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Como atiçar a brasa

 


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julho 28, 2011

Presidente da Funarte divulga carta sobre protestos contra a instituição, Estadão.com.br

Presidente da Funarte divulga carta sobre protestos contra a instituição

Matéria originalmente publicada no caderno de cultura do Estadão.com.br. em 27 de julho de 2011

O presidente da Funarte, o ator Antonio Grassi, divulgou nesta quarta-feira, 27, carta sobre os protestos de setores da classe artística ocorridos no começo da semana. Na segunda-feira, 25, artistas ligados ao teatro se reuniram em frente ao prédio da Funarte, no centro de São Paulo, para protestar contra políticas públicas de financiamento dos programas culturais e contra o corte orçamentário do Ministério da Cultura (Minc), que teria passado de R$ 2,2 bi para R$ 800 milhões. Cerca de 500 pessoas participaram da manifestação.

Entre os temas levantados pelos manifestantes está a criação de programas como o Prêmio de Teatro Brasileiro. A proposta tramita atualmente no Congresso, dentro do escopo do ProCultura, projeto de lei 6.722 que institui um programa nacional de fomento e incentivo à cultura.

A Cooperativa Paulista de Teatro lançou um manifesto em que pede "programas estabelecidos em leis com orçamentos próprios; programas que estruturem uma política cultural contínua e independente, imediata publicação dos editais, o fim da política de privatizações e sucateamentos dos equipamentos culturais, o fim das leis de incentivo fiscal, o fim da burocratização dos espaços públicos".

Leia a íntegra da carta.

Movimento de Trabalhadores na Cultura

A luta por mais verbas para a cultura é de extrema importância. Deve ser uma luta de todos os artistas, produtores, técnicos, gestores, enfim, de toda a sociedade brasileira. Ao longo da minha vida, seja como artista, seja como homem público, sempre empunhei esta bandeira. Da mesma forma, mantive postura inflexível na defesa da liberdade, da democracia e dos movimentos populares.

É com tal espírito que a manifestação convocada por segmentos artísticos de São Paulo foi encarada por mim e pela Ministra Ana de Hollanda: os portões da Funarte foram mantidos abertos, a força policial não foi convocada e, desde o primeiro momento, nos declaramos dispostos ao diálogo.

Os principais pontos expressos no manifesto, como as PEC's 150 e 236 e o Prêmio Teatro Brasileiro encontram-se em discussão no Congresso Nacional. É importante que o debate extrapole os limites dos artistas e fazedores de cultura e chegue aos mais amplos setores da sociedade. Protestos legítimos auxiliam neste processo.

Entretanto, quero ressaltar algumas atitudes que não parecem coadunar com o espírito da luta comum dos artistas brasileiros. Cerrar os portões da Funarte - com correntes e cadeados - ofende nossa história de luta pela liberdade. Impedir o acesso de servidores públicos - ou expulsá-los sob ameaça das dependências da Funarte - relembra momentos terríveis de nosso passado não muito distante. Impedir que artistas, escolhidos por processos públicos para ocupar as salas da Funarte, exerçam a sua profissão não é aceitável sob nenhum aspecto. Impedir o andamento de Editais que estão sendo julgados e que favorecerão a própria classe artística é atirar contra o próprio pé. São fatos que, ao invés de atrair simpatizantes para a causa da cultura, dividem e isolam os movimentos.

Reitero a ampla disposição para o diálogo com os movimentos populares, conforme orientação da Presidenta Dilma, da Ministra Ana de Hollanda, e de acordo com a minha própria história de vida. É o único caminho possível para que a Cultura Brasileira seja finalmente colocada no patamar que merece.


Antonio Grassi

Ator e Presidente da Funarte

Posted by Cecília Bedê at 6:33 PM | Comentários (1)

julho 27, 2011

Manifestação ocupa Funarte e exige mais verba para a cultura por Gabriel Mellão, Folha de S. Paulo

Manifestação ocupa Funarte e exige mais verba para a cultura

Matéria de Gabriel Mellão originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 27 de julho de 2011.

Artistas tomaram posse da sede da Funarte (Fundação Nacional de Artes), no centro de São Paulo, anteontem.

Eles protestaram contra os recentes cortes no orçamento da Cultura para 2011, que passou de R$ R$ 2,2 bilhões para R$ 800 milhões. E exigem a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição 150, que destina 2% do orçamento federal para a cultura, além da extinção do que chamam de "política mercantilista" criada pela Lei Rouanet.

A manifestação começou às 14h e chegou a reunir 700 pessoas. Às 17h, os artistas fecharam os portões da Funarte, órgão vinculado ao Ministério da Cultura (MinC).

Os artistas, na maior parte ligados ao teatro, passaram a noite na instituição. Eles transferiram as atividades dos grupos dos quais fazem parte para a Funarte e planejavam, até o fechamento desta edição, dormir mais uma noite na instituição.

"Os funcionários do governo dizem estar abertos ao diálogo, mas não apresentaram proposta nenhuma. Aguardamos que o governo se posicione", diz Luciano Carvalho, do Coletivo Dolores.
Para Tadeu de Souza, representante regional da Funarte, "as reivindicações dos artistas são justas e já foram apoiadas pela ministra e pelo presidente da Funarte".

Valério Benfica, chefe de representação regional do MinC, diz que a pauta deve ser levada ao Congresso. "Tanto a aprovação do ProCultura [projeto de lei que deve substituir a Lei Rouanet[ como a da PEC 150 são assuntos parlamentares."

Posted by Cecília Bedê at 2:04 PM | Comentários (1)

julho 26, 2011

Entrevista: Crítica de arte com Juliana Monachesi por Chris Valias, Paraty em Foco

Entrevista: Crítica de arte com Juliana Monachesi

Entrevista feita por Chris Valias originalmente publicada no blog Paraty em Foco em 6 de julho de 2011.

Um dos maiores gargalos da produção cultural é a crítica. O trabalho sensível produzido pelo homem, quando exposto, cria um diálogo, e a tradução desta percepção é melhor refletida no papel dos críticos: é do texto de um crítico que vem boa parte da compreensão de uma obra artística. Para entender um pouco mais sobre o assunto, fizemos uma entrevista com Juliana Monachesi, crítica, curadora e jornalista especializada em artes visuais, mestre em Comunicação e Semiótica. Ela nos conta um pouco sobre sua experiência e como funciona esse mercado.

Chris Valias Conte um pouco sobre sua experiência como curadora em exposições de fotografia.
Juliana Monachesi Das mais de dez curadorias que já assinei, todas nos anos 2000, nenhuma deixou de fora a fotografia. É uma linguagem absolutamente incontornável. E uma forma de expressão dos nossos tempos. Mas a exposição em que a fotografia foi protagonista absoluta entre as mostras de que fui curadora foi, sem dúvida, afotodissolvida, que aconteceu no Sesc Pompéia em 2004. Nesta curadoria, a intenção foi investigar como o advento da tecnologia digital estava modificando o dia-a-dia das redações de jornal, da produção artística em geral e, claro, do ofício dos fotógrafos.
Queria entender como a passagem hiper-veloz que eu estava vivenciando na redação do contato fotográfico em papel ao arquivo digital desmaterializado, e também do álbum fotográfico material à pasta de computador no cotidiano das pessoas, ou mesmo da imagem com referente real àquela completamente fictícia construída digitalmente pelos artistas, como essa passagem, essa dissolução da fotografia estava impactando a cultura contemporânea.

Foi uma exposição sobre fotografia, sobre o imaginário da fotografia, mas que reuniu obras nos mais diferentes suportes, e não apenas fotos. De pinturas e esculturas que incorporavam a imagem fotográfica (Adriana Rocha, Keila Alaver, Sandra Cinto) até vídeo (Gisela Motta, Kinoks), com pitadas de ficção fotográfica (Rochelle Costi, Leandro Lima) e até de fotografia tradicional (Caio Reisewitz, Gustavo Rezende).

Chris Valias Você tem uma longa formação em comunicação e artes visuais. Acha que isso é imprescindível para se tornar um bom crítico?
Juliana Monachesi Não necessariamente. Bons críticos têm formações as mais diversas; surgem em diferentes áreas de atuação e conhecimento. O que é necessário para se tornar um bom crítico é sensibilidade, curiosidade, muita leitura e, o mais importante, muita convivência com arte. A sensibilidade serve para tornar alguém disponível a “entrar na viagem” de cada artista sem preconceitos. A curiosidade serve para colocar na cabeça da pessoa aquela pilha de perguntas que convém endereçar a cada obra. A leitura e o olhar servem para criar e aprofundar o repertório.

Chris Valias Existe uma fórmula para se fazer uma crítica? Deve haver um equilíbrio entre sensibilidade e racionalidade?
Juliana Monachesi Há diferentes estilos de crítica, aquela mais pessoal, confessional; uma outra mais distanciada, “de gabinete”, como se diz. Eu não sou muito fã de nenhum destes dois extremos: um equilíbrio, como você afirma, me parece, sim, a melhor fórmula para se escrever uma crítica relevante. Talvez valha detalhar um pouco o motivo pelo qual estes dois extremos (o sentimental e o professoral) me incomodam: quando você escreve uma crítica do tipo “vi tal exposição, senti isso e aquilo, lembrei de não sei o quê etc.”, a não ser que você seja uma sumidade no assunto, os comentários não têm relevância nenhuma para o leitor; da mesma forma, quando a abordagem é apenas técnica, sem envolvimento algum com o objeto de análise, o leitor pode muito bem ficar com a impressão de que o mesmo texto valeria para outros vinte artistas e/ou trabalhos semelhantes. Então a dosagem entre envolvimento e distanciamento, entre impressões e contextualizações é que faz com que o texto crítico de fato acrescente alguma coisa para quem o lê.

Chris Valias O crítico tem o poder de validar uma obra de arte?
Juliana Monachesi Isso é uma das funções da crítica de arte, mas não é algo que o crítico faça sozinho: todas as instâncias do sistema da arte têm participação nos processos de validação, desde o curador ao eleger uma obra para ser exposta, até o colecionador que compra uma peça em detrimento de outra, passando pelas galerias, museus, mecenas, leilões, meios de comunicação etc. O papel do crítico nessa cadeia produtiva das artes é fazer a mediação entre a obra e o público: analisar a produção do artista desde suas características formais até o seu contexto social e histórico; inserir o artista na narrativa da maior história da arte, alinhavando as relações com outros artistas e outros contextos.

Portanto, o crítico tem, sim, o papel de validar uma obra de arte – para o bem e para o mal, no sentido de que pode também, por conta deste poder, arruinar uma carreira. Mas esta é uma descrição de um cenário que é mais concreto nos Estados Unidos, por exemplo, onde o meio de arte é bastante mais institucionalizado e profissionalizado do que no Brasil. Lá, a força destas engrenagens do sistema a que me referi antes (curadores, colecionadores, galerias, museus, mecenas, leilões, meios de comunicação), o fato de serem amplamente consolidados, contribui de modo mais decisivo no destino de uma obra, de uma carreira, de uma reputação.

Chris Valias Pra quem quem se interessar pelo tema, conte um pouco sobre como será o workshop “Fotografia: crítica e jornalismo cultural” que você irá ministrar no Paraty.
Juliana Monachesi Bom, no workshop acho que estas questões todas de que tratamos aqui serão contempladas, idealmente. Mas o mais saboroso da atividade vai ser um esforço de cobertura do Paraty em Foco; minha intenção é, depois de uma primeira conversa teórica, levar todos os participantes ao trabalho de campo: um corpo a corpo com as obras expostas, discussão in loco dos trabalhos apresentados nas diversas mostras, análise de obra à queima-roupa mesmo, e, finalmente, um exercício de produção de textos. Pretendo estimular os participantes do workshop a exercitar a crítica, da observação e discussão à escrita.

Posted by Cecília Bedê at 4:42 PM | Comentários (2)

Chelpa Ferro cria conversa entre máquinas sonoras na Vermelho por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Chelpa Ferro cria conversa entre máquinas sonoras na Vermelho

Duas estruturas de isopor, metal e plástico flutuam no ar presos por tirantes nas paredes. Elas tentam estabelecer um contato estranho entre o espaço sideral e as cavernas da Terra, pelo menos na imaginação dos artistas.

Instalação do coletivo Chelpa Ferro, a obra que estará na Vermelho a partir de hoje segue na tradição do grupo, que constrói máquinas de som usando objetos garimpados no processo.

No caso, eles propõem agora uma subversão do horizonte, suspendendo acima do chão uma conversa ruidosa. Enquanto um dos módulos emite sons, o outro responde acendendo e apagando luzes presas ao longo do mastro.

"São sons que tentam fazer algum contato, uns ruídos, sinais agudos", diz Barrão, um dos artistas do grupo. "É como se fossem sons captados por antenas ou que estariam no ar, soltos."

Posted by Cecília Bedê at 4:29 PM

Artista cria museu de mundo imaginário por Silas Matí, Folha de S. Paulo

Artista cria museu de mundo imaginário

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 26 de julho de 2011.

Em individual que abre hoje, Marilá Dardot usa trabalhos dela e de outros artistas para falar de sua terra fictícia

Obras na mostra estão em vitrines, como artefatos de um museu, acompanhados de seus verbetes explicativos

No terceiro mundo imaginado por Marilá Dardot, o sistema de cores se baseia em livros e flores, no caso, o estado de conservação de cada livro e o grau de maturação de cada flor. Também o tempo tem seu registro alterado, a arquitetura, os mapas e todo instrumento que rege a vida.

Não é um conceito geopolítico que ela usa na mostra que abre hoje na galeria Vermelho, em São Paulo, mas um terceiro mundo filosófico, que vem da junção de "um primeiro com um segundo".

Também em vez de mostrar só obras que fez, Dardot reúne em caixas e vitrines alguns resquícios de obras de artistas de sua geração para construir um discurso em torno dos tempos atuais, esse tal terceiro mundo de ideias que pauta uma leva de autores. "São obras reproduzidas aqui como se estivessem em espaços domésticos, não como obras de arte", resume a artista. "É como se fosse um museu histórico desse lugar."

Dardot, aliás, também não sai de sua esfera íntima. Estão nas paredes de seu museu trabalhos de artistas que despontaram em Minas Gerais, como ela, além de uma obra do próprio marido.

Rivane Neuenschwander, Cinthia Marcelle e Sara Ramo, que vivem em Belo Horizonte, emprestam seu vocabulário para pensar o tempo. Sua base também está na literatura de Julio Cortázar ou Emily Dickinson, constantes citações nos trabalhos. Mas o que fica é um inventário da delicadeza violenta do cotidiano, uma pausa para contemplar os absurdos da vida.

Num dos verbetes de seu museu, Dardot, citando o argentino Cortázar, descreve o ato de endireitar pregos com um martelo como ação de "perversidade fulminante".

Descreve também outro estranho ato dos habitantes do terceiro mundo, que se abaixam quando veem um brilho na calçada.

Posted by Cecília Bedê at 4:16 PM

julho 25, 2011

Tesouro Revelado por Camila Molina, O Estado de S. Paulo

Tesouro Revelado

Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 25 de julho de 2011.

Após outro adiamento na inauguração de nova sede, MAC prepara mostra com peças não vistas há anos

A inauguração da nova sede do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC), prevista para o segundo semestre, deve ser novamente adiada. Após visita de representantes da universidade ao antigo prédio do Detran, o diretor do museu, Tadeu Chiarelli, e a instituição decidiram esperar que todo o complexo - que inclui, além do prédio principal, três anexos - fique pronto para utilização, o que deve acontecer apenas no início de 2012. Por conta disso, o museu resolveu montar já em setembro uma exposição com cerca de 200 obras de seu acervo, algumas delas longe do público desde os anos 90.

"A instituição foi segurando a exibição da sua coleção e a gente não pode ficar assim", diz Tadeu Chiarelli. "Existe uma demanda muito grande sobre a possibilidade de o público entrar em contato com o acervo", continua o diretor do museu. A abertura da nova sede do MAC, cuja obra é realizada pela Secretaria de Estado da Cultura, vem sendo adiada desde 2009.

Sendo assim, a exposição Modernismos no Brasil, que o museu vai inaugurar em 13 de setembro, em seu espaço no pavilhão da Bienal, no Ibirapuera, vai reunir obras - muitas delas, peças-primas da instituição - que estão distantes do público há muito tempo. A tela A Negra, de Tarsila do Amaral, um dos grandes destaques do acervo do museu, teve sua última exibição em 2009. Mas há outros exemplos curiosos. A pintura A Boba, de Anita Malfatti, não é vista desde 2008; a escultura A Soma de Nossos Dias, de Maria Martins, foi exibida apenas em 2005. Já o autorretrato de Amedeo Modigliani, o único realizado pelo pintor, não é exibido desde 2007; e o quadro Mangaratiba, de José Pancetti, teve sua última aparição em 1998.

"A exposição é uma leitura da coleção modernista do museu, com várias vertentes", diz Tadeu Chiarelli. A mostra vai mesclar obras de artistas brasileiros e de estrangeiros, promovendo o diálogo entre a produção nacional e internacional. Nesse sentido, serão colocadas para o publico obras como Conceito Espacial (1965), de Lucio Fontana; O Enigma de um Dia (1914), de Giorgio de Chirico; e Plano em Superfícies Moduladas n.º 2 (1956), de Lygia Clark - todas não exibidas desde 2006. Ou figurará ainda A Santa da Luz Interior (1921), de Paul Klee, obra sobre papel que teve sua última exibição em 2002. "As escolas pedem para ver essas obras, com toda a razão; as pessoas cobram. E estou preocupado porque os mais novos não perguntam sobre a coleção pois não conviveram com ela, só os mais velhos", diz ainda Chiarelli, diretor do MAC desde abril de 2010.

Mudança. A transferência do MAC para o complexo do ex-Detran - o prédio e anexo principais foram projetados em 1951 por Oscar Niemeyer - foi acertada (mas ainda não "formalizada", diz Chiarelli) entre a USP e o Governo do Estado de São Paulo justamente para que a instituição tivesse um espaço à altura de seu rico acervo, com 9.512 obras. A Secretaria de Estado da Cultura está realizando a reforma do imóvel, tombado pelo Conpresp e Condephaat, desde 2008, mas o projeto do novo MAC também inclui a construção de dois anexos, que têm previsão de ficarem prontos mais adiante.

"Os edifícios originais estão previstos para serem entregues no final deste mês, mas não podemos cogitar a mudança do museu sem os anexos prontos. A gente não pode ir por partes", diz Chiarelli. "O empenho da secretaria é total, mas são problemas técnicos que surgem, é o imponderável." Segundo o secretário de Cultura Andrea Matarazzo afirmou ao Estado em maio, o governo de São Paulo gastou R$ 76 milhões nas obras para transformação da ex-sede do Detran em espaço museológico, com área total de 37 mil m².

O diretor do MAC explica que um dos anexos em construção vai ser dedicado a laboratório de conservação e restauro e para reserva. "É como se você fosse reunir mais de mil pessoas em um lugar e não tivesse os ambulatórios", explica Chiarelli. Há ainda outra questão: quando, afinal, todo o complexo da nova sede ficar totalmente pronto, o museu pretende promover testes nos novos espaços, por um período de cerca de dois meses. Só depois, enfim, o novo MAC será inaugurado para o público.

O museu foi instituído em 1963, quando Ciccillo Matarazzo decidiu transferir sua coleção do Museu de Arte Moderna para a recém-criada instituição. O MAC, atualmente, tem prédio exíguo no câmpus da USP e área no edifício da Bienal (que será desativada), ambos espaços que utiliza para suas atividades até que sua nova sede, em endereço mais acessível, fique pronta.

Posted by Cecília Bedê at 6:30 PM

Richter tem retrospectiva na Pinacoteca por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Richter tem retrospectiva na Pinacoteca

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Iustrada do jornal Folha de S. Paulo em 23 de julho de 2011.

Artista alemão que desconstrói linguagem da pintura e da fotografia tem conjunto de telas exposto em São Paulo

Mostra reúne cerca de 30 obras, entre elas abstrações coloridas e pinturas feitas a partir de imagens fotográficas

Gerhard Richter, 79, desdenha da exatidão do mundo moderno. Sua obra fica no intervalo entre a pintura e a fotografia, tratando as duas técnicas como iguais, e não rivais, num processo que tem como fim a representação.

É por isso que esse artista alemão, um dos nomes mais fortes da arte do século 20 e que abre hoje retrospectiva na Pinacoteca do Estado, não se desvencilha desses dois processos em tudo que faz.
Pinta quadros a partir de fotografias, fotografa suas pinturas, depois expande e contrai as composições que se formam ao acaso na tela.

São formas esmaecidas. Tudo parece borrado, como se escapasse aos contornos. A figura é transmutada, "distorcida", "ajustada", nas palavras de críticos acostumados a descrever sua obra.

Logo na entrada da mostra, está uma coleção de 128 fotografias de uma de suas telas, esmiuçando as pinceladas, vistas de cima e de lado, ampliadas e desfocadas.

É como se Richter enxergasse a própria obra como paisagem a devassar, o real que se torna abstrato quando alvo de um olhar aguçado.

Num processo parecido, ele fotografa e amplia a mistura de cores numa paleta diminuta, expandindo uma gota de cor em abstração de tons berrantes que se encontram.

"Ele não busca uma composição. Como isso vem de uma fotografia, é uma composição encontrada", diz Dietmar Elger, biógrafo de Richter. "É o vazio, a não composição ou a decomposição."

Richter acaba tratando figuras e abstrações da mesma forma. Uma orquídea, por exemplo, é pintada a partir de uma fotografia, sendo a tela depois fotografada e impressa de novo, numa extensão do processo fotográfico à lógica por trás da pintura.

Seu tio Rudi, morto na Segunda Guerra, aparece numa pintura surrupiada de um retrato que dita a composição, o acaso da visão do obturador transposto para a tela.

Tudo parece ser assunto para Richter, basta ser imagem. Mesmo quando faz só pintura, ele busca uma ilusão fotográfica. Seus monocromos cinzentos dão a impressão de profundidade, como se descortinassem um espaço por trás do plano da tela.

Em busca de abstrações reais, Richter também fez telas para compor outros quadros, obras destinadas a ser só parte de um todo maior, como se nas camadas da tinta quisesse desvelar os vários níveis de visão do real.

RAIO-X
GERHARD RICHTER

VIDA
Nasceu em 1932 em Dresden. Estudou em Dusseldorf, onde fez sua primeira mostra

OBRA E CARREIRA
É um dos artistas mais valorizados do mundo, com uma tela vendida em leilão por US$ 15 milhões. Participou da Documenta de Kassel em 1997 e teve sua série "October Cycle", sobre o terrorismo alemão, comprada pelo MoMA, de Nova York

Posted by Cecília Bedê at 5:34 PM

Houston, WE HAVE ART por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Houston, WE HAVE ART

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 23 de julho de 2011.

Museu dos EUA elabora a maior base de dados da arte latino-americana, reunindo 10 mil documentos históricos

No diário de sua viagem ao Brasil, o poeta Blaise Cendrars anotou: "A terra é vermelha, o céu é azul". Tarsila do Amaral então ilustrou tudo sob os efeitos de "azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante".

"Feuilles de Route" (folhas do caminho), caderno que destrincha o roteiro da artista com o poeta francês por Minas Gerais e que deu origem à sua fase "Pau Brasil", é um dos 10 mil documentos que integram o mais ambicioso projeto de digitalização de textos e imagens relacionados à arte latino-americana.

Nos últimos sete anos, Houston foi o epicentro de um esforço que envolveu cem pesquisadores, espalhados por 14 cidades das Américas para reunir a maior base de dados de artistas latinos já compilada, tudo a um custo de cerca de R$ 78 milhões.

"Queremos percorrer as bases intelectuais da arte latino-americana", resume Mari Carmen Ramírez, curadora do Museum of Fine Arts de Houston (EUA), responsável pelo projeto. "Nossa esperança é que isso leve a uma transformação radical no entendimento da arte dessa região."

Radical porque documentos primários, de diários de artistas a artigos publicados e anotações pessoais, estarão acessíveis ao mundo todo pela primeira vez. Será uma base que permite cruzar dados sobre a produção desses autores ao longo do século 20.

"Isso nos leva a observar esses artistas a partir de outros ângulos", diz Ramírez. "Ajuda a estabelecer uma história comparativa da arte latino-americana, esclarecendo a relação entre os países."

ETAPA BRASILEIRA
Na primeira etapa do projeto, serão divulgados, até o fim deste ano, 3.000 documentos ligados a nomes dos Estados Unidos, México e Argentina. Em 2013, entram os 1.500 textos históricos que foram garimpados no Brasil.

Entre eles, clássicos como o "Manifesto Antropófago", de Oswald de Andrade (1890-1954), textos sobre arquitetura moderna escritos por Gregori Warchavchik (1896-1972), uma análise das construções do país feita por Le Corbusier (1887-1965) e publicações como a revista "Klaxon", espécie de bíblia dos modernos.
"São autores que marcaram o pensamento das artes no Brasil", diz Ana Maria Belluzzo, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, que coordenou o braço brasileiro da pesquisa. "Tentamos reconstruir esse pensamento, mostrar a criação de uma linguagem."

Embora pesquisadores de cada país tenham autonomia, um roteiro geral de busca foi elaborado em Houston para dar unidade aos dados -uma lista de critérios do que interessa ou não ao projeto. "Há uma lista de questões, não de artistas", diz Belluzzo. "A coisa mais importante é trabalhar esse universo."

Em paralelo ao projeto de Houston, a artista Letícia Parente acaba de ter sua documentação lançada on-line em leticiaparente.net, e os escritos de Lygia Clark devem ganhar a web em breve, numa parceria dos herdeiros da artista com a Universidade Federal de Minas Gerais.

Posted by Cecília Bedê at 3:31 PM

Que Pinacoteca é essa? por Mariana Toniatti, O Povo

Que Pinacoteca é essa?

Matéria de Mariana Toniatti originalmente publicada no caderno Vida e Arte do jornal O Povo em 24 de julho de 2011.

A PINACOTECA Municipal existe por lei desde 1997, mas ainda está longe de se materializar. Até lá, que lugares existem para fazer o acervo chegar ao público e que instituições vão cuidar de reunir e preservar obras significativas?

A coluna Vertical, publicada de segunda a sábado no O POVO, provocou: “Pouca gente sabe, mas o município de Fortaleza tem uma pinacoteca. Ela se resume a uma sala guardando quadros, mas tem diretora nomeada e tudo”, dizia uma das notas da edição de 14 de julho. A diretora é Cecília Ximenes, servidora da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor) e dos órgãos da pasta que antecederam a secretaria, há 16 anos. Há mais de dez, ela cuida do acervo municipal que hoje contabiliza 140 obras, especialmente pinturas, gravuras e desenhos e algumas esculturas. “Me considero a guardiã das obras. Não pode deixar tudo largado sem ninguém tomando conta”, diz Cecília.

No começo de 2010, depois da reforma do Paço Municipal, onde estavam muitas obras do acervo, as peças foram reunidas, catalogadas e guardadas numa sala da Vila das Artes, o equipamento de formação da Secultfor. De acordo com Cecília, tudo está muito bem embalado numa sala climatizada. A Secultfor preferiu não mostrar a sala, “para não confundir o leitor”, segundo a secretária Fátima Mesquita. O plano é restaurar todas essas peças. Entre as relíquias, há telas de Raimundo Cela, Chico da Silva, Aldemir Martins, Barrica e Sergei de Castro, xilogravuras de Francisco de Almeida e peças de Sérvulo Esmeraldo.

Fátima planeja que todas as peças estejam restauradas até o próximo Salão de Abril, no primeiro semestre de 2012, para serem exibidas durante a mostra. “O restaurador já começou a fotografar as obras, é todo um processo, tem que ter um ‘antes e depois’, tem que ver a técnica de restauro de cada peça, algumas precisam só de uma limpeza”, diz Cecília. Mas e a Pinacoteca!? Essa não tem previsão de sair do papel, mesmo sendo “o desafio dessa reta final”, segundo Fátima.

“Desde o início da primeira gestão queremos esse equipamento. Está colocado como prioridade pra gente ver se consegue avançar”, diz a secretária mostrando um mega projeto fechado em 2006: o Complexo Cultural Estação João Felipe, que prevê a construção da Pinacoteca, do Museu da Cidade, do Arquivo Público, da Biblioteca Dollor Barreira e de um auditório no terreno ao lado da estação, onde estão os antigos galpões da Rffsa. “São duas coisas antigas, criadas por lei, que podem e devem ter uma direção, mas que a Prefeitura nunca conseguiu instalar: o Museu da Cidade e a Pinacoteca”, diz Fátima.

O projeto da Pinacoteca, nos galpões da Rffsa, no terreno ao lado da Estação João Felipe, curiosamente também é apresentado pela Secretaria da Cultura do Estado (Secult) como aposta dessa gestão. “Mas a área pretendida é tão grande que cabem também outros equipamentos. São mais de 100 mil m² de terreno. O Museu da Cidade é muito bem vindo na região. Consolidaríamos esse espaço como eminentemente cultural. O projeto do Município só vem a colaborar”, contemporiza Carlos Macedo, coordenador das Artes Visuais na Secult. Para Fátima, a administração da Pinacoteca e dos outros equipamentos e o “plano diretor do espaço, no coração do Centro, devem ficar a cargo do Município”. “A Prefeitura sempre colocou que quer a posse disso”.

Por enquanto, o terreno, ponto final do chamado corredor histórico da rua dr. João Moreira, permanece sendo patrimônio da União e nem Município nem Estado têm verba garantida para a construção da Pinacoteca. “Colocamos no PAC das Cidades Históricas (Programa de Ação das Cidades Históricas), é um dos projetos da Copa do Mundo, estamos tentando em todas as frentes”, diz Fátima. Mas e até lá? Onde o público pode ver as preciosidades do acervo municipal e estadual, esse com três mil obras catalogadas, mil só de Antônio Bandeira? O Vida & Arte Cultura de hoje faz essa pergunta. Que espaço de exposição temos em Fortaleza e a quantas anda a gestão e o uso deles?

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Posted by Cecília Bedê at 2:29 PM | Comentários (1)

Desafios das artes por Mariana Toniatti, O Povo

Desafios das artes

Matéria de Mariana Toniatti originalmente publicada no caderno Vida e Arte do jornal O Povo em 24 de julho de 2011.

No dicionário, pinacoteca quer dizer coleção de quadros de pintura ou museu de pintura. No século XIX, quando as pinacotecas se consolidaram, a pintura era mesmo a expressão artística por excelência, e as outras formas artísticas eram bem definidas: desenho, escultura. Hoje, no século XXI, a arte tem inúmeras linguagens e possibilidades e o conceito de pinacoteca tem que acompanhar essa transformação.

“A pinacoteca que se projeta no século XX mantém o nome e o vínculo com o mundo da pintura, mas têm um desafio, dialogar com a produção artística contemporânea que não se expressa exclusivamente pelo campo da pintura e rompe com segmentações. Nisso que chamamos artes visuais, temos instalações, performances, combinação de imagens em movimento, produção sonora, um conjunto de possibilidades expressivas”, explica Mário Chagas, diretor do Departamento de Processos Museais do Instituto Brasileiro de Museus.

O melhor exemplo disso é a Pinacoteca de São Paulo, fundada em 1905, hoje um dos melhores museus do país, entre outras coisas, por conseguir reunir um acervo importante dos séculos passados e de arte contemporânea. Nesse momento, a Pinacoteca exibe uma mostra do trabalho do cearense Sérvulo Esmeraldo com 117 trabalhos, entre esculturas, pinturas, gravuras, desenhos e objetos.

Mesmo levando em conta que a função extrapola o sentido original da palavra, Mário Chagas vê mais sentido em batizar de museus os novos equipamentos. “O museu pressupõe uma complexidade, muito mais polifônico. No meu entendimento comunica de modo mais intenso e direto com o mundo contemporâneo”, diz.

Além de espaço de exposição, a pinacoteca tem outro papel fundamental: montar e preservar um acervo significativo e amplo de obras de arte. A missão de guardar e zelar pela memória artística. A chamada reserva técnica, onde essas peças que não estão em exibição são guardadas, exige investimentos. O local tem que ser climatizado, protegido de umidade e ter os equipamentos certos para acomodar as obras como mapotecas, um móvel que tem gavetas grandes para telas, e traineis, uma espécie de suporte para guardar peças penduradas.

No Ceará, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, que guarda o acervo estadual de três mil peças, é o único equipamento com reserva técnica adequada. Na Vila das Artes, as obras só estão embaladas. O desafio não é só montar o espaço físico da reserva técnica. Compor um acervo significativo também é problemático. No Ceará, a doação dos próprios artistas ainda é o caminho mais frequente de aquisição de novas peças. As últimas obras que entraram para o acervo municipal foram três telas de Descartes Gadelha doadas pelo próprio artista.

“Há uma lacuna de investimento do poder público na aquisição de acervo. Não se tem uma compreensão de que disso depende a continuidade dos processos criativos para as gerações futuras. Onde os jovens vão poder conhecer obras dos próprios artistas brasileiros contemporâneos se os governos não estão adquirindo peças novas? Para onde as obras estão indo?”, preocupa-se Mário. Os acervos do século XIX e XX são mais expressivos, chegam a cobrir o Modernismo. Mas depois das décadas de 60 e 70 do século passado, Mário vê grandes lacunas.

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Posted by Cecília Bedê at 2:20 PM

Acervo escondido por Mariana Toniatti, O Povo

Acervo escondido

Matéria de Mariana Toniatti originalmente publicada no caderno Vida e Arte do jornal O Povo em 24 de julho de 2011.

FALTAM espaços de exposição ou o problema é de gestão? Ouvimos algumas pessoas da área e fizemos essa pergunta

Por enquanto, só algumas poucas obras do acervo municipal estão fora da salinha que guarda a centena de peças na Vila das Artes e mesmo assim não estão ao alcance do público. Espalhadas nas paredes e salas da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), o privilégio de admirá-las é de quem trabalha por ali ou faz uma visita. “Na minha sala tem uma ‘exposição permanente’ de xilogravuras de Francisco Almeida”, diz Fátima Mesquita, titular da Secultfor. Ela frisa que quem quiser conhecer a coleção é bem vindo. Se quiser, pode fazer a tentativa.

Hoje a Prefeitura tem apenas um local próprio de exposição, a Galeria Antônio Bandeira, um espaço cedido pela Secretaria de Educação no Centro de Referência do Professor. Uma das salas, onde costuma ocorrer o Salão de Abril, está vazia. A outra abriga o único acervo em exposição permanente, o Memorial Sinhá D’Amora, pintora de Lavras da Mangabeira, reconhecida internacionalmente, falecida em 2006. Perto de completar dez anos, a exposição deve ser modificada. É o que planeja a diretora do espaço, Mariana Ratts.

Há outros espaços de exposição na cidade. O Sobrado Dr. José Lourenço e o Museu de Arte Contemporânea do Dragão do Mar - equipamentos do Governo Estadual -, o Centro Cultural do Banco do Nordeste, o Centro Cultural dos Correios e o Museu de Arte da UFC (Mauc) – que tem um acervo bastante significativo -, a galeria de arte do Palácio da Abolição e a galeria da Universidade de Fortaleza, lembrando alguns. Seria ainda pouco para a cidade de 2,5 milhões de habitantes?

“Até faltam mais espaços, porém não se pode tentar criar novos enquanto os que existem não funcionam como poderiam. Criar para ser mais um desse jeito? A Galeria Antônio Bandeira parece que é só para o Salão de Abril, o MAC do Dragão faz grandes exposições, traz Picasso, Gary Hill, mas passa, é temporário. É um museu de eventos, não de formação de público. É o problema de muitos museus, a ação educativa é para dizer que cumpre o papel, mas serve mais para garantir um número mínimo de visitantes, do que para formar público”, critica a artista e editora do site especializado Canal Contemporâneo, Cecília Bedê, 28 anos.

Bitu Cassundé, artista e curador independente, vê na falta de continuidade de políticas públicas o maior problema na gestão dos equipamentos culturais de Fortaleza, incluindo aí os espaços de exposição. “Não existe a cultura da continuidade, mesmo os projetos certeiros são abortados pelas novas gestões, é um novela repetitiva, cansativa, mas que faz parte do nosso exercício político. Temos bons espaços com infraestrutura e condições técnicas razoáveis. O fundamental é permitir acesso a uma programação efetiva regida por boas exposições, com um projeto educativo de qualidade e que os espaços sejam apropriados pelos artistas e pelo público, e principalmente, desconstruir a ideia de feudo que existe em alguns espaços”.

Para a coordenadora do curso de Licenciatura em Artes Visuais do Instituto Federal do Ceará (Ifce), Dorinha Nascimento, o desafio é chegar em quem não vai ao museu. “Parece que são sempre os mesmos, aquela mesma elite. Hoje o Dragão do Mar é o espaço que mais se insere no dia a dia, mas é o equipamento como um todo, não necessariamente o museu. As galerias, os museus, têm que se mostrar mais atraentes, ter uma política de visitação que envolva mais, que ajude esse público a formar uma leitura da arte. Isso não tem a ver com novos espaços”, diz Dorinha.

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Posted by Cecília Bedê at 2:08 PM

Para além do acervo por Mariana Toniatti, O Povo

Para além do acervo

Matéria de Mariana Toniatti originalmente publicada no caderno Vida e Arte do jornal O Povo em 24 de julho de 2011.

DIRETOR da Pinacoteca de São Paulo desde 2002, o museólogo Marcelo Araújo aponta as principais preocupações para manter um equipamento público a partir de seu trabalho

O museólogo Marcelo Araújo é diretor da Pinacoteca de São Paulo desde 2002. No ano em que assumiu, a área de Ação Educativa foi reformulada e passou a desenvolver visitas monitoradas, capacitação de professores e programas para públicos especiais de forma contínua. O objetivo, de acordo com Marcelo, não é aumentar a quantidade de visitas, mas diversificar o público, até porque a média de visitas, 500 mil pessoas por ano, já é muito boa. São quase 42 mil visitantes por mês.

A Pinacoteca completou 106 anos com a vitalidade que um museu contemporâneo deve ter. É um dos melhores equipamentos do tipo país na avaliação de especialistas. No artigo assinado por Ricardo Resende (página 7), o diretor do Centro Cultural São Paulo (CCSP), aponta a Pinacoteca como “a melhor referência de museu no Brasil, particularmente por sua programação”. Para conhecer mais sobre o funcionamento da Pinacoteca e sobre as marcas da gestão de Marcelo, o Vida & Arte Cultura conversou com o diretor por telefone. (Mariana Toniatti)

O POVO - Para começar, que diferença existe entre uma pinacoteca e um museu? Ainda se faz uma distinção entre esses dois termos?

Marcelo Araújo - A palavra pinacoteca tem origem grega e designava a área dentro dos recintos dos templos onde eram guardadas as pinturas. É uma palavra que foi usada como sinônimo para museus praticamente desde o século XVIII. Ela ainda é usada em determinados idiomas, como alemão, inglês, italiano e português, e é bem menos usada, ainda que exista, em francês e espanhol. Apesar dessa origem, é uma palavra que hoje equivale quase a um sinônimo de museu. Não há diferença conceitual entre museu e pinacoteca, mas na verdade pinacoteca acaba se referindo sempre a um museu de arte. Um museu pode ser de história, de ciência, mas a pinacoteca sempre vai se referir a um acervo de obras de arte.

OP - Mas esse entendimento da Pinacoteca de São Paulo como espaço de exposição e fruição de obras de arte de diferentes linguagens começa cedo então? Pensei que era algo relacionado à gestão de Emanoel Araújo, seu antecessor.

Marcelo - Quando a Pinacoteca foi criada, em 1905, o acervo original era formado só por pinturas, o que talvez explique a adoção desse termo, tanto que inclusive era comum divulgá-la como sendo a “Galeria de Pinturas do Estado de São Paulo”, mas muito rapidamente ela passou a expor esculturas e outras linguagens e o nome Pinacoteca perdeu esse sentido etimológico inicial. Isso ocorre praticamente desde o começo, logo nos anos seguintes à inauguração.

OP – Então hoje ainda faria sentido abrir um equipamento com o nome de pinacoteca ou seria algo ultrapassado? Seria melhorar tratar como museu, mais abrangente?

Marcelo – Aí não sou eu que posso te responder. Quem for escolher a denominação vai ter que indicar se está adotando porque a intenção é que seja um museu só de pinturas, ou, como é na maioria das vezes, um museu com abertura para todas as outras linguagens.

OP - O que a Pinacoteca de São Paulo promove de diferente dos outros museus da cidade?

Marcelo - Hoje em dia todos os museus procuram o aprimoramento de qualidades e de conteúdo. No caso da Pinacoteca, temos políticas cujas diretrizes gerais são definidas pela Secretaria da Cultura, e temos nossos programas, as exposições de longa duração, a ampliação do acervo, atividades educativas e culturais. Um aspecto bastante amplo são as atividades voltadas para preservação e constituição de acervo de obras de arte de artistas brasileiros ou que trabalham no Brasil e a utilização desses acervos para a construção de uma experiência para o visitante.

OP – Essa experiência é que vai fomentar a formação de público? Sua gestão começa com a implantação da área de Ação Educativa com visitas monitoradas, capacitação de professores e programas para públicos especiais. Depois de quase dez anos, que efeitos você vê disso?

Marcelo - A equipe com a qual trabalho e as administrações estaduais ao qual ela está subordinada, veem como uma área fundamental, entendendo o museu nessa perspectiva de instituição com natureza essencialmente educativa e que, portanto, deve buscar nessas atividades um caminho fundamental para a consolidação e ampliação de públicos oferecendo experiências instigantes, produtivas, sensibilizadoras. Para isso é preciso ter procedimentos específicos, dependendo do público, e buscar segmentos afastados do museu por alguma razão. São programas que existem há vários anos, atividades consolidadas, projetos que têm logrado muita qualidade, resultados muito significativos. O grande objetivo, que vem de maneira muito lenta, é justamente assegurar não tanto a ampliação do público, mas a diversificação do público, que incorpore outros segmentos.

OP
– Que tipos de procedimentos específicos vocês adotam e para quais públicos segmentados?

Marcelo - Temos dois programas educativos maiores. O Programa Educativo para Públicos Especiais (Pepe), voltado para pessoas com algum tipo de limitação física, e o Programa de Inclusão Sociocultural (Pisc). Procuramos desenvolver parcerias com organizações que trabalham com esses públicos e pensamos em exposições e equipamentos que possam facilitar o acesso. Temos uma galeria tátil para deficientes visuais, esculturas selecionadas que podem ser tocadas, acompanhadas de etiquetas em braile e áudio guia. Esse é um espaço permanente. Outro programa, o de inclusão sociocultural, é voltado para o público que por razões econômicas e sociais ficam afastados do museu. Procuramos também parcerias com organizações não governamentais que já trabalham com esse público e articulamos programas que possam fazer com que a visita ao museu se insira dentro dessa atuação mais ampla das organizações. Temos visitas de sem-tetos, meninos de rua...

OP – O acervo hoje tem oito mil peças e continua em ampliação. A maior parte vem de doação, de compra, como é feita a seleção do que vale a pena adquirir?

Marcelo – Felizmente a Pinacoteca sempre contou e continua contando com doações de artistas ou colecionadores. Outra vertente são as aquisições pelo Governo do Estado ou com recursos de leis de incentivo, principalmente a Rouanet. Todas as doações e aquisições são analisadas e têm que ser aprovadas pelo Conselho de Orientação Artística, uma instância do Governo do Estado.

OP – Qual foi a última obra adquirida?

Marcelo – Recentemente, há duas semanas, recebemos uma doação do artista brasileiro Tomoo Handa, muito importante, atuante nos anos 30, 40 e 50. Uma pintura chamada Cafezal, de 1952, que é emblemática de sua produção e foi oferecida por doação por Telmo Porto (professor da USP que já doou outras peças para a Pinacoteca e para o Masp).

OP - São oito mil peças, não dá para expor tudo de uma vez, como vocês administram o acervo para que o público tenha a oportunidade de conhecê-lo?

Marcelo – Temos sempre uma exposição de longa duração no segundo andar. Neste momento, ela está fechada porque reinaugura, com outra seleção de obras, no começo de outubro. Nessa exposição de longa duração concentramos basicamente a produção do século XIX e do começo do século XX. Temos destaques do acervo em outras salas, adotamos uma série de estratégias, organizamos exposições temporárias, apresentamos as peças adquiridas recentemente. Toda obra que ingressa no acervo é catalogada e nosso site tem toda essa documentação disponível para pesquisadores. Além de tudo, a Pinacoteca empresta muitas obras para outras instituições fazerem circular nosso acervo.

OP - Existe uma Associação dos Amigos da Pinacoteca do Estado, o que ela faz?

Marcelo - Mudou de nome, agora é a Associação Pinacoteca Arte e Cultura, e é extremamente atuante. É a organização social que desde 2006 cuida da gestão da Pinacoteca por meio de um contrato de gestão com a Secretaria de Cultura.

OP - Quanto custa manter a Pinacoteca? Quem paga?

Marcelo – O Governo do Estado de São Paulo é responsável por aproximadamente 65% do orçamento, cerca de 25% vem através de patrocínio, principalmente via Lei Rouanet - mas também via leis de incentivo à cultura estadual e municipal -, e 10% através de verba própria com a bilheteria, a loja. O orçamento anual é por volta de R$ 25 milhões.

OP - Qual a média de visitantes?

Marcelo – Varia, mas é por volta de 500 mil por ano.

OP - Em que projetos a Pinacoteca deve investir em 2011?

Marcelo - Temos um programa de exposição temporária ativo, fazemos mais de 30 por ano. Temos várias mostras para entrar, entre elas uma exposição do Eliseu Visconti e instalações de Olafur Eliasson, de origem islandesa, no projeto Octógono.

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Posted by Cecília Bedê at 1:33 PM

Pinacoteca ou museu de arte? por Ricardo Resende, O Povo

Pinacoteca ou museu de arte?

Artigo de Ricardo Resende originalmente publicado em especial para o caderno Vida e Arte do jornal O Povo em 24 de julho de 2011.

EX-DIRETOR DO MAC, do Centro Dragão do Mar, Ricardo Resende lança a questão para os gestores da cultura no Ceará: pinacoteca ou um museu de arte para o Ceará?

Esta seria a pergunta que eu faria se estivesse no lugar de quem deverá decidir sobre a criação de um museu para abrigar o acervo da Secretaria do Estado do Ceará hoje guardado na reserva técnica do Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Acervo este composto essencialmente por pinturas e esculturas.

No limiar do século XXI, depois de todos os questionamentos que a própria arte se fez desde o século passado marcado por transformações de nossa concepção de arte e após duas exposições em Fortaleza que tratavam da arte efêmera, as mostras de Esculturas Efêmeras de 1986 e 1991, organizadas pelo artista Sérvulo Esmeraldo, não me parece possível imaginar que ainda possa prevalecer a concepção novecentista de museu, para uma cidade como Fortaleza.

Já o conceito de pinacoteca está mais ligado à arte do Século XIX, quando a pintura reinava sobre as outras linguagens artísticas. A escultura não tinha o mesmo status de arte que teve no século seguinte. A fotografia apenas despontava. Não existia o cinema, nem a vídeoarte e nem as performances. Um museu a ser criado em 2011 não deveria vir engessado nesta nomenclatura equivocada para a compreensão de arte na contemporaneidade.

A ideia de um Museu de Arte para o Ceará deveria ser mais abrangente, capaz de contemplar todas as linguagens artísticas e manifestações culturais. Não deveria se restringir a uma ideia ultrapassada e acadêmica da arte. Deveria apresentar mostras de artes plásticas ou em seu conceito expandido de artes visuais, abrigar, por exemplo, a arquitetura, o design, a moda, a arqueologia, a arte clássica, a arte grega, a pré-colombiana, a arte marajoara e assim por diante, sendo capaz de absorver todo o acervo da secretaria, sem, no entanto ofuscar a política de exposições do Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar.

Alguns dos museus que apresentam estas características são os Museu de Arte de São Paulo, o Museu Metropolitano de Nova York, as Galerias Nacionais de Washington, Londres e Berlim, como alguns dos mais expressivos exemplos.

A Pinacoteca do Estado de São Paulo talvez seja atualmente a melhor referência de museu no Brasil, particularmente por sua programação, capaz de contemplar o melhor da arte dos séculos passado e deste, exibindo desde as pinturas acadêmicas do século XIX até as artes moderna e contemporânea. Uma instituição secular que soube se renovar e ampliar o seu universo expositivo, nos seus mais de 100 anos.

De qualquer forma, seja qual for o nome a ser adotado, sempre será bem vinda a criação de mais uma instituição museológica. Que ele funcione adequadamente, dentro dos mais rigorosos critérios museológicos e com a menor inferência político-partidária.

Ricardo Resende é diretor do Centro Cultural São Paulo (CCSP), curador independente e mestre em História da Arte pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Entre 2005 e 2007, foi diretor do Museu de Arte Contemporânea (MAC) do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

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Posted by Cecília Bedê at 12:56 PM