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setembro 8, 2011
Andrea Matarazzo fala das controvérsias de sua gestão em entrevista exclusiva por João Luiz Sampaio, Maria Eugênia de Menezes e Ubiratan Brasil, O Estado de S.Paulo
Andrea Matarazzo fala das controvérsias de sua gestão em entrevista exclusiva
Matéria de João Luiz Sampaio, Maria Eugênia de Menezes e Ubiratan Brasil originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S.Paulo em 8 de setembro de 2011.
Secretário de Estado da Cultura de São Paulo fala sobre polêmicas e mudanças em projetos
Na entrevista a seguir, o secretário de Estado da Cultura, Andrea Matarazzo, aborda temas como o Festival de Inverno de Campos do Jordão, a nova sede do Museu de Arte Contemporânea e as trocas no comando do Museu da Imagem e do Som, em declarações repercutidas na classe artística paulista.
Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão
"Pretendo transferir o comando do festival, hoje feito pela Santa Marcelina e pela Escola Tom Jobim, para a Osesp. A Santa Marcelina estava sobrecarregada. Como teremos uma ampliação do projeto Guri, preferimos redistribuir o festival. A Osesp ainda está preparando o projeto, mas a intenção é manter a orientação pedagógica atual."
O Estado apurou:
A Osesp já está sobrecarregada. Tem tocado mais e ensaiado menos. Aumentou consideravelmente seu número de concertos. Em 2009, segundo o Relatório Anual de Compromisso Social, foram 228 apresentações, além de 51 ensaios/concertos didáticos; em 2010, o número subiu para 252, mais 60 ensaios/concertos didáticos. Esses dados não incluem as sessões de gravações. Por conta do acúmulo de trabalho, os ensaios de segunda-feira foram cancelados. A Osesp também não tem experiência pedagógica na execução de um evento nos moldes de Campos do Jordão. Sua academia, bastante recente, conta com apenas 20 alunos e ainda não apresentou resultados pedagógicos consistentes.
O tamanho do festival
"O festival terá a dimensão de sempre. Não terá a dimensão que teve em 2010, quando cresceu muito. Na última edição, não houve redução, mas uma volta ao tamanho usual."
O Estado apurou:
Havia um processo de crescimento do festival, anunciado em 2009 e interrompido em 2011. Houve redução no número de concertos, que passou de 83, em 2010, para 55, em 2011. Também houve diminuição de orçamento - de R$ 6,5 milhões para R$ 5,5 milhões -, de duração - de 29 para 20 dias - e do número de bolsistas - de 170 para 164.
Nova sede do MAC
"O prédio está pronto. Negociamos R$ 10 milhões para a manutenção. Mas tive a surpresa de receber uma carta falando do problema do centro acadêmico da Faculdade de Direito da USP. Mas terei uma reunião com o reitor para definir uma data. Vazio o prédio não vai ficar. Poderíamos instalar uma coleção contemporânea da Pinacoteca, por exemplo."
O Estado apurou:
Diante da relutância do reitor, a Secretaria começou a negociar com a Pinacoteca. O prédio seria destinado a acomodar coleções privadas contemporâneas. As negociações entre Secretaria e USP só foram retomadas após interferência direta do Palácio dos Bandeirantes. Reitor e secretário se reuniram na Casa Civil.
Complexo Cultural da Luz
"Não houve corte de 30%. O complexo nasceu com um tamanho, mas foram acrescentando coisas nele: uma escola de dança, uma central de produção de cenários. O contrato assinado não previa o tamanho do prédio. Agora, chegamos às medidas ideais. São 71 mil m², que é o tamanho do Lincoln Center."
O Estado apurou:
O contrato assinado entre a Secretaria e o escritório Herzog& deMeuron, em 2008, baseava-se em um programa elaborado pela empresa inglesa Theatre Project Consultants. Nesse documento, que consta como anexo do contrato, estavam previstas a Escola de Dança e a Central de Produção. Havia também tamanhos especificados para todas as áreas.
Escola Tom Jobim
"A sede da escola dentro do Complexo Cultural da Luz foi reduzida porque estava superdimensionada. Havia espaço previsto para 4 mil alunos. Mas a escola só tem 1.800. Ela vai abrigar a escola integralmente, com capacidade para até 2 mil alunos."
O Estado apurou:
A área prevista para a escola dentro do complexo não se baseava em uma previsão de crescimento, mas nas necessidades do número atual de alunos. Em abril de 2010, a área destinada à Tom Jobim era de 5.900 m². Em julho deste ano, essa previsão caiu para 2.580 m², um tamanho inferior à área que a escola já ocupa em sua sede atual: 3.700 m².
Museu da Imagem e do Som
"A troca de diretoria no MIS foi necessária, pois o museu era caro e restrito. Então, fomos ajustando as diretorias, apertando os controles. André Sturm não foi indicado por mim. Apenas sugeri o seu nome ao conselho, que aceitou minha sugestão. A Organização Social do MIS não estava cumprindo metas. Eu poderia ter simplesmente descredenciado e colocado outra no lugar. Sempre que sentir que os recursos públicos não estão bem aplicados, vou interferir sem cerimônia."
O Estado apurou:
"Não foi apenas uma sugestão. Houve pressão política para que o conselho aceitasse o nome de André Sturm", diz Eide Feldon, ex-presidente do Conselho do MIS. "Faltou negociação." Ela também assegura que não houve descumprimento de metas por parte da OS. "Tivemos crises, mas todas as metas estavam sendo cumpridas. Ele não tinha motivos para descredenciar a OS." A lei que dispõe sobre as Organizações Sociais do Estado, assinada pelo governador Mario Covas em 1998, é clara: apenas o Conselho Administrativo da OS pode "designar e dispensar os membros da Diretoria". O professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas, Mario Engler, explica que a legislação não prevê que caiba ao governo nomear ou destituir os membros de uma OS. "Essa influência do poder público até pode acontecer, mas em um cenário de descumprimento reiterado das obrigações por parte da OS."
SP Escola de Teatro
"O novo prédio, na Praça Roosevelt, está pronto. Só tivemos uma dificuldade na compra dos móveis e do elevador. Eles não mudaram ainda porque estão enrolando um pouco. Existe espaço suficiente para todas as atividades da escola. Eles é que fizeram o projeto do prédio. Eu herdei isso. Eles é que dimensionaram, agora tem que caber."
O Estado apurou:
A diretoria da escola nega ter participado diretamente da elaboração do projeto da sede na Praça Roosevelt. Não haveria, no novo prédio, área suficiente para abarcar todas as atividades que hoje são desenvolvidas pela SP Escola de Teatro em sua sede provisória, no Brás.
Conselho da Osesp
"Não vou me meter no Conselho da Osesp. Se aceitaram a indicação de Lilia Schwarcz é porque ela tinha qualificações. Não me parece que haja algo estranho no fato de ela ser mulher de Luiz Schwarcz. Não há impedimento legal."
O Estado apurou:
Em agosto, deixaram a Fundação Osesp os conselheiros Luiz Schwarcz, Pérsio Arida, José Ermírio de Moraes Neto e Celso Lafer, que foram substituídos por Lilia Schwarcz, Alberto Goldman, Fábio Barbosa e José Carlos Dias. A troca seria uma maneira de manter Schwarcz, que foi o principal responsável pela escolha da maestrina Marin Alsop para o posto de regente titular, ligado à instituição, já tendo em vista o encerramento do mandato de Fernando Henrique Cardoso na Presidência do conselho.
setembro 6, 2011
Vitrine de arte por Catharina Wrede e Cristina Tardáguila, O Globo
Vitrine de arte
Matéria de Catharina Wrede e Cristina Tardáguila originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Globo em 6 de setembro de 2011.
Com 83 galerias do Brasil e do mundo, a ArtRio começa nesta quarta-feira no Píer Mauá disposta a atrair 20 mil pessoas e vender R$ 100 milhões
RIO - A ambição é grande: reunir 700 obras de arte e 83 galerias do Brasil e do mundo às margens da Baía de Guanabara para tentar inserir o Rio, de uma vez por todas, no mapa do concorrido mercado mundial de arte. Assim nasce a ArtRio, a primeira feira internacional de arte contemporânea da cidade, nos armazéns 2 e 3 do Píer Mauá. Com abertura amanhã às 14h, para convidados, e quinta, para o público, a feira vai funcionar de 12h às 20h, até domingo, com entrada a R$ 30 (inteira).
- Esta é a edição número um. Não temos um modelo anterior para ajustar, mas visito feiras há 15 anos e, nelas, sempre mantive o olhar crítico de quem toda a vida sonhou montar uma feira própria, no Rio - diz a curadora e responsável pelo evento Elisangela Valadares.
Há dois anos, Elisangela uniu-se à amiga e também curadora de arte Brenda Valansi Osorio para pôr de pé a primeira edição da ArtRio, que desde o início se pretendia grande. Há três meses, as duas receberam o reforço de uma dupla carioca especializada em entretenimento: os empresários Luiz Calainho e Alexandre Accioly.
- A arte é entretenimento - defende Calainho. - Em cinco anos, a ArtRio estará entre as três maiores do planeta - aposta.
Em cinco dias, os organizadores esperam ver circulando pelo Píer Mauá 20 mil pessoas e não escondem: pretendem vender cerca de R$ 100 milhões.
- Teremos obras que custam entre R$ 1 mil e R$ 1 milhão. É uma boa oportunidade pra quem quer começar uma coleção - diz Brenda. - Na ArtRio, tudo o que estiver exposto já passou por um crivo cuidadoso de profissionais. Lá, o visitante poderá ter a certeza de que está diante de obras de qualidade.
A ArtRio conta com a participação das principais galerias da cidade. A Pinakotheke Cultural, por exemplo, terá uma cerâmica de Picasso; a Anita Schwartz, obras de Nuno Ramos e Gustavo Speridião, entre outros; a Silvia Cintra + Box 4, de Miguel Rio Branco; e a Lurixs, de José Bechara. Já a Mul.ti.plo levará alguns dos trabalhos mais acessíveis do evento, como "Zero dollar", de Cildo Meirelles, no valor de R$ 5 mil.
Importantes endereços de São Paulo também marcam presença. A Galeria Vermelho trará obras de Rosangela Rennó, entre outros; a Nara Roesler, de Carlito Carvalhosa, Hélio Oiticica e O Grivo; e a Ricardo Camargo, a obra mais cara da ArtRio: "Fortaleza de Arkadin", de Wesley Duke Lee, avaliada em R$ 1,5 milhão.
De fora do país, vêm galerias de Lisboa (Filomena Soares), Nova York (Magnan Metz), Berlim (Crone) e Paris (Hussenot Gallery), além de Argentina, México, Peru, Espanha e Austrália.
Além dos estandes de cada galeria, o evento terá um espaço (Solo Projects) destinado a dez artistas, nacionais e estrangeiros, especialmente selecionados por Julieta Gonzalez, da Tate Modern, e Pablo Leon de La Barra, que atua hoje em Londres. A programação conta ainda com palestras e mostras de vídeos e cinema, no próprio Cais e no Cine Joia, em Copacabana.
Ao mesmo tempo em que as expectativas são altas, a ArtRio precisa vencer uma prova de fogo para se consolidar como um evento que merece atenção. Exemplo disso são os olhares, curiosos mas ainda reticentes, com que representantes de algumas grandes galerias pretendem circular pela feira.
Nesse grupo de "olheiros" estará o inglês Paul Jenkins , há dez meses na cidade representando o americano Lawrence "Larry" Gagosian, dono da maior rede de galerias do mundo.
- Não estou autorizado a comprar nada nesta edição da ArtRio - diz. - Meu objetivo é apenas ver como a feira funciona, como foi organizada e se as pessoas estão mesmo comprando. Isso não quer dizer, no entanto, que não participaremos do evento mais para a frente. A Gagosian Gallery tem por filosofia não fazer parte do primeiro ano de nenhuma feira. Primeiro apreciamos o evento e, só depois, entramos nele. Em Hong Kong, por exemplo, foram quatro ou cinco anos de observação.
Jenkins está otimista em relação ao futuro da ArtRio. Pelo que viu até agora, acha que o evento está bem estruturado e que tem potencial para se firmar como uma espécie de Miami Basel, feira de arte que acontece em Miami há 41 anos. Mas já notou peculiaridades:
- A ArtRio faz propaganda no rádio - observa o "olheiro". - Isso a diferencia de outras feiras que conheço mundo afora, mas tudo bem. Os organizadores querem mesmo que ela pegue, que seja popular.
Fotografia ganha em outubro revista 'Zum' por Fabio Victor, Folha de S. Paulo
Fotografia ganha em outubro revista 'Zum'
Matéria de Fabio Victor originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 6 de setembro de 2011.
Publicação semestral do Instituto Moreira Salles busca ampliar debate com outras áreas da arte contemporânea
Ensaio inédito de Miguel Rio Branco comentado por Rodrigo Naves é um dos destaques da 1ª edição
Circulou nos últimos meses entre fotógrafos e diletantes um zunzunzum de que estaria a caminho uma nova publicação brasileira voltada à área. Ficaram pelo caminho dois zuns, e em outubro sai a tal novidade, a revista "Zum".
Iniciativa do IMS (Instituto Moreira Salles), cujo acervo de 550 mil imagens é um dos mais significativos do país, especialmente dos séculos 19 e 20, a semestral "Zum" estará voltada, entretanto, à fotografia contemporânea. "A 'Zum' parte de um esforço de expandir fronteiras para além das exposições e catálogos. O que conseguimos colocar na parede é muito reduzido", afirma o coordenador-executivo do instituto, Samuel Titan Jr.
A proposta, explica, "é passar da coleção para discussão e reflexão" da fotografia contemporânea, evitando-se publicar na revista o acervo histórico do IMS.
A "Zum" será editada por Thyago Nogueira, fotógrafo e editor da Companhia das Letras (e "erudito numa matéria em que há poucos", nas palavras de Titan).
Autor do nome da revista -abrasileiramento do termo zoom, efeito fotográfico de aproximar a imagem-, Nogueira planeja valer-se do boom por que passa a fotografia digital para criar um debate com outras artes. "Não é para especialistas, é uma revista de cultura, com um olhar mais amplo", diz.
No primeiro número (ainda sem preço definido), um ensaio inédito de Miguel Rio Branco será comentado pelo crítico Rodrigo Naves. E um texto do escritor Bernardo Carvalho sobre exibicionismo na fotografia acompanhará ensaio do japonês Kohei Yoshiyuki. Realizadas à noite com filme infravermelho, as fotos mostram casais namorando (e sendo observados) num parque de Tóquio nos anos 1970.
Melanie Smith expõe em São Paulo, Veneza e Porto Alegre por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Melanie Smith expõe em São Paulo, Veneza e Porto Alegre
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 6 de setembro de 2011.
Melanie Smith vê delírio, melancolia e compulsão na condição latino-americana. Britânica, ela se radicou no México e agora representa o país na Bienal de Veneza.
Sua obra, um vídeo em que 3.000 crianças seguram fragmentos de imagens icônicas do país na arquibancada do estádio Azteca, na Cidade do México, vai agora também à Bienal do Mercosul, a partir de sábado em Porto Alegre. Mas antes, Smith expõe em São Paulo pinturas, vídeos e instalações em que, com "olhar europeu", tenta decifrar os fracassos da região.
Nas telas, Smith constrói resquícios cinzentos de paisagens, como uma fotografia fuliginosa da realidade. "Meu trabalho é uma visão de soslaio do mundo", diz Smith. "Há um elemento fugidio nessas pinturas. Tem a ver com o minimalismo quebradiço que surgiu aqui."
MELANIE SMITH
QUANDO seg. a sex., 10h às 19h; sáb., 11h às 15h; até 13/9
ONDE Nara Roesler (av. Europa, 655, tel. 0/xx/11/3063-2344)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre
Mostra revela cartas de Franz Weissmann por Gabriela Longman, Folha de S. Paulo
Mostra revela cartas de Franz Weissmann
Matéria de Gabriela Longman originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 6 de setembro de 2011.
Correspondência inédita do escultor filiado ao neoconcretismo exibe bastidores artísticos e políticos dos anos 60
Artista plástico completaria cem anos no dia 15; Pinakotheke inaugura exposição retrospectiva no Rio
"Franz, se aí está muito chato, volta! Viajar demais cansa (...) Afinal o mundo é todo igual! Vigaristas e anjos por todo lado. Um grande abraço da amiga de sempre Lygia Pape."
Se estivesse vivo, o escultor neoconcreto Franz Weissmann (1911-2005) completaria cem anos no próximo dia 15. Ontem, a Pinakotheke do Rio inaugurou em sua homenagem uma retrospectiva com mais de 90 esculturas -colunas, esculturas em aço ou o famoso "Cubo Vazado", exibido na Bienal de 1953.
Mas, para além das obras, a exposição traz à tona, em seu catálogo, uma série de cartas inéditas trocadas entre Weissmann e amigos da cena artística e intelectual, em especial durante o período em que o escultor viveu na Europa, de 1959 a 1965. Natural de Knittelfeld, na Áustria, Weissmann chegou ao Brasil ainda criança. Em 1959, foi um dos signatários do Manifesto Neoconcreto.
"Comecei a montar a exposição e sabia que essa correspondência tinha que estar em algum lugar. Até que a família achou, num fundo de gaveta, a caixa fechada, coberta de pó. Passei a noite em claro debruçado sobre o material", contou à Folha o curador e diretor da Pinakotheke, Max Perlingeiro.
Na caligrafia, às vezes difícil de decifrar, ele encontrou a cumplicidade entre Weissmann e o crítico Mário Pedrosa; entre Weissmann e o poeta João Cabral de Melo Neto; e as confissões de Lygia Clark e Lygia Pape, companheiras da cena neoconcreta. Ali, falam das idas e vindas do meio artístico e das particularidades do mercado naquele momento. "O Krascheberg parece que vendeu pouquíssimo, ouvi dizer. O José de Carvalho está vendendo arte a prestações e parece que isso está prejudicando outros marchands", escreve Lygia Clark.
DIFICULDADES
Como professor, Weissmann formou uma geração que tem em Amilcar de Castro e Mary Vieira dois de seus expoentes, mas suas obras estavam longe de valer o que valem hoje. "Havia poucas galerias e todos eles sofriam de falta de dinheiro; Clark estava começando a fazer os 'Bichos'", lembra o curador.
As dificuldades se fazem visíveis no fim de uma carta de João Cabral: "Se precisar de dinheiro urgente me escreva. Não tenho dinheiro nem mulher. [...] Mas para salvar um amigo de apertos, sempre se arranja alguma coisa". A correspondência tem como pano de fundo a cena política anterior ao golpe militar. "As coisas andam feias por aqui", antecipa carta de Pape, de 1961.
FRANZ WEISSMANN
QUANDO: seg. a sex., das 10h às 18h; sáb., das 10h às 16h; até 3/12
ONDE: Pinakotheke Cultural (r. São Clemente, 300, Botafogo, tel. 0/xx/21/2537-7566)
QUANTO: grátis
Obra de Richard Serra apagada no Centro de Artes Helio Oiticica - RJ
Carta de Fabiana Éboli Santos enviada ao governo da cidade do Rio de Janeiro com cópia para o Canal Contemporâneo.
Prezados Secretário Municipal de Cultura e diretora do Centro de Artes Helio Oiticica
Solicito informações sobre o processo de restauro a que está sendo submetida a obra do artista Richard Serra (foto anexa) doada ao centro Municipal de Artes Helio Oiticica/Prefeitura do Rio de Janeiro e aos cidadãos cariocas, por ocasião de sua exposição no local em 1997, quando o CAHO era dirigido por Vanda Klabin.
Diante da estranheza do fato, observado pessoalmente por mim, no local onde a obra está instalada, peço que seja informado publicamente o motivo de tal restauro, o nome do restaurador responsável e os prazos previstos para a conclusão do trabalho e para a obra ser novamente disponibilizada ao público.
Informo ainda que alguns artistas desta cidade, tendo acompanhado o processo de montagem da exposição de Richard Serra e especialmente da instalação da referida obra (spots), conhecem o processo e o material usado. Caso interesse, este conhecimento está à disposição.
Aguardo resposta,
Atenciosamente,
Fabiana Éboli Santos – artista visual e curadora
setembro 5, 2011
País rico é país com cultura!
Carta Aberta da Sociedade Civil sobre a Crise do MinC
PAÍS RICO É PAÍS COM CULTURA! Brasília , 3 de setembro de 2011
O povo brasileiro tomou nas urnas a decisão de construir um país rico, soberano e democrático.
A cultura do Brasil, seus produtores e agentes em sua mais rica diversidade, se engajou desde o começo do governo Lula no projeto de universalização do conhecimento, do acesso à produção de bens culturais e na distribuição do poder simbólico, econômico e político. Em outras palavras: construir agora o Brasil do futuro, apostando no desenvolvimento e na inclusão, contando com a “inteligência popular brasileira” e a imaginação dos povos dos Brasis.
Por isso, durante os dois governos Lula, a sociedade civil organizada, os coletivos e redes, produtores e agentes estabeleceram uma inédita e saudável relação com o governo no sentido de construir um projeto de cultura para o Estado Brasileiro. A herança maior das duas últimas gestões à frente do MinC é a constituição de uma rede imensa e capilar que vai dos mestres da cultura popular aos hackers.
Durante o governo Lula estas redes não foram apenas atendidas pelas políticas públicas, senão que tornaram-se os sujeitos do processo, fazedores de cultura e de país. Tal legado é patrimônio de todos aqueles que lutaram pelo projeto de nação encabeçado por Dilma Rouseff.
A Crise Estrutural do MinC
Passados 8 meses de governo, segue a crise do MinC, cujo último episódio foi a saída da Secretária de Cidadania e Diversidade Cultural, e as ameaças de novas demissões e desentendimentos.
A sociedade civil organizada, produtores e agentes culturais, parlamentares, ativistas de dentro e de fora do campo cultural, entendem que esta é a hora de uma correção de rumo no Ministério da Cultura.
É necessário uma repactuação com os movimentos culturais que construíram e deram apoio à política pública de cultura gestada no governo Lula e sua continuidade, avanço e ampliação no governo que elegemos. Não podemos mais aceitar que as conquistas e avanços da sociedade brasileira no campo cultural, chanceladas pela sociedade civil e pelo Estado e tornadas públicas no Plano Nacional de Cultura continuem a ser desrespeitadas e ignoradas.
País rico é país com democracia participativa e por isso não podemos aceitar o rompimento do diálogo construído com os movimentos e agentes em gestão compartilhada nos 8 anos do governo Lula. Estes mesmos avanços nos últimos 8 meses do governo Dilma Roussef sofreram retrocessos ou estão paralisados, diante da crise de legitimidade e confiança na qual se vê submerso o MinC.
Os movimentos culturais organizados estão buscando há 8 meses a retomada da experiência de co-gestão e participação da sociedade civil nos rumos da Cultura.
Todos os esforços estão sendo feitos para essa repactuação, por isso reivindicamos que as novas mudanças sejam debatidas e consultadas de forma franca e ampla junto aos movimentos culturais que estiveram durante esses últimos meses e nestes 3 dias de agosto e inicio de setembro reunidos em Brasília, em diálogo direto com todas as Secretarias do Ministério da Cultura (com exceção da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural, demissionária).
Destacamos os pontos fundamentais defendidos por diferentes movimentos, que vem sendo debatidos desde a primeira crise do MinC:
- A implementação do Plano Nacional de Cultura aprovado pelo governo Lula;
- A aprovação da PEC 150 e do Procultura como enviados para o Congresso;
- A publicização do texto final da Reforma da Lei dos Direitos Autorais e seu envio ao Congresso, mantendo-se os avanços propostos pela sociedade em consulta pública; entre eles a fiscalização de instituições como o ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), e a criação de Instituto ou Agência Reguladora na área de direitos autorais, estímulo a produção de conteúdos culturais, educacionais abertos, descriminzalização da cópia e o estímulo ao uso de licenças flexíveis, como o Creative Commons;
- A defesa do Programa Cultura Viva, a manutenção dos 3 mil Pontos e Pontões de Cultura e suas ações. O pagamento de todos os Editais, Renovações dos convênios de Pontos e Pontões, a manutenção e expansão da Rede dos Pontos de Cultura, a contemplação de novas redes e a definição de um novo marco legal.
- Retomada do protagonismo nacional e internacional em Cultura Digital, conquistado pelo MinC, no governo Lula.
- Retomada dos programas de Diversidade Cultural, abandonados nesta gestão
- Aprovação da Lei Cultura Viva, Aprovação da Lei dos Mestres e Lei Griô
- A Revisão da proposta orçamentária para o Minc em avaliação no Congresso Nacional, que canaliza grande parte das verbas da cultura para obras e infra-estrutura, inviabilizando as demais ações do Programa Cultura Viva (rede dos Pontos de Cultura, Ação Cultura Digital, etc.) de forma desproporcional e assimétrica.
- Defendemos também o maior diálogo do Ministério da Cultura, com nossa participação, em ações transversais com os demais ministérios, particularmente com o MEC, Ministério das Comunicações, Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério do Trabalho e em ações como a do Plano Nacional de Banda Larga.
O MinC somos nós e nosso compromisso é com o viável e com o possível.
Por tudo isso, solicitamos à Presidenta Dilma Roussef, aos parlamentares, ativistas, sociedade civil e movimentos culturais e sociais que juntos possamos estancar as crises sucessivas no Ministério da Cultura, para repactuarmos o compromisso assumido entre o Estado brasileiro, os movimentos culturais e a sociedade civil de um projeto de continuidade, inovação e avanços na cultura brasileira que esteja à altura do papel que o Brasil assumiu como protagonista e referência na cena global em termos de políticas culturais inovadoras.
É preciso que nos unamos ao redor de um projeto no qual a cultura seja convocada de fato a cumprir sua vocação de inventora de futuro, desenvolvimento, soberania, sustentabilidade, democracia e inclusão social. É preciso confiança na Cultura Brasileira!
Obrigado.
Gracias.
Thank you.
Merci.
MAC Niterói festeja 15 anos com Krajcberg por Marco Aurélio Canônico, Folha de S. Paulo
MAC Niterói festeja 15 anos com Krajcberg
Matéria de Marco Aurélio Canônico originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 3 de setembro de 2011.
Mostra fica até outubro no museu, que recebe mais visitantes devido ao prédio de Niemeyer que por seu acervo
Pesquisas do museu mostram que a maioria da pessoas visita o local por causa do prédio e da bela vista para a baía
"Lembro quando fui ver o local", escreveu Niemeyer no texto em que narra a gênese do Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói.
"O mar, as montanhas do Rio, uma paisagem magnífica que eu devia preservar. E subi com o edifício, adotando a forma circular."
Graças a seu desenho e a sua localização, o MAC Niterói (RJ) -que celebra agora 15 anos de sua inauguração com uma exposição de Frans Krajcberg- tornou-se uma das obras mais conhecidas do arquiteto e um dos mais reconhecíveis museus do país.
Suas coleções de arte, no entanto, são bem menos conhecidas do público geral.
Pesquisas do próprio museu indicam que a grande maioria dos visitantes vai até lá por causa do prédio. "Nunca me incomodei com isso. É uma sorte ter um museu com uma boa coleção e uma boa arquitetura", diz Guilherme Bueno, 35, diretor geral do MAC desde 2009.
"São menos antagônicos do que complementares, o prédio é parte do acervo."
A maior parte das obras do museu vem da coleção Sattamini (cedida em comodato), que tem peças de Cildo Meireles, Hélio Oiticica e Rubens Gerchman, entre outros.
O próprio MAC, no entanto, as exibe de forma limitada -com exceção de seu primeiro ano, quando apenas o acervo esteve em exibição, entre 1997 e 2008 não houve mostra de longa duração com a coleção Sattamini.
VISITAÇÃO
A partir de 2009, o segundo andar do museu (que não tem vista para a baía) passou a ser dedicado à coleção, mas o espaço permite expor pouco mais de uma centena de obras por vez -as duas coleções do MAC, somadas, têm mais de 2.000 peças.
Apesar do número de visitantes estar em queda no último biênio, ele segue acima de 120 mil pessoas por ano, número muito superior à média dos museus nacionais -o MAC de SP, por exemplo, recebeu 76.317 em 2010.
E, mesmo quando suas exposições não inspiram o público a entrar, a parte aberta do museu, de acesso livre e gratuito, segue firme como point para fotos de casamento, debutantes e formaturas.
"O museu colocou Niterói no mapa do turismo. Muita gente vai lá para ver o prédio e a vista, mas não acho que isso concorre com as exposições. Poucos museus têm uma coleção contemporânea como o MAC", diz o arquiteto e designer Ricardo Ohtake.
FRANS KRAJCBERG
QUANDO de ter. a dom., das 10h às 18h; até 23/10
ONDE Museu de Arte Contemporânea de Niterói (Mirante da Boa Viagem, s/nº, Niterói, RJ; tel.: 0/xx/21/2620-2400)
QUANTO R$ 5 (grátis às quartas)
CLASSIFICAÇÃO livre
Lygia Pape e Tunga ganharão galerias próprias em Inhotim por Roberto Kaz, Folha de S. Paulo
Lygia Pape e Tunga ganharão galerias próprias em Inhotim por Roberto Kaz
Matéria de Roberto Kaz originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 5 de setembro de 2011.
Os artistas Lygia Pape (1927-2004) e Tunga terão galerias exclusivas no Instituto Inhotim, centro particular de arte contemporânea em Brumadinho (MG).
As galerias, que devem ficar prontas no próximo ano, vão se somar às já existentes, que são dedicadas aos artistas plásticos Hélio Oiticica (1937-1980), Cildo Meireles e Adriana Varejão.
Os projeto, aos quais a Folha teve acesso, estão na nova edição da revista de arquitetura "Monolito", que chega às livrarias e bancas hoje.
São da dupla Thomaz Regatos e Maria Paz, do escritório Rizoma, que ainda desenha uma terceira galeria, para o artista Nuno Ramos.
Regatos, 30, diz que os edifícios foram projetados de forma a não entrar em conflito com as obras: "Quem tem que aparecer é o artista".
Ele conta que por isso fez uma galeria fechada e escura para abrigar a peça "TTeia", de Lygia Pape, que consiste em fios que imitam feixes de luz (a obra pode ser vista em folha.com.br).
Já a galeria dedicada à obra de Tunga teve processo oposto: "Nós nos encontramos quatro vezes. Ele queria uma galeria aberta, com paredes de vidro, para que pudesse m ser vistas as obras pelo lado de fora".
O Instituto Inhotim também está erguendo um edifício -a Grande Galeria- dedicado a exposições temporárias. O projeto é do escritório Arquitetos Associados.