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Como atiçar a brasa

 


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junho 30, 2011

Exposição reúne obras de arte cibernética em SP por Agência Estado, O Estado de S. Paulo

Exposição reúne obras de arte cibernética em SP

Matéria da Agência Estado originalmente publicada no caderno de cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 30 de junho de 2011.

Não foi de propósito, mas o júri do edital Rumos Arte Cibernética, do Itaú Cultural, selecionou na última edição do programa, de 2009, apenas criações de artistas jovens. "Existe uma demanda muito grande nesse segmento", diz Marcos Cuzziol, gerente do Itaulab, núcleo de arte cibernética da instituição. As obras escolhidas no edital foram produzidas pelo Itaú - sendo três prêmios para trabalhos de até R$ 50 mil e cinco de até R$ 25 mil - e agora são apresentadas para o público em mostra que ocupa todo o prédio do instituto, na Avenida Paulista. Além das oito criações inéditas, duas, do edital de 2006, também foram incorporadas à exposição.

É a interatividade que permeia a mostra deste Rumos, com obras que misturam tecnologia e poética. "Cibernética trata de interação entre agentes, que podem ser máquinas, softwares, sistemas ou pessoas", explica Cuzziol, exemplificando ainda que até uma peça de teatro pode ser considerada "cibernética".

Por três andares do Itaú Cultural, as dez instalações, todas de brasileiros, são diversificadas, mas, curiosamente, algumas características destacam-se na exposição, como a recorrência do som em muitos trabalhos; criações com robótica, o que Cuzziol acha interessante em se tratando do Brasil; e "uma tendência de trabalhar entre o real e o virtual". Um seminário ocorre paralelamente à exposição.

A complexidade cibernética, muitas vezes, é algo mais dos bastidores do processo de criação de obras que se utilizam da tecnologia. Quando o visitante da exposição chega a uma instalação como "Idance", do curitibano Leandro Trindade, basta a ele, literalmente, apenas se movimentar - ou dançar, se quiser. É uma obra que Cuzziol acredita ter, até mesmo, um potencial ''mercadológico'' - um software cria imagens e sons ao reagir com as pessoas, "diferente do trabalho de DJ".

O movimento também é o gatilho da obra 12i - A Roda da Vida, do paulistano Marcio Ambrosio. Em uma homenagem ao zootrópio, máquina circular criada no século 19 na qual desenhos giram ganhando vida, o trabalho contemporâneo de Ambrosio pede que o espectador crie animações com 12 imagens. Mas a interatividade pode ser suave também ou apenas contemplada. É o caso dos trabalhos "Reações Visuais", do mineiro Leandro Araujo - o ruído captado da esquina da Paulista com a Rua Leôncio de Carvalho faz reconstituir em imagem uma paisagem da mata atlântica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Posted by Cecília Bedê at 1:43 PM

A arte da interação por Camila Molina, O Estado de S. Paulo

A arte da interação

Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno de cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 30 de junho de 2011.

'Rumos Cibernética' apresenta obras que conjugam tecnologia e poética

Não foi de propósito, mas o júri do edital Rumos Arte Cibernética, do Itaú Cultural, selecionou na última edição do programa, de 2009, apenas criações de artistas jovens. "Existe uma demanda muito grande nesse segmento", diz Marcos Cuzziol, gerente do Itaulab, núcleo de arte cibernética da instituição. As obras escolhidas no edital foram produzidas pelo Itaú - sendo três prêmios para trabalhos de até R$ 50 mil e cinco de até R$ 25 mil - e agora são apresentadas para o público em mostra que ocupa todo o prédio do instituto, na Avenida Paulista. Além das oito criações inéditas, duas, do edital de 2006, também foram incorporadas à exposição.

É a interatividade que permeia a mostra deste Rumos, com obras que misturam tecnologia e poética. "Cibernética trata de interação entre agentes, que podem ser máquinas, softwares, sistemas ou pessoas", explica Cuzziol, exemplificando ainda que até uma peça de teatro pode ser considerada "cibernética".

Por três andares do Itaú Cultural, as dez instalações, todas de brasileiros, são diversificadas, mas, curiosamente, algumas características destacam-se na exposição, como a recorrência do som em muitos trabalhos; criações com robótica, o que Cuzziol acha interessante em se tratando do Brasil; e "uma tendência de trabalhar entre o real e o virtual". Um seminário ocorre paralelamente à exposição.

Pista de dança. A complexidade cibernética, muitas vezes, é algo mais dos bastidores do processo de criação de obras que se utilizam da tecnologia. Quando o visitante da exposição chega a uma instalação como Idance, do curitibano Leandro Trindade, basta a ele, literalmente, apenas se movimentar - ou dançar, se quiser. É uma obra que Cuzziol acredita ter, até mesmo, um potencial "mercadológico" - um software cria imagens e sons ao reagir com as pessoas, "diferente do trabalho de DJ".

O movimento também é o gatilho da obra 12i - A Roda da Vida, do paulistano Marcio Ambrosio. Em uma homenagem ao zootrópio, máquina circular criada no século 19 na qual desenhos giram ganhando vida, o trabalho contemporâneo de Ambrosio pede que o espectador crie animações com 12 imagens.

Ainda no segmento do jogo, Campo Minado, do paulistano Claudio Bueno, é "game-performance" que ocorre diariamente (exceto, às segundas-feiras), das 11 às 15 h, na Praça Alexandre de Gusmão, na região do Trianon. Por meio de celulares, os "jogadores" são orientados por um mapa a caminhar em uma área repleta de "minas" virtuais. "É um trabalho de ocupação de espaços públicos sem grande estrutura física", comenta Bueno, que se utilizou de ferramentas do Google Maps e do GPS, por exemplo, para criar a obra. "É crítico, porque trata de desvios de caminhos e tem um dado poético também, porque fala do imponderável", continua o artista, que recebeu menção honrosa do prêmio Ars Eletronica. O jogo é exibido em tempo real no Itaú.

Mas a interatividade pode ser suave também ou apenas contemplada (porque ocorre entre sistemas ou máquinas). É o caso dos trabalhos Reações Visuais, do mineiro Leandro Araujo - o ruído captado da esquina da Paulista com a Rua Leôncio de Carvalho faz reconstituir em imagem uma paisagem da mata atlântica; ou RePartitura, que Mariana Shellard criou com o músico José Fornari - desenhos ganham representação sonora. No campo da robótica, Alexandre da Silva Simões criou I, Hamlet, humanoide que interpreta Shakespeare a partir de estímulos dos visitantes, e Amigoide, do coletivo CAYCE POLLARD - um robô cilíndrico "carente" que tenta se relacionar com os espectadores.

Posted by Cecília Bedê at 1:08 PM

junho 29, 2011

Sétima temporada do projeto Multiplicidade, que começa nesta quarta-feira, leva a interatividade ao extremo por Carlos Albuquerque, O Globo

Sétima temporada do projeto Multiplicidade, que começa nesta quarta-feira, leva a interatividade ao extremo

Matéria de Carlos Albuquerque originalmente publicada no caderno de cultura do jornal O Globo em 29 de junho de 2011.

Vai começar de forma chocante a nova temporada do Multiplicidade. Há sete anos unindo imagens e sons, de forma inusitada e sob as bênçãos da tecnologia, o projeto inicia 2011, nesta quarta-feira, no Oi Futuro Flamengo, com uma apresentação conjunta do americano Zach Lieberman - que altera sinais de vídeo em tempo real, com sua instalação "Drawn" - e o japonês Daito Manabe - que cria sons a partir das suas expressões faciais, com o projeto "Electric stimulus".

- Imagine que você faz uma pintura, e a tinta ganha vida - explica Lieberman. - É mais ou menos assim.

VÍDEO: Veja 'Eletric viral', de Daito

Por sua vez, como o nome "Electric stimulus" indica, Daito, um dos destaques do último festival Sonar, realizado há duas semanas em Barcelona, recebe estímulos elétricos - em média, 96 mil volts a cada apresentação. Tudo em nome da arte. Da arte avançada.

- Faço isso há algum tempo e já estou acostumado com os choques - garante o artista japonês, que iniciou o projeto em 2009. - Mas para outras pessoas isso pode ser realmente incômodo.

Idealizador e curador do Multiplicidade, Batman Zavareze reconhece que ficou impressionado com a performance superplugada do japonês.

- Fiz as contas com o nosso chefe eletricista e chegamos a esse número, que é impressionante. Mas tudo é feito com muito cuidado, claro, para não ultrapassar esse limite. É um trabalho de grande impacto, que deve se casar perfeitamente com as coisas que o Zach faz. Digo isso porque é a primeira vez que eles se apresentam juntos nesse formato e ninguém sabe o que pode acontecer. Só sabemos que os dois se complementam.

O "deve" da frase de Batman e suas dúvidas dizem muito sobre o sucesso do Multiplicidade. Desde o começo, o projeto se desenvolveu cruzando música e imagens, mas longe de lugares-comuns ("Só não vale projetar em tela branca", diz o curador), procurando sempre as zonas de risco.

Foram assim as 70 apresentações nesses seis anos de Multiplicidade, unindo músicos como João Donato, Arnaldo Antunes, Fausto Fawcett, Diplo, DJ Spooky e Cinematic Orchestra e artistas visuais como Muti Randolph, Gualter Pupo, Arterial, Breno Pineschi Peter Greenaway.

- Tentamos sempre instigar o artista, oferecer condições para que ele vá ao seu extremo e faça coisas inéditas - explica Batman. - E isso também tem sido uma forma de nos reinventarmos a cada temporada.

Nessa busca de novos formatos para o projeto, num momento em que a tecnologia se populariza e seu uso se aproxima perigosamente da banalização, a interatividade é a palavra-chave do Multiplicidade 2011.

- Uma marca dessa nova geração digital e dos artistas que vamos trazer este ano é a total interação, é a troca de informação, o compartilhamento completo de conhecimento - garante Batman. - Tanto o Zach como o Daito são perfeitos exemplos disso. Eles têm um profundo conhecimento em suas áreas, mas atuam em grupo, cada um trazendo o seu saber, convergindo para um produto final. Isso dá a eles um potencial incrível.

No projeto, que terá cinco edições este ano (em vez das dez de 2010), a interatividade começa no camarim, que é minimamente abastecido, forçando os artistas a sair da toca e fazer contato com o público.

- Isso também tem sido uma marca do Multiplicidade: o camarim praticamente pelado - brinca o curador. - É uma forma de quebrarmos os vícios do show business e fazermos com que os artistas saiam da clausura e se misturem com o público. No final, todos acabam adorando essa interação.

Depois de Zack Lieberman e Daito Manabe, as próximas atrações são: o coletivo carioca Moleculagem (dia 28 de julho), o músico e produtor inglês Scanner (18 de agosto), que tem Björk como fã; e a dupla Lise + L-Ar, com seu projeto Reações Visuais (29 de setembro), além de uma semana inteira de ocupação do Oi Futuro Flamengo, com ações que vão de projeções de filmes a performances (de 27 de outubro a 3 de novembro).

Mas o extremo da interação e o namoro com um formato que Batman chama de "analógico" devem acontecer na última apresentação do ano, nos dias 24 e 27 de novembro. É o inusitado projeto Cavalo. Idealizado pelo músico e artista plástico Cadu, o projeto colaborativo inclui a performance de uma banda ("Chamamos de Orquestra Equestre de Libertação") com os sons obtidos através de microfones colados no corpo de um cavalo. Depois do show, o animal ficará a postos numa charrete, para quem quiser fazer um estranho passeio pela área em torno do Oi Futuro Flamengo.

- Já testamos esse projeto ano passado, mas nunca fizemos algo nessa dimensão - conta Cadu. - Vamos ter caixas de som na charrete, amplificando os sons do animal. É uma coisa muito fora do normal. Ninguém sabe direito o que vai acontecer. Mas acho que a graça é essa.

Posted by Cecília Bedê at 2:47 PM

junho 28, 2011

Panorama busca arte fora do eixo Rio-SP por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo

Panorama busca arte fora do eixo Rio-SP

Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 28 de junho de 2011.

Para curadoria, descentralização de recursos da cultura impulsionou a produção em outras regiões do país

Mostra no MAM-SP pretende expor painel das artes visuais brasileiras na primeira década do século 21

A maioria dos artistas selecionados para o Panorama da Arte Brasileira 2011 (19 dos 33 nomes) não tem origem no eixo Rio-São Paulo.

Essa proporção, que contraria parte das mostras com caráter nacional até então realizadas, é resultado, em parte, de políticas públicas adotadas pelo governo Lula (2003-2010) que favoreceram a produção das artes visuais em outras regiões do país.

"Eu sinto na pele a mudança desse paradigma, da descentralização de recursos na cultura, que transformou a precariedade e o anacronismo em certas regiões. Claro que, como a questão das cotas, pode também ter um lado ruim. Mas não posso ser contra já que essa política favoreceu em muito o meu lugar", afirma a curadora Cristiana Tejo, do Recife.

Com a seleção da mostra, ela e Cauê Alves, responsáveis pelo Panorama 2011, pretendem realizar também um balanço do sistema da arte brasileira na primeira década do século 21.

"A redistribuição de verbas na cultura teve o mesmo efeito que o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio, que vale para o ingresso em universidades públicas de todo o país] na educação. Ou seja, aumentou a circulação", diz Alves.

PARA EXPORTAÇÃO
Se, por um lado, o Panorama indicará como as políticas públicas refletiram positivamente nas artes visuais, por outro, ele também irá assinalar a voracidade do circuito comercial.
"O mercado de arte é predador. Ele só quer colher a fruta bonita para exportação. Mas, hoje, os artistas podem sair desse problema por editais e, por isso, há locais como Recife, Belém ou Florianópolis, que vivem sem mercado de arte", diz Tejo.

Outra transformação que a mostra deve exibir é a mutação do discurso político. Há dez anos, na edição de 2001, o Panorama apresentou uma série de obras bastante engajadas com o contexto do país.
"Nós percebemos que ser político hoje é o modo como o artista responde ao mercado, como ele lida com esse sistema", complementa Tejo.


Posted by Cecília Bedê at 4:11 PM

Arte em trânsito por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo

Arte em trânsito

Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 28 de junho de 2011.

Panorama do MAM-SP reincorpora brasileiros dois anos após edição polêmica sem representantes do país

Os brasileiros estão de volta. Após a polêmica edição de 2009, quando o Panorama da Arte Brasileira do MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo), então organizado por Adriano Pedrosa, excluiu artistas nacionais -com uma exceção- da bienal, em 2011 a reserva de mercado nativa está garantida.

Sob a responsabilidade dos curadores Cauê Alves e Cristiana Tejo, o Panorama 2011 terá, desta vez, 33 artistas, sendo apenas um de fato estrangeiro: Raphael Grisey, francês que vive em Berlim.

É preciso descontar, no entanto, artistas como o argentino Nicolas Robbio ou o mexicano Hector Zamora, que vivem e produzem no Brasil.

É possível ainda que um novo nome se agregue à lista obtida com exclusividade pela Folha.
"A primeira pergunta que nos fazem é se vamos ter brasileiros", afirma, rindo, Alves. "Mas a gente não se preocupou em dar uma resposta ao Panorama anterior." Com o título "Itinerários, Itinerâncias", a mostra programada para ser aberta no dia 15 de outubro, "não vai discutir nacionalidade", afirma o curador.

Segundo Tejo, que já foi diretora do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, no Recife, e trabalha na Fundação Joaquim Nabuco, "para a curadoria, não há mais a questão da nacionalidade, já que nossas raízes são mais fluídas e o que percebemos é que existe um fluxo cada vez mais urgente".

DESLOCAMENTOS
Pois é essa agitação do circuito artístico nacional que será um dos eixos centrais da mostra. "Na última década, cresceu muito o número de residências artísticas no país, e o sistema de arte se alterou muito. Nós nem conseguimos encontrar alguns artistas porque eles viajam o tempo todo", explica Alves.

Ao usar o deslocamento como metáfora, os curadores pretendem também alterar a própria concepção da mostra: "O Panorama não será apenas uma exposição de arte, estamos pensando também no lado educativo do museu e a ele agregando artistas como Jorge Menna Barreto ou Bruno Faria".
E completa: "Teremos uma mostra de cinema e, também, Chiara Banfi e Kassim serão DJ's residentes no programa existente no MAM, entre outras iniciativas".

O mesmo Panorama que aborda as residências artísticas como motor criativo não vai, no entanto, ter uma. "Na última edição, a residência era fundamental, agora não. Mas nós estamos conversando com o Helmut Batista, que há 14 anos organiza residências e talvez tenha sido o primeiro a adotar esse sistema no país, para ver como ele poderia contribuir", diz Tejo.


Posted by Cecília Bedê at 3:24 PM

junho 27, 2011

Era uma casa muito engraçada por Paula Alzugaray, Istoé

Era uma casa muito engraçada

Estética do absurdo conduz visitante na exposição individual de Ana Linnemann, no Rio de Janeiro

A experiência propiciada pela exposição “Cartoon”, de Ana Linnemann, começa do lado de fora da galeria. Para ser mais exata, começa dentro do táxi, que para diante da Galeria Laura Alvim, em Ipanema, na expressão do taxista, que, com o pescoço virado e o olhar vitrificado, se pergunta se ficou maluco. À descida do carro, a surpresa do taxista é compartilhada com outros transeuntes da avenida Vieira Souto: uma palmeira indomável que gira sobre o próprio eixo, como se tivesse sido tocada por um tufão. A palmeira faz parte da série “Os invisíveis”, de Ana Linnemann, composta por objetos motorizados, submetidos a movimentos repentinos e discretos, que acontecem em intervalos regulares. De discreta, a palmeira realmente não tem nada. Mas para quem passa por ali, imerso em si mesmo, seu giro enlouquecido poderia facilmente ser confundido com o efeito de uma ventania vinda do mar. Lá dentro da casa, sobre uma pilha de livros no alto de uma prateleira, uma garrafa de Coca-Cola – que subitamente se desloca de um lado para outro – tem o mesmo efeito fantasmagórico. A exposição chama-se “Cartoon”, mas poderia muito bem chamar-se “A Mulher Invisível”.

Toda a exposição ocorre durante o trajeto de uma prateleira, que percorre todas as paredes da galeria. Inconstante, o objeto se oferece à primeira vista como uma estante ordinária qualquer. Mas logo evolui de forma “malcomportada”, fazendo as vezes de rodapé, sanfona, moldura, zigue-zague. Ao longo do caminho, a prateleira sustenta outros objetos criados por Ana desde o ano 2000. Sempre objetos domésticos, modificados pela presença invisível da artista. Entre eles, um relógio e um globo terrestre, cortados como uma laranja descascada, ou um grupo de pedras bordadas com flores em ponto de cruz. Na saída, uma parede viva despede-se do visitante, deixando-o entrever absurdos movimentos de bolhas que brotam.

Ana Linnemann residiu durante 16 anos em Nova York, onde construiu uma carreira dinâmica, com mostras em instituições importantes como o El Museo del Barrio. Expôs também no Malba, em Buenos Aires. A exposição inaugura um novo ano curatorial da Galeria Laura Alvim, agora sob a tutela de Fernando Cocchiarale. Em 2009 e 2010, com Ligia Canongia, o espaço se destacou pela qualidade dos projetos, a maioria de cunho experimental. Ao que tudo indica, a tradição continua e o Laura Alvim se firma como espaço diferenciado.

Posted by Cecília Bedê at 4:18 PM

Tradição de ruptura por Angélica de Moraes, Istoé

Tradição de ruptura

Matéria de Angélica de Moraes originalmente publicada na Istoé em 10 de junho de 2011.

Sob a batuta de curadora suíça, a Bienal de Veneza tem uma edição eurocêntrica. Entre os destaques, obra de norte-americanos faz alusão e crítica à cultura da guerra

No topo absoluto do ranking dos grandes eventos de artes visuais, a Bienal de Veneza consegue, como o protagonista do livro “O Leopardo”, de Tomasi di Lampedusa, ­transformar-se para garantir que o poder continue em suas mãos. A 54ª Bienal, que abriu no sábado 4, é a pioneira e matriz de centenas de bienais ao redor do mundo. Esta edição, com mais de dez mil metros quadrados de área expositiva, reúne elenco recorde de 83 artistas na curadoria principal, a cargo da crítica suíça Bice Curigan, e 89 países participantes.

Em 2009, os países eram 77. Mais uma vez, são as representações nacionais que garantem algumas das melhores atrações.

Entre as imagens fortes desta edição está a performance de atletas olímpicos dos EUA em uma esteira ergométrica acoplada e sincronizada a um tanque de guerra. O tan­que-aparelho de ginástica, signo do império da força e da competição (extensível ao supostamente pacífico mundo das artes), é uma das excelentes obras que compõem a representação oficial americana. A autoria é da dupla Allora & Calzadilla, eles próprios símbolos da realidade cultural mutante destes novos tempos: Guillermo Calzadilla é cubano naturalizado americano e Jennifer Allora é americana da Pensilvânia. Moram em Porto Rico.

Donos de um humor quase anárquico, a dupla Allora & Calzadilla apresenta pelo menos outra masterpiece: “Algoritmo”, máquina de autoatendimento bancário 24 horas acoplada a um órgão. A música soa quando o visitante insere seu cartão de crédito na máquina. Se o cartão for aceito, saca notas de dinheiro de verdade. Fina ironia à fé e à sacralidade do sistema capitalista.

O Brasil, que na edição passada (2009) teve presença de vários jovens talentos e a impactante instalação de fios dourados, “Ttéia”, de Lygia Pape em lugar de honra, desta vez está fora do radar da curadoria central, em evidente falta de sincronia com a realidade do circuito, que desde o final dos anos 90 vem destacando a produção brasileira. A suíça Bice Curiger fez uma curadoria eurocêntrica. Com algumas pitadas de especiarias politicamente corretas vindas da África e da Ásia. O pavilhão brasileiro trouxe a obra de Artur Barrio em excelente mostra que contextualiza a contribuição do artista desde suas famosas performances antiditadura dos anos 60 até uma instalação feita especificamente para a ocasião. Barrio, que acaba de ganhar o Prêmio Velázquez, um dos maiores do gênero no mundo, concedido pelo governo espanhol, está em plena forma. Extraiu linhas de força das caixas de luz do pavilhão para amarrar todo o espaço, em composição que celebra a penosa trajetória do artista até a iluminação, ou seja, a criação.

“ILLUMinations” (Iluminações) é o título da curadoria central da 54ª Bienal, fazendo um jogo de palavras com nações e iluminações, apostando na improvável reciclagem do papel de guia cultural que a Europa ocupou desde o chamado Século das Luzes (século XVIII). Enquanto os livros de história da arte são reescritos para incorporar a produção de outras culturas e latitudes, Bice Curiger parece nostálgica da Europa como umbigo do mundo.

O resultado desse iluminismo requentado oscila entre o ótimo e o péssimo. O conjunto qualitativamente mais coeso está concentrado no pavilhão La Biennale, com elenco capitaneado por insólito conjunto de telas do mestre veneziano Tintoretto (1518-1594). Felizmente, os artistas sobrevivem a qualquer tese curatorial e garantem a festa dos olhos: a suíça Pipilotti Rist, o alemão Sigmar Polke e a americana Cindy Sherman são fortes presenças. O inglês Nathaniel Mellors apresenta escultura de duas cabeças animatrônicas “conversando”. Um dispositivo servo computadorizado movimenta as cabeças e as expressões faciais de fisionomias moldadas em látex.

No Arsenale há o ótimo suíço Urs Fischer, mas o destaque absoluto é do americano Christian Marclay com o filme “The Clock” (O Relógio), com duração de 24 horas e resultado de uma incrível pesquisa nos arquivos da história do cinema. Marclay reúne passagens de filmes antigos e famosos em que há relógios em cena. O detalhe é que o horário do filme corresponde ao horário real e em ordem cronológica. A obra acabou garantindo a Marclay o Leão de Ouro de melhor artista da exposição. À 54ª Bienal de Veneza não faltam polêmicas nem boa arte, como sempre.

Posted by Cecília Bedê at 4:09 PM

O devorador de cabeças por Paula Alzugaray, Istoé

O devorador de cabeças

Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 17 de junho de 2011.

Pitoresca viagem pitoresca-NINO CAIS/ Galeria Oscar Cruz, SP/ até 25/6

Conta a historiadora Lilia Moritz Schwarcz que a Missão Artística Francesa chegou ao Rio de Janeiro em 1816 graças a uma convergência de interesses. De um lado, artistas formados pela Academia francesa repentinamente desempregados, após a queda de Napoleão. De outro, a corte portuguesa de dom João, carente de representação oficial. Segundo Lilia, os artistas napoleônicos não vieram convidados, muito embora o pintor Jean-Baptiste Taunay, em sua “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil” (1834-1839), mencione um “convite”.

Convidados ou não, os franceses recém-chegados usaram sua expertise em pintura histórica para documentar a vida na colônia. Entre eles, Debret foi o que teve a obra mais exaustivamente reproduzida e popularizada. Hoje, ela é revisitada pelo artista Nino Cais, na exposição “Pitoresca Viagem Pitoresca”.

Cais é um artista-cronista dessa primeira década do século XXI, assim como Jean-Baptiste Debret foi pintor do cotidiano oitocentista brasileiro. Em dez anos de trabalho, Cais explora sua relação com os objetos. No modo como se veste com cestos, vassouras e bacias ou na maneira como se debruça sobre cristais ou xicrinhas de café, o artista tece sua história íntima da vida urbana. Em cada uma de suas imagens, há uma evidente adoração pelos objetos. Sua relação com eles é sempre de delicadeza e reverência.

Nesta exposição, Cais pouco usa o próprio corpo para falar de costumes. Em seu lugar, desfilam os personagens retratados por Debret. Reis afundados em suas coroas. Negros, índios e brancos decapitados pelas tesouras de Cais. À primeira vista, essas figuras parecem camufladas.

Mas a estratégia, mais que esconder, indica a vocação de Cais para a devoração de imagens.
Cais é um consumidor voraz de imagens prontas, achadas em sebos, livros e revistas antigos. Ao apropriar-se da “Viagem Pitoresca”, ele revela um apetite antropofágico e traz à tona um Debret de visões étnicas estereotipadas, que, como outros artistas viajantes europeus, representou nativos brasileiros como bárbaros canibais. P.A.

Posted by Cecília Bedê at 3:56 PM

Arte de preencher o vazio por Paula Alzugaray, Istoé

Arte de preencher o vazio

Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé Independente em 4 de junho de 2011.


Coleção de arte contemporânea peruana do Museo de Arte de Lima viaja pela primeira vez ao Exterior. Estação Pinacoteca recebe a mostra

Nos anos 1950, seduzidas pela mesma promessa modernizante que no Brasil erigiu Brasília, as populações rurais do Peru migraram para as cidades. Vinte anos depois, o êxodo massivo levou a capital Lima a viver a explosão da economia informal e ao surgimento de uma nova categoria de postos de trabalho, apelidada “al paso” (de passagem). Em 1980, o coletivo de arte E.P.S. Huayco realizou o projeto “Arte al paso”, promovendo uma arte para ser consumida na rua. Hoje, reconhecida como uma das manifestações mais marcantes da arte peruana da segunda metade do século 20, a ação “Arte al paso” dá nome à exposição de arte contemporânea do Museo de Arte de Lima (Mali), que chega à São Paulo.

Essa é a primeira vez que parte da coleção do Mali é exposta no exterior. Para esse importante evento, os curadores Tatiana Cuevas e Rodrigo Quijano trazem 100 trabalhos que ao longo dos últimos 40 anos têm refletido sobre a paisagem sociopolítica e a situação de precariedade institucional no Peru. Enquanto o E.P.S. Huayco buscava estabelecer outros circuitos para a veiculação da arte, artistas como Emilio Hernandez Saavedra denunciavam o vazio de instituições culturais. Seu projeto “El museo de arte borrado” aponta para a ausência de um museu de arte moderna, em 1970.

Dispostos a preencher o vazio, os artistas peruanos têm criado instituições fictícias. Sandra Gamarra inventou o “Museo Limac” (2002), para o qual montou um acervo e um espaço físico. Suzana Torres criou o “Museo neo Inka” (1999-2011), cujo objetivo institucional é promover a desmistificação da identidade nacional. Fernando Bryce instituiu a “Huaco TV” (2002), em que uma cópia de cerâmica pré-colombiana é gravada por câmera de vídeo e transmitida ao vivo.

Por todo o percurso da exposição, encontram-se sinais de uma cultura que busca repensar-se a si mesma, considerando as relações entre um passado recente de violência política e militar e os efeitos de uma promessa de modernização. Em “Katatay (Temblar)”, Alfredo Márquez denuncia a ideia do atraso cultural, a que os países latino-americanos são frequentemente associados pela cultura européia. “Se eu dissesse que a América Latina sofreu a síndrome-da-modernidade-atrasada, eu estaria estimulando um terrível erro conceitual”, declarou o artista Armando Andrade Tudela quando expôs na 27ª Bienal de São Paulo, em 2006.

Posted by Cecília Bedê at 3:45 PM

Arte e militância política na exposição Paulo Bruscky - Arte Correio por AD Luna, Jornal do Commercio

Arte e militância política na exposição Paulo Bruscky - Arte Correio

Matéria de AD Luna originalmente publicada na seção de Cultura do Jornal do Commercio em 10 de junho de 2011.

Com curadoria de Cristiana Tejo, a mostra apresenta um conjunto de experimentos artísticos desenvolvidos pelo artista pernambucano e seus companheiros internacionais de batalha

Início dos anos 1970. Na América Latina, as ditaduras se recrudesciam e tornavam-se ainda mais opressivas. A Guerra Fria e a ameaça nuclear amedrontavam o mundo. A crença no consumo desenfreado como lenitivo para as angústias e dores do mundo capitalista ganhava força e milhões de adeptos, principalmente os inconscientes. Enquanto isso, uma conspiração silenciosa, comandada por artistas "subversivos" de vários pontos do planeta criticava tais conjunturas por meio de (re)criações trocadas por correspondência. A partir de hoje até o dia 24 de agosto, no Centro Cultural dos Correios, os recifenses poderão conhecer abrangente recorte dessa curiosa comunicação de guerrilha na exposição Paulo Bruscky - Arte Correio.

Com curadoria de Cristiana Tejo, a mostra apresenta um conjunto de experimentos artísticos desenvolvidos pelo artista (e rebelde) pernambucano Paulo Bruscky e por alguns de seus companheiros internacionais de batalha. “No Recife, o trabalho de Bruscky é mais falado do que realmente visto. Estamos trabalhando para dar mais visibilidade à sua obra”, explica Cristiana.

Entre as peças que estarão expostas na Arte Correio, selos, telegramas, correntes de cartas, aerogramas e envelopes de diferentes locais. "A gente já trabalhava, naquela época, com o conceito de rede antes da era da internet. Não havia preocupação com a estética dos trabalhos, mas com a comunicação em si. Fronteira era algo inexistente para nós", rememora Bruscky. Esse intercâmbio proporcionava aos missivistas a oportunidade de se manterem informados sobre as dificuldades vividas por seus interlocutores, ao mesmo tempo em que podiam denunciar as mazelas e censuras à liberdade de expressão que sofriam em seus países.

Posted by Cecília Bedê at 2:51 PM

Mostra redescobre Sérvulo Esmeraldo por Gabriela Longman, Folha de S. Paulo

Mostra redescobre Sérvulo Esmeraldo

Matéria de Gabriela Longman originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 23 de junho de 2011.

Vídeo intervenção de Alexandre Rangel (VJ Xorume) na escultura "Quadrado", de Sérvulo Esmeraldo. (contribuição de Alexandre Rangel em comentário do post)

Artista cearense é tema de retrospectiva na Pinacoteca do Estado, com 117 obras de seus 60 anos de carreira

Gravurista e escultor, Sérvulo bebeu na fonte da arte cinética, movimento que eclodia em Paris nos anos 70

Em 1951, um jovem cearense ajudava a martelar gravuras de Goeldi e Aldemir Martins na montagem da primeira Bienal Internacional de São Paulo. Nos anos subsequentes, ele voltaria à mostra, já como artista, expondo gravuras que se tornavam cada vez mais abstratas.

Esse homem é Sérvulo Esmeraldo, artista que aos 82 anos -60 de carreira- ganha agora uma retrospectiva na Pinacoteca do Estado.

Com um percurso que partiu da gravura em direção à escultura, Sérvulo bebeu na fonte da arte cinética, movimento que eclodia em Paris, cidade em que viveu por quase 30 anos) -partiu como bolsista do governo francês em 1958 e só regressou de forma definitiva em 1975.

Uma foto de 1970 mostra um grupo de artistas sentados no jardim de Luxemburgo: Sérvulo com Flávio-Shiró, Lygia Clark, Rossini Peres, Arthur Luiz Piza, Sérgio Camargo.

Foi nesse cenário, e cercado em grande medida por esse grupo, que construiu uma trajetória ligada à geometria.

Como escreveu o curador Ricardo Resende: "Sérvulo não pertenceu ao grupo dos concretos e neoconcretos, período que coincide com sua residência na França, mas é fundamental para se pensar o abstracionismo geométrico e a arte cinética. O artista sempre observou o lado construtivo e o funcionamento das coisas".

O contato do curador com a obra de Sérvulo começou quando esteve à frente do Museu de Arte Contemporânea do Ceará. Na época, a instituição foi contemplada com um edital que permitia a aquisição de acervo, e Resende insistiu na necessidade de comprar obras de Sérvulo, "sem dúvida, o maior artista cearense vivo".

Das 117 obras agora reunidas, cerca de 40 vêm desse projeto de aquisição. Muitas são do acervo da Pinacoteca, e outras foram aparecendo a partir de pesquisa junto a colecionadores.
"A obra não está catalogada. Quando a retrospectiva foi anunciada, muita gente veio me dizer que tinha trabalhos do Sérvulo", contou Resende.

Para mostrar o rigor inventivo do artista, o curador montou uma exposição que acompanha cronologicamente suas experimentações. Um dos destaques é, sem dúvida, quadros e objetos da série de "excitáveis". Movidos por eletricidade eletrostática, interagem com a mão do espectador como se ganhassem vida.

REVISÃO CRÍTICA

Com a exposição, a obra de Sérvulo é tema de um livro organizado pela historiadora e crítica de arte Aracy Amaral. No volume estão textos críticos de Resende, Dodora Guimarães, Agnaldo Farias, entre outros, além de uma entrevista com Sérvulo feita por Lisette Lagnado.

Em boa hora, a iniciativa vem revisitar uma obra que passou os últimos 30 anos bastante circunscrita ao circuito de arte cearense.

Posted by Cecília Bedê at 2:07 PM | Comentários (2)

A magia da geometria por Camila Molina, o Estado de S. Paulo

A magia da geometria

Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno de Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 17 de junho de 2011.

Quando menino, de uns 10 ou 12 anos, Sérvulo Esmeraldo gostava de criar coisas com os restos de materiais que eram usados para fazer tachos no engenho de cana de açúcar mascavo onde cresceu, no Crato, Ceará. "Também fazia objetos que funcionavam com o vento, como papagaios que já tinham formas cinéticas bem estudas", conta ainda o artista, hoje com 82 anos. Ele, brincando não saber a diferença entre "acidente e incidente", vê agora na Pinacoteca do Estado uma mostra que reúne 117 de suas obras, criadas desde a década de 1950. O percurso de Sérvulo Esmeraldo, como vai ver o visitante nessa retrospectiva, é o de um criador que consegue aliar a naturalidade à inteligência sensível em uma produção que se desdobra por esculturas, gravuras, desenhos e objetos.

O que une tudo na obra do artista é a geometria - "a linearidade, a síntese, a eloquência da beleza da forma", como afirma a historiadora Aracy Amaral em texto do livro Sérvulo Esmeraldo, que ela organizou e que acompanha a retrospectiva do cearense. Aracy, na citação, se refere a uma obra específica, Cinco Escamas, de 2001, mas as características ressaltadas pela crítica nesse excerto valem para o conjunto da produção diversificada e ao mesmo tempo tão própria do artista.

Sérvulo Esmeraldo nasceu no Crato, viveu em São Paulo e em Paris e depois quis se fixar mesmo em Fortaleza. Nesse percurso intenso, adotou a abstração geométrica, criou arte cinética, fez esculturas públicas. Fazia tempo que ele não realizava uma mostra em São Paulo e essa atual retrospectiva na Pinacoteca, proposta pelo curador Ricardo Resende, resgata o artista que estava "escondido no Ceará". "A exposição apresenta a dimensão da obra de Sérvulo, uma produção coerente que não tem altos e baixos", diz Resende.

O livro organizado por Aracy Amaral, editado pelo museu paulista, é mais um elemento importante nessa iniciativa de apresentação, análise e resgate da obra de um criador "já inscrito na historiografia da arte experimental brasileira do século 20", como define a historiadora. A publicação, ampla, traz textos de Aracy, Resende, João Rodolfo Stroeter, Frederico Morais, José Claudio da Silva, Matthieu Poirier, Dodora Guimarães, Fernando Cocchiarale, Ana Maria Belluzzo, Agnaldo Farias, carta do artista Julio Le Parc, entrevista com Sérvulo Esmeraldo feita por Lisette Lagnado, cronologia e imagens.

Desenhos espaciais. A exposição tem certo percurso cronológico, mas, na verdade, chega um momento em que essa cronologia se esvai. Na verdade, um pensamento gráfico perpassa todas as obras e já não importa mais saber o ano em que foram feitas. "A linha, a escultura, o desenho, eles vão acontecendo tudo junto. A gente não pensa, acontece", diz Sérvulo Esmeraldo sobre suas obras - "no fundo, os artistas são intuitivos", completa ele.

Na primeira sala da mostra, está uma pintura a óleo sobre madeira de 1950, uma marinha figurativa de Fortaleza. A obra quase clássica (com céu azul e mar) é única no seu gênero e faz contraste em relação ao restante da mostra. "É a única pintura minha que restou, as outras desapareceram", conta Sérvulo. Logo ao lado dela, há um desenho, também de 1950, em que os barcos estão em preto e branco, já geometrizados. Mais ainda, xilogravuras da mesma década, com motivos vegetais - representando folhas e sementes, por exemplo - já indicam, mais ainda, uma vontade de "formalização e limpeza", afirma o curador Ricardo Resende.

Em 1951, Sérvulo se mudou do Ceará para São Paulo e, como ele diz, quando veio para "outro meio", travou contato fundamental para sua trajetória ao conhecer artistas como Arnaldo Pedroso d"Horta, Livio Abramo, Marcello Grassmann e seu conterrâneo cearense Aldemir Martins. Em 1957, Sérvulo Esmeraldo faz sua primeira individual no MAM e, ainda nesse ano, ganha bolsa para residir em Paris.

A década de 1960 é ainda mais rica de experimentações para Sérvulo Esmeraldo. Em 1962, ele cria seu primeiro objeto cinético, O Escriba, e a partir de então suas obras passam do papel para o tridimensional e vice-versa - como define Frederico Morais, Sérvulo está "gravando esculturas/esculpindo gravuras" com poucas linhas, volumes, materiais diversos e em alguns casos, com o uso da cor.

Um dos destaques da mostra é o livro-objeto Trilogia, feito em parceria com o poeta Péricles Eugênio da Silva Ramos. Mas a experiência mais interessante do artista, como vemos na retrospectiva, são os chamados Excitáveis, trabalhos ativados por energia eletrostática que ele iniciou nos anos 1960 e que convidam à participação. "O primeiro deles foi inspirado no poema Anunciação, de Vinicius de Moraes", acrescenta Sérvulo Esmeraldo.

Posted by Cecília Bedê at 11:54 AM