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Como atiçar a brasa

 


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setembro 2, 2011

Exposições e documentário revisitam trajetória de Nelson Leirner por Márcia Abos, O Globo

Exposições e documentário revisitam trajetória de Nelson Leirner

Matéria de Márcia Abos originalmente publicada no Caderno Cultura do jornal O Globo em 2 de setembro de 2011.

SÃO PAULO - A arte como hobby. Com a inédita "Um, nenhum e cem mil", que será apresentada ao público a partir de 6 de setembro na mostra "Nelson Leirner 2011 - 1961 = 50 anos" na Galeria de Arte do Sesi, em São Paulo, o artista paulistano dá um novo salto numa trajetória pontuada por controvérsias e inovações, desde a criação do icônico grupo Rex - idealizado com Wesley Duke Lee (1931-2010) e Geraldo de Barros (1923-1998), cuja tônica era a crítica bem-humorada e irreverente ao sistema de arte - até o debate suscitado pelo porco empalhado enviado ao Salão de Arte Moderna de Brasília em 1967. A exposição, um apanhado dos últimos 50 anos da carreira de Leirner, traz ainda outras 60 obras que mostram a constante luta do artista para desmistificar a arte.

- Há dez anos venho colecionando esses pequenos trabalhos. Ia dando para minha mulher e ela os guardava. Era algo que eu fazia independente da minha fábrica. Porque a arte hoje é uma fábrica, um produto. Fazia então da minha própria arte meu hobby. Mas o hobby terminou, por isso decide expor - explica Leirner, sobre "Um, nenhum e cem mil", coleção de mais de 2000 cartões postais de museus, saquinhos de vômito de avião, revistas, santinhos e convites de exposição que receberam intervenções, desenhos ou escritos do artista, ao longo dos últimos 10 anos.

Mas a tecnologia matou o hobby, assim como o consumo da arte como mercadoria esgotou qualquer possibilidade de provocação, acredita o artista de 79 anos.

Não chamo o que faço de arte, os outros é que chamam. Arte hoje se escreve com 'a' minúsculo
- Recebo convites de exposições por e-mail. Já interferi em todos os santos, a igreja quase não nomeia novos. Os postais de museus pararam no tempo, não contemplam novos artistas. Começou a faltar material para meu hobby. E agora não sei como continuar. Poderia simplesmente desenhar em cadernos, mas assim perco a comunicação que sempre tive com o objeto achado, a coisa mais duchampiana de meu processo - diz Leirner, que vendeu seu primeiro trabalho em 1991, após uma carreira de quase 40 anos movida exclusivamente pelo idealismo.

Junto com a mostra em São Paulo, chega aos cinemas nesta sexta-feira o documentário "Assim é, se assim lhe parece", de Carla Gallo, parte do projeto "Iconoclássicos" do Itaú Cultural, em cartaz com entrada franca até 29 de setembro nos cinemas Unibanco em São Paulo, Rio, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Salvador e Santos. A documentarista acompanhou a rotina e o processo criativo de Leirner, mostrando a atualidade de suas provocações.

- Arte para mim era um problema visionário. Nunca imaginei que viveria disto, que seria meu negócio. Mas a sociedade entendeu que aniquilava o monstro que éramos nos consumindo. E o consumo limitou qualquer processo ideológico. Houve um tempo em que a discussão sobre a obra era mais importante do que a imagem. Hoje é o contrário. Volto para minha fábrica, o processo de galerias e exposições que garante meu sustento. Mas não chamo o que faço de arte, os outros é que chamam. Arte hoje se escreve com "a" minúsculo - lamenta Leirner, criticando a pasteurização que neutraliza a capacidade da arte de despertar a sociedade de seu estado de entorpecimento.

A trajetória de Leirner é também revisitada pela exposição "Beuys e bem além - ensinar como arte", que será aberta ao público em 12 de setembro no Instituto Tomei Ohtake, em São Paulo. Obras do artista alemão Joseph Beuys (1921-1986) dialogam com trabalhos de seis de seus mais destacados alunos. Assim como Leirner, cujas obras são apresentadas junto com criações de Caetano de Almeida, Leda Catunda, Dora Longo Bahia, Iran do Espírito Santo, Sérgio Romagnolo, Edgard de Souza e Laura Vinci, alunos do brasileiro, que lecionou arte por mais de 30 anos.

Sobre o momento de renovado interesse em sua obra, Leirner desmistifica: "é o processo do tempo".

- Na arte, você pára, você morre. Precisamos continuar, mas continuamos de uma maneira que não nos agrada. O artista hoje vive numa encruzilhada. Percebi que minha vida era mais divertida. Vivemos agora em guetos - conclui o paulistano radicado há mais de 16 anos no Rio.

Posted by Gilberto Vieira at 6:44 PM

setembro 1, 2011

Mostra de Rodrigo Andrade destaca paisagens noturnas, O Estado de S. Paulo

Mostra de Rodrigo Andrade destaca paisagens noturnas

Matéria originalmente publicada no Caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 1 de setembro de 2011.

No livro "Landscape into Art" (A Paisagem na Arte), o historiador de arte inglês Kenneth Clark fala das muitas tentativas fracassadas de se pintar a noite, diz o artista paulistano Rodrigo Andrade. Na Galeria Millan, onde ele inaugura a mostra Velha Ponte de Pedra e Outras Pinturas, todas as telas são paisagens, umas mais noturnas, outras menos, em que uma massa espessa de tinta preta torna-se a matéria principal das obras.

Rodrigo Andrade afirma que mesmo que as gravuras de Goeldi sejam "referência da adolescência", a noite não foi algo que ele procurou para criar suas recentes pinturas - "parece pragmatismo, mas foi com ela que minha pintura deu certo". O desafio da noite, afinal, o fez voltar de forma experimental e contemporânea à figuração, depois de mais de uma década se dedicando à abstração.

Foi na 29.ª Bienal de São Paulo, no ano passado, que Andrade exibiu pela primeira vez as obras de sua pesquisa de "matérias noturnas". O retorno foi intenso, uma revelação para quem acompanhava suas pinturas com blocos de tinta geométricos e coloridos realizadas não apenas sobre telas brancas, mas sobre paredes de espaços públicos. Mas o artista não abandonou a abstração, frisa, considera que tem neste momento "dois corpos de trabalho". "A relação com a figuração é antiga e básica", comenta. Na Galeria Millan, ele expõe apenas as paisagens criadas em 2011, um conjunto delas, numa escala maior do que as exibidas na Bienal.

As pinturas são feitas a partir de fotografias que o próprio pintor vem realizando - na mostra estão as de paisagens captadas na Escócia, no interior de Minas e em Ubatuba. "Desde 2006 venho colecionando imagens que faço e percebi que muitas delas eram noturnas", conta. Ele, que começou sua trajetória na década de 1980 no grupo Casa 7, concorda que há proximidade de suas obras com a produção da nova geração de pintores - muitos deles com os quais tem diálogo - que usam a imagem fotográfica como base.

As telas de Andrade, agora, têm a materialidade espessa que é característica aos trabalhos do artista, mas elas lidam com um jogo ilusionista entre o fotográfico e ter perspectiva. O preto delas (e em algumas, já com variações de matizes) "não é só escuridão". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Rodrigo Andrade - Galeria Millan (Rua Fradique Coutinho, 1.360). Tel. (011) 3031-6007. 10 h/19 h (sáb., 11 h/17 h; fecha dom.). Grátis. Até 1º/10. Abertura hoje, às 20 h.

Posted by Gilberto Vieira at 2:00 PM

agosto 31, 2011

O Nordeste negro por Natercia Rocha, Diário do Nordeste

O Nordeste negro

Matéria de Natercia Rocha originalmente publicada no Caderno 3 do jornal Diário do Nordeste em 31 de agosto de 2011.

O sincretismo entre a negritude e nordesti- nidade dão o tom da exposição "Maracatus e Orixás", que o artista popular João Pedro do Juazeiro abre hoje, no Sesc Fortaleza

Foi em um meio de tarde, abafada, após o já tradicional engarrafamento da Avenida Duque de Caxias, que a equipe do Caderno 3 chegou à casa do artista popular João Pedro de Carvalho Neto, mais conhecido como, João Pedro do Juazeiro, que fica ali, no final da Rua Pedro Pereira, já perto do Colégio Estadual Liceu do Ceará.

Casa simples, pintura amarela descascando, muro baixo, porta e janela. "É aqui!". E João Pedro abre logo as duas bandas da porta e, com um sorriso tímido-formal, vai fazendo os gestos de acolhimento, característico do povo do Cariri, e mostrando o ateliê apertado cheio de obras de arte. "Vamos entrando", e as mãos vão guiando o olhar do visitante para as obras de 95 x 65 cm, dependuradas em um cordão puxado rente à parede.

Dez anos depois de ter deixado a terra de "meu Padim", como ressalta, continuamente, o ex-vendedor da famosíssima Pomada Milagrosa do Padre Cícero, cordelista e xilogravador, que vem propagando, com sua arte-vida, a cultura nordestina, João Pedro agora envereda por novas searas e apresenta, amanhã, às 18h30, no Sesc Fortaleza, a exposição intitulada "Maracatus e Orixás". Ela fica em cartaz até 4 de novembro.

Pesquisa

"Como está o novo trabalho, seu João?" indago. "Seu João, não, porque se não eu vou pensar que eu sou velho", diz, bem humorado, o caboclo de 47 anos, fumante, que tenta ser discreto com a cicatriz vertical de uma cirurgia feita no coração, visível através do botão aberto da camisa social. E arremata.

"Olhe, vim para Fortaleza e aqui encontrei o Maracatu. Junto com Calé Alencar, passei a dançar e me veio a necessidade de fazer pesquisa sobre as origens afros. Me aprofundei na busca desse conhecimento e encontrei os orixás, na Umbanda. Fui buscar pessoas que tinham conhecimento dos fundamentos da Umbanda, e vi essa parte maravilhosa e envolvente, que não é o que alguns pensam ou trabalham com ela".

Enquanto mostra as grandes matrizes e impressões do Senhor Ogum, que em sua representação católica corresponde a São Jorge; o Senhor Oxóssi, com São Sebastião; Iansã com Santa Bárbara, e outros, João Pedro segue buscando explicações para esse universo simbolicamente talhado na madeira, com seu traço nordestinamente peculiar.

"Tem fusão, tem sincretismo. Se você prestar atenção, os deuses da mitologia grega são os mesmos da romana. E os afros são os mesmos das mitologias grego e romana. Comecei a trabalhar os orixás negros, mas também estou trabalhando os orixás brancos, com esse sincretismo religioso, que traz o orixá onde se ele torna branco. Venho há quatro anos fazendo pesquisas com um pai de santo maravilhoso, com historiadores da Universidade Federal do Ceará, e com alunos", detalha.

Enquanto ouvimos João, a companheira de vida há 22 anos, Célia (do Juazeiro), com jeitinho acanhado, olhos fortemente pintados, sorriso largo, traz para a roda cafés e cigarros. Sentamos todos. Os filhos do casal: Wallison, Wanderson e Willyane também estão por ali, trabalhando com o pai, o mais novo já casou e deu um neto a João e Célia.

Iconografia

"Cheguei em Fortaleza como vendedor ambulante, até que vi essa oportunidade de unir meus conhecimentos com vendas e a iniciação com a xilogravura. Vendia pomada Padre Cícero, que serve para dor de cabeça, inflamação, coceira, inchação, pé inchado. Subia e descia rua com a pomada milagrosa. Aqui eu passei a vender xilogravura e ministrar oficinas. O que me proporcionou mais desenvolvimento, porque, quando a gente ensina, a gente aprende. Porque eu sou um matuto, interiorano, quando cheguei aqui fui ministrar oficina para doutores, professores, alunos universitários. As exigências eram muitas, e me vi, mesmo como matuto, obrigado a me aprofundar na xilogravura", diz, João Pedro.

"Minha iconografia toda é nordestina. Trabalho a religiosidade do meu Padre Cícero Romão, porque sou afilhado dele, meu pai era afilhado dele e de Nossa Senhora das Dores. Não te disse? Em 1920, eles vieram de Pernambuco e meu pai foi batizado em Juazeiro, por meu Padim Ciço. Ele era romeiro pernambucano", confessa.

Pelos cálculos de João Pedro, a exposição "Maracatus e Orixás" é a primeira com o tema realizada através da xilogravura no Ceará. "Chegou o momento. Se você chegar na Bahia, tem orixás por todo canto, João Carybé fez orixás por toda a Bahia, tem escultura, pintura, gravura. No Ceará, não temos isso, mas é porque existe certo preconceito a respeito do culto de orixás. Mas toda humanidade cultua os orixás. Abaloaê é São Lázaro, Oxaguian é Jesus Cristo, então, que diferença existe nisso? Sou religioso, fiel e afilhado a meu ´Padim´ Cícero Romão. Mas o artista trabalha em toda existência do ser e, na xilogravura, tudo se grava. Deuses antigos foram gravados na madeira, na pedra, e os de hoje também podem ser gravados. Deus não quer ninguém sofrendo e acredito que existam anjos, energias que tomam contam de nós".

MAIS INFORMAÇÕES:
Exposição - "Maracatus e Orixás", de João Pedro do Juazeiro. Abertura hoje, às 18h30, na Galeria
do Sesc Fortaleza (Rua Clarindo de Queiroz, 1740). Visitação diária, das
10 horas às 18 horas. Gratuito.
Contato: (85) 3452.9090

Posted by Gilberto Vieira at 5:26 PM

Decantar o rio por Paula Alzugaray, Istoé

Decantar o rio

Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno Artes Visuais da revista Istoé em 26 de agosto de 2011.

Em obra sonora realizada com águas das três principais bacias do País, Cildo Meireles encanta e lança um alerta

OCUPAÇÃO CILDO MEIRELES – RIO OIR/ Itaú Cultural, SP/ até 2/10

Deixar os trabalhos decantarem por muito tempo, na forma de ideia e anotações, antes de torná-los realidade. Esse é um procedimento comum na trajetória de Cildo Meireles. Nos anos – ou décadas – em que se dedica à decantação dos projetos, o artista garante a filtragem de suas impurezas, assemelhando seus processos criativos aos químicos. Esse ato de decantação marcou também a criação da instalação sonora “rio oir”, que teve sua primeira anotação em 1976 e agora ganha forma graças ao projeto Ocupação, do Itaú Cultural. Foram dois anos de viagens e gravações dos sons das águas das três principais bacias do País: Tocantins, Paraná e rio São Francisco. O resultado é uma obra sonora de primeira grandeza, em que Cildo tece seu elogio à natureza desenvolvendo todos os sentidos da palavra decantar: celebrar em cantos ou poemas.

O trabalho parte de um palíndromo, uma frase reversível e reveladora. O espelhamento de “oir” – ouvir em castelhano – com “rio” sugere que paremos para escutar o que as águas têm a dizer. E, ao prestar atenção aos fluxos dos rios, o artista e sua equipe descobriram em suas viagens um sistema de nascentes em estado de alarme, muitas delas natimortas. A fim de demarcar essa percepção, a obra sonora orquestra os sons grandiosos das fontes naturais – do estrondo das pororocas à arrebentação das marés – com os sons das águas encanadas dos sistemas residuais das cidades. “rio oir” é uma obra sonora em forma de LP de vinil. A sinfonia das águas ocupa o lado A. O lado B é formado pelo som de risada humana. Afinal, esse é o segundo sentido da palavra “rio”: rir na primeira pessoa do singular. Há uma série de duplos sentidos, espelhados e sobrepostos, nos dois lados desse palíndromo.

O trabalho funciona muito bem como vinil. O único ruído da nova obra sonora de Cildo Meireles é o caráter cenográfico de sua montagem no espaço, criada, em realidade, pelo curador da mostra, o arquiteto Guilherme Wisnik. Incomoda o aspecto provisório das salas concebidas para a escuta dos rios e das risadas e é desnecessário o circuito de imagens do making of das gravações, que circunda a instalação. Contudo, se a arte pudesse mudar o mundo, “rio oir” contribuiria para decantar nossas contaminações.

Posted by Gilberto Vieira at 1:49 PM

agosto 30, 2011

Geometria em questão por Maria Hirszman, O Estado de S.Paulo

Geometria em questão

Matéria de Maria Hirszman originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 29 de agosto de 2011.

Mostra coloca em rico paralelo obras de Antonio Lizárraga e Paulo Roberto Leal

A exposição Geometria do Espaço Infinito, no Centro Cultural São Paulo, coloca em diálogo um leque amplo de obras de Antonio Lizárraga (1924-2009) e Paulo Roberto Leal (1946-1991), fazendo oportuna homenagem a esses dois importantes artistas ao mesmo tempo em que contribui para mostrar que a força do pensamento abstrato no Brasil é muito mais extensa do que costumam afirmar os manuais. Trata-se da primeira vez que a obra de Lizárraga é mostrada ao público desde sua morte. No caso de Leal o resgate é ainda mais importante, já que sua obra é praticamente desconhecida pelo público de São Paulo. Os dois artistas nunca mantiveram contato; pertencem a gerações, cidades e circuitos distintos. Tampouco há uma relação direta entre seus trabalhos. E, no entanto, têm em comum o questionamento rico, problematizador e bem humorado da abstração geométrica.

Segundo o curador José Augusto Ribeiro, a mostra pode ser pensada como uma espécie de dueto, no qual as singularidades de cada um são respeitadas. "São realizações muito inventivas, que tiveram uma ressonância pública muito aquém de sua importância", sintetiza. Para iluminar a presença de um espírito comum sem encobrir as soluções e caminhos individuais, a mostra propõe um percurso bem aberto, no qual se dá um permanente confronto entre as duas produções.

Com alguns trabalhos pontuais, realizados na década de 70, a seleção concentra-se sobretudo na década de 80, quando Leal manteve forte interlocução com a geração que despontava como um fenômeno de renovação da arte brasileira - ele foi um dos três curadores responsáveis pela mostra Como vai você, Geração 80? - e ao mesmo tempo dedicou-se a rever de forma questionadora o legado construtivo da geração que o antecedeu, evidenciando um grande diálogo com a produção neoconcreta. Sua produção é marcada pela experimentação de materiais (como papel e tecido), procedimentos e formas construtivas (como a mescla entre pintura e costura, entre bidimensionalidade e tridimensionalidade), mas sobretudo pelo que Ribeiro define como a procura de "um elo entre construtivismo e liberdade criativa". É recorrente o uso por Leal de títulos que remetam à paisagem carioca, explorando essa fronteira entre o caráter abstrato da construção e a possibilidade de figuração de uma paisagem por meio de formas geométricas, como nas pinturas Palmeira Imperial e Corcovado.

Os anos 80 também são determinantes no caso de Lizárraga, já que o mergulho no abstracionismo geométrico radical se dá depois de ele sofrer um acidente vascular cerebral, em 1983, e ficar tetraplégico. Passa então a explorar formas e cores para desestabilizar a percepção do espectador, investigando o projeto construtivista de um outro ponto de vista, desconstruindo preceitos e solapando certezas. Combina nas pinturas que projeta - já que está impossibilitado ele próprio de executá-las - cores cada vez mais dissonantes e sedutoras (como exemplificam duas telas inéditas) com equilíbrios geométricos instáveis.

Como que subvertendo a lógica esquemática, os dois artistas mostram que o construtivismo não se encerra em meados do século 20, nem tampouco se constrói apenas sobre certezas formais e utopias construtivas, mas se prolonga e interage com amplo raio de questões. E resgatam a potencialidade poética das formas puras ao investigar não o que têm de seguro, mas de problemático; não sua estabilidade, mas as dúvidas que elas suscitam.

ANTONIO LIZÁRRAGA E PAULO ROBERTO LEAL | 2ª MOSTRA DO PROGRAMA DE EXPOSIÇÕES 2011 |
CCSP. Rua Vergueiro, 1.000, Paraíso, 3397-4002. 10h às 20h (sáb. e dom., 10h às 18h; fecha 2ª). Grátis

Posted by Gilberto Vieira at 5:08 PM

Mostra faz leitura complexa do sexo na sociedade por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo

Mostra faz leitura complexa do sexo na sociedade

Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 27 de agosto de 2011.

Destaque é obra de Dora Longo Bahia que se apropria de repertório do cinema para criar narrativa épico-erótica

Poucos assuntos dominam tanto a sociedade contemporânea como o sexo. Por isso não é estranho que artistas contemporâneos se voltem a esse tema de forma tão contundente e explícita como na mostra "Destricted.br", em cartaz até hoje no Galpão Fortes Vilaça, na Barra Funda.

A exposição deriva do projeto "Destricted", lançado em 2006, que compila sete curtas de artistas estrangeiros, como Marina Abramovic e Matthew Barney, exibidos em salas de cinema e depois vendidos em DVD.

A versão brasileira reúne nove artistas, entre eles Adriana Varejão, Dora Longo Bahia, Karim Aïnouz, Miguel Rio Branco e Tunga, todos com filmes na mostra, além de obras em outros suportes, como desenhos, pinturas e esculturas.

As abordagens são muito distintas, e o panorama é amplo: sexo gay, sexo grupal, sexo na meia-idade, sexo pago.

Em algumas obras, predomina o caráter documental, como na ótima "Ponto de Vista", de Janaina Tschäpe, em que a artista instala uma câmera na cabeça de uma mulher que "fica" com três rapazes, posicionando na mulher o olhar do prazer, ao contrário das manjadas cenas de filmes da indústria pornô.

Outros, como "Cooking", de Tunga, e "Psinoe", de Adriana Varejão, incorporam o sexo a seus próprios repertórios imagéticos, como uma sereia numa piscina, espaço retratado por Varejão em várias de suas pinturas.

Contudo está em "petit a", de Longo Bahia, o grande momento de "Destricted.br". A artista se apropria de um imenso repertório visual do cinema, de filmes como "Laranja Mecânica", de Stanley Kubrick, ou "Veludo Azul", de David Lynch, para criar uma narrativa épico-erótica, com personagens bizarros.

Além do filme, desenhos da artista sobre páginas do livro "Flores do Mal", de Baudelaire, são apresentados e revelam todas as suas referências para a produção.

Aí condensa-se o que representou o primeiro "Destricted": uma leitura complexa dos caminhos que o sexo representa na sociedade.

Se nem todas as obras na versão nacional alcançaram esse nível, é porque ficaram apenas no sexo explícito e isso, convenhamos, está mais que disponível na internet.

Posted by Gilberto Vieira at 1:47 PM

Uma experiência radical por Ferreira Gullar, Folha de S. Paulo

Uma experiência radical

Matéria de Ferreira Gullar originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 28 de agosto de 2011.

O Manifesto Neoconcreto se caracterizou por não fazer promessa; foi a constatação do que estava sendo feito

Todas as pessoas, informadas nesse terreno, sabem que fui eu quem inventou o nome "neoconcreto", propus que criássemos um movimento com esse nome e escrevi o Manifesto Neoconcreto e a teoria do não objeto.

É verdade, também, como tenho dito, que nada disso teria sido possível nem teria consequências efetivas se se tratasse apenas de sacações minhas: de fato, não fiz mais do que formular o que já estava sendo criado pelos pintores, escultores e poetas que constituíam, àquela época, o grupo de concretistas do Rio de Janeiro.

E só por isso aquele movimento deu certo, marcando um momento de nossa história artística. Certamente, a tomada de consciência do processo de criação que o nosso grupo realizava foi um fator decisivo para o desdobramento que teria, pois era necessário que alguém formulasse teoricamente aquilo.

Coube a mim fazê-lo por ser eu, além de membro do grupo como poeta, também teórico e crítico de arte.

Sabemos todos, porém, que não é a teoria que produz as obras de arte, muito embora o processo criador exija a consciência crítica.

Desse equívoco estão cheios os manifestos dos diferentes movimentos de vanguarda do século 20, que, a exemplo dos manifestos políticos, prometem coisas que jamais serão realizadas.

Já o Manifesto Neoconcreto caracterizou-se por não fazer promessa nenhuma. Trata-se de um texto nascido da constatação do que estava sendo realizado: nos trabalhos de Lygia Clark, Amilcar de Castro, Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Aluisio Carvão, Lygia Pape e dos poetas do grupo, algo surgira que diferia da concepção concretista herdada de Max Bill e dos conceitos da Escola de Ulm.

O fator principal dessa diferença era, no caso dos cariocas, o predomínio da busca intuitiva, ainda que sem romper com o rigor construtivo que caracterizava a arte concreta. A teoria do não objeto, por exemplo, surgiu como consequência de um trabalho de Lygia Clark que ela não sabia como classificar. Não era escultura, não era pintura, não era relevo. Entendi que era um objeto, mas um objeto sem função: só significação. Daí chamá-lo de "não objeto".

Disse, certa vez, que o primeiro "Bicho", de Lygia Clark, se inspirara no meu livro-poema "fruta". Mas observei, nesse mesmo texto, que era uma característica do nosso grupo a troca permanente de ideias e experiências, uma vez que estávamos frequentemente juntos a mostrar uns aos outros o que realizávamos.

A experiência neoconcreta foi muito rica, porque, particularmente no terreno das artes plásticas, levou às últimas consequências uma linha de experiência estética que começou no cubismo.

Esse processo de vanguarda terminou por desintegrar a linguagem artística. Resumindo: um dos objetivos surgidos dessa busca -a criação de uma arte não figurativa- conduziu Casemir Malévitch a pintar o quadro "Branco sobre Branco", que, a meu ver, estava a um passo do fim da pintura: a tela em branco. A saída que encontrou, então, foi abandonar a tela e partir para construções no espaço tridimensional, que chamou de "Construções Suprematistas".

Pois bem, Lygia, por outros caminhos, também chegou à tela em branco e -embora ignorando o que fizera o artista russo- partiu também para as construções no espaço tridimensional, que são os "Bichos".

Mas Lygia, antes de dar esse passo, desistira de pintar e passara a agir materialmente sobre o quadro, criando o que chamaria de "Casulos". Foi então que fiz os livros-poema, também para superar um impasse com que me defrontara ao escrever o poema "verde relva".

Ao ver que o leitor, diante da repetição da palavra verde, não lia o poema palavra por palavra, como eu pretendia, decidi escrevê-lo no verso das páginas, para obrigá-lo a isso. Intitulei-o de livro-poema porque ali poema e livro eram uma coisa só. O livro-poema "fruta" já não era um livro, embora feito em papel: o leitor o abria como se abrisse uma fruta, gomo por gomo.

Ao vê-lo, Lygia percebeu nele a solução para o impasse a que chegara e criou os seus "Bichos". No livro-poema, o manuseio não era invenção, já que livro é manuseável; nos "Bichos", sim.

Por isso mesmo o defini como "um ser novo no universo da arte". Era fascinante esse diálogo da poesia com as artes plásticas.

Posted by Gilberto Vieira at 1:23 PM