que as câmeras eram pesadas e de difícil mobilidade? Maya (1917–1961) filmou os lutadores de artes marciais Wu-tang e Shaolin em 1945, na época em que se dedicava a documentar rituais mágicos. O efeito hipnótico produzido pela lente da artista funciona como introdução perfeita à mostra “Meditação, Transe”, em cartaz na Mendes Wood.
E se o comediante perdesse o contato com a realidade no instante em que pisa no palco?
E se em vez de contar piada, começasse um espetáculo de acessos e convulsões? É o que propõe o nova-iorquino Ryan McNamara no vídeo “The Latest in Blood and Guts” (2009). De Maya Deren a Ryan McNamara, a mostra integra clássicos e contemporâneos.
Na primeira sala, Maya está acompanhada por trabalhos de artistas contemporâneos brasileiros como Rivane Neuenschwander e Deyson Gilbert, que na escultura “Economia do Transe” (2011) orquestra o equilíbrio frágil entre cinco objetos – um deles, perecível: um cubo de gelo que derrete ao longo dia, colocando a obra em movimento e desintegrando-a. A dança dos lutadores de Maya e dos objetos de Gilbert também reverbera na performance giratória do autraliano Shaun Gladwell, em “Pataphysical Man” (2005). Situada no contexto dessa exposição, a street dance de Gladwell ganha a dimensão de um ritual sagrado dervixe.
Arte, performance e antropologia estão entrelaçados em “Meditação, Transe”. Da entidade Egum, retratada por Pierre Verger, até a performance primitivista do artista americano Kim Jones – alter ego Mudman (Homem-Lama)– e o vídeo “Changing Parts” (1984), de Mona Hatoum, há alguns litros de lama em comum.
Esse é o mérito da mostra com curadoria de Marcio Harum e Pedro Mendes: permitir um fluxo de trocas e invasões de um trabalho a outro. Nesse sentido, ao diluir as fronteiras entre obras, a curadoria se mostra eficiente e sintonizada com seu tema de abordagem: os estados alterados de percepção. A curadoria também surpreende pela escolha de nomes pouco habituais ao circuito de exposições no Brasil, como
o holandês Bas Jan Ader. Conhecido nos anos 1970 por suas performances corporais minimalistas, Ader foi visto pela última vez em 1975, quando subiu no menor barco que jamais teria cruzado o Oceano Atlântico. Na Mendes Wood, Ader é mostrado em uma projeção discreta, quase escondida. Talvez uma homenagem silenciosa ao seu desaparecimento.
Testemunhas faltam à CPI do Ecad por Cristina Tardáguila, O Globo
Testemunhas faltam à CPI do Ecad
Matéria de Cristina Tardáguila originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Globo em 15 de setembro de 2011.
RIO - Apesar de terem confirmado presença na sessão da CPI do Ecad que aconteceria na tarde desta quinta-feira na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o presidente da Associação Brasileira de Música e Artes (Abramus), Roberto Mello, e a presidente da Sociedade Administradora de Direito de Execução Musical do Brasil (Sadembra), Fátima Leão, não compareceram ao local para prestar depoimento.
- Esta é a segunda vez que os dois dizem que vêm e não vêm. Na semana retrasada, foi a mesma coisa - diz o deputado estadual André Lazaroni, presidente da CPI. - É um desrespeito à comissão e, para mim, demonstra que há, sim, algo que tentam esconder. Para a sessão da próxima quinta-feira, vou solicitar que os dois sejam conduzidos pela polícia. Como estão em São Paulo, posso acionar a polícia de lá ou mandar um camburão daqui para pegá-los. Eles não vão mais nos enrolar.
Procurada pelo GLOBO, Fátima Leão disse que está em turnê por Minas Gerais, Goiás, Maranhão, Piauí e São Paulo até o dia 25 de novembro e que não deixará seus shows para "testemunhar sobre algo que pouco sabe" - Ela diz que assumiu a presidência da Sadembra há dois meses.
- Se o presidente da CPI pagar o valor do meu show, que custa R$ 30 mil, eu paro tudo e vou lá. Caso contrário, não - enfatiza.
Procurado pela reportagem, Roberto Mello informou por meio de nota que enviou um ofício ao Deputado André Lazaroni, comunicando a impossibilidade de comparecimento na data de hoje devido a compromissos profissionais e reiterou sua plena disponibilidade de atender a convocação em outra data.
Desde o início de agosto, a CPI do Ecad investiga na Alerj o descontrole administrativo da entidade de gestão privada que arrecada e paga os direitos autorais de todos os músicos do país. A Abramus e a Sadembra são duas das nove associações de músicos que compõem esse escritório. A primeira é efetiva (com direito a voto na assembleia geral), e a segunda, administrada (sem direito a voto).
Fica pronta a reforma do antigo Detran para abrigar MAC-USP, Folha de S. Paulo
Fica pronta a reforma do antigo Detran para abrigar MAC-USP
Nota originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 15 de setembro de 2011.
Depois de impasse nas negociações com o governo estadual, a Universidade de São Paulo voltou a trabalhar no convênio de transferência de seu Museu de Arte Contemporânea para o antigo Detran. Mesmo com o avanço das obras, que custaram R$ 76 milhões, a reitoria da USP se negava a aprovar a mudança do museu por contestar a construção de um clube esportivo no terreno vizinho.
Veja vídeo que mostra como está o interior do futuro MAC no Ibirapuera
Bienal do Mercosul destaca mostras paralelas por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Bienal do Mercosul destaca mostras paralelas
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 15 de setembro de 2011.
'Casa M' continua após evento; 'Cidade Não Vista' espalha-se pelo município; 'Geopoéticas' traz artistas emergentes
A 8ª edição da Bienal do Mercosul, denominada "Ensaios de Geopoética", representa um significativo novo passo em relação às últimas duas edições, que já foram bastante inovadoras.
Agora, com curadoria do colombiano José Roca, a Bienal finca-se sobre três bases, sendo que apenas uma delas é de fato a exposição. Sendo assim, é importante ressaltar o alcance dos outros eixos, especialmente as estratégias ativadoras, com destaque para a "Casa M" e a mostra "Cidade Não Vista".
A primeira, um local de encontros aglutinador, que extrapola o tempo da exposição principal. Já "Cidade Não Vista", com curadoria de Cauê Alves, espalha-se por Porto Alegre em nove obras, algumas com imensa visibilidade. É o caso da instalação do japonês Tatzu Nishi: uma sala suspensa por canos, uma espécie de parasita no alto da parede frontal da prefeitura.
A mostra central, "Geopoéticas", em três galpões do cais do porto, reafirma dois marcos que têm caracterizado o evento: a inovação na maneira de expor obras e uma predominância de artistas emergentes.
De forma geral, "Geopoéticas" possui um conceito claro, na forma como a arte aborda territórios políticos, econômicos ou sociais. Há muitas obras fortes, algumas bem atuais, como as tensões no Complexo do Alemão, por Paulo Climachauska, ou as revoltas no Egito, por Khaled Hafez.
No entanto, "Além das Fronteiras", sob responsabilidade de Aracy Amaral, no Museu de Arte do Rio Grande Sul, revela-se o trabalho curatorial mais intrigante.
Ao misturar arte contemporânea com obras de todo tipo, de mapas do século 18 a utensílios como um aquecedor caseiro a carvão, Amaral, 81, traz uma nova dimensão à Bienal do Mercosul e sua discussão de territórios.
Consagrado artista de Taiwan apresenta vídeos em espaço cultural no Recife, Diário de Pernambuco
Consagrado artista de Taiwan apresenta vídeos em espaço cultural no Recife
Matéria originalmente publicada na seção de Cultura do Jornal Diário de Pernambuco em 14 de setembro de 2011.
Quatro vídeos e uma performance do artista Chen Chieh-Jen, de Taiwan, são apresentados em exposição que começa nesta quarta, com abertura às 19h, no espaço cultural Bê Cúbico (Rua do Bom Jesus, 172, Bairro do Recife, no quinto andar).
As obras de Chen capturam o impacto das transformações econômicas do país sobre a identidade e o comportamento do povo. Na mostra, são projetados os vídeos The route (2006), Military court and prision (2007-08), Lingchi: Echoes os a historical photograph (2002) e Empire border (2010). Na performance colaborativa Pirate my own work: Free donation project, ele pede que cópias clandestinas de seus DVDs sejam vendidas, com a renda revertida para instituições sociais. O artista não vem ao Recife, mas enviou seus trabalhos aos organizadores do Bê Cúbico. A mostra é uma atividade paralela ao Spa das Artes. Informações: 9830-2285.
Chen participou da última Bienal de São Paulo com o filme The factory. Leia a seguir o texto de apresentação de sua obra divulgado pela exposição: "O trabalho de Chen Chieh-jen corporifica uma necessidade de resistência ao estado de amnésia da sociedade de consumo. Suas obras comentam a história de Taiwan, focando questões como o trabalho, o isolamento, a exclusão e a migração. Durante a Guerra Fria, e apesar da lei marcial que se instaurou após uma sucessão de colonialismos, Taiwan tornou-se um dos maiores centros de manufatura no mundo. A democratização do país coincidiu com o deslocamento da rede industrial globalizada em busca de mão de obra mais barata. As fábricas ali sediadas foram fechadas e demitiram os seus trabalhadores."
setembro 14, 2011
Leveza do aço por Ana Clara Brant, O Estado de Minas
Leveza do aço
Matéria de Ana Clara Brant originalmente publicada na seção de Cultura do Jornal O Estado de Minas em 30 de agosto de 2011.
Mineira radicada no Rio de Janeiro, Iole de Freitas abre mostra de esculturas hoje na Galeria Murilo de Castro, na Savassi. Boa parte das obras é cheia de curvas. Artista reforça as cores
A artista plástica mineira Iole de Freitas é considerada uma das mais importantes escultoras contemporâneas do Brasil. Nasceu em Belo Horizonte, porém, mudou-se pequena para o Rio de Janeiro, onde se formou em desenho industrial. Logo ganhou o mundo e acabou estudando e expondo em galerias importantes de vários países como Itália, Alemanha, Estados Unidos e Áustria. Mas nem por isso a terra natal deixa de estar no roteiro de suas obras de arte.
Hoje à noite, terá abertura a exposição Esculturas de Iole de Freitas, na Galeria Murilo Castro, na Savassi, que reúne nove peças inéditas da artista, sendo cinco de tela de aço. “Morei pouco tempo em BH, mas costumava visitar muito a cidade na minha infância. Depois, a capital acabou fazendo parte do meu circuito de trabalho, onde já participei de várias mostras importantes, como no Museu de Arte da Pampulha, fora as minhas obras que integram o acervo de colecionadores mineiros”, revela.
As peças — boa parte delas cheia de curvas —, que vão ficar expostas até 24 de setembro em BH, foram produzidas com materiais dos quais Iole gosta bastante e já está acostumada, como o aço, o ferro, o cobre e, principalmente, o policarbonato, um polímero termoplástico muito utilizado em fibras de vidro e embalagens. “Com os metais já trabalho desde o começo da década de 1980. Com o policarbonato comecei quando fui convidada para fazer uma instalação externa. É um material altamente resistente e tem essa questão da transparência, das cores translúcidas, já que estou com muitas peças coloridas”, frisa. Algumas das esculturas remetem a grandes instalações de Iole de Freitas e, por isso, ganharam formatos menores para a mostra na Galeria Murilo Castro.
Trajetória Iole se formou no Rio e em seguida se transferiu para Milão, Itália, onde trabalhou no Corporate Image Studio da Olivetti, sob a orientação do arquiteto Hans von Klier. Lá começou seus experimentos em artes plásticas e expôs os primeiros trabalhos. Viveu durante toda a década de 1970 na Europa e retornou ao Brasil nos anos 1980, onde deu aulas de escultura contemporânea na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente, vive no Rio e suas instalações são expostas em todo o mundo.
Fran Junqueira faz arte brilhante em viaduto, Jornal do Commercio
Fran Junqueira faz arte brilhante em viaduto
Matéria originalmente publicada na seção de Cultura do Jornal do Commercio em 14 de setembro de 2011.
Artista carioca pintou móveis fluorescentes na Ponte do Vintém
Entre uma partida e outra de futebol, mesas improvisadas postas para o almoço e roupas secando em varais coloridos, a Ponte do Vintém, ao lado do Museu Murilo la Greca, ganhou uma obra de arte. Trata-se do projeto Estrelas, que a artista carioca Fran Junqueira trouxe para o Recife dentro da programação do SPA das Artes 2011.
A intervenção, que estava prevista para as 10h desta terça-feira (13/09), teve início com um pouco de atraso, o que já virou rotina entre as atrações do SPA. Ao meio-dia, a artista havia feito apenas o tratamento das paredes. “Ainda está muito no princípio, mas isso não é um problema, já que a pintura funciona melhor à noite, quando a tinta fluorescente se destaca mais”, contou Fran.
O trabalho da carioca consiste em pintar silhuetas de móveis antigos em pontes e viadutos usando tinta que brilha no escuro. A ideia é fazer uma referência às estrelas fluorescentes que se colam no teto de quartos infantis. “Os pais colocam as estrelas para que pareça que os filhos dormem sob um céu brilhante. Eu pinto esses móveis para que as famílias que dormem na rua pareçam dormir em uma casa mobiliada”, explicou.
Curtas de artistas plásticos são exibidos gratuitamente nesta quarta-feira, pe360graus.com
Curtas de artistas plásticos são exibidos gratuitamente nesta quarta-feira
Matéria originalmente publicada na seção de Cultura do site pe360graus em 13 de setembro de 2011.
Sessão especial Artes Plásticas do Banquete de Curtas conta ainda com um bate-papo com os representantes dos vídeos após a exibição
Vídeos de artistas plásticos e/ou de coletivos que atuam em Pernambuco compõem a programação da edição da mostra cineclubista e competitiva Banquete de Curtas desta semana. Dentro do clima do SPA das Artes, que acontece no Recife até o próximo domingo (18), o Cine Banquete vai exibir os vídeos “Netuno Noturno”, “Objeto Abjeto”, “O Céu”, “Panorama da Futura Arte Contemporânea Pernambucana”, “Sacrossantos Eroticus - A breve história de um cachorro”, “She-ra” e “Terceiro Universo”.
A sessão especial Artes Plásticas é realizada nesta quarta-feira (14), a partir das 19h, no bar e restaurante Banquete, com entrada gratuita. Após a exibição, haverá um bate-papo com os representantes dos curtas e o público escolherá o melhor vídeo através de votação na urna localizada no espaço. O representante do curta mais votado ganha um vale no valor de R$ 60 para consumo no próprio bar/restaurante.
As atividades do Cine Banquete ocorrem na 2ª quarta-feira de cada mês, no Espaço Cultural Banquete, que fica na rua do Lima, 195, no bairro de Santo Amaro, no Recife.
Artista fará pintura que brilha no escuro sob viaduto no bairro de Parnamirim, Diário de Pernambuco
Artista fará pintura que brilha no escuro sob viaduto no bairro de Parnamirim
Matéria originalmente publicada na seção de Cultura do Jornal Diário de Pernambuco em 12 de setembro de 2011.
A artista plástica Fran Junqueira, do Rio de Janeiro, está no Recife para participar do Spa das Artes, evento promovido pela Prefeitura que espalha trabalhos artísticos em espaços públicos da cidade. Nesta terça e na quarta, a partir das 10h da manhã, ela simulará uma espécie de moradia temporária embaixo da Ponte do Vintén, o viaduto que atravessa o Rio Capibaribe entre a Torre (na altura do supermercado Carrefour) e Parnamirim (perto do Plaza Shopping).
A artista usa pintura e desenho para instalar silhuetas de móveis antigos na área abaixo do viaduto-ponte, em uma reflexão sobre a moradia, já que os sem-teto costumam ocupar esses espaços. A área a ser ocupada por Fran fica na Rua Leonardo Bezerra Cavalcanti, por trás do Plaza Shopping, em frente à Vila do Vintém e ao lado do Museu Murillo La Greca. O título é Estrelas porque a tinta usada é fluorescente e brilhará à noite.
Sobre sua obra, Fran Junqueira explica que: "Tendo a crer que o Eu é a interseção entre mim e todos os entes do mundo e o que me interessa é justamente esse espaço de ligação e as fronteiras fictícias que acreditamos nos delimitarem do Outro. A Rua, por sua vez, é o outro e a casa somos nós e é no trânsito entre essa fixidez ilusória que mora meu foco, nesse jogo de esconder e mostrar, talvez como o tal círculo formado por linhas retas".
Também nesta terça, os artistas Sara Labranho (MG) e Geraldo Zamproni (PR) apresentam trabalhos no Parque Dona Lindu. O paranaense cria um zíper para unir estruturas de concreto. A mineira apresenta um vídeo onde apaga letras de uma frase encontrada na rua para alterar seu sentido original.
Na programação paralela do Spa, a galeria Mau Mau, no bairro do Espinheiro (Rua Nicarágua, 173), promove a terceira edição do Spam das Artes, com uma lojinha de objetos e produtos artísticos (camisas, DVDs, quadros, carimbos, livros, etc), uma oficina de serigrafia e uma viodeoinstalação da artista Lia Leícia. às 20h, o artista Paulo do Ampro faz show de "voz. vioão e violência".
No Museu Murillo La Greca, o público vê a exposição colaborativa da feira de arte contemporânea Desvenda (RS), com trabalhos de diversos artistas (clique aqui para ver imagens). No galpão localizado atrás do prédio, está o acervo de moda vintage da dupla Duas Caróis (a estilista Carol Azevedo e a produtora Carol Monteiro).
Leia texto sobre o trabalho de Zamproni, escrito pelo curador Cauê Alves:
Nelson Leirner, em 1967, realizou a série Homenagem a Fontana, que consistia em telas rasgadas que poderiam ser fechadas e reabertas com zíper. O título era uma fina ironia em relação ao gesto agressivo e romântico do pintor ítalo-argentino. Leirner permitia que o gesto de Fontana fosse refeito de modo anônimo, repetitivo e sem qualquer heroísmo. Zamproni, que não por acaso é formado em arquitetura, amplia essa possibilidade para o campo tridimensional, mesmo que seu trabalho se volte para outras questões. Até mesmo o jardim, que pressupõe certo período para que as raízes se fixem e as folhas cresçam passa a ser fugaz e portátil. O paisagismo é tratado pelo artista de modo tão prático que coloca em xeque a naturalidade das plantas. A velocidade com que se fecha e abre um zíper torna-se a mesma com que se faz e desfaz um jardim. Além de reaproximar a escala da arquitetura da escala do corpo humano, é como se no trabalho de Geraldo Zamproni tudo o que é essencial num edifício ou paisagem fosse também volátil.
SPA ocupa parque e polêmica cai na rede, Jornal do Commercio
SPA ocupa parque e polêmica cai na rede
Matéria originalmente publicada na seção de Cultura do Jornal do Commercio em 13 de setembro de 2011.
Dos dois projetos planejados para o Dona Lindu, só o primeiro começou no horário. Na internet, confusão em torno do nome SPAM das Artes cancelou uma exposição
Um jardim pré-fabricado. Foi como o paranaense Geraldo Zamproni definiu a intervenção Sustentabilidade 4, enquanto a realizava em um dos canteiros do Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, durante a tarde de ontem. O trabalho, que interferia na grama do jardim com materiais como zíper, telas metálicas e plásticas, abriu o segundo dia de atividades da Semana de Artes Visuais do Recife (SPA das Artes). O impacto causado pela obra, porém, poderia ser maior, caso tivesse mais visibilidade no local.
A exibição do vídeo Dízimo, da artista mineira Sara Lambranho, que completava a programação de ontem na Galeria Janete Costa (no Parque Dona Lindu) acabou não acontecendo no horário previsto, por conta de atrasos na produção, mas o vídeo será exibido até sexta.
Enquanto a programação do SPA das Artes seguia nos espaços públicos do Recife, nas redes sociais uma discussão movimentou virtualmente o evento. O artista plástico Fernando Peres, responsável pela Galeria Maumau, acusou de plágio, pelo Facebook, a realização do SPAM das Artes (evento paralelo ao SPA) também na Galeria Mariana Moura.
SPA das Artes de Norte a Sul do Recife, Jornal do Commercio
SPA das Artes de Norte a Sul do Recife
Matéria originalmente publicada na seção de Cultura do Jornal do Commercio em 10 de setembro de 2011.
Programação começa neste domingo e se prolonga por uma semana. Na Fundação Joaquim Nabuco, público confere mostra de videoarte
Começa neste domingo (11/9) a maratona da Semana de Artes Visuais do Recife (SPA das Artes). Durante oito dias, o público interessado em artes plásticas vai contar com um imenso número de exposições, mostras de vídeo, intervenções urbanas, performances, palestras, oficinas e lançamento de livros – sem contar com os shows, festas e feiras de arte e moda. A boa notícia é que a maior parte da programação oficial foi organizada em horários diferentes. Assim, com um pouco de atenção, dá para aproveitar o máximo das atividades.
O momento mais esperado do domingo é a abertura oficial do SPA, às 17h. O evento se espalha por todos os recantos do Museu Murillo La Greca, e agrega o lançamento da ReviSPA (revista do SPA), a inauguração da Desvenda (feira de arte com obras à venda) e uma feirinha de moda, pequenos móveis, objetos de design, vinis e livros.
SPA das Artes seleciona projetos de 20 artistas brasileiros
Na segunda-feira, o ponto alto do SPA das Artes é a abertura da Semana de Videoarte da Fundaj (no Cinema da Fundação), que segue até a sexta-feira. No primeiro dia, serão exibidos A jangada da medusa, de Bruno Vieira, e Esplendor, de Amanda Melo. Em seguida, há o lançamento do Catálogo de videoarte, que reúne informações atualizadas sobre todo o acervo de vídeos e filmes de artista da instituição.
Por fim, o público confere o debate Entre o cinema e a sala de exposição, sobre o entrecruzamento cada vez mais comum das artes plásticas com o cinema contemporâneo. Na mesa, estão Moacir dos Anjos, Camilo Soares, Yann Beauvais, Amanda Melo e Bruno Vieira.
Uma festa para celebrar os 10 anos do SPA por Diana Moura, Jornal do Commercio
Uma festa para celebrar os 10 anos do SPA
Matéria de Diana Moura originalmente publicada na seção de Cultura do Jornal do Commercio em 7 de setembro de 2011.
Evento toma conta do Recife a partir do próximo domingo, e se estende por uma semana em polos descentralizados
Este ano, a Semana de Artes Visuais do Recife (SPA das Artes) comera sua décima edição. Para celebrar o feito, a Secretaria de Cultura do Recife, aliada a inúmeros parceiros, decidiu bancar uma festa à altura. O SPA vai ter shows, exposições, intervenções urbanas, debates, lançamentos de livro e uma feira de arte. E, se essa maratona de projetos acontece todos os anos, em 2011 ela ganha mais consistência, resultado de uma melhor articulação entre as diversas propostas presentes na Semana de Artes.
Como todo evento longevo, o SPA atravessou uma crise nos últimos anos. Por isso, a nova equipe organizadora do evento partiu de uma reflexão sobre os incômodos de edições passadas para projetar a versão 2011. De acordo com Beth da Matta, que divide com Bruna Pedrosa a coordenadoria-geral, uma das questões a que elas ficaram mais atentas foi uma certa angústia, por parte dos organizadores, de algumas intervenções urbanas não serem compreendidas pelo público que transita pela cidade – e que, por não esperar uma ação artística em determinado local, não entendia o que se passava.
“Uma das soluções encontradas foi criar núcleos onde as ações passam a se desenvolver, mas sem perder o caráter descentralizado do SPA”, comenta Beth. Esses polos são o Parque Dona Lindu (Zona Sul), o Mamam no Pátio/Pátio de São Pedro (Centro) e o Museu Murillo La Greca. (Zona Norte) e seus entornos, onde acontecem as mostras dos artistas selecionados. “Embora a programação permaneça descentralizada, ela está concentrada nestes polos, que criam uma rede de instituições interligadas”, destaca a organizadora.
Além da programação bancada pela Prefeitura do Recife, com patrocínio da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e apoio da Fundação Joaquim Nabuco, Ministério da Cultura, galeria Bcúbico e Cult Hotel, o SPA ainda conta com o Spam (nas galerias Mariana Moura e Mau Mau), com aberturas de exposições nas galerias Amparo 60 e Dumaresq e o lançamento da ReviSPA.
Entre as novidades deste ano estão a criação do TranSPA (vans que interligam os polos de atividades), a Desvenda (feira de arte que surgiu em Porto Alegre e acontece no Recife, no Museu Murillo La Greca, com 64 participantes), o Canal Contemporâneo (site de divulgação das artes plásticas no País, que também se muda para a cidade e cobre toda a programação), a feira Moda Vintage (com roupas, acessórios, objetos de desing, móveis, vinis e livros garimpados por experts no assunto, também no Murillo La Greca).
A abertura do evento acontece no Museu Murillo La Greca, no próximo domingo (11/9), com a Desvenda, a feira de moda e o lançamento da ReviSPA. O encerramento é no domingo seguinte (18/9), no Parque Dona Lindu, com shows das bandas Caravana do Delírio, Raybans e Muzambo.
setembro 13, 2011
ArtRio registra volume de negócios acima do esperado, O Estado de S. Paulo
ArtRio registra volume de negócios acima do esperado
Matéria originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 13 de setembro de 2011.
Em apenas um dia, o mostruário de Max Perlingeiro, cujas estrelas eram vasos de Picasso, caiu à metade. Em dois, a galeria Mul.ti.plo Espaço Arte vendeu 30 obras; a H.A.P, 20. A Gentil Carioca teve de rapidamente repor as suas, tamanha a voracidade dos compradores. Na abertura, uma colecionadora chegou cedinho ao estande de Silvia Cintra e se atracou com uma escultura de Marcius Galan, como se gritasse: "É minha!" Nos corredores, Waltercio Caldas, Tunga, José Bechara e Carlos Vergara, entre outros artistas, puderam constatar: a primeira edição da ArtRio, realizada até domingo em dois galpões do Pier Mauá, mostrou que havia uma demanda reprimida muito maior do que se supunha por uma feira de arte contemporânea na cidade.
Os negócios fechados ficaram em R$ 120 milhões, quando a expectativa inicial era de modestos R$ 50 milhões. Nas primeiras 24 horas, foram R$ 60 milhões. A frequência (46 mil visitantes) também fora subestimada, assim como a média de permanência. "No primeiro dia, um colecionador ficou de 11h às 18h30 só no primeiro galpão", contou Elisangela Valadares, organizadora, com Brenda Osorio. "A gente já começou com um resultado que só esperava para 2013."
Aparentemente, o apetite dos compradores era muito mais pelas obras dos artistas brasileiros - em alta no mundo todo - do que pelas novidades trazidas pelas 40 galerias estrangeiras (das Américas, Europa e Austrália, praticamente metade do total). Os estandes das nacionais estavam mais cheios, e recebiam cheques mais vultosos, ressentiam-se os que vieram de longe.
"Os colecionadores brasileiros me parecem muito cautelosos, preferem os artistas daqui, já conhecidos. Mas é uma primeira edição, acontece", disse, cabisbaixa, Jenny Nachtigall, gerente da Crone, galeria de Berlim, rodeada por trabalhos de artistas alemães. "Ainda assim, pretendo voltar no ano que vem, sinto que há muito potencial."
Já a carioca Juliana Cintra, que colaborou para a preparação da feira, estava bem satisfeita: "Estou de alma lavada, foi muito melhor do que esperávamos. Vendi Débora Bolsoni, Daniel Senise, Carlito Carvalhosa... ", contabilizava sexta, sem dar cifras. Naquele dia, o maior chamariz era um Amilcar de Castro a R$ 190 mil.
Paul Jenkins, representante da maior rede de galerias do mundo (são onze, de Nova York a Hong Kong), a Gagosian, estava empolgado. Ele vê o futuro da feira como "promissor". "Ficou lindo e elegante", elogiava. A organização informou que 90% dos 83 expositores reservaram espaço para 2012 - alguns, estandes mais amplos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Exposição destaca lado professor de Beuys e Leirner por Silas Martí, Folha de São Paulo
Exposição destaca lado professor de Beuys e Leirner
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 13 de setembro de 2011.
Alemão e brasileiro influenciaram rumos e estilo de uma geração de artistas que foram seus alunos, em Düsseldorf e em São Paulo
Joseph Beuys disse que sua maior obra de arte era ser professor. Nelson Leirner atormentou seus alunos e chegava a dar notas sorteando cartas aleatórias de baralho.
Enquanto Beuys, figura central da arte no século 20, ajudou a plasmar uma linguagem no pós-guerra dando aulas em Düsseldorf, Leirner formou na Faap uma geração de artistas hoje consagrados no cenário nacional.
Na mostra que começa hoje no Instituto Tomie Ohtake, obras de Beuys respingam nos trabalhos de seus discípulos, como Katharina Siverding, Lothar Baumgarten, Imi Knoebel e Blinky Palermo.
Seus rabiscos em sala de aula acabaram reforçando a ideia de que o processo é mais interessante do que o resultado final, traço claro nos trabalhos de seus alunos, como a fotografia de Sieverding ou as pinturas de Knoebel.
"Isso era o cosmos dele", diz Liz Christensen, curadora da mostra, sobre os desenhos esquemáticos de Beuys. "Ele empurrava cada aluno a encontrar sua voz e não ligava quase nada para as notas."
Numa sala ao lado, é clara a influência de Leirner sobre Leda Catunda, Dora Longo Bahia, Caetano de Almeida, Iran do Espírito Santo, Laura Vinci e Sergio Romagnolo.
"Ele emparedava muito os alunos", diz o curador Paulo Miyada. "Fazia tudo para desestabilizar as crenças deles."
Tanto que a peça central da exposição é uma série de desenhos de flores que Leirner encomendou a seus alunos e que expôs depois, juntos, numa galeria, como obra sua.
BEUYS E BEM ALÉM
QUANDO de ter. a dom., das 11h às 20h; até 30/10
ONDE Instituto Tomie Ohtake (av. Brig. Faria Lima, 201; tel. 0/xx/11/2245-1900)
QUANTO grátis
Trilogia de Yael Bartana será exibida no Brasil por Fábio Cypriano, Folha de S. Paulo
Trilogia de Yael Bartana será exibida no Brasil
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 13 de setembro de 2011.
A 54ª Bienal de Arte de Veneza, em cartaz até 27 de novembro, teve nos pavilhões nacionais o foco de maior repercussão. Deles, um dos mais comentados foi o da Polônia.
Primeiro, por sua escolha inédita, com a artista Yael Bartana, de Israel, representando o país polaco.
Depois, pelo caráter polêmico da obra, a trilogia "E a Europa se Abismará", uma série de filmes sobre o Movimento da Renascença Judaica na Polônia, que defende o retorno de 3 milhões de judeus com antepassados poloneses expulsos pelo nazismo.
A trilogia é um dos três programas de filmes organizados pelo Centro da Cultura Judaica de São Paulo, nos dias 1º e 2 de outubro, paralelos à abertura do 17º Videobrasil.
A seleção foi organizada por Sergio Edelsztein, do Centro de Arte Contemporânea (CCA), em Tel Aviv. A curadoria de Edelsztein reuniu artistas que também terão trabalhos exibidos no Videobrasil, como Nurit Sharett e Dor Guez.
Em "E a Europa se Abismará", Bartana utiliza, de forma sarcástica, os mitos de criação do Estado de Israel, como os pioneiros sionistas, responsáveis por sua construção.
Ao focar no discurso de um jovem líder que defende o retorno do judeus à Polônia, a artista apresenta uma situação ambígua, por meio da retórica da propaganda populista.
Tratando de um tema ficcional, Bartana toca numa das principais feridas da atual situação de Israel em suas disputas por território e identidade.
"Há muito tempo eu tenho interesse em sair da bolha do mundo da arte para tocar a realidade de uma forma mais direta", defende a artista.
Festival terá videoarte política de Israel por Fábio Cypriano, Folha de S. Paulo
Festival terá videoarte política de Israel
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 13 de setembro de 2011.
Videobrasil, que começa no dia 30, apresentará obras de cinco artistas que lidam com questões de identidade
Em paralelo, Centro da Cultura Judaica de São Paulo faz mostra que terá obra apresentada na 54ã Bienal de Veneza
Poucos lugares do mundo são palco de um conflito tão marcante como Israel.
De cunho religioso, político e social, esse conflito acabou fornecendo um amplo material de inspiração para a arte contemporânea.
"Aqui, o artista que trabalha em fotografia e vídeo tem que fazer um esforço muito grande para não olhar a realidade", conta Sergio Edelsztein, criador e diretor do Centro de Arte Contemporânea (CCA), em Tel Aviv.
Parte dessa contundência toda será vista na 17ª edição do festival Videobrasil, que terá início no próximo dia 30 e apresentará trabalhos de cinco artistas de Israel, na seção Panoramas do Sul.
"Esse é o maior grupo de artistas de Israel em toda a história do festival e reflete bem como a questão política é abordada pela arte naquele país", conta Solange Farkas, diretora do festival.
"Vivemos uma urgência, há sempre algo acontecendo. E, se os trabalhos aqui são políticos, o vídeo é mais, por sua própria característica de gravar o real", avalia Edelsztein.
Além do Videobrasil, o Centro da Cultura Judaica organizou um programa paralelo ao festival, com 14 filmes, organizado por Edelsztein.
Entre eles está a polêmica trilogia "E a Europa se Abismará", da israelense Yael Bartana, atualmente em cartaz no pavilhão da Polônia na 54ª Bienal de Veneza.
TERRITÓRIOS OCUPADOS
Entre os trabalhos mais políticos dos artistas de Israel está "H2", de Nurit Sharett, que retrata o cotidiano de um grupo de jovens mulheres que fizeram um workshop de vídeo com a artista.
Elas vivem em Hebron, cidade próxima a Tel Aviv, dividida em duas seções: H1, que pertence à Palestina, e H2, um dos territórios ocupados por Israel.
Nessa última seção, onde vive o grupo de alunas de Sharett, os palestinos sofrem uma série de limitações, até mesmo para andar de carro.
A câmera da artista, então, registra as ruas dessa área e as famílias das alunas. "É um trabalho de arte pela paz militante", explica Sharett.
Ela chegou a participar de um casamento, mas não pôde registrá-lo.
"Fiquei muito surpresa ao ver como, por baixo de toda aquela roupa, elas estão com vestidos brilhantes e alegres. Resolvi fazer o oposto, gravando a minha transformação ao usar um hijab [tipo de véu islâmico].
Foi uma forma de respeito", conta a artista.
Sharett, apesar de ser uma artista respeitada em seu país, nem sequer comercializa seus trabalhos em galerias de arte, financiando-os com prêmios e bolsas.
"Uma das razões para obras aqui terem esse caráter político é que o mercado de arte é pequeno e insignificante", afirma Edelsztein.
Outro exemplo dessa abordagem política é "Melancias sob a Cama", de Dor Guez.
De ascendência árabe-cristã, o artista usa memórias de infância, como a relação de seu avô com as melancias, um símbolo de Israel.
"A maioria nunca sabe nada da minoria. Não sou anti-Israel, mas me sinto na responsabilidade de tratar desses assuntos", diz Guez.
O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite do Centro da Cultura Judaica de São Paulo.
setembro 12, 2011
Muita arte, pouco tempo por Luiz Fernando Vianna, O Globo
Muita arte, pouco tempo
Matéria de Luiz Fernando Vianna originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Globo em 12 de setembro de 2011.
A três semanas da Europália, evento com artistas brasileiros em cinco países, repasses de R$ 30 milhões de verbas públicas ainda estão começando
RIO - Tudo o que se refere à presença do Brasil como país homenageado da 23ª edição da Europália é em grande escala, menos o tempo. Contando na programação com cerca de 130 shows, 90 conferências, 60 apresentações de dança, 40 de teatro e 16 exposições divididos por cinco países (Bélgica, Holanda, Alemanha, França e Luxemburgo), o evento terá abertura acompanhada pela presidente Dilma Rousseff em Bruxelas daqui a três semanas, em 4 de outubro. E até agora praticamente nada dos R$ 30 milhões do governo federal foi repassado a artistas e produtores.
A saga começou em 2010, quando o então ministro da Cultura, Juca Ferreira, aceitou que o Brasil fosse homenageado, mas não previu dotação suficiente no orçamento de 2011 - apenas R$ 2 milhões, segundo o diretor de Relações Internacionais do MinC, Marcelo Dantas.
Após nove meses de estica daqui e puxa dali, a ministra Ana de Hollanda chegou na última segunda-feira ao rateio final da conta: R$ 10 milhões saem do departamento de Dantas; R$ 6 milhões, da Funarte; R$ 4 milhões, do Instituto Brasileiro de Museus; R$ 1 milhão, do Itamaraty, e R$ 9 milhões são dinheiro de renúncia fiscal captado com 11 empresas via Lei Rouanet.
- Os repasses estão começando. Estamos apertados, mas ainda dentro do cronograma - afirma Dantas, que, perguntado se a programação está 100% confirmada, adota a cautela. - Sempre pode acontecer um cataclisma, ou o departamento jurídico do ministério ver problema em algum contrato. Há um grau de incerteza que é da natureza do processo.
Os curadores convidados trabalharam meses de graça, mas já estão recebendo. Os artistas chamados por eles ainda não. Esses curadores dizem não poder cogitar a possibilidade de verbas não saírem e nomes serem cortados.
- Vou defender cada um até o final. Se faltar um, perde o sentido. Nem que eu vá para a rua arrumar dinheiro - afirma João Carlos Couto, responsável pelas artes cênicas.
- Traria um ônus muito grande para a credibilidade do país. Seria uma crise diplomática - diz o curador de música, Benjamin Taubkin.
- Seria desastroso, algo extremamente negativo para o país em todos os aspectos. Não quero pensar nessa hipótese - afasta Sonia Salcedo, que selecionou os artistas plásticos contemporâneos.
Este setor, que conta com Beth Jobim, José Bechara e outros, é um dos principais focos de incerteza, pois há artistas que precisam montar seus trabalhos in loco, mas as passagens não foram emitidas.
- Vivemos um estado de espera sem informações. A ansiedade cresce e a desconfiança também. O Ministério da Cultura continua sendo uma excentricidade no orçamento federal, um ornamento - diz David Cury, escolhido para realizar a intervenção "Corumbiara não é Columbine" no centro de arte Bozar, em Bruxelas.
O trabalho da curadoria começou polêmico em fevereiro, quando o pintor Adriano de Aquino foi convidado para substituir na direção geral o crítico Paulo Herkenhoff, escolhido pelo ministro anterior. Foram substituídos os curadores de artes visuais - com alguns estrangeiros sendo trocados por brasileiros - e os conceitos das exposições, especialmente as duas principais, que serão abrigadas no Bozar: "Brazil.Brasil" (do século XIX ao modernismo) e "Art in Brazil" (de 1950 aos dias de hoje).
- Não ouso narrar a história da arte contemporânea brasileira só a partir da antropofagia. Ela não dá conta - afirma Adriano, que decidiu priorizar a linha construtivista, havendo uma grande mostra dedicada a ela (neoconcretismo e seus desdobramentos, por exemplo), com organização do crítico Ronaldo Brito e núcleos de Franz Weissmann, Volpi, Milton Dacosta e outros. - Os estrangeiros ainda querem ver o Brasil na linha "Uma aventura na África". Quando nos mostramos contemporâneos na abertura de temas e reflexões, eles tentam nos diminuir. Isso aconteceu na relação com os belgas.
Tensões com os anfitriões
Todos os curadores relatam tensões no diálogo com os representantes da Europália. Uma das preocupações dos belgas era ter na programação artistas capazes de atrair público.
- O rapaz me disse que ninguém menos do que Paulo Coelho seria capaz de encher o auditório de 300 pessoas do Bozar. Não vejo Paulo Coelho tendo alguma coisa importante a dizer sobre literatura brasileira - diz a professora e ensaísta Flora Süssekind, que convidou João Ubaldo Ribeiro para ocupar a função de escritor brasileiro mais conhecido.
Segundo ela, foi preciso batalhar nome por nome, entre eles Bernardo Carvalho, Milton Hatoun e Silviano Santiago. Entre os poetas, uma noite será dedicada a Augusto de Campos, de 80 anos, que estará acompanhado de Adriana Calcanhotto, Arnaldo Antunes, Antonio Cicero e Cid Campos. Para a antologia por ora batizada de "Poesia brasileira contemporânea", houve luta contra o belga que queria chamá-la de "A luz de Ipanema" ao ver potencial de vendas num verso de Claudia Roquette-Pinto.
- O que eles têm mais dificuldade de entender é quando a gente se pensa - ironiza Flora, que diz ter concebido a programação, que inclui conferências em universidades, imaginando poucos recursos (coube-lhe o R$ 1 milhão do Itamaraty).
Taubkin também ouviu - e rejeitou - a demanda por astros da música brasileira.
- Não se justificava enviar quem já vai com frequência à Europa. É preciso ampliar o espectro. Como é dinheiro público, quis fazer o mais abrangente possível - conta o músico, que convidou, dentre outros, Guinga, Tom Zé, a Velha Guarda da Portela e Céu, além de montar noites temáticas, como as reservadas ao choro e à viola caipira.
Assim como a literatura e a música, as artes cênicas estarão na Bélgica e nos outros países da Europália, entre outubro e fevereiro de 2012. Lia Rodrigues, por exemplo, estreará um novo balé, ainda sem título, em Paris, enquanto o diretor Enrique Diaz mostrará sua versão de "A gaivota" primeiramente em Amsterdã. João Carlos Couto também optou pela pluralidade, conciliando do Grupo Corpo ao Balé Folclórico da Bahia, das "Bacantes" de José Celso Martinez Corrêa a uma apresentação de índios caiapós e mehinakus.
- O Brasil pobrezinho ainda encanta a Europa. Precisamos dizer a eles que a mostra era artística, não social - diz Couto.
Oitava Bienal do Mercosul reúne "agressões" às bandeiras por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Oitava Bienal do Mercosul reúne "agressões" às bandeiras
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 10 de setembro de 2011.
Evento em Porto Alegre começa com orçamento de R$ 12,5 milhões
Um batalhão de formigas devastou campos de areia tingida e chegou ao centro da bandeira brasileira, embaralhando ordem e progresso.
Na Bienal do Mercosul, que começa hoje em Porto Alegre, nações são arremedos de ícones e símbolos vazios.
Pelo menos a colônia de formigas morando nas bandeiras de areia do japonês Yanagi Yukinori dá conta desse estado incerto das coisas.
Tendo a mostra o nome de um tratado comercial até hoje capenga, nada mais natural do que discutir territórios em frangalhos no meio da crise econômica que assola o mundo desenvolvido.
A oitava edição tem o maior orçamento até agora, R$ 12,5 milhões. Se não traz os medalhões do mercado, se consolidou como vitrine de artistas emergentes.
"É o momento para perguntar o que é uma nação, que conflitos envolve, o que é um Estado nacional", resume o colombiano José Roca, curador da mostra. "Não queríamos fazer a bienal das bandeiras, mas era inevitável."
Tanto que elas estão por toda parte. Leslie Shows, americana, abre a mostra com uma série de bandeiras esvaziadas de cor, panos brancos com poças de tinta a seus pés.
Francis Alÿs exibe uma intervenção sobre a bandeira do México, país que o artista belga adotou há décadas.
Estendendo a agressão às bandeiras, a paraguaia Paola Parcerisa destrói uma de seu país, sobrando só um brasão flutuando em meio a contornos vazios. Luis Romero, venezuelano, tinge tudo de preto, deixando só alguns símbolos em branco numa série de bandeiras.
Mais sofisticados, os trabalhos da britânica Melanie Smith e do espanhol Santiago Sierra levam essa questão a outro patamar. Ela mostra crianças segurando fragmentos de imagens icônicas da história do México na arquibancada do estádio Azteca, na capital do país.
Desenhos se formam e se perdem com rapidez assustadora, denunciando como a cultura pode ser subordinada à política. Sem imagens, Sierra criou uma cacofonia no jardim do palácio Piratini, sede do Executivo gaúcho, com megafones tocando hinos dos países do Mercosul.
Nesse concerto de nações, sobressaem o caos e uma ideia difusa de nacionalidade em tempos de revolução e crise.