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agosto 19, 2011
Vila ampliada por Ana Cecília Soares, Diário do Nordeste
Vila ampliada
Matéria de Ana Cecília Soares originalmente publicada no Caderno 3 do jornal Diário do Nordeste em 19 de agosto de 2011.
Novos editais dão continuidade ao programa de formação da Vila das Artes. Somando-se aos cursos de audiovisual e dança, o espaço oferece agora duas novas modalidades: teatro e artes visuais
Em meio a um cenário quase sempre carente, quando se trata de investimento e estímulo à criação e a formação no campo das artes, Fortaleza ganhou recentemente um importante reforço com a inauguração de dois novos espaços na Vila das Artes (equipamento da Prefeitura Municipal): um centro de artes visuais, em parceria com o Centro Cultural Banco do Nordeste, e uma escola pública de teatro.
As novas modalidades endossam o conjunto de atividades desenvolvidas pela Vila das Artes, por meio das já estabelecidas escolas de audiovisual, dança e do núcleo de produção digital, que funcionam desde 2006, data de fundação do lugar.
Para o pesquisador Enrico Rocha, um dos coordenadores do Centro de Artes Visuais ao lado do artista e curador Solon Ribeiro, essa é a oportunidade de reunir experiências e de discutir aspectos importantes aos segmentos artísticos. Ampliando o conhecimento e proporcionando aos participantes outras leituras e visões críticas. "Desde o início da Vila das Artes estava previsto um núcleo para as artes visuais", conta Rocha. "A gente vem batalhando nesse projeto há muito tempo e, finalmente, conseguimos realizá-lo. Este núcleo constitui-se como um programa integrado de sensibilização, formação e pesquisa, orientado para intervir criticamente no circuito de arte contemporânea da cidade. Além de buscar incluir Fortaleza no circuito nacional", diz.
Solon Ribeiro observa que a Vila das Artes se torna uma experiência única de formação ao abrigar diferentes linguagens artísticas. Oportunizando, no caso do Centro de Artes Visuais, cursos não só para o público especializado, mas a todos que se interesse pela arte de uma maneira geral. "A Vila tem experiência no quesito formação e o Centro Cultural Banco do Nordeste, na formação de plateia. A nossa expectativa é a melhor possível, pois temos uma boa estrutura e excelentes profissionais que irão ministrar cada um dos cursos. Tenho certeza que daqui sairão bons artistas e bons pesquisadores".
Possibilidades e parceria
A diretora da Vila das Artes, Sílvia Bessa explica que a formação de teatro não era inicialmente planejada para acontecer no espaço. Ela surge a partir do movimento de pessoas interessadas em artes cênicas na cidade que abriram um diálogo com a Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor). "Como política pública não deve apenas seguir protocolo, mas estar aberta a esses rearranjos, decidimos começar aqui a formação, articulada a outras ações para a área na Secretaria. Foi o tempo de discutir, formular e começar. Já o Centro de Artes Visuais estava previsto desde o início, para começar na Casa do Barão de Camocim, em relação com um espaço expositivo. Antecipamos o início da formação", diz.
Quanto a parceria entre a Vila das Artes e o Centro Cultural Banco do Nordeste, em relação ao núcleo de artes visuais, a diretora destaca que não houve repasse financeiro entre as duas instituições. Esforços foram somados para apresentar um programa mais consistente e abrangente na área.
"A parceria foi um desejo mútuo das instituições, tudo foi muito claro e discutido desde o início. Essa foi uma maneira que nós encontramos de tornar a formação mais sistemática. O Programa de Pesquisa em Artes Visuais e o Laboratório de Linguagens Visuais não são as únicas ações que teremos. Vamos ter ainda sete cursos de apreciação ao longo de um ano para o público em geral interessado em aproximar-se criticamente da produção artística contemporânea. E encontros com artistas que receberá outros de referência nacional para uma apresentação da sua trajetória. Acontecerão cinco encontros ao longo de um ano", ressalta Jacqueline Medeiros, coordenadora do Núcleo de Artes Visuais do Centro Cultural Banco do Nordeste.
Editais
O Centro de Artes Visuais realizará as seguintes ações: Laboratório de Linguagens Visuais, programa composto por 12 cursos livres modulares de caráter teórico-prático, que têm por finalidade proporcionar ao participante a compreensão de seu processo criativo e situar criticamente seu trabalho diante do circuito de arte contemporânea. E o Programa de Pesquisa em Artes Visuais, cujo intuito é atender artistas e interessados em desenvolver projetos de crítica e curadoria que buscam aprofundar suas investigações. Serão selecionados 12 projetos de pesquisa, sendo 8 pesquisas de linguagem e 4 pesquisas de crítica ou curadoria. As inscrições para cada uma das ações podem ser realizadas até 9 de setembro, através do site da Vila das Artes (abaixo).
Já a escola pública de teatro inicia suas atividades com o curso "Teatro: Conexões Contemporâneas", elaborado a partir de encontros públicos que discutiram o panorama e os caminhos da formação teatral na cidade. A pretensão é estimular a reflexão e o exercício de teatro de grupo, além de provocar o intercâmbio de saberes entre pesquisadores e artistas locais e de outras cidades do Brasil e exterior.
O trabalho desenvolvido pela Vila das Artes, através de seu núcleo de audiovisual, tem ajudado a revelar inúmeros talentos e a divulgar o nome do Ceará em diversos festivais nacionais, como a Mostra de Cinema de Tiradentes, uma das mais conceituadas do Brasil. Resta a torcida de que o espaço continue funcionando e sendo um importante centro formador de artistas, mesmo depois do fim da atual gestão.
agosto 18, 2011
O mínimo como máximo por Nina Gazire, Istoé
O mínimo como máximo
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada no caderno de Artes Visuais da revista Istoé em 12 de agosto de 2011.
Courtney Smith e Ivan Navarro - The construction of volumetric inter-relationships/ Baró Galeria, SP/ até 10/9
O grupo de artistas De Stijl surgiu no início do século XX, na Holanda, mas influencia até hoje a arte e o design contemporâneos. De origem holandesa, o termo pode ser traduzido em português para “do estilo”. E apesar de ter o abstracionismo em comum com outras propostas estéticas vanguardistas, na produção do De Stijl a abstração ressaltava a pureza das formas. A este apreço pelo minimalismo de composição geométrica deu-se o nome de neoplasticismo e, entre seus representantes, está o célebre holandês Piet Mondrian e o belga Georges Vantongerloo, cuja escultura “The Construction of Volume Relations” inspirou a mostra “The Construction of Volumetric Inter-relationships”, em cartaz na Baró Galeria, em São Paulo.
A ideia de usar a obra de Vantongerloo como inspiração partiu do casal de artistas Courtney Smith, francesa radicada no Brasil, e Ivan Navarro, chileno. Tanto Courtney quanto Navarro possuem uma produção artística que se apropria de materiais domésticos, como móveis, luminárias e restos de assoalhos. Nesta mostra os objetos e instalações criadas pelos artistas encontram eco nas esculturas de características modulares e geométricas do artista belga. “A ideia foi fazer uma reinterpretação do formalismo e da geometria de George Vantonge rloo pelo viés da arte conceitual contemporânea”, afirma Courtney Smith. Exemplo é o painel em grandes dimensões feito com restos de pisos de taco (foto) de diferentes cores, apresentando uma composição que também se assemelha às sobreposições geométricas de Mondrian. Se os neoplasticistas prezavam pelo minimalismo das formas, Courtney e Navarro nos lembram que também é possível alcançar o máximo de simplicidade usando os restos e os excessos do cotidiano.
Praias de nudismo por Paula Alzugaray, Istoé
Praias de nudismo
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno de Artes Visuais da revista Istoé em 12 de agosto de 2011.
Controvertido e explícito, o projeto internacional Destricted promove a interação entre arte, cinema e pornografia
Em inglês, destrict quer dizer “ilimitar a restrição”, ou “desconstruir fronteiras”. O termo dá nome a um projeto concebido pelo curador inglês Neville Wakefield que, em 2007, convidou oito artistas para mostrar em vídeos e filmes curtos suas visões da pornografia. Neste caso, destricted refere-se então à exploração – de maneira incansável, ilimitada – das relações entre arte, cinema e sexo. O resultado foi um longa-metragem exibido nos festivais de Sundance, Cannes, Locarno e Amsterdã. “Destricted.br”, versão brasileira do projeto, foi produzida por Marcia Fortes e Alessandra D’Aloia, proprietárias da galeria Fortes Vilaça. Oito diretores – sete brasileiros, um português e um espanhol naturalizado – foram convidados. Todos comparecem com vídeos, mas também com fotografias, pinturas e desenhos.
O resultado é diversificado, mas irregular. São inevitáveis as comparações. Adriana Varejão apresenta um trabalho frágil e tímido, diante da radicalidade – não apenas de carga sexual, mas, especialmente, de cinematografia – dos trabalhos de Miguel Rio Branco, Janaína Tschäpe e Dora Longo Bahia. Com uso excessivo de efeitos – transparências, fusões, câmeras lentas – o vídeo “Psinoe” denuncia a pouca familiaridade que Adriana tem com a imagem em movimento e certo deslumbramento em relação aos recursos dessa mídia. A fotografia “A Sereia e o Cinema”, still do vídeo, é mais eficiente.
Já “Petit a”, de Dora Longo Bahia, é um dos trabalhos mais intensos e provocadores da mostra. A artista, que tem o vídeo como linguagem de expressão há pelos menos 15 anos, realiza aqui uma orquestração bastante madura de todas as etapas de realização cinematográfica. Dora manufatura desde os elementos de cena – como o taco de baseball com ponta fálica para a cena do sexo na cozinha – até a trilha sonora, de autoria da banda “Blá Blá Blá”, na qual é baixista. Nesse sentido, seus procedimentos chegam a lembrar os do americano Matthew Barney, celebrizado pela série “Cremaster Cycle”, e um dos artistas integrantes do projeto americano.
A mostra brasileira ostenta diferentes graus de envolvimento com o tema. Há desde o sexo explícito de “Day and Night Shots”, de Marcos Chaves, até o lirismo de “Bichos Pretos Coloridos”, do cineasta Karim Aïnouz, que evoca a técnica bucólica da fotografia de nudismo ao ar livre, ou “Cooking”, de Tunga, que faz escatalogia em alta definição, o que é bastante desconcertante. O vídeo de Tunga é o único que integrou o projeto original, lançado na Inglaterra.
Família Nemirovsky fica isolada na fundação por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Família Nemirovsky fica isolada na fundação
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 18 de agosto de 2011.
Marcelo Araújo deve assumir a presidência
Com a renúncia do conselheiro João Carlos Camargo anteontem, a família Nemirovsky está isolada no conselho da fundação responsável por uma das maiores coleções de arte moderna do país.
É um quadro que se agrava desde o afastamento da antiga gestão, em março, e a nomeação pela família em junho de José Dirceu como patrono do acervo, desencadeando uma onda de renúncias.
Para substituir as baixas, devem ser oficializados no conselho na semana que vem Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca do Estado, onde está abrigada a fundação, e o empresário Toninho Abdalla.
Mas restam dúvidas sobre quem vai presidir a fundação, cargo provisoriamente ocupado pela neta dos colecionadores José e Paulina, Maria Carolina Nemirovsky de Moraes Leme.
Enquanto o MPE tenta emplacar Araújo, a família cogita nomear Paulo Kauffmann, único conselheiro não membro da família que continua na entidade.
Na semana passada, a promotoria questionou em ofício por que a fundação deixou de responder a pedidos de empréstimo de obras, o que levou a uma troca de acusações entre a família e o ex-presidente da fundação Arnoldo Wald Filho.
agosto 17, 2011
Artista plástico brasileiro acusa trio argentino de plagiar obra por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Artista plástico brasileiro acusa trio argentino de plagiar obra
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 17 de agosto de 2011.
Jaime Prades retirou denúncia após acordo
Quando viu no Flickr imagens da montagem da exposição "De Dentro e De Fora", Jaime Prades levou um susto.
Três artistas argentinos, Tec, Defi e Chu, estavam construindo no Masp, para a mostra que começa hoje, uma estrutura quase idêntica a uma obra que o brasileiro já havia mostrado em São Paulo e que estampou na capa de um livro sobre seu trabalho.
Agravou a situação o fato de o artista ter dado antes uma cópia do livro lançado em 2009 a Baixo Ribeiro, curador da mostra no Masp. Prades então criou um evento no Facebook denunciando o plágio da obra, postando imagens dos trabalhos lado a lado e incitando uma extensa discussão on-line.
"Fiquei indignado pelo fato de a curadoria ser aqui de São Paulo", disse Prades à Folha. "Foi como se tivesse acontecido uma usurpação."
Todo o barulho nas redes sociais acabou chegando ao ouvido de Ribeiro, que propôs um encontro entre os artistas argentinos e Prades para tentar resolver a questão.
"Foi um engano", resume o curador. "Tiraram fotografias desse processo ainda no começo, o Jaime viu e o identificou muito com o trabalho dele. Toda essa polêmica foi feita em cima de uma foto na primeira semana da obra."
Tec, um dos artistas argentinos que assina a peça do Masp, chamou de "coincidência total" a semelhança entre as obras. "Foi uma coisa que surgiu do nosso trabalho", diz ele. "Trabalhamos sempre com madeira da rua."
Depois de receber Ribeiro em seu ateliê e marcar encontro com Tec, Defi e Chu, Prades tirou do ar a denúncia de plágio e recuou no discurso.
"Não sei se é plágio ou não, é uma discussão que implica um degradê de interpretações", diz o brasileiro. "Não posso me achar dono de pegar madeira na rua e juntar material. Tem uma cultura de atropelo nessa arte de rua."
Mas ajudou na reconciliação um acordo selado de última hora. Semanas antes do início da mostra, o curador concordou em incluir o ateliê de Prades num roteiro de visitas por São Paulo indicado no site da exposição do Masp.
É menos do que o artista queria, já que chegou a dizer que o "ideal seria o museu pôr um trabalho meu ali".
Não será o caso. Quem quiser comparar terá de visitar a obra dos argentinos no Masp e o ateliê de Prades, cheio de madeira, em Perdizes, na zona oeste da cidade.
"Não quero criar uma guerra com artistas, com ninguém. Dei uma zerada", diz Prades. "Estamos trabalhando para um final feliz."
Masp recebe obras de artistas em diálogo com a arquitetura por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Masp recebe obras de artistas em diálogo com a arquitetura
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 17 de agosto de 2011.
Num domingo, sozinho no subsolo do Masp, Remed fez os primeiros traços do enorme mural que mostra agora no museu. É uma espécie de narrativa, colorida e geométrica, de um homem que morre e ressuscita na metrópole.
"Tento fazer algo em que as pessoas se reconheçam", diz o francês. "Esse é o melhor estúdio de São Paulo."
Ele é um dos oito artistas agora juntos numa exposição que transformou o andar debaixo do Masp em ateliê aberto nas últimas semanas. Todos estrangeiros, eles trazem uma visão de fora para dentro de São Paulo, criando trabalhos também informados pela arquitetura da cidade e o espaço monumental do museu, um dos desenhos icônicos de Lina Bo Bardi.
No caso de Point, uma enorme escultura soletra a alcunha do muralista tcheco usando as escadas vermelhas do subsolo do Masp como parte das letras no espaço.
"Eles colocam o trabalho na cidade e também levam uma visão aprofundada daqui para fora", diz Baixo Ribeiro, curador da mostra. "A ideia é valorizar essa visão do lugar com outros olhos."
Falando em olhos, JR, o artista francês que fotografou e ampliou os olhos de mulheres importantes no morro da Providência, no Rio, mostra esses mesmos olhares arregalados agora no Masp.
Ele também estampa a reprodução de uma imagem do acervo do museu nos tapumes das obras no prédio ao lado, agora em restauro. JR também espera autorização e verba para uma obra urbana mais ambiciosa, que cobriria a face do túnel da Nove de Julho, que passa embaixo do museu da Paulista.
Depois de desenhar mulheres que chamou de Iemanjá em painéis na exposição, a americana Swoon deve fazer, no mês que vem, intervenções no vão livre do museu.
Enquanto isso, estão espalhados pela cidade os bichos pixelados do francês Invader, também com obras suas na mostra central.
Labirinto no Olimpo por Bruno Moreschi, Bravo!
Labirinto no Olimpo
Matéria de Bruno Moreschi originalmente publicada no caderno Artes Visuais da revista Bravo! em 12 de agosto de 2011.
Como Carlito Carvalhosa, que em 30 anos de carreira nunca havia feito uma individual de peso no exterior, conseguiu chegar ao concorrido átrio do Museu de Arte Moderna de Nova York.
O paulistano Carlito Carvalhosa nunca fez uma exibição individual de peso no exterior. E a estreia, no dia 24 deste mês, vai ocorrer justamente em um dos endereços mais nobres das artes visuais do mundo: o átrio do Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA. Para ter uma ideia da aura que embrulha o espaço, de março a maio do ano passado, 561 mil pessoas entraram no museu para assistir à artista sérvia Marina Abramovic, que, sentada em uma cadeira no centro da sala, convidava os visitantes a fazer o mesmo e encará-la. Em julho de 2010, a japonesa Yoko Ono instalou um microfone no endereço e pediu para os espectadores gritarem diante do aparelho. A suíça Pipilotti Rist projetou seus vídeos fantasiosos nas quatro paredes do átrio entre novembro de 2008 e fevereiro de 2009. Todas elas, estrelas de primeira grandeza no circuito internacional, de uma forma ou de outra sempre estiveram na lista dos curadores do museu para, em algum momento, ocuparem a prestigiosa entrada da instituição. Com Carlito, que é ainda o primeiro brasileiro a se apresentar no espaço, a história foi diferente.
Até setembro do ano passado, o curador de arte latino-americana do MoMA, o venezuelano Luis Pérez-Oramas, nem cogitava escalar o artista para uma exposição, embora já conhecesse algumas de suas obras: “Carlito é um artista sério. Seu trabalho tem uma estrutura física muito suave, mas, ao mesmo tempo, é denso em significados. Até o ano passado, porém, eu não tinha tido a experiência de estar em uma de suas grandes instalações”. A experiência aconteceu na Pinacoteca do Estado de São Paulo, onde Carlito montou a impressionante A Soma dos Dias. Pensada especialmente para um espaço em forma de octógono no museu paulistano, a obra pode ser descrita como um labirinto feito por camadas de tecido TNT (um tipo de tecido muito barato que não passa pelo processo têxtil) branco de 14 m de altura, que faziam com que os visitantes literalmente se perdessem dentro de uma imensidão alva. O título da peça era uma clara referência aos gravadores e alto-falantes espalhados pelo caminho: os primeiros captavam o som ambiente do museu e os alto-falantes reproduziam os barulhos registrados no dia anterior.
Pérez-Oramas, que visitava o Brasil com outros profissionais do MoMA por ocasião da 29ª Bienal de São Paulo, lembra bem do exato momento em que entrou no labirinto branco de Carlito: “Ficamos completamente impressionados. E decidimos praticamente naquela hora que o trabalho deveria ser exibido no museu”, diz. O espanto entre os curadores é ilustrativo de como uma obra possui o poder de fascinar e fazer um artista alçar voos maiores. Diferentemente de outros brasileiros, que conseguiram um reconhecimento internacional depois de várias exposições no exterior – caso do carioca Cildo Meireles, que antes de uma individual na Tate de Londres integrou mostras coletivas de prestígio, como a Documenta de Kassel, na Alemanha –, Carlito nunca teve uma carreira consolidada fora do Brasil. Mesmo assim, a qualidade de A Soma dos Dias – e uma dose de sorte para que os superpoderosos do MoMA estivessem no Brasil justamente em seu período de exibição – bastou para que ele fosse alçado a um dos olimpos das artes visuais atualmente. “Jamais esperava que uma conversa com os curadores era na verdade um convite para expor no MoMA”, diz Carlito.
Até o dia 14 de novembro, o átrio do museu norte-americano ficará tomado por uma versão ampliada da instalação vista na Pinacoteca de São Paulo. Em Nova York, o labirinto, que será chamado de Sum of Days e montado em uma área de 300 m2, atingirá 19 m de altura. Assim como ocorreu na capital paulista, quatro microfones também irão gravar o som do local e 60 alto-falantes presos ao tecido reproduzirão os sons captados no dia anterior. Performances do compositor norte-americano Philip Glass estão agendadas para ocorrer no centro do labirinto. Amigo do artista há pelo menos uma década, Glass, que também se apresentou na instalação em São Paulo, tocará piano entre as camadas de tecido: “Os dois possuem muita coisa em comum. Ambos trabalham com o tempo e a participação do público para produzir o som”, diz Pérez-Oramas.
Pão de Açúcar em gesso
Mas Carlito não está agora no MoMA somente por causa de uma obra de impacto e um pouco de sorte. Formado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, o artista iniciou a carreira na Casa 7, um ateliê em São Paulo que na década de 1980 abrigava outros nomes hoje festejados, como Rodrigo Andrade, Fábio Miguez, Paulo Monteiro e Nuno Ramos. Nos últimos anos, ele vem cada vez mais chamando a atenção com a sua capacidade de transformar radicalmente os locais onde cria suas instalações. Em 2006, o artista suspendeu um imenso pedaço de gesso no interior do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Muitos compararam o objeto ao Pão de Açúcar, cartão-postal da paisagem carioca. A escolha do gesso não foi por acaso. Como faz agora ao usar um tecido barato. Carlito frequentemente opta por materiais tidos como de pouco valor e os confronta com o mundo das artes.
Neste ano, ele fez um conjunto de intervenções para a Fundação Eva Klabin, no Rio de Janeiro. Diante de uma casa conhecida por abrigar quase 2 mil peças, muitas delas objetos clássicos, Carlito hesitou por um instante: como preencher um espaço já tão carregado de significado? Em cada cômodo da habitação, ele acrescentou um estranhamento diferente. Em uma das salas, por exemplo, todos os móveis acabaram erguidos sobre copos de vidro, suspensos à altura de 20 cm do chão. Ao reparar que não havia nenhuma planta no interior do endereço, colocou árvores no banheiro. O curador Fernando Cocchiarale analisa: “Carlito está sempre aberto para trabalhar com novos materiais. Sua obra é movida sempre pelo desafio de ocupar de forma surpreendente um local específico”. O curador Marcio Doctors, que convidou o artista para realizar a mostra na Fundação Eva Klabin, complementa: “Ele possui uma incrível capacidade de intervir no espaço. Seu interesse principal é trabalhar com um olhar pouco habitual e fazer a gente ver os objetos de outra maneira”. Assim é com os móveis que parecem flutuar, com o gesso e vai ser no MoMA, com o átrio tomado por um labirinto feito de camadas de tecido branco. Os visitantes do museu certamente verão sua entrada de um jeito diferente depois de Sum of Days. E é bem provável que a carreira de Carlito Carvalhosa também se divida em antes e depois dessa peça.
agosto 16, 2011
Diálogos com as imagens, Diário do Nordeste
Diálogos com as imagens
Matéria originalmente publicada no Caderno 3 do jornal Diário do Nordeste em 16 de agosto de 2011.
A exposição "Correspondências visuais", com trabalhos dos fotógrafos Marcelo Brodsky, Tiago Santana e Cássio Vasconcellos será inaugurada hoje no CCBNB Fortaleza
A partir da ideia de que o fotógrafo é um ser solitário, cujo exercício de captação da imagem se faz através de um processo pessoal, no qual intervêm anos de vivência, sensibilidade, intuição e olhares percorridos; o fotógrafo argentino Marcelo Brodsky pensou na possibilidade de reiterar essa solidão com base na partilha de experiências com amigos fotógrafos de diversas partes do mundo, por meio de trocas de imagens produzidas por cada um deles. Brodsky acredita que o diálogo visual entre dois ou mais criadores rompe o centro que está no "Eu" do autor e suscita algo diferente.
"O que determina cada decisão não são apenas os ensaios, os projetos pessoais, a elaboração de um discurso coerente com as obras anteriores e as próximas na construção de uma identidade visual própria. A correspondência não é um solilóquio, e sim se sustenta com um interlocutor, um outro que também olha, que também escolhe, que também fotografa, desenha, pensa", explica.
Projeto
Assim, nasceu o projeto "Correspondências Visuais", onde ele passou a se comunicar visualmente com outros fotógrafos. Ao enviar uma foto para um amigo, Marcelo recebia outra imagem de volta. E, a troca ia continuando.
O resultado desses diálogos pode ser conferido na exposição homônima ao projeto "Correspondências Visuais", que será inaugurada hoje, às 18 horas, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB)- Fortaleza. A coletiva é constituída pelas trocas de Marcelo Brodsky com Tiago Santana (CE) e Cássio Vasconcellos (SP). Serão apresentadas ao público, um total de 108 fotos, sendo 36 de cada diálogo.
"O Marcelo tem realizado esse projeto com fotógrafos do mundo inteiro. É um trabalho muito interessante que nos deixa bem livre para atuar. Eu não preciso responder a um amigo com uma imagem de mesma temática, cor ou textura. Por exemplo, o Cássio Vasconcellos me enviava fotos urbanas, enquanto lhe respondia com imagens do sertão. Os trabalhos se misturam e nos tornamos um só", ressalta Tiago Santana.
A exposição "Correspondências Visuais" concede à fotografia um novo espaço para a reflexão artística. Ela não apenas permite um diálogo entre artistas, mas introduz uma nova dimensão da fotografia como linguagem, criando um conjunto autônomo de sentido. Um sentido resultante da provocação visual de dois ou mais pontos de vista que, em sua união, formam uma nova obra.
Imagem e comunicação
"Não a palavra, mas as imagens como forma de comunicação. Sua polissemia admite distintos cursos de ação possíveis diante de cada encruzilhada. O diálogo visual não tem dicionário. Não remete a um diálogo anterior, nem se baseia em uma tradição sólida e estruturada, literária. O diálogo visual muda, sacode-se com rapidez, tem um tempo próprio, e raízes na cultura visual daquele que o protagoniza".
O fotógrafo argentino também acrescenta: "Se o autor se libera de seu ´Eu´ criativo como principal referência e ensaia uma construção visual a duas mãos, um modo de ver compartilhado, a fotografia e a criação de imagens se aproximam da interpretação musical. O resultado é um dueto de imagens sem partitura, improvisado. Uma composição visual que convida a uma interpretação aberta. Uma poética que sugere imagens a um terceiro, àquele que vê, para que se relacione com elas através do seu próprio olhar".
Pai e filha divergem sobre a presidência por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Pai e filha divergem sobre a presidência
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 16 de agosto de 2011.
Maria Carolina quer nomear Paulo Kauffmann para seu cargo, mas seu pai quer João Carlos Camargo no posto
Atual presidente sonha em comprar Van Gogh e Monet para coleção e compara a antiga gestão à ditadura líbia
Desde que assumiu o cargo de presidente da Fundação Nemirovsky, Maria Carolina é cobrada pelo Ministério Público paulista para nomear outro presidente e aceitar Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca do Estado, no conselho da entidade.
Uma reunião que pode resolver o impasse está marcada para depois de amanhã.
Para Maria Carolina, o conselheiro Paulo Kauffmann é "a pessoa de mais confiança" para assumir o posto de presidente. Mas seu pai, o empresário Paulo de Moraes Leme, disse à Folha que a filha "vai indicar João Carlos Camargo", outro conselheiro.
Com a exigência de que Marcelo Araújo passe a fazer parte do conselho da fundação, o MP tenta contrabalançar o poder da família e evitar que eles levem as obras do acervo para outro endereço.
Este plano foi aventado por José Dirceu, eleito o patrono da coleção, o que gerou desconforto entre conselheiros. Coincidência ou não, dois deles renunciaram após a escolha. "É amigo do meu pai. Foi uma homenagem", diz ela.
Depois que a promotoria apontou irregularidades na posição de Dirceu, a família voltou atrás no discurso, dizendo que ele não tem funções administrativas.
"A Pinacoteca faz parte de uma história do Brasil que não pode ser esquecida, mas não acho justo que mais de 200 quadros estejam na reserva técnica", critica ela. "Eu passo por aqui e sinto que essas paredes estão vazias."
Essa é uma sensação recente. Até duas semanas atrás, Maria Carolina não sabia o caminho até a Estação Pinacoteca, na Luz, onde fica a coleção. Depois que seu segurança mostrou a rota, ela diz se sentir à vontade ali.
"Demorou muito tempo para a gente assumir, mas eu sabia que a justiça seria feita", diz Maria Carolina, tomando água de coco. "A gente achava que o [Jorge] Wilheim estava igual ao [Muammar] Gaddafi, um ditador."
Wilheim preferiu não comentar a comparação.
Os Nemirovsky querem divulgar o acervo, um dos maiores de arte moderna no país.
Maria Carolina sonha em comprar quadros de Monet e Van Gogh para a coleção dos avós. Numa folha, ela escreveu à mão outra meta de sua gestão: acabar com as brigas na fundação.
A princesinha das artes por Silas Martí, Folha de S. Paulo
A princesinha das artes
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 16 de agosto de 2011.
Neta dos Nemirovsky, Maria Carolina comanda coleção de R$ 322 mi entre aulas de ginástica e psicologia na PUC
Ela se acomoda como um bibelô, vestida de rosa e sapatinhos beges, numa poltrona em frente a "Antropofagia", de Tarsila do Amaral. O quadro de 1928, agora na Estação Pinacoteca, enfeitou sua infância na sala da avó.
Maria Carolina Nemirovsky de Moraes Leme, neta de José e Paulina Nemirovsky, 21, agora se divide entre a malhação, o curso de psicologia na PUC-SP e a presidência da Fundação Nemirovsky.
Depois que a família se mobilizou para remover o arquiteto Jorge Wilheim do cargo, e após a renúncia de seu substituto, Arnoldo Wald Filho, Maria Carolina ascendeu ao posto há duas semanas.
Está encarregada de gerenciar um acervo avaliado em R$ 322 milhões, com obras de Picasso, Volpi, Tarsila, Guignard e dos contemporâneos Hélio Oiticica e Lygia Clark.
"É uma coisa grande. Eu me sinto preparada para ser presidente", diz ela à Folha. "Se a presidente Dilma, uma mulher, conseguiu..." Um ofício do Ministério Público Estadual, no entanto, exige que ela deixe o cargo até a semana que vem, por desequilibrar o conselho em favor da família com o voto duplo de presidente.
Ainda assim, ela acha que "justiça foi feita", comparando a permanência no poder de Wilheim à do ditador líbio Muammar Gaddafi. Procurado, o arquiteto não quis falar.
Mesmo saindo do cargo, ela vai indicar um substituto, seguindo o desejo dos pais.
agosto 15, 2011
"Ex Isto" tropeça na sintaxe do escritor Paulo Leminski por Manuel da Costa Pinto, Folha de S. Paulo
"Ex Isto" tropeça na sintaxe do escritor Paulo Leminski
Matéria de Manuel da Costa Pinto originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 13 de agosto de 2011.
Filme se baseia em "Catatau", armadilha para apuro visual de Cao Guimarães
Baseado em "Catatau", de Paulo Leminski, "Ex Isto" é um filme que tropeça na sintaxe do escritor paranaense, sem conseguir recriá-la. Escrito por nove anos, com um fluxo verbal cujas invenções linguísticas o colocam ao lado de "Galáxias", de Haroldo de Campos (1929-2003), como grande realização em prosa da poética concreta, "Catatau" é uma armadilha para um diretor com o apuro visual de Cao Guimarães.
Uma breve sinopse do livro mostra seu apelo cinematográfico: o filósofo francês René Descartes embarca na expedição do holandês Maurício de Nassau ao Brasil e, aqui, enlouquece com a exuberância tropical e com os efeitos de uma erva que turva seu projeto de fundar um racionalismo desconfiado da percepção sensível.
Partindo da fantasia biográfica (ele de fato viveu na Holanda e se engajou no Exército de Nassau, mas foi para a Alemanha), Leminski introduz duas personagens.
Um delas, histórica, é o polonês Artyczewski, que na ficção teria apresentado Descartes à erva maldita. A outra, imaginária, é Occam, uma espécie de sombra oculta, cujo nome remete a Guilherme de Ockham (pensador inglês do século 14). Ocorre que tais personagens só existem como entidades abstratas na tela mental de Cartesius (forma latina de Descartes): ele espera Artyczewski como um messias que o liberte do caos, no qual Occam entra como monstro textual que governa seu solilóquio desordenado, saturado de neologismos.
Cao Guimarães escolhe com sensibilidade os trechos de "Catatau" ditos pelo ator João Miguel, na pele de um Descartes vagando entorpecido por selvas tropicais e ruas atuais do Recife e de Brasília (onde Leminski projeta a erosão solar, e intemporal, do racionalismo cartesiano).
Mas há nítida dissonância entre a escrita espasmódica do livro e os planos-sequências de "Ex Isto", cuja plasticidade, límpida até numa cena de mercado popular, é um refúgio para a incapacidade de recriar os fantasmas da prosa mutante de Leminski.
Mostra destaca obra abstrata de Ianelli por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Mostra destaca obra abstrata de Ianelli
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 13 agosto de 2011.
Retrospectiva exibe evolução da obra do artista morto há dois anos, da figuração aos experimentos abstratos
Cerca de 40 telas, entre elas 13 de seu espólio, fazem parte de exposição no Museu de Arte Brasileira da Faap
Na rota da abstração, Arcangelo Ianelli despiu o mundo de seus contornos. Encontrou na vibração silenciosa da cor uma forma de exacerbar a harmonia e afogar qualquer impulso mais rebelde.
Dois anos depois de sua morte, aos 86, uma retrospectiva no Museu de Arte Brasileira da Faap revisita agora a trajetória discreta, não menor, do artista conhecido como um mestre do abstrato.
Mas suas telas não prescindem da forma física, da verossimilhança. Operam num plano reduzido, da essência. Na mostra, desenhos em carvão e depois paisagens convencionais, obras dos anos 40, acabam sendo diluídas na passagem dos 50 para os 60 em quase abstrações.
Um geometrismo latente começa a subverter a forma reconhecível. "Barcos a Vela", de 1957, é uma sucessão de manchas mais cruas, como se fosse vaga lembrança do assunto real do quadro.
Ianelli radicalizou esse registro no mesmo ano, pintando uma marinha em que céu e mar se fundem num fiapo de paisagem -não a praia, mas o mormaço, de cinzas e azuis profundos ou celestes.
Nas primeiras abstrações, ele parece mensurar o peso da cor, trabalha o acúmulo da tinta como se buscasse uma vibração escondida no objeto do quadro, uma luminosidade concreta capaz de expressar mais que linhas e formas mais bem definidas.
Mais tarde, no começo dos anos 60, Ianelli chamou um de seus quadros de "Transição", uma espécie de adeus ao peso opressor e abertura de uma fase de composições mais diáfanas, de cor pura.
Talvez sejam essas as abstrações reais, sem qualquer lastro de realidade. Nos experimentos com guache e depois pastel, nos anos 70, sua obra perde de vez essa âncora, abrindo espaço para as serigrafias da última década.
E, nesses últimos anos de vida, Ianelli se fixou como colorista disciplinado, alheio aos desarranjos do mundo.
Mostra contempla diversidade e verve visceral de Bourgeois por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Mostra contempla diversidade e verve visceral de Bourgeois
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada no caderno Ilustrada do joranal Folha de S. Paulo em 15 de agosto de 2011.
"Louise Bourgeois: o retorno do desejo proibido", em cartaz no Instituto Tomie Othake, em São Paulo, é mostra rara no cenário brasileiro, onde grandes nomes estrangeiros costumam comparecer com poucas obras ou trabalhos não tão representativos de suas carreiras.
Em geral, tais exposições costumam frustrar quem busca um panorama adequado que exemplifique por que um artista é tão valorizado. Não é este o caso. Com 112 obras de Bourgeois (1911- 2010), a mostra reverbera toda a sua verve visceral, a começar da primeira sala, onde estão ao menos três trabalhos centrais de sua produção: "Quarto Vermelho" (1994),"Spider" (1997) e "A Destruição do Pai" (1974).
Neles, concentra-se a linguagem poética da artista, que transformou em arte seus grandes traumas.
Melhor ainda é que a mostra respeita a obra da artista, mesmo baseando-se num forte conceito curatorial, que coloca a psicanálise como impulso fundamental para a criação de Bourgeois -tese de seu organizador, o canadense Philip Larratt-Smith.
Tais ideias estão defendidas no ótimo catálogo da exposição, com escritos da artista e muitos textos teóricos.
Assim, a exposição coloca em primeiro plano as obras, dispostas de forma elegante e sem grandes encenações.
Com uma seleção impressionante, que explora toda a diversidade de materiais utilizados por Bourgeois, seja vidro, aço ou delicados tecidos, a exposição, organizada em parceria com a Fundação Proa, de Buenos Aires, faz justiça a um nome central da arte contemporânea.