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julho 13, 2011
Artista dissidente Ai Weiwei aceita cargo em Berlim por Eric Kelsey, oglobo.globo.com
Artista dissidente Ai Weiwei aceita cargo em Berlim
Matéria de Eric Kelsey originalmente publicada no caderno Cultura do oglobo.globo.com em 13 de julho de 2011.
BERLIM (Reuters) - O artista dissidente chinês Ai Weiwei aceitou um cargo de professor visitante na Universidade das Artes de Berlim, anunciou a universidade na quarta-feira, dizendo que não sabia quando ele poderá deixar a China para começar no cargo.
O destacado artista de 54 anos, crítico do Partido Comunista que governa a China, foi solto no mês passado depois de passar mais de dois meses detido por suspeita de sonegação de impostos. No momento, ele não está autorizado a falar com a imprensa.
A detenção dele suscitou críticas de governos ocidentais ao tratamento dado pela China a ativistas dos direitos humanos.
O reitor da universidade alemã, Martin Rennert, descreveu a resposta de Ai como "sinal positivo" de que ele poderá assumir o cargo em breve.
A universidade ofereceu o cargo ao artista em abril, pouco depois de ele ter sido impedido de embarcar em um voo de Pequim a Hong Kong e ter sido detido pela polícia de fronteira.
A prisão do artista e quatro de seus colaboradores marcou o início de um caso que, segundo o governo chinês, dizia respeito à suspeita de sonegação de impostos, enquanto os defensores de Ai disseram que foi uma maneira de amordaçar críticos do governo.
As autoridades tributárias de Pequim cobraram de Ai o pagamento de 12 milhões de yuans (1,9 milhão de dólares) em impostos atrasados e multas.
Ai, que tem vínculos com a capital alemã, disse em março, antes de ser detido, que planejava abrir um ateliê em Berlim para ser sua base na Europa.
Novas obras para se ver em Inhotim por Camila Molina, O Estado de S. Paulo
Novas obras para se ver em Inhotim
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno de Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 13 de julho de 2011.
Além do sucesso da atual retrospectiva da brasileira Lygia Pape (1927-2004) em cartaz até 3 de outubro no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia em Madri, a artista fluminense também terá, a partir de 2012, um pavilhão inteiro para sua instalação Tteia no Instituto Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais. Será a Galeria Lygia Pape, a ser construída logo no início do centro de arte onde funcionava antes um estacionamento. Mas antes disso, em outubro, Inhotim inaugurará para o público uma série de novas obras criadas por artistas nacionais como Marepe e Marilá Dardot e estrangeiros como o suíço Thomas Hirschhorn, o chileno Eugenio Dittborn e o italiano Mario Merz.
O escritório de arquitetura mineiro Rizoma é o responsável pelo projeto da Galeria Lygia Pape, como conta o curador de Inhotim Jochen Volz. "Vamos fazer com cuidado e ainda estamos planejando, mas vai ser um pavilhão de formas simples por fora porque no interior o espaço deve ser preto", ele ainda diz. Segundo Volz, o pavilhão ficará pronto no primeiro semestre de 2012.
Essa versão de Tteia, que vai ficar em exibição em caráter permanente em Inhotim, é fruto de pesquisa iniciada pela artista na década de 1970, mas foi criada em 2004. Em espaço totalmente escuro, a Tteia é feita de fios de ouro que saem de formas quadradas presas ao chão, transformando em poesia o local com feixes de luz de quase imaterialidade. A obra esteve na 53.ª Bienal de Veneza, em 2009, da qual Volz foi cocurador e na qual Lygia Pape recebeu menção honrosa.
Humanismo. O Instituto Inhotim, criado pelo empresário Bernardo Paz, tem, além de pavilhões exclusivamente dedicados a um único artista como, por exemplo, os de Miguel Rio Branco e Adriana Varejão, galerias em que são exibidas mostras coletivas com obras da coleção da instituição. É o caso, por exemplo, das galerias Lago e Fonte, que, a partir de outubro, serão reconfiguradas com novas obras adquiridas pelo instituto.
"É possível ter uma outra noção de tempo em Inhotim", diz Volz, referindo-se ao fato de que uma exposição temporária no centro de arte pode durar anos. A Galeria Fonte não é "repaginada" desde 2008.
Nela estarão, entre outras obras, pinturas The 6th History of the Human Face, de Eugenio Dittborn (artista também homenageado da 8.ª Bienal do Mercosul, a ser inaugurada em setembro); a série Fragmento Brasil, com imagens feitas pelo alemão Lothar Baumgarten entre 1977 e 2005; e o trabalho Upon a Time, do inglês Steve McQueen. "É uma exposição de muita humanidade", diz Volz. Já a Galeria Lago exibirá o vídeo Confronto, da mineira Cinthia Marcelle; a obra A Bica, do baiano Marepe; e a instalação Restore Now, que Hirschhorn criou em 2006 para a 27.ª Bienal de São Paulo.
Mas vale ainda citar as obras que Inhotim apresentará ao ar livre, como A Origem da Obra de Arte, de Marilá Dardot; um dos iglus históricos de Mario Merz; como ainda trabalho de Chris Burden e a bela Elevazione, de Guiseppe Penone, em que cinco árvores naturais crescerão carregando uma árvore esculpida em bronze.
julho 12, 2011
Pinacoteca revê obras históricas em exposição por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Pinacoteca revê obras históricas em exposição
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 12 de julho de 2011.
Era para ser efêmero. Quando o artista Theo Werneck usou lâmpadas para desenhar no escuro há quase 30 anos, quis enfatizar os breves instantes entre um evento e seu impacto na retina.
Mas, pensando na memória desses vestígios, a Pinacoteca do Estado abre neste sábado uma exposição com o que sobrou das ações num dos períodos mais efervescentes para o gênero no país.
Do fim dos anos 70 para o começo dos 80, embalados pelo ocaso da ditadura e pela abertura democrática, artistas testaram os limites do teatro e das artes visuais, misturando linguagens em trabalhos de toada experimental.
E o museu da Luz foi um dos endereços mais ativos nesse cenário. Foi lá que José Roberto Aguilar orquestrou um concerto para piano usando luvas de boxe em 1980. A peça terminava com Arnaldo Antunes disparando dois extintores de incêndio.
Ivald Granato estreitou ali seus laços com a pop art, ironizando o maior gênio dela ao se fantasiar de Andy Warhol ao vivo, com direito a roupa de super-herói e pintura de cabelo e sobrancelha. Numa transposição mais direta do palco para o museu, Celina Mitie Fujii e outros dois atores encarnam cores numa encenação em que o negro e o branco vão tingindo tecidos até completar uma composição colorida.
Arte em ação por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Arte em ação
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 12 de julho de 2011.
Performances abandonam escala individual e ganham dimensões maiores com a entrada de artistas visuais nos terrenos da ópera e do teatro
Tem nome de épico ou musical da Broadway com roupagem cult. Marina Abramovic estreou, no último sábado, em Manchester, não mais uma de suas performances, mas uma ópera inteira.
"The Life and Death of Marina Abramovic", ou a vida e a morte da mesma, tem direção do badalado dramaturgo americano Robert Wilson e um elenco com o ator Willem Dafoe, o músico Antony Hegarty, do Antony and the Johnsons, três cantores siberianos e mais 16 dobermans.
Ela não está mesmo sozinha. Outros grandes nomes, como Doug Aitken e Matthew Barney, que têm obras no Instituto Inhotim, em MG, e alguns dos escalados para o festival Verbo, que começa hoje na galeria Vermelho, em São Paulo, também extrapolam a escala antes mais enxuta da performance.
No caso de Abramovic, tudo começou quando ela pediu a Wilson que dramatizasse seu enterro, ideia que foi crescendo e ganhou as dimensões da vida inteira. Da infância na antiga Iugoslávia até a morte depois de uma carreira retumbante nas artes visuais, pautada por performances de longa duração e exaustivo esforço físico.
"Arte tem de ser mais lenta. Se aceitarmos a velocidade da plateia, não estamos mudando nada", disse a artista a um jornal britânico. "Nas performances maiores, é possível mudar o público."
Ou impressionar esse público. Matthew Barney, depois de "Cremaster", ciclo de cinco filmes da maior volúpia visual, vem desdobrando suas cenas fantásticas em ações ao vivo. Em Detroit, no ano passado, encenou por oito horas sob chuva o renascer do chassi de um carro a partir de uma pilha de destroços numa fábrica abandonada.
Já Doug Aitken acabou de encenar, numa balsa entre as ilhas gregas, outra ópera, que tinha como estrela a atriz Chloë Sevigny, além de duas cantoras gospel, cinco bateristas e quatro dançarinas.
MISE-EN-SCÈNE
Em escala mais modesta, a performance que abre hoje a sétima edição da Verbo, da holandesa Lot Meijers, põe sete atores em cena durante um jantar. São três horas de conversa, sem roteiro.
"É menos sobre o que eles estão dizendo e mais sobre a dinâmica entre eles", diz Meijers à Folha. "Quis trabalhar com atores porque eles são mais conscientes, sabem se portar sob holofotes."
Na mesma pegada teatral, Rose Akras, também escalada para a Verbo, revisita mecanismos da dança e dos palcos para construir uma espécie de cenário na galeria. Eva Schippers, também no festival, fala em "curto-circuito" na hora em que dirige suas ações. "Você está ali de forma indireta", diz ela. "É como se tentasse criar um Exército de mim mesma."
julho 11, 2011
Portinari sofre no porão, mas tem catálogo por Silas Marí, Folha de S. Paulo
Portinari sofre no porão, mas tem catálogo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 9 de julho de 2011.
Mesmo ocupando o úmido e apertado porão do solar Grandjean de Montigny, dentro da PUC do Rio, o Projeto Portinari serve como espécie de contraponto a tentativas de herdeiros de gerenciar e cuidar de seus acervos.
Contraponto porque foi o primeiro a concluir, em 2004, um catálogo raisonné da obra de Portinari e tornar disponível on-line uma farta documentação reunida em torno dele.
Também por ter articulado um ambicioso processo de restauro dos painéis "Guerra e Paz", que adornavam o saguão da sede das Nações Unidas, em Nova York, desde 1957.
Mas a diferença talvez seja o fato deste ser o único projeto com patrocínio fixo, que garante o orçamento de R$ 600 mil.
Ainda assim, João Candido Portinari, filho do artista, autorizava até pouco tempo atrás a reprodução em massa de quadros de seu pai, vendidos como item de decoração.
Negócios de família por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Negócios de família
Matéria de Silas Martí originlmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 9 de julho de 2011.
Embalados pela valorização de Lygia Clark, Hélio Oiticica e Leonilson, herdeiros dos artistas se dividem entre cuidados com a memória e lucro sobre o espólio
No dia 8 de novembro de 1968, Lygia Clark fez um desabafo numa página de seu diário. "Estou fodida, meio desesperada", escreveu a artista. "Terei de mudar desse apartamento que adoro porque é caríssimo para mim."
Mais de 40 anos depois, em junho passado, uma escultura sua foi vendida na Suíça pelo maior valor já pago pela obra de um brasileiro, R$ 4,1 milhões. Outro sinal de tempos que mudaram: suas netas abriram uma butique em Botafogo, no Rio, nada longe de onde ela morava, para celebrar sua memória.
Foi na Clark Art Center há uma semana que, com cervejas e canapés vendidos na entrada, cerca de cem pessoas se espremeram entre objetos de design para ver o músico Jards Macalé, amigo de Lygia, ser alvo de uma reedição da performance "Baba Antropofágica", de 1973.
De cueca, ele se deitou no meio do salão para ser coberto num emaranhado de fios coloridos desenrolados de carretéis enfiados na boca de cada um dos participantes -essa foi a primeira reedição do ato desde os anos 1970.
"Cada vez que você faz uma ação, sente uma coisa diferente, meio boba", refletiu Alessandra Clark, mulher loira, alta e de sandálias de strass, neta da artista e designer por trás da loja Clark Art Center. "É meio engraçado."
Horas depois, Macalé estava coberto numa grossa trama de tecido, enredado numa confusão de cores. É um quadro que ilustra a atual posição de herdeiros de artistas como Clark, hoje responsáveis por seu espólio, enrolados com a valorização desenfreada das obras e com a crescente importância da arte brasileira na cena global.
No caso específico dos Clark, as netas, que fazem questão de frisar que não são herdeiras diretas, detêm um monopólio extraoficial sobre os direitos das ações performáticas da avó. "Caminhando", uma dessas ações, ficou de fora da última Bienal de São Paulo por entraves incontornáveis na negociação.
Mas, na loja de Botafogo, o calendário está garantido até o fim deste ano, com performances agendadas para o primeiro sábado de cada mês. São apresentadas sempre com a introdução de um crítico e costumam ter como participantes amigos da artista que estavam presentes no ato original.
Fora dos dias de festa, é possível pesquisar textos e documentos históricos da artista com hora marcada no andar de cima. Não custa nada, mas não é permitido ver a reserva técnica onde ficam obras da coleção da família.
ACERVOS À VENDA
Amigo, colega de geração e confidente de Clark, Hélio Oiticica, que morreu em 1980, tem seu espólio em recuperação numa casa do Jardim Botânico. Depois que um incêndio consumiu 30% das obras há dois anos, a família tenta restabelecer a ordem.
Recém-chegados da retrospectiva do artista que passou por São Paulo, pelo Rio e por Belém, trabalhos originais e réplicas estão amontoados na reserva técnica apertada, agora com sistema de incêndio adequado e controle de umidade do ar.
César Oiticica Filho, sobrinho do artista, está preparando um documentário sobre a obra do tio, embalado pelo hype em torno dele e na esteira da abertura de um pavilhão dedicado às "Cosmococas" no Instituto Inhotim, paraíso mineiro das artes plásticas, no ano passado.
"No começo, vendemos muitas obras para manter o projeto, mas o valor era mais baixo", lembra Oiticica Filho. "Hoje a gente consegue vender até ambientes e penetráveis inteiros, uma política da qual não sou muito fã, mas que é algo importante."
Ou necessário. Em São Paulo, o Projeto Leonilson, que gerencia o espólio de José Leonilson, morto em 1993 e hoje em vias de forte valorização, confessa que vira e mexe reedita e vende obras dele para se sustentar.
São gravuras e pequenas esculturas em bronze produzidas às centenas para dar cabo das despesas mensais de R$ 20 mil da associação.
Espremidas no segundo piso de um sobrado na Vila Mariana, cerca de 1.500 obras de Leonilson correm perigo. "Tem uma falta de segurança total, não tem equipamento de incêndio, não tem alarme nem nada", conta Nicinha Dias, irmã do artista, que gerencia o espaço.
"Segundo minha mãe, Deus protege, mas, às vezes, Deus pode cochilar, não é?"