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julho 22, 2011
No passo do descompasso por Dellano Rios e Fábio Marques, Diário do Nordeste
No passo do descompasso
Matéria de Dellano Rios e Fábio Marques originalmente publicada no Caderno 3 do Diário do Nordeste em 21 de julho de 2011.
Atrasos e incerteza na liberação de recursos fragilizam a atuação da Secretaria da Cultura no que diz respeito ao financiamento de ações culturais e dão mostras da falta de prestígio da pasta no Governo. Secult justifica atraso em dar uma resposta pelo "ritmo" do Governo
Pouco mais de um mês após receber efetivamente seu novo titular, Francisco Pinheiro, a Secretaria da Cultura do Estado (Secult) é alvo de reclamações por parte de artistas e produtores culturais que denunciam o engessamento e ineficácia do Fundo Estadual da Cultura (FEC), uma das principais vias de financiamento de projetos culturais. O fundo recebe verba de empresas via dedução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). As empresas deduzem até 2% do valor que pagariam com o imposto e repassam o recurso ao FEC.
Em carta aberta divulgada na última terça-feira, dia 19, o diretor da Companhia Teatral Acontece, Almeida Jr. comunicou o cancelamento da participação de grupos de outros estados no Festival de Esquetes da Cia. Teatral Acontece (Fecta), a ser realizado de 3 a 13 de agosto, em Fortaleza, bem como a suspensão do pagamento dos mais de 300 artistas que participariam da mostra. O motivo? O recurso aprovado pelos proponentes no FEC não foi liberado.
Ao todo, 56 artistas de dez grupos de outros estados haviam passado por seleção e também teriam passagens, hospedagens pelo recurso. De acordo com o comunicado, o projeto foi inscrito em 17 de fevereiro deste ano e aprovado pela Secult para receber cerca de R$ 88 mil oriundos do FEC. A Secretaria justifica que o atraso no pagamento é devido ao próprio funcionamento burocrático do Monitoramento de Projetos Prioritários do Governo do Estado (MAPP), que centraliza todos os pagamentos nas mãos do governador Cid Gomes. Os projetos aprovados pelo órgão seriam, então, encaminhados ao governador e, só após a aprovação deste, receberiam a verba.
O caso da Cia. Teatral Acontece é apenas um entre as tantas reclamações de artistas e produtores culturais que acusam o novo sistema de inviabilizar projetos, uma vez que em grande parte eles dependem de um calendário pré-estabelecido para acontecer. "Como a última pauta que ele (o governador Cid Gomes) vai olhar é a da Cultura e o secretário não tem autonomia de gerir sua secretaria, quem paga somos nós, artistas", critica Almeida Jr.
Ele conta que o mesmo teria acontecido em 2009. "Nós ganhamos e não recebemos. Porque, quando o governador Cid Gomes viu no MAPP, o evento já tinha acontecido. Ficamos com o prejuízo", lembra.
Regulamentação
Antes do novo sistema de MAPP, a liberação de recursos do FEC funcionava de acordo com a lei estadual nº 13.811, de 2006, que cria o Sistema Estadual da Cultura e regulamenta a gestão destes recursos, dando ao Comitê Gestor do FEC, que é presidido pelo secretário da Cultura e outros sete gestores ligados à pasta, a autonomia de avaliar, aprovar e autorizar o pagamento dos recursos. O comitê precisa dar seu parecer seu parecer até 60 dias após o recebimento do projeto.
Os atrasos e o enfraquecimento do Comitê Gestor são também um dos entraves destacados pelo produtor cultural e diretor da Associação dos Produtores e Empreendedores Culturais do Ceará, Jaime Lins. Atuante desde 2003, ele afirma que com o novo mecanismo é comum que os prazos de execução de muitos projetos aprovados sejam perdidos pela demora. "Já que o governo tem esse sistema de monitoramento, cabe aos produtores submeter os projetos à aprovação com mais antecedência, quatro meses antes, pelo menos", orienta.
Atrasos
Outros projetos que enfrentam atrasos na liberação da verba do Fundo Estadual da Cultura são a Mostra Religare, que comemora os 20 anos do Curso de Princípios Básicos de Teatro (CPBT), e o Festival de Dança do Litoral Oeste. Este último, previsto para acontecer anualmente, em julho, já foi adiado duas vezes. O projeto teria sido aprovado em março pela Secretaria da Cultura e, desde então, aguarda a liberação por parte do governador.
"Por conta do atraso de repasse, a previsão é que aconteça no início de setembro. Esse festival era tido como ação estruturante do Estado, mas nós temos um histórico de descaso na Secult. A gente não consegue manter um calendário fixo", reclama Jerson Moreno, diretor da companhia de dança Balé Baião e curador do festival.
Jerson revela que, em 2010, o festival passou pela mesma dificuldade e que só teve a verba liberada após a intervenção de um deputado estadual junto ao governador. "Estamos percebendo que, se você não entra firme com político da região, pelo visto, não vão desengavetar", reclama o proponente.
No caso da Mostra Religare, a situação é ainda mais urgente. O atraso também já dura cerca quatro meses, mas, de acordo com a coordenação do evento, eles tem até agosto para dar início à programação. "Devíamos ter estreado em junho. Já estamos no fim de julho e não temos nenhuma indicação", alerta a organização. O coordenador explica que o MAPP só pode ser assinado até o último dia de realização do projeto, não podendo ser pago após a sua execução, o que torna financeiramente arriscado começar a executá-lo antes da aprovação pelo governador.
Ritmo lento
A polêmica vem à tona após encontro entre os organizadores do Fecta e o secretário da Cultura, Francisco Pinheiro, que teria se dado durante reunião do Partido dos Trabalhadores (PT), ao qual pertence o Secretário da Cultura, Francisco Pinheiro, realizada na segunda-feira, na sede estadual do partido, em Fortaleza. "Tentamos marcar reunião várias vezes (com Pinheiro) e não fomos recebidos. Soubemos que o Secretário Nacional de Cultura do Partido dos Trabalhadores (Edmilson Souza) se reuniria com ele, juntamos todo o grupo da organização e fomos à reunião", conta Almeida Jr.
Segundo o comunicado público do grupo, na ocasião, Pinheiro teria afirmado que o projeto não receberia o financiamento aprovado, "uma vez que não existe convênio assinado".
Em entrevista por telefone ao Diário do Nordeste, o secretário confirmou a informação: "Eles não podiam contar com recursos se não tem nada assinado. Quando assinamos um convênio, sempre honramos nosso compromisso". Qual o impedimento para a assinatura de um? "O projeto está em processo de aprovação. Só assinamos depois que os projetos passam por todo esse processo", respondeu.
O secretário justifica a demora de cinco meses pelo volume de projetos recebidos. Só a Secult, nesta gestão, recebeu 284 projetos, que precisam ser acompanhados. "Não sei se é tempo demais (para esperar uma aprovação do Governo). Há projetos que levam mais tempo ainda. O proponente não pode botar sua proposta tendo como garantia única o recurso público. Se você faz todo o projeto contando apenas com o recurso público, alguma coisa está errada. A pergunta a se fazer é: por que ele não consegue captar recursos além dos públicos?", argumenta.
Perguntado se tal perspectiva não inviabilizaria ações, planejadas e com data marcada para acontecer, o Professor Francisco Pinheiro não vacilou: "Não podemos estar submetidos às datas que o grupo impõe. O Estado tem seu ritmo. O processo não é tão simples, passa por uma série de etapas, para evitar o transtorno dele ser desabilitado nas primeiras, por problemas de documentação".
Ficam as questões: esperar pelo ritmo imprevisível do Estado não prejudicaria a captação em outras fontes? Afinal, qual investidor entraria com recursos para financiar uma ação sem data certa para acontecer? Irritado com as perguntas, o secretário mostrou indisposição para o diálogo. "Você sabe quantos projetos foram aprovados este ano?". A reportagem argumentou que, como fonte autorizada para esta matéria, o próprio secretário da Cultura poderia responder. "Não tenho obrigação de dizer isso. Pesquise, descubra! Está tudo no site da secretaria". Até o fechamento desta edição, na página da Secult (http://www.secult.ce.gov.br) só eram informados os números referentes à primeira gestão Cid Gomes (2007 a 2010).
julho 21, 2011
Richter na fronteira do real por Antonio Gonçalves Filho, O Estado de S.Paulo
Richter na fronteira do real
Matéria de Antonio Gonçalves Filho originalmente publicada no caderno Cultura de O Estado de S. Paulo em 21 de julho de 2011.
Mostra do maior nome da pintura alemã será aberta na Pinacoteca do Estado no sábado
O pintor alemão Gerhard Richter nunca veio ao Brasil, mas, antes de completar 80 anos, no próximo ano, manda lembranças na forma de 27 obras reunidas em Sinopse, sua primeira individual brasileira em mais de meio século de carreira, realização do Ifa (Instituto de Relações Culturais com o Exterior) em parceria com o Goethe-Institut. Sentado na sala que abriga os trabalhos, na Pinacoteca do Estado, onde a mostra será inaugurada no sábado, seu biógrafo, Dietmar Elger, também diretor do arquivo que leva o nome do artista, em Dresden, garante que Richter selecionou cada um dos trabalhos exibidos, auxiliado na tarefa pelo historiador Götz Adriani. Nada mais apropriado para um artista organizado, sistemático e com rigoroso controle sobre sua produção, a ponto de anotar quantos metros de tela pinta por ano. Justificável: uma pintura sua pode custar até US$ 9 milhões.
Nem sempre foi assim. Richter amargou um período cinzento na Alemanha Oriental até escapar definitivamente do realismo socialista em 1961, ano em que estava sendo construído o Muro de Berlim. O pintor fugiu com a primeira mulher para Düsseldorf, na Alemanha Ocidental, onde estudou pintura com Karl Otto Götz, integrante do grupo Cobra, que contribuiu para o advento da arte informal nos anos 1950. Richter tem muito de seu mestre, que também oscilou entre a figuração e a abstração, tanto em monotipias com em fotos experimentais. Götz também foi professor de Sigmar Polke, companheiro de Richter na criação da paródica escola do "realismo capitalista", em 1965, resposta irônica à ditadura estética da Alemanha comunista e ao mercantilismo da arte pop americana.
Há, na retrospectiva da Pinacoteca, pelo menos uma obra dessa época, marcada pela amizade com os pintores Konrad Fische-Lueg e Georg Baselitz. Ela ilustra o método de apropriação de imagens fotográficas por esses "realistas capitalistas". Trata-se de Tio Rudi, que retrata o irmão da mãe do pintor, vestido como oficial nazista. Richter era adolescente durante a Segunda Guerra. Tragédias familiares - como a do tio, que morreu na França durante a Ocupação, e de uma tia doente mental, enviada para um campo de extermínio - fizeram de Richter um artista avesso a ideologias, segundo seu biógrafo. "Até mesmo a série de trabalhos sobre o grupo radical Baader Meinhof, feita em 1988, revela mais o medo de que sua filha Betty seguisse o caminho da terrorista Ulriche Meinhof, morta na prisão, em outubro de 1977, do que um comentário político sobre os atos da facção esquerdista", diz Elger.
Betty, hoje com 45 anos, é a filha mais velha de Richter, três vezes casado e pai de duas garotas e dois rapazes, todos retratados por ele. O caçula Moritz ficou por último e, quando lhe perguntam a razão, Richter simplesmente responde: "É que ainda não fiz nenhuma foto dele". Parece brincadeira, mas não é. O pintor vê o mundo por intermédio da imagem fotográfica. Desde que fez sua primeira exposição, em 1963, na Mobelhaus Berges, uma loja de móveis de Düsseldorf, Richter usa a fotografia como documento mais confiável que o olho, incapaz de perceber o que uma máquina registra com precisão. Se ele pinta depois de fotografar, é só pelo impulso subversivo de contestar a hierarquia da arte, como nos tempos do "realismo capitalista".
"Ele não está interessado em verossimilhança nem na pureza da arte, mas numa reinterpretação da realidade via fotografia, no entendimento do mundo por meio dela", observa seu biógrafo. De fato, por que alguém passaria a vida replicando fotografias em pinturas tão "realistas" que chegam a colocar o espectador em dúvida sobre o que vê? Não para criar ilusionismo, isso é certo. Richter escapa até mesmo da prisão temática que prende outros pintores. Há 40 anos começou seu bouvardiano projeto de construir uma enciclopédia de imagens que explicassem, de alguma maneira, o mundo moderno. Chama-se Atlas, foi exposto na Documenta de Kassel de 1997 e tem mais de 4 mil fotografias extraídas de jornais, revistas e livros, muitas delas referências para séries que se tornariam famosas - e cuja marca registrada é a luz suave que emana de uma pincelada leve, como suas paisagens encobertas pela bruma.
Naturalmente, a pintura de Richter acabou evoluindo para a abstração. O marco zero dessa fase é uma tela de 1976. Nela, o pintor usa a mesma técnica de suas pinturas de representação, encobrindo detalhes que possam sugerir figuras e raspando a superfície para expor traços e pinceladas anteriores. Tanto nas dimensões como no procedimento, Richter reproduz o ato heroico dos expressionistas abstratos americanos diante da tela.
Assim como Richter nunca se prendeu a uma escola, ele experimentou igualmente várias mídias (filmes, vídeos) e até deixou sua marca como design no edifício mais visitado de Colônia, sua catedral, para a qual desenhou um vitral abstrato, quase minimalista em sua concepção. Foi uma maneira de aprimorar uma série de pinturas feitas entre 1966 e 1974, em que dissociou as cores da tradição simbólica.
GERHARD RICHTER
Pinacoteca do Estado. Praça da Luz, 2, telefone 3324-1000. 10 h/18 h (fecha 2ª).
R$ 6 (sábados, grátis). Até 21/8. Abertura sábado, às 11 h.
Artistas tecnológicos evocam McLuhan por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Artistas tecnológicos evocam McLuhan
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 21 de julho de 2011.
Criadores levam às suas obras noções exploradas pelo canadense, como a de máquinas como extensão do corpo
Três exposições em cartaz em São Paulo reúnem trabalhos que se apoiam na convergência de meios
Nas mãos de artistas das chamadas novas mídias, em três mostras agora em cartaz, o conceito popular de Marshall McLuhan, de que o meio é a mensagem, ganhou desdobramentos literais. São muitos meios, acionados ao mesmo tempo, para dar cabo de uma realidade híbrida, hiperconectada e ultraveloz.
"Tudo isso estava nas profecias dele", resume Marcos Cuzziol, curador de uma mostra de arte cibernética agora no Itaú Cultural. "As formas são empurradas no limite da velocidade e do seu potencial. A gente vive isso hoje."
Uma das obras de sua exposição, aliás, trabalha com mecanismos de leitura de imagens que codificam sons aleatórios e dependem desses mesmos sons para gerar novas versões de pulsos sonoros, numa cadeia de atos multiplicados, imprevisíveis.
"Seria difícil fazer esse tipo de obra sem antes ter o pensamento de McLuhan", analisa a artista Kátia Maciel. "Quando um trabalho de novas mídias é bom, consegue problematizar o seu meio."
No caso, obras desses artistas materializam conceitos que McLuhan aplicou à dinâmica da comunicação, como as noções de aldeia global, os aparatos tecnológicos como extensão do corpo e a ideia de hibridização dos meios.
Sinal de que estão em todos os lugares ao mesmo tempo, uma obra do americano Matt Roberts usa a vibração de ondas do Atlântico numa bacia d'água que está no File, na avenida Paulista, para criar desenhos com ondas.
"Quando líamos o McLuhan há 20 anos, não sabíamos ainda o que viria a ser a globalização", diz Ricardo Barreto, curador do File. No festival On_Off, que começa amanhã no Itaú Cultural, o coletivo britânico Light Surgeons deixa essa convergência de mídias muito clara, misturando poesia, projeções, música e performance.
"É uma ópera audiovisual", diz Roberto Cruz, curador do festival. "Esse é um trabalho de transmídia, sobreposição de mídias, um outro conceito de McLuhan."
Colaborou GABRIELA LONGMAN, de São Paulo.
RUMOS ARTE CIBERNÉTICA
QUANDO de ter. a sex., 9h às 20h; sáb. e dom., 11h às 20h; até 4/9
ONDE Itaú Cultural (av. Paulista, 149, tel. 0/xx/11/2168-1776)
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ONDE Itaú Cultural
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QUANDO seg., das 11h às 20h; de ter. a sáb., das 10h às 20h; dom., 10h às 19h; até 21/8
ONDE Centro Cultural Fiesp (av. Paulista, 1.313, tel. 0/xx/11/3146-7405)
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julho 20, 2011
Cartaz da 30ª Bienal de São Paulo será criado por coletivo selecionado na internet por Márcia Abos, O Globo
Cartaz da 30ª Bienal de São Paulo será criado por coletivo selecionado na internet
Matéria de Márcia Abos originalmente publicada no caderno Cultura do O Globo em 20 de julho de 2011.
SÃO PAULO - A identidade visual da 30ª Bienal de São Paulo, que acontece em setembro de 2012, será criada por um coletivo de artistas que será selecionado por meio de inscrições na internet abertas a todos os interessados, desde que sejam maiores de idade e residentes no Brasil. Em uma iniciativa inédita da Fundação Bienal anunciada na manhã desta quarta-feira em São Paulo, o grupo que criará o material de comunicação da mostra, que inclui o cartaz, catálogos, guias, site e aplicativos para celulares e tablets, será escolhido através de um processo seletivo que não se limita a designers ou artistas plásticos.
As incrições serão abertas em 1 de agosto no site www.bienal.org.br e terminam em 2 de setembro. Os participantes terão de apresentar uma proposta de trabalho, que inclui imagens de referência, um texto conceitual e uma proposta de desenvolvimento, além de um currículo resumido. Serão escolhidas 12 pessoas por uma equipe que inclui os curadores da 30 Bienal - Luis Perez-Oramas, André Severo, Tobi Maier e Isabela Villanueva -, o curador do projeto educacional e um representante da área de design e comunicação da Fundação Bienal. Também participam do grupo de avaliação os designers brasileiros Elaine Ramos, Daniel Trench e Jair de Souza e a dupla de designers holandeses Armand Mevis e Linda Van Deursen.
_ A iniciativa da convocatória é fruto da proposta curatorial da 30 Bienal, cujo tema é "A iminência das poéticas". A seleção tem como fim não a escolha de um projeto vencedor, mas sim a participação em workshop no qual o coletivo criará a identidade visual desta exposição _ explicou André Stolarski, coordenador geral de comunicação da Fundação Bienal, sobre a iniciativa que subverte a tradição dos concursos de cartazes realizados em várias edições da mostra para criar um processo de criação coletiva aberto à sociedade e em diálogo constante com curadoria da mostra.
As doze pessoas escolhidas irão participar de um workshop entre os dias 3 e 7 de outubro no Centro Universitário do Senac em São Paulo, sob a orientação da mesma equipe responsável pela seleção dos projetos inscritos. A participação será remunerada por um valor ainda não definido e todos os participantes, inclusive os orietadores, serão creditados como autores. Deste encontro entre os selecionados, os curadores da Bienal e os designers convidados surgirá a identidade visual da exposição, que inclui material de divulgação impresso, espacial, publicitário e online.
_ A identidade visual da Bienal também é uma plataforma poética. É por meio dela que a mostra fala e se apresenta ao mundo. Seria uma contradição não conceber a identidade visual desta Bienal em conjunto com seu tema. Também entendemos que a Bienal acontece no Brasil e temos que começar falando com o lugar, com a sociedade brasileira, em vez de impor uma ideia. A conovocatória é uma forma de materializar a polifonia que caracteriza a arte contemporânea. A soma dos encontros é o que vai produzir esta Bienal _ afirma o curador-chefe da mostra, Luiz Perez-Oramas.
Arte nos contêineres por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Arte nos contêineres
Nota de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 20 de julho de 2011.
Quem passar pela avenida Paulista de hoje até a próxima terça vai dar de cara com quatro contêineres cheios de obras de arte, uma espécie de galeria pop-up, montada na altura do prédio da Fiesp. Do lado de fora, velhos exemplares do "Notícias Populares" são o cartão de visita da mostra, com manchetes como "Paulista periga ir pelos ares".
julho 18, 2011
Casa dos artistas por Pedro Leal Fonseca, Folha de S. Paulo
Casa dos artistas
Matéria de Pedro Leal Fonseca originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 17 de julho de 2011.
Projeto reúne brasileiros e estrangeiros em residência na ilha de Itaparica, livres para criar
Uma temporada de dois meses numa casa da ilha de Itaparica (14 km de Salvador), em frente ao mar da baía de Todos os Santos, com despesas pagas e sem a pressão de tarefas cotidianas.
Nos últimos dez anos, 180 artistas de 43 países tiveram à disposição esse conjunto de regalias na residência do Instituto Sacatar.
São pessoas como a artista visual carioca Alice Miceli, 31 -destaque da Bienal de São Paulo em 2010-, e o compositor paulista Felipe Lara, 32.
Há poucos meses, eles nem se conheciam. Nas últimas semanas, escolhidos para uma temporada no Sacatar, os dois puderam trocar experiências sobre o "funcionamento dos sons".
Felipe deixou de lado as partituras da obra que compõe para a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) e apresentou a Alice programas de computador que fazem análise de sons e que podem auxiliá-la em seu próximo trabalho.
Tempo para criar
Mantido por doações captadas nos Estados Unidos, o Sacatar oferece para os residentes passagens aéreas, uma casa de praia com mais de 8.000 m2, todas as refeições e o principal: tempo livre para criar.
De junho até agosto, há três brasileiros e três estrangeiros vivendo ali. Foram escolhidos em processo de seleção que envolveu entrevistas e análise de trabalhos.
A artista plástica mineira Lucimar Bello, 65, uma das residentes, preenche seu estúdio com 6.000 conchas e capas da Folha, cobertas com óleo de linhaça e pó de aroeira. "Ainda não sei onde isso vai parar. Estou estudando possibilidades."
Ela também desenvolve um projeto com a comunidade local, em oficinas que reúnem, por exemplo, trançadeiras e barbeiros da própria ilha de Itaparica.
Enquanto ela coordena a oficina, o fotógrafo americano Gerald Cyrus, 54, clica os meninos e meninas que foram até o local para trançar os cabelos.
"Pesquiso a cultura afro-baiana há 20 anos. Estou retratando o povo negro de Itaparica e Salvador", diz.
Interação
Segundo ele, na Filadélfia (EUA), é mais difícil interagir com artistas de várias vertentes, como ocorre na casa.
As refeições são os momentos de maior interação. Quando a Folha visitou o local, o grupo conversava -oscilando entre o português e o inglês- enquanto comia uma moqueca de peixe.
Felipe Lara traduzia as impressões da ceramista americana Maggie Smith, 60, sobre a técnica de azulejos que ela conheceu em uma cidade perto da ilha.
"Não temos isso nos EUA. A cultura daqui está influenciando o meu trabalho. Fomos ao candomblé em Itaparica e estou lendo "Viva o Povo Brasileiro", de João Ubaldo Ribeiro", diz Maggie.
A japonesa Mari Ogihara, 29, também ceramista, trabalha com arames e jornais para reproduzir gaiolas, objeto pelo qual se encantou. "Estamos aqui em um período de reflexão e autodescoberta."