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maio 13, 2011
Filmes-arte de brasileiros vão do lírico ao grotesco por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Filmes-arte de brasileiros vão do lírico ao grotesco
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 13 de maio de 2011.
Obras são versão nacional de projeto criado em NY por curador britânico
Curtas do Destricted.br serão exibidos neste domingo em SP e vão para mostra em julho na galeria Fortes Vilaça
Diante das cenas mais chocantes, a plateia reage com suspiros e gritinhos. Na saída da sessão privê do filme de Tunga, há alguns meses em São Paulo, convidados tentavam digerir aquilo que viram ser devorado nas cenas de sexo: suco de maracujá e sorvete.
"É uma história de amor. Trata de conectar coisas que não são conectáveis", disse o artista à Folha, resumindo sua obra no projeto Destricted. "Quando você rege esses contatos, faz uma alquimia e leva a imagem a ter carga integral na tela do cinema."
Esse foi o primeiro curta da perna nacional do projeto a ficar pronto. Por isso, acabou sendo lançado no pacote de filmes estrangeiros idealizado pelo curador britânico Neville Wakefield em Nova York no fim do ano passado.
"Os filmes do projeto norte-americano estavam mais crus", disse Wakefield. "Mas o que está na obra de Tunga é tão explícito quanto aquilo."
Marcia Fortes, da galeria Fortes Vilaça, que liderou o projeto no Brasil, discorda. "Artistas daqui tiveram uma relação mais física, mais carnal com essa proposta", explicou. "É menos estilizada a resposta dos brasileiros."
Tanto que, sem rodeios, Marcos Chaves define seu curta deturpando o lema do cinema novo. "É uma ideia na cabeça e uma câmera no pau", disse o artista. "Eu ficava com a câmera na altura do pênis enquanto filmava."
Seu filme traz homens de sunga na praia e orgias tanto em quartos escuros como ao ar livre, em pleno Carnaval.
Janaina Tschäpe, na mesma pegada voyeur, inverte a perspectiva, mostrando uma série de atos sexuais vistos por uma câmera subjetiva. É como se o espectador fosse agente das cenas.
SEREIAS E BAUDELAIRE
Mais alegórica, Adriana Varejão transpõe para o cinema erótico a estética barroca, de azulejos e desenhos, que marca sua obra artística.
Ela filmou uma sereia encalhada numa piscina vazia, toda azul, à espera de um amante para um affair de escamas e espuma do mar.
Em terra firme, Dora Longo Bahia e Julião Sarmento fizeram filmes mais cerebrais, que tentam verbalizar o sexo. Se as mulheres de Sarmento narram encontros tórridos em línguas diferentes, Bahia mostra uma mulher num exercício de masturbação radical, com um taco de beisebol, enquanto um poema de Charles Baudelaire desliza na tela em letras vermelhas. "Queria que ela não fosse vítima, que estivesse no comando, e que o sangue fosse um lubrificante", diz a artista. "Mas tem cenas em que ela parece um pernil, um pedaço de carne."
Porno arte por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Porno arte
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 13 de maio de 2011.
Artistas visuais dirigem curtas eróticos e novo festival celebra cultura do sexo em São Paulo
A pornografia está mudando de endereço.
Deixou de figurar só em revistas e sites para cruzar a linha das artes visuais, entrando em galerias e museus e pautando até um novo festival de cinema, que começa no fim do mês em São Paulo.
Nove artistas brasileiros só pensam naquilo desde que decidiram fazer no país uma versão do Destricted, projeto gringo que escalou Larry Clark, Matthew Barney e Marina Abramovic para filmar suas ideias e visões de sexo.
Neste domingo, sem pudor, serão exibidos juntos pela primeira vez no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo. Em julho, vão estar em mostra na Fortes Vilaça.
Além do Destricted, o festival PopPorn, no fim do mês, promete exibir clássicos e produções recentes da chamada "pornografia alternativa". No Rio, a Caixa Cultural também exibe os filmes mais picantes de Andy Warhol.
Nuno Ramos lança volume sobre sua obra no evento por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Nuno Ramos lança volume sobre sua obra no evento
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 12 de maio de 2011.
Numa obra que fez há 11 anos, Nuno Ramos espalhou móveis por covas feitas na areia de uma praia do Espírito Santo. A maré subia, engolindo cadeiras e armários.
A imagem de "naufrágio organizado", nas palavras do artista, serve de metáfora para a forma como seu trabalho é visto no mais extenso livro já feito sobre sua produção.
Esse volume de quase 600 páginas será lançado amanhã à noite, durante a sétima edição da feira SP Arte.
"É o movimento da maré, esse jogo de alteridade, disparidade e retorno, tem um motor, uma vida, uma espécie de ruína organizada", disse Ramos à Folha. "No meu caso, há mais contradições, divergências e descalabros."
Isso porque, no livro do artista que despontou nos anos 80, estão obras de toda sua carreira em ordem cronológica. A reunião das obras das últimas três décadas revela desvios da forma e oscilações de estilo e uso de materiais.
"Como eu trabalhei muito em gêneros diferentes, minhas coisas têm uma certa fratura estilística", diz o artista. "Mantendo as obras na ordem em que foram feitas, eu ressalto essa contradição."
Outro desvio, no caso, é jogar para a capa do livro uma não imagem. "Carolina" é uma obra em texto que cobre frente e verso do volume, um diálogo entre duas paredes.
"É diferente do que eu escrevo, mas há várias páginas com textos", diz Ramos, também autor de ensaios e poesias. "Quis dar a eles a mesma dignidade das imagens."
Para além das palavras e das imagens, a edição parece alcançar uma sonoridade com o texto que corre pelas bordas. É a língua, elemento central da obra de Ramos, que ganha corpo nessa montagem editorial, quase um desdobramento espacial dessa série de trabalhos falados.
Arte S.A. por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Arte S.A.
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 12 de maio de 2011.
Maior feira do gênero no país cresce apoiada em dinheiro captado por meio da Lei de Incentivo à Cultura
O maior evento comercial das artes visuais no país, a SP Arte, abre hoje para o público com aval para captar nada menos que R$ 1,2 milhão por meio da Lei de Incentivo à Cultura. O valor é mais da metade de seu orçamento, de cerca de R$ 2 milhões.
Até o momento, a feira conseguiu captar R$ 300 mil.
Embalada pelo momento econômico positivo, a sétima edição da SP Arte cresce em número de galerias -de 82, no ano passado, para 89-, e em espaço -de 9.000 m2 para 13 mil m2.
Ela ocupa agora também o segundo andar do pavilhão da Bienal, onde foram montadas 24 instalações.
"Não acho justo que um evento que é 100% comercial tenha incentivo. A feira deveria dar ao menos uma contrapartida social", diz José do Nascimento Júnior, diretor do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), vinculado ao Ministério da Cultura.
A SP Arte, que dura quatro dias, tem o ingresso mais caro que qualquer museu público brasileiro: R$ 30.
Os próprios expositores da feira tampouco sabiam que havia lei de incentivo.
Galeristas ouvidos pela Folha se espantaram. "Essa é a feira mais cara do mundo. Mas tudo bem, eu até entendo a Fernanda [Feitosa, diretora da feira], porque hoje o Brasil é mesmo o país mais caro do mundo", diz Márcia Fortes, da Fortes Vilaça.
A maioria dos galeristas, contudo, preferiu não ser identificada, mas as palavras "incompreensível", "inacreditável" e "absurdo" estiveram na boca de vários deles.
Em média, a SP Arte cobra R$ 1.000 (US$ 620) por m2, enquanto Basel, na Suíça, a mais importante, cobra US$ 514 (R$ 830), e a Frieze, de Londres, US$ 470 (R$ 760).
"O Governo não limita que os benefícios da lei sejam concedidos apenas a projetos não comerciais. Se assim fosse, não teríamos Fórmula 1 nem São Paulo Fashion Week", diz Feitosa.
PROCULTURA
Se a nova lei de incentivo (Procultura) já estivesse valendo, no entanto, a SP Arte não teria tanto apoio.
"Pela nova lei, a feira não conseguiria 100% de patrocínio, pois a Procultura tem um sistema de pontuação de acordo com o retorno para a sociedade", diz Henilton Menezes, secretário de Fomento do MinC.
Medidas para tornar a lei em vigor mais justa estão sendo feitas.
Uma delas, aprovada pela Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, estabelece que o cachê dos artistas não pode ultrapassar R$ 30 mil.
A partir do próximo dia 23, dez agentes do MinC passarão a acompanhar os projetos em vigor em São Paulo, Minas Gerais e Rio para fiscalizar o uso da lei.
Desde 2005, quando de sua criação, a SP Arte se utiliza da lei de incentivo.
Naquele ano foram aprovados para captação R$ 1,1 milhão, valor alcançado por meio do apoio de 20 empresas e gasto em três edições.
Em 2008, ela teve aprovados R$ 685 mil, tendo captado R$ 500 mil, e, em 2010, foram aprovados R$ 1,4 milhão e obtidos R$ 650 mil.
Como contrapartida do evento, Feitosa elenca que gera turismo para a cidade, com seus 16 mil visitantes.
O evento expõe 2.000 obras, promove debates gratuitos, disponibiliza seus catálogos para bibliotecas e possui um programa de estímulo à doação de obras de arte a museus.
PARALELA
Assim como ocorre no exterior, uma feira costuma estimular outras menores.
Em São Paulo, dois produtores organizaram uma feira em outro modelo. A Entretanto teve R$ 400 mil captados por lei de incentivo e também é aberta hoje.
"Não é um evento tão comercial como a SP Arte. O projeto inteiro é em torno dos artistas. É mais semelhante a uma exposição e é gratuita", diz Pedro Igor Alcântara, um dos organizadores.
A mostra reúne 20 artistas sem galeria, com curadoria de Luisa Duarte e Fernando Oliva, num casarão à venda (rua Groenlândia, 448). Todos os trabalhos são novos e podem ser comprados.
"Nós selecionamos os artistas, e a venda não é uma preocupação, já que algumas obras dificilmente serão vendidas, como a piscina do Henrique Cesar", diz Oliva.
"Buraco Negro", do artista citado pelo curador, é uma obra criada para o local, no caso, a piscina da mansão, que teve sua água tingida com nanquim preto.
Ao impossibilitar a visão do fundo da piscina, a obra se torna metáfora do uso da lei de incentivo em vigor.
maio 11, 2011
Artur Barrio é o segundo do país a ganhar o Velázquez por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Artur Barrio é o segundo do país a ganhar o Velázquez
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 11 de maio de 2011.
Português radicado no Rio, que representará o Brasil na Bienal de Veneza, foi anunciado ontem vencedor
Cildo Meireles recebeu o prêmio do Ministério da Cultura espanhol, um dos mais importantes do mundo, há três anos
Foi anunciado ontem vencedor do prêmio Velázquez o artista plástico Artur Barrio, português radicado no Brasil que representará o país na Bienal de Veneza deste ano, que começa no mês que vem.
Organizado pelo Ministério da Cultura espanhol, o Velázquez é um dos prêmios mais importantes do mundo nas artes visuais. Barrio vai receber 125 mil euros, cerca de R$ 290 mil, na premiação.
Cildo Meireles, vencedor do troféu em 2008, ano em que fez retrospectivas na Tate, em Londres, e no Reina Sofía, em Madri, era o único artista ativo no Brasil a ganhar esse prêmio até hoje.
Nascido em Portugal em 1945 e vivendo no Rio desde 1955, Barrio se tornou conhecido por suas ações performáticas usando material perecível e objetos cotidianos e registros em fotografia e filme dessas performances.
Uma de suas ações mais emblemáticas, da série "Situações", foi "Trouxas Ensanguentadas", em que espalhou tecidos envolvendo carne animal em putrefação num rio em Belo Horizonte.
Realizada em 1970, a performance foi interpretada como ato de protesto contra os abusos da ditadura militar no Brasil e a situação social na América Latina. Também levantou questões centrais à obra de Barrio, como a relação da obra com um mercado mais agressivo e acelerado.
Fotografias dessa ação estavam na última Bienal de São Paulo, que incluiu Barrio num recorte histórico de artistas que evocavam questões políticas em suas obras.
BIENAL DE VENEZA
Logo depois, o artista foi escolhido pelos curadores Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias para ocupar o pavilhão nacional do Brasil na próxima Bienal de Veneza.
Barrio já está trabalhando na Europa para construir seu trabalho. "Realizo meu trabalho no momento", diz Barrio. "Trabalho no local com os materiais que vou desenvolver naquele espaço."
Pouco antes de viajar, no entanto, o artista ainda aguardava a liberação de R$ 400 mil para a produção da obra, verbas da Funarte, órgão do Ministério da Cultura.
Planalto intervém para conter crise na pasta da Cultura por Natuza Nery, Fernanda Odilla e Catia Seabra, Folha de S. Paulo
Planalto intervém para conter crise na pasta da Cultura
Matéria de Natuza Nery, Fernanda Odilla e Catia Seabra originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 10 de maio de 2011.
Dirigente do PT assume posto-chave no ministério para ajudar Ana de Hollanda a controlar disputa política
Divergências com antecessor, suspensão de convênios e uso de diárias de viagem desgastam ministra
O governo decidiu intervir no Ministério da Cultura para tentar controlar o bombardeio sofrido pela titular da pasta, Ana de Hollanda.
Com o apoio do PT, escalou uma "interventora" para o órgão com o objetivo de represar a disputa política e evitar que a situação chegue ao ponto em que a presidente Dilma Rousseff se veja obrigada a demitir a ministra.
A secretária nacional de Cultura do PT, Morgana Eneile, foi nomeada assessora especial da ministra com a missão expressa de ajudá-la a debelar a crise e construir uma agenda positiva.
Eneile apoiou a indicação de Hollanda para o ministério, em dezembro passado.
A ministra tornou-se alvo de críticas por várias razões.
Ela quis rever a reforma na lei de direitos autorais prometida por seu antecessor, Juca Ferreira, e suspendeu o pagamento de convênios com indícios de irregularidades.
Também eliminou do site do ministério o selo "Creative Commons", licença para uso livre de conteúdo na internet.
Em outra frente, fragilizou-se entre os petistas. Provocou isso ao cancelar a nomeação do sociólogo Emir Sader para presidir a Fundação Casa de Rui Barbosa, depois que ele declarou em entrevista à Folha que a ministra era "meio autista".
Todos esses episódios, somados ao uso de diárias de viagem em finais de semana sem agenda oficial, transformaram Ana de Hollanda na mais frágil residente da Esplanada dos Ministérios.
Dilma autorizou a operação para salvar sua auxiliar, mas espera que ela dê demonstrações de que consegue neutralizar os ataques.
"Ela está sob uma guerra psicológica pesada", disse ontem o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral).
"A posição no Planalto é de apoio e respaldo a ela. Agora, tudo depende dela e da capacidade de sua equipe de cerrar fileiras em sua defesa."
CHORO
Em encontro com lideranças do PT ontem em São Paulo, Ana de Hollanda deu sinais de fragilidade.
Observada da plateia por Morgana Eneile, que estava com outros assessores, ela chorou no início de sua fala, pediu desculpas e disse que estava emocionada. Gaguejou ao explicar a estrutura da pasta e lamentou não ter tempo para responder perguntas.
Brevemente, comentou a crise: culpou a imprensa por publicar "intrigas" e afirmou em seguida: "Meus companheiros estão comigo".
Para interlocutores de Dilma, Ana de Hollanda sofre uma das campanhas mais "sórdidas" já protagonizadas por um ministro em apenas cinco meses de gestão.
No Planalto, o ex-ministro Juca Ferreira é visto como um dos interessados no enfraquecimento da sucessora, após ter feito intensa campanha para seguir no comando do ministério. A Folha não conseguiu localizá-lo para comentar o assunto.
Para demonstrar que, por enquanto, ela conta com a retaguarda do Planalto, Gilberto Carvalho visitará a colega amanhã. Nas palavras de um interlocutor da presidente, quando um técnico tira um jogador de campo antes do fim do primeiro tempo, é porque errou na escalação. Ou seja: por ora a demissão não interessa ao Executivo.
Dilma, contudo, não pretende segurar Ana de Hollanda a qualquer preço.
maio 10, 2011
Artista luso-brasileiro Artur Barrio vence o Prêmio Velázquez, oglobo.com
Artista luso-brasileiro Artur Barrio vence o Prêmio Velázquez
Matéria originalmente publicada no caderno de Cultura de oglobo.com em 10 de maio de 2011.
RIO - O artista plástico luso-brasileiro Artur Barrio é o vencedor do Prêmio Velázquez de Artes Plásticas 2011, no valor de 125 mil euros. O Ministério da Cultura da Espanha anunciou a premiação nesta terça-feira. As informações são do jornal espanhol "El País".
FOTOGALERIA : Veja obras de Artur Barrio
Para o júri, a escolha de Barrio deveu-se "à construção de uma poética radical, que produz uma relação e um eco com situações políticas e sociais. Pela universalidade de sua linguagem, desenvolvida através de materiais não convencionais, crus, perecíveis e degradáveis. Pelo radicalismo do uso que faz dos mesmos, dentro e fora da instituição do museu. Seu trabalho, desenvolvido através de ações, performances, instalações, vídeos, explora o efêmero e transitório, interessando-se pelos efeitos simbólicos e pela aparição de uma beleza inesperada".
Nascido na cidade do Porto, em Portugal, em 1945, Artur Barrio veio para o Rio de Janeiro ainda criança, onde começou a dedicar-se à pintura em 1965. Dois anos mais tarde, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes. Em 1969, criou suas "Situações", obras feitas com lixo, materiais orgânicos e objetos fora do convencional. No mesmo ano, lançou "Manifesto", um protesto "contra as categorias da arte" e a situação política e social do terceiro mundo. Barrio também fez instalações ao ar livre, tais como "Blooshluss" (1972), e esculturas com objetos cotidianos.
Em 1975, mudou-se para Paris. O Centro Georges Pompidou adquiriu seus cadernos e livros, como o "Livro da carne". Durante este período, criou performances, arte postal, esculturas, livros e cadernos de artista. Em 1982, expôs o conjunto de pinturas e desenhos intitulado "Série Africana", em que retomou a cor e a pintura. Três anos depois, participou da 17ª edição da Bienal Internacional de São Paulo.
Este ano, Barrio representará o Brasil na Bienal de Veneza, que começa no dia 4 de junho. Porém, até o momento, a Funarte ainda não liberou os R$ 400 mil destinados à produção do trabalho que será apresentado, ao transporte e aos custos do pavilhão brasileiro na bienal, o mais importante evento de arte contemporânea do mundo.
O Prêmio Velázquez de Artes Plásticas foi criado em 2002, em homenagem ao pintor espanhol Diego Rodríguez de Silva y Velázquez, com a intenção de ser uma premiação de caráter internacional para laurear a obra de um criador no âmbito das artes plásticas, em qualquer de suas manifestações. Em 2008, o brasileiro Cildo Meireles foi contemplado com o prêmio.
maio 9, 2011
Façam suas apostas por Nina Gazire, Istoé
Façam suas apostas
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na Istoé em 6 de maio de 2011.
Feira SP-Arte inaugura novo espaço dedicado a obras de grande porte, onde galerias expõem seus projetos especiais
Com o crescimento do mercado de arte, estima-se que as vendas e cifras da sétima edição da SP-Arte, a maior feira de arte da América Latina, também tenham aumento significativo. Em 2010, o recorde ficou com uma tela de Cândido Portinari, que não teve o título e o valor exato da venda revelados, mas especula-se que tenha ultrapassado os R$ 3 milhões. Embora a grande maioria das duas mil obras que estarão à venda este ano sejam contemporâneas, as maiores cifras das grandes feiras ainda são mesmo relativas à produção artística de meados do século XX. “As obras modernistas atingem valores mais altos por sua importância histórica.
É provável que esse padrão se repita, já que teremos artistas muito procurados, como Alfredo Volpi, Antônio Bandeira, o chileno Roberto Matta e o uruguaio Joaquín Torres García”, diz Fernanda Feitosa, diretora da SP-Arte. A expectativa também é alta em relação à arte contemporânea, alvo das novas gerações de colecionadores. Os brasileiros Waltercio Caldas, Antonio Dias e Cildo Meireles, bem cotados no mercado internacional, são citados por Fernanda como possíveis destaques.
Apostas feitas, o suspense em torno das vendas permanece. “O sucesso de um artista nunca é uma certeza”, pondera a galerista Luisa Strina, representante do baiano Marepe e do colombiano Gabriel Sierra. “Nunca sei qual será o resultado. Já levei para feiras internacionais artistas que estavam na Bienal de Veneza e nem por isso eles venderam bem”, comenta. Já a galerista Raquel Arnaud vincula o bom resultado à evidência. “Para a SP-Arte, levo todos os meus artistas, todos muito bons, mas hoje existe uma procura maior por Waltercio, Iole de Freitas e Carmela Gross, por terem exposto recentemente”, explica.
A presença de nomes internacionais também é uma tendência. A Galeria Leme traz o lituânio Zilvinas Kempinas, destaque da última Bienal de Veneza. Sua instalação “Lemniscate” estará exposta no 2º andar do Pavilhão da Bienal, novo espaço destinado a projetos especiais. O intuito é atrair instituições, museus e coleções corporativas interessadas em adquirir instalações artísticas, peças escultóricas e videoinstalações. Marepe, Gabriel Sierra e Marcelo Cidade são alguns dos artistas que desenvolveram trabalhos para essa sessão, obras que chegam a custar R$ 60 mil. “No ano passado vendemos para três grandes museus brasileiros e esperamos voltar a vender este ano para outras instituições”, comenta Eduardo Brandão, da Galeria Vermelho, que representa o artista Marcelo Cidade.
Assaltantes roubam obras de arte de caminhão em SP por Pedro Leal Fonseca, Folha de S. Paulo
Assaltantes roubam obras de arte de caminhão em SP
Matéria de Pedro Leal Fonseca originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 7 de maio de 2011.
Crime aconteceu em Mairiporã na rodovia Fernão Dias; carga iria para Bahia e Ceará
Um caminhão com obras de arte foi roubado às 23h30 da última terça-feira, na rodovia Fernão Dias, na altura do município de Mairiporã (a 37 km de São Paulo). O caso foi divulgado pela polícia apenas anteontem.
As peças -coletadas no Rio e em São Paulo, que seguiriam para Bahia e Ceará- incluíam trabalhos de Bruno Giorgi, Daniel Senise, Mario Cravo Júnior, Nelson Leirner, Rosângela Rennó e Tunga.
De acordo com o boletim de ocorrência divulgado pela polícia, o motorista e um ajudante foram rendidos por três homens armados em um veículo preto.
Parte do grupo rodou com as vítimas por cerca de 40 minutos no carro. Em seguida, eles foram levados para um matagal na região.
Por volta da 1h, a outra parte do bando, segundo o relato à polícia, foi até o local onde estavam as vítimas e entregou o caminhão vazio.
Em Salvador, 12 obras (de todos os artistas, menos de Rosângela Rennó) seriam entregues ao galerista Paulo Darzé, que avalia o conjunto que receberia em R$ 500 mil.
"É difícil vender essas obras. Acredito que os bandidos tenham se confundido, já que as peças estavam embaladas em caixas. Eles não deviam saber que eram quadros", afirmou.
Já a obra da fotógrafa mineira Rosângela Rennó havia sido vendida a um colecionador do Ceará pelo galerista carioca Artur Fidalgo.
Segundo ele, a fotografia é uma das mais importantes da artista. A obra faz parte da "Série Vermelha" e foi exposta na Bienal de Veneza.
Artistas de Recife deslocam eixo criativo para o Nordeste por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Artistas de Recife deslocam eixo criativo para o Nordeste
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 9 de maio de 2011.
Solares e selvagens. Essas são as palavras que uma nova leva de artistas de Recife mais usam para definir a natureza do que fazem e suas vidas na cidade que vem roubando os holofotes do saturado eixo Rio-São Paulo.
Talvez porque mesmo na época das chuvas fortes, o calor não dá um minuto de trégua. "Isso dilata, não deprime os corpos", diz o artista Aslan Cabral à Folha. "A gente tem certa selvageria."
Ele é um dos nomes mais novos a engrossar uma leva de artistas de pegada um tanto visceral que despontou em Recife. Antes dele, Rodrigo Braga, hoje no Rio, já fazia performances sugerindo uma comunhão viril com aspectos da flora e fauna locais.
Quer dizer, já costurou partes de um cachorro à própria cara, afundou em pântanos lamacentos com bodes e se cobriu de plantas e terra.
Nesse time, estão também artistas de fora que construíram seus trabalhos na capital pernambucana, como o alagoano Jonathas de Andrade, revelação que esteve na Bienal de São Paulo e foi um dos vencedores do último prêmio Marcantonio Vilaça, o gaúcho Cristiano Lenhardt e a artista paulista Violeta Cenzi.
Kilian Glasner, artista de Recife, não sente falta do movimento das metrópoles e diz que é possível montar o ateliê à beira da praia. Mas já viu que céu e mar, jangadas ao vento e outras paragens tropicais também estão ameaçados pela forte especulação imobiliária e o boom econômico que atinge a região.
"Isso que acontece aqui agora aconteceu em São Paulo há 30 anos", diz Glasner. "A gente vive um momento de grande transformação."
É um ponto contraditório na evolução da cidade, já que Recife virou ao mesmo tempo um centro regional, que atrai artistas de fora, e gira em torno do mercado concentrado no Sudeste. "É receber pessoas do entorno e orbitar centros maiores", diz o artista Jeims Duarte. "Essa ambivalência nos domina."
Domina e acelera ao mesmo tempo. Lenhardt, por exemplo, diz que é por causa do mercado de arte emergente na cidade que artistas ali têm mais liberdade, sem sofrer a pressão das grandes e mais poderosas galerias.
BRASILIDADE
Essa mesma pujança está agora em Recife numa grande mostra do Santander Cultural. Arrebanhadas por seus rastros de brasilidade, estão lá obras dos artistas mais caros no mercado de arte atual.
Adriana Varejão, Cildo Meireles, Beatriz Milhazes e Ernesto Neto são algumas grifes de um elenco estelar. Juntos, são artistas que desembarcam ali com o aval dos leilões e a fúria das feiras.
No vernissage, estavam todos esses jovens artistas recifenses, esperando a hora de entrar para a constelação.