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abril 29, 2011
Uma coleção em risco por Camila Molina, O Estado de S. Paulo
Uma coleção em risco
"Estou no escuro como você", diz Beatriz Pistrak Nemirovsky Moraes Leme, filha dos colecionadores de arte José e Paulina Nemirovsky, ambos já mortos. Hoje, ela e seus três filhos - os gêmeos Gabriel e Maria Carolina, de 20 anos, e Bettina, de 18 anos - são os únicos conselheiros da fundação que leva o nome de seus pais, depois da renúncia coletiva, na semana passada, dos outros quatro membros do conselho da entidade, até então presidida pelo arquiteto Jorge Wilheim (leia ao lado). Desestruturada por essa situação, que envolveu uma última briga judicial arrastada desde meados de março, a Fundação José e Paulina Nemirovsky, instituída na década de 1980 e detentora de uma coleção de arte avaliada em cerca de R$ 100 milhões, passa agora por um momento de indefinição até que seus novos conselheiros sejam nomeados pelo Ministério Público Estadual (MPE).
O caso chegou aos holofotes pois, mesmo que a fundação seja privada, a coleção que abriga tem caráter público. Paulina Nemirovsky assinou, em 2004, contrato de comodato, renovável, do acervo de arte com o governo do Estado de São Paulo. Assim, a entidade passou a ter como sede o segundo andar da Estação Pinacoteca, prédio do museu Pinacoteca do Estado, amplo espaço para que se fizessem mostras com obras da coleção, que tem como grande destaque o modernismo brasileiro. Também foi criada no local a reserva técnica para as 276 obras do acervo, escritório e biblioteca. No ano passado, o comodato foi renovado com a Secretaria de Estado da Cultura para até dezembro de 2020. No entanto, com essa atual situação de indefinição da entidade, algumas questões vieram à tona.
"É muito fácil falar que vou querer pegar os quadros para mim", diz Beatriz Nemirovsky. "Quero que a fundação seja vista pelo povo e quero dar mais luz a ela", continua a herdeira do casal, refutando que tenha a intenção de encerrar o contrato com a Secretaria Estadual de Cultura e tirar as obras da coleção da Estação Pinacoteca. Pelo estatuto da fundação, é possível que se desfaça o comodato caso a maioria do conselho vote essa questão. "Estão achando que vou vender os quadros, mas como vou tirar uma coisa que já é do Estado?"
Insatisfeita, segundo ela, com as atividades da fundação, Beatriz, entretanto, diz não ter ainda ideias sobre como "dar vida" à entidade. "Pensei em fazer eventos, estou estudando falar com amigos meus." A herdeira afirma que não era convocada para as reuniões do conselho e que, com a morte de sua mãe, teve a intenção de criar um fundo para a instituição, mas não foi adiante. "Contribuí com recursos, mas quando parei, senti que quiseram me afastar. Agora, com meus filhos no conselho, consegui ter uma voz", continua. Depois da nomeação dos novos conselheiros, o diretor executivo da instituição, Arnaldo Spindel, e a curadora da fundação, Maria Alice Milliet, assim como outros funcionários, garantem que também vão deixar a entidade.
"RENUNCIAMOS EM PROTESTO", DIZ WILHEIM
O curador de fundações do MPE, Airton Grazzioli, ajuizou, em março, ação de pedido de afastamento do arquiteto Jorge Wilheim e de Antonio Henrique Amaral e Antonio de Franceschi do conselho da fundação a partir de questão levantada pelos advogados de Beatriz Nemirovsky sobre a regularidade da permanência deles na entidade - segundo a representação, os conselheiros estariam no cargo há mais tempo que o permitido pelo estatuto.
"Renunciamos em protesto a uma manobra de colocar os membros natos a partir de afastamento de três conselheiros. Não concordamos com uma situação que contraria o intuito dos instituidores da fundação", diz Wilheim, referindo-se especialmente ao fato de que o estatuto da entidade não permite que a família seja maioria no conselho. Segundo o arquiteto, que também é conselheiro da Fundação Bienal de São Paulo, do Museu Lasar Segall e do Hospital Albert Einstein, a "imponderabilidade" das brigas judiciais poderia se arrastar por meses ou anos.
Wilheim também afirma que Beatriz e seus filhos sempre eram convocados às reuniões, mas não compareciam - participaram apenas no ano passado. Ele diz ainda que não concorda que o mesmo MPE que, nos anos anteriores, havia aprovado as atividades da entidade, tenha depois alegado ser o conselho ilegal. As decisões ficam para o MPE.
abril 28, 2011
Reforma da nova sede do MAC deve acabar no final de maio poe Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Reforma da nova sede do MAC deve acabar no final de maio
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 28 de abril de 2011.
Obra do antigo prédio do Detran está 85% pronta, diz engenheiro
Cerca de 300 homens trabalham intensamente para o término das reformas na nova sede do Museu de Arte Contemporânea da USP, no antigo prédio Detran.
Prometida para junho de 2009 e depois adiada várias vezes, a última para fevereiro passado, a entrega do prédio deve ser realizada no fim do próximo mês.
"Reformar um prédio dos anos 1950 e ainda tombado é muito difícil; para atender às novas regras de acessibilidade, por exemplo, precisamos realizar operações complexas, uma das razões do atraso", explica Osvaldo Padilha Júnior, engenheiro responsável pela obra na Secretaria de Estado da Cultura.
Ele estima que 85% do trabalho esteja pronto. "Dificilmente vamos ter novos atrasos", garante.
Anteontem, a Folha acompanhou uma visita do secretário de Cultura do Estado, Andrea Matarazzo, ao local. Ele e seus convidados precisaram subir a pé os oito andares do edifício, pois a eletricidade definitiva não havia sido conectada.
"Olha só essa paisagem. É um local privilegiado para ver o Ibirapuera. Será o melhor museu da cidade", disse o secretário.
A Secretaria de Cultura está gastando R$ 76 milhões na reforma do prédio, criado por Oscar Niemeyer nos anos 1950 e no qual funcionava o Detran. O próprio Niemeyer fez um projeto para o novo edifício, orçado em R$ 120 milhões, mas o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo vetou a proposta.
Foi preciso se manter fiel ao projeto original, o que levou, por exemplo, à instalação de brise-soleil (quebra-sol) em toda a fachada.
O diretor do MAC, Tadeu Chiarelli, disse à Folha que, após a entrega, serão necessários três meses para a ocupação do espaço. Com isso, a inauguração deve ocorrer em agosto ou setembro.
Sofia Borges investiga a natureza de imagens fixas por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Sofia Borges investiga a natureza de imagens fixas
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 28 de abril de 2011.
Artista recupera fotos antigas numa reflexão sobre a construção do real
Fotógrafa faz individual na galeria Virgilio agora em São Paulo e tem obras em outras três exposições em cartaz
Sofia Borges inventava narrativas torpes em fotografias que pareciam pinçadas de um teatro absurdo. Ela mesma aparecia, os olhos verdes à espreita, em cenas suspensas, como se antes ou depois de um evento que ficava sempre além do quadro.
Nas primeiras obras que fez, a artista retratava cada objeto e personagem em condições de luz e velocidade distintas, anulando espaço e tempo reais em nome de uma fantasia agreste e calculada.
Suas novas imagens, espalhadas agora por quatro exposições, três em São Paulo e uma em Porto Alegre, voltam a pensar a fotografia não como índice do real, mas uma plataforma de construção.
Importa menos o assunto do quadro e mais o grão da imagem, os alicerces dessa construção. Quase afoga o objeto retratado, seja um almirante naval nos anos 40 ou um camelo no zoológico hoje, na textura da fotografia -linhas da impressão, o pó do negativo, falhas digitais.
Sai de cena o teatro de antes para dar lugar a um movimento quase pendular entre dentro e fora do quadro, uma imagem fixa e sua substância que brigam no mesmo plano.
Borges abandona a força da fotografia e mergulha em texturas sedutoras, como se buscasse o gesto da pintura, o grão do pigmento equiparado às transformações químicas de um quarto escuro.
"Essas coisas mais se apresentam do que se aprofundam, tudo se mostra, mas nada vai além", diz Borges, 27.
"São fotos para desestabilizar a leitura, deslizantes, que não se encaixam muito."
Na galeria Virgilio, onde faz agora uma individual, ela se apropria de uma imagem de duas pepitas de ouro, uma bruta e outra polida, que encontrou numa enciclopédia.
É como se desse ali a base para o percurso de ida e volta na arquitetura de suas imagens, do estado bruto ao lapidado.
Um garoto observando um cenário de bichos pré-históricos no Museu de História Natural de Nova York, imagem dos anos 40 fotografada agora, também dá a dimensão de construção em curso, como se importasse menos o autor da foto e mais seu contexto.
VINTAGE INSTANTÂNEO
Nesse ponto, Borges não está distante da onda vintage que varre o cenário da fotografia contemporânea, com filtros instantâneos até nos celulares para dar cara de anos 70 a flagras furtivos da balada ou da fila do banco.
Mas parece atravessar essa sintonia aparente buscando raízes nas convenções da pintura, ancestral da imagem fotográfica que volta a ganhar valor em tempos de Photoshop instantâneo.
Numa mostra que abre no Rio, no mês que vem, por exemplo, ela recorta pedaços da paisagem construída de um museu de história natural, reconfigurando tudo à luz do pré-impressionismo.
"Eu amoleço ou endureço as fotos, deixo que escapem", resume a artista. "Pego o material bruto, amoleço e tiro da narrativa possível."
abril 26, 2011
Verba de obra de Barrio para mostra segue indefinida - Agência Estado, O Estado de S. Paulo
Verba de obra de Barrio para mostra segue indefinida
Matéria da Agência Estado originalmente publicada no caderno de cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 26 de abril de 2011.
Ainda está indefinida a situação da obra do artista Artur Barrio na 54.ª Bienal de Veneza, a ser inaugurada em 1.º de junho. Barrio, escolhido para representar oficialmente o Brasil na mostra italiana, recebeu ontem comunicado dos produtores de sua obra dizendo que não havia previsão da Fundação Nacional de Artes (Funarte) para a liberação dos recursos para sua participação na Bienal.
"Estou atônito. Mais uma vez, na teoria as coisas acontecem, mas na prática, nada", disse o artista, que vive no Rio. Por sua previsão, conta, ele viajaria neste domingo para a Europa para realizar a instalação inédita (Ex) Tensões....y.....Pontos no Pavilhão Brasil nos Giardini de Veneza.
Em 29 de março, a Funarte anunciou que custearia diretamente a obra de Barrio devido a mudanças legislativas. Segundo nota da entidade, "o processo por meio do qual se dará o apoio já tramita internamente na Funarte". "No momento, a instituição aguarda documentação do artista para a formalização do apoio", diz ainda a Funarte. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Após despejo, IAC vai levar acervo para prédio da PUC por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Após despejo, IAC vai levar acervo para prédio da PUC
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 26 de abril de 2011.
Museu deixa edifício da USP na rua Maria Antonia e deve ocupar depósito provisório até escolher novo local
Despejado do prédio da USP que ocupa desde 2007, o Instituto de Arte Contemporânea fechou um contrato com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e já está de mudança para um imóvel do novo parceiro.
É um desfecho da crise na instituição desde que o reitor da USP, João Grandino Rodas, despejou o IAC de sua sede no prédio Joaquim Nabuco, na rua Maria Antonia, em novembro passado.
Desde então, o IAC buscava um novo endereço para abrigar seu acervo de 17 mil documentos históricos sobre artistas como Sergio Camargo, Amilcar de Castro, Willys de Castro e Mira Schendel.
Uma tentativa de transferir o museu para um casarão da Secretaria de Estado da Cultura na avenida Higienópolis não foi adiante por questões burocráticas e acabou sendo descartada pelo IAC quando a PUC confirmou seu interesse em receber o museu.
"Num primeiro momento, é um contrato de comodato sem maiores cláusulas e definições", disse o presidente do IAC, Pedro Mastrobuono, à Folha. "Foi para diminuir o atrito judicial com a USP e ter um novo endereço para destravar projetos paralisados."
Duas ações judiciais da USP contra o IAC ainda tramitam na Justiça. Desde que ficou sem sua sede oficial no centro de São Paulo, o museu teve seus projetos em análise suspensos no Ministério da Cultura e não pode acessar suas contas bancárias.
"Isso gerou um quadro de asfixia financeira, mas com o novo endereço podemos destravar os projetos", disse Mastrobuono. "A PUC já está disposta a nos abrigar em um depósito provisório, vamos sair imediatamente da USP."
No novo endereço, o IAC deve estreitar laços com o curso de preservação e restauro da PUC, concretizando um dos planos de Mastrobuono à frente do museu, que era tornar a instituição um centro de formação de profissionais de preservação.
Mastrobuono está tentando firmar convênios agora também com instituições estrangeiras especializadas em restauro, como a Universidade de Amsterdã, o instituto Amolf e o Museu Van Gogh.
Enquanto isso, a USP voltará a ocupar o prédio que foi reformado pelo IAC, um investimento de R$ 5 milhões financiados pela instituição.
Procurada pela reportagem, a USP não quis se manifestar sobre o assunto, mas declarou que pretende usar o edifício Joaquim Nabuco para "atividades de cultura e extensão da universidade", como exposições do acervo dos museus universitários.
abril 25, 2011
Rafael Campos Rocha pede uma licença poética a Deus por Diana Moura, Jornal do Commercio
Rafael Campos Rocha pede uma licença poética a Deus
Matéria de Diana Moura originalmente publicada no caderno de cultura do Jornal do Commercio em 1 de abril de 2011.
Mostra de cartuns e vídeos do artista é inaugurada no Mamam no Pátio
Se você tivesse o poder de recriar Deus, como você o faria? Ou, melhor dizendo, qual a imagem que o Todo-Poderoso tem para você? Para o cartunista paulista Rafael Campos Rocha deus é uma negra, bissexual, totalmente liberada, casada com um cara cuca fresca chamado Carlos. Com personagens de caráter pouco convencional, para dizer o mínimo, os quadrinhos do artista são publicados no seu blog, no fanzine eletrônico O poder do pensamento negativo – Como destruir a sua vida e das pessoas que você ama em duas lições, na revista Piauí, na Folha de S. Paulo e em outros veículos Brasil a fora. Hoje, ele inaugura uma mostra no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães no Pátio de São Pedro, com a exibição de cartuns e vídeos. Todos professam a liberdade de pensamento como matéria-prima para histórias tão divertidas quanto inusitadas.
Segundo o próprio artista, a exposição que acontece no Recife é um registro do seu trabalho, que, na verdade, acontece na internet. “A ideia é falar mal. Não tenho preferência por cor, credo, raça, preferência sexual. Detesto todos igualmente, inclusive a mim mesmo”, avisa Rafael, que é personagem de algumas de suas criações.
Para ver a exposição apresentada pelo cartunista, o público deve ir de espírito desarmado. Primeiro porque as histórias exigem desprendimento em relação às verdades que cercam o mundo e são incutidas nas pessoas desde o nascimento. Depois, porque senso de humor e vontade de se surpreender é algo essencial para aproveitar as criações de Rafael.
Sujeitos muito suscetíveis certamente vão ficar chocados. E também vão deixar de aproveitar os deliciosos vídeo-textos do artista sobre arte e futebol. Crítico de arte – ênfase no crítico –, Rafael consegue tecer relações inteligentes entre mestres da arte a gênios do futebol. De Lionel Messi, ele disse, comparando o jogador ao pintor polonês Wilhelm Sasnal: “Perto dele, a simplicidade de Volpi parece uma afetação. (...) Seus dribles têm a soberania do corpo sobre a mente, da técnica sobre a história”.
Morre em Lisboa o curador de arte Paulo Reis por Mauro Ventura, O Estado de S. Paulo
Morre em Lisboa o curador de arte Paulo Reis
Matéria de Mauro Ventura originalmente publicada no caderno de cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 25 de abril de 2011.
Um magnífico curador, um entusiasta da arte e um grande amigo. Assim Paulo Reis foi definido pelo crítico e curador David Barro, com quem fundou a revista "Dardo", na Espanha, dedicada à arte contemporânea. Uma opinião compartilhada pelo mundo das artes plásticas.
- Ele era um sujeito enorme - conta o artista plástico José Bechara, dizendo-se muito "chocado e comovido" com sua morte, aos 50 anos.
Desde 2005, o carioca Reis morava em Portugal, onde criou em 2009 em Lisboa com dois amigos o Carpe Diem - Arte e Pesquisa, uma instituição instalada no Palácio Marquês de Pombal direcionada para a produção e realização de exposições, além da organização de conferências e master classes. "Arte e pesquisa' é o mote de nosso projeto. Aliar a criação que deriva de um pensamento de arte ao pensamento sobre a própria arte", definia. Sobre a gratuidade das ações, justificava dizendo que recebia apoio do governo e, portanto, tinha dever ético com o dinheiro público. Achava estranho produtores e instituições receberem apoio estatal e cobrarem ingresso e lucrarem. "E, na primeira oportunidade que aparece, não se inibem de falar mal do Estado. É uma vergonha, é indecente, é imoral", disse ao site Artecapital.
Segundo o ensaísta António Pinto Ribeiro, ele era um "verdadeiro embaixador cultural entre os artistas e os curadores" de Brasil e Portugal. Seu trabalho foi importante para a internacionalização de vários artistas brasileiros na Europa, como foi o caso do próprio Bechara.
- Ele construiu um trabalho muito sólido. Gostava de abrir caminhos, expandir territórios. Era um investigador incansável da produção dos artistas, fossem eles jovens ou consagrados. Seu trabalho deu uma contribuição notável para a circulação pública e internacional dos artistas - diz ele. - Todo mundo perde muita coisa com Paulo. Era um homem bom e uma pessoa muito generosa e gentil.
A última grande exposição sob sua responsabilidade foi a "Paralela 2010", em São Paulo, no ano passado.
Professor, curador e crítico de artes plásticas, Paulo Reis morreu no fim da tarde de sábado, no Hospital Egas Moniz, em Lisboa. Em fevereiro último, teve uma pneumonia que se complicou com uma tuberculose. O funeral será nesta segunda-feira às 15h e a cremação, às 16h, em Lisboa.
Nomes da nova geração recriam cotidiano bizarro em mostra por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Nomes da nova geração recriam cotidiano bizarro em mostra
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 25 de abril de 2011.
Coletiva na Millan tem pinturas, desenhos e fotos de 15 artistas
É um cotidiano atravessado o da nova geração de artistas no país. Numa exposição coletiva agora em cartaz na galeria Millan, parece surgir um mundo ao mesmo tempo banal e contraditório, um estado escorregadio das coisas.
São todos autores que despontaram no circuito depois da virada do século, mergulhados ainda num espírito de mudança longe de se fixar como uma escola ou estilo.
Têm em comum só a ideia de extrair da rotina os grãos de estranheza, sem grandes pretextos, só porque sim.
Nas pinturas de Rodrigo Bivar e Rafael Carneiro e nos desenhos de Tatiana Blass, parece haver uma investigação de imagens passageiras.
Enquanto Carneiro recria a cena de um filme a partir de um fotograma do vídeo, Bivar revê uma tarde na praia com ar grotesco e pegajoso.
Matheus Rocha Pitta, com sacos de sal grosso que lembram pacotes de cocaína, e Rodrigo Matheus, com aparelhos de ar-condicionado fake, questionam a violência entranhada na rotina morta e sem rumo das cidades.
"Queremos uma renovação total", diz Bia Nemirovsky por Silas Martí, Folha de S. Paulo
"Queremos uma renovação total", diz Bia Nemirovsky
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 23 de abril de 2011.
Após renúncia de conselheiros, herdeira da coleção de arte moderna diz que era ignorada por gestão antiga
Nemirovsky pediu ao MP que afastasse o ex-presidente da fundação, Jorge Wilheim, que se "perpetuava no poder"
Dois dias depois da renúncia dos conselheiros eleitos da Fundação Nemirovsky, que tem uma das maiores coleções de arte moderna no país, a herdeira das obras disse à Folha que ficou "muito feliz" com a saída coletiva.
"Queremos uma renovação total, porque todos que estão lá faziam parte do complô para nos excluir", disse Beatriz Nemirovsky, 45. "Não conhecia os conselheiros, nem tinha voz. Não é justo, sou a herdeira, a filha de quem criou tudo isso, e não me consultam para nada."
Na última terça-feira, deixaram a fundação os conselheiros Antonio Henrique Amaral, Antonio de Franceschi e Jorge Wilheim, que presidiu a instituição por dois mandatos e acabara de se reeleger para um terceiro.
Nemirovsky pediu que o promotor Airton Grazzioli, curador de fundações do Ministério Público paulista, entrasse com ação judicial há dois meses pedindo o afastamento de Wilheim, alegando que, segundo o estatuto da fundação, conselheiros podem ter só dois mandatos.
No mês passado, foi concedida uma liminar determinando a saída do presidente e dos demais, que renunciaram agora a seus cargos.
"Jorge Wilheim queria se perpetuar no poder; estava quase querendo mudar o nome da fundação", disse Nemirovsky. "Ele quebrou as regras. É uma violação e uma falta de respeito comigo e com minha falecida mãe."
Paulina Nemirovsky, que construiu a coleção ao lado do marido José Nemirovsky, havia escolhido Wilheim para a presidência da fundação antes de morrer, em 2005.
Com a saída dele e dos demais conselheiros, Grazzioli e o juiz do caso, Luis Augusto de Sampaio Arruda, deverão indicar novos nomes para a fundação, que agora tem no conselho Beatriz Nemirovsky e seus filhos -gêmeos de 20 anos e uma jovem de 19.
Desde 2004, a coleção Nemirovsky, com cerca de 200 obras, está cedida em comodato à Secretaria de Estado da Cultura, que exibe os trabalhos em caráter permanente na Estação Pinacoteca.
Entre os destaques do acervo estão a tela "Antropofagia", de Tarsila do Amaral, e obras de modernistas brasileiros, como Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi e Ismael Nery. Trabalhos de Hélio Oiticica e Lygia Clark também integram o conjunto, além de duas obras do artista espanhol Pablo Picasso.
Crise na Fundação Nemirovsky arrisca trabalho exemplar por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Crise na Fundação Nemirovsky arrisca trabalho exemplar
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 22 de abril de 2011.
Renúncia dos conselheiros da instituição foi motivada por pedido de afastamento do presidente Jorge Wilheim
As obras da coleção cumpriram o objetivo de José e Paulina Nemirovsky de circular o mundo
É temerário o futuro da Fundação Nemirovsky. A renúncia dos cinco conselheiros eleitos, na última quarta, colocam em xeque um trabalho exemplar de preservação de uma coleção única do modernismo brasileiro.
Especialmente desde que se instalou na Estação Pinacoteca, em 2004, a Fundação, sob a presidência de Jorge Wilheim e a direção-executiva de Maria Alice Milliet, organizou não só excelentes mostras, como também catálogos referenciais -como "Mestres do Modernismo", da exposição inaugural do convênio com a Pinacoteca.
As obras da coleção ainda circularam o mundo, cumprindo o objetivo de José e Paulina Nemirovsky ao torná-las públicas.
A crise que se inicia agora parte de uma leitura do estatuto da fundação, segundo o qual os membros eleitos não poderiam ter mais de dois mandatos, o que Wilheim teria violado ao se tornar presidente pela terceira vez.
No entanto, a ação do promotor e curador de fundações do Ministério Público Estadual, Airton Grazzioli, em prontamente pedir o afastamento de Wilheim aparenta-se um tanto precipitada.
Afinal, foi ele quem manteve o então presidente da Bienal de São Paulo, Manuel Francisco Pires da Costa, que assumiu ter violado os estatutos da Bienal ao contratar parentes para prestar serviços à instituição, em 2007.
INCOERÊNCIA
Estranho, então, que um presidente, Pires da Costa, que assumidamente violou os estatutos, seja mantido no cargo, levando a Bienal para o buraco, enquanto com outro, Wilheim, sobre o qual não pairam dúvidas de má gestão, a ação tenha sido tão enérgica.
Na própria Bienal de São Paulo, há dois anos, quando Heitor Martins assumiu, o promotor conseguiu uma fórmula para manter a mulher do presidente, Fernanda Feitosa, utilizando o pavilhão da Bienal para sua feira de arte, o que contraria os estatutos da instituição.
Agora, com a renúncia coletiva, Grazzioli anuncia que pretende indicar os novos membros. Sabe-se que foi a própria criadora da fundação, Paulina Nemirovsky, quem indicou Wilheim e colocou Milliet na diretoria.
Os futuros nomes terão a mesma legitimidade? O Ministério Público corre o risco de, depois de quase acabar com a Bienal, colocar em risco uma da melhores coleções modernas do país.
Projeto de Vik Muniz no Rio será estatizado por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Projeto de Vik Muniz no Rio será estatizado
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 25 de abril de 2011.
Artista deixa Semana de Arte e donos da marca repassam evento ao governo
Ideia original era levar obras de arte a pontos famosos do Rio, mas novo organizador não tem detalhes do projeto
Depois que desentendimentos entre empresas responsáveis fizeram naufragar a Semana de Arte do Rio, projeto de Vik Muniz que levaria obras de 16 artistas a lugares públicos da cidade, o detentor da marca tenta repassar o evento para o Estado do Rio.
"Cresceu demais aquele projeto, ficou grande demais e a gente achou que teria prejuízos", disse à Folha Guilherme Magalhães, diretor da Nau, a produtora que ficou com os direitos sobre a marca. "Estamos fazendo uma doação disso para o Estado para não ter sobressaltos nem confusão de verbas."
No caso, são R$ 20 milhões de orçamento para bancar uma megaestrutura, tentativa do Rio de fazer frente à Bienal de São Paulo, segunda maior mostra de arte no mundo e mais importante evento do tipo no país.
Mas nada está decidido e desavenças entre organizadores jogam uma sombra de dúvida sobre o evento. Segundo a secretaria estadual da Cultura do Rio, "até o momento tudo que houve foram sondagens, as conversas estão muito embrionárias".
POUCOS DETALHES
Magalhães, vice-presidente da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, diz que está tentando integrar os espaços expositivos da escola e a Casa França-Brasil ao roteiro de sua Semana de Arte.
Mas se o plano original era montar instalações de artistas estrelados como o dinamarquês Olafur Eliasson, o sul-africano William Kentridge e as brasileiras Adriana Varejão e Beatriz Milhazes em pontos famosos do Rio, poucos detalhes sobre o novo projeto estão definidos.
"Tentei fazer isso e não consegui", disse Vik Muniz, autor do projeto original, à Folha. "Agora vão buscar outro curador e fazer do jeito que eles querem fazer."
Enquanto a nova Semana de Arte não sai do papel, Muniz e sua namorada, Malu Barreto, estão fundando uma organização de interesse social, a Arte em Trânsito, para produzir algo próximo do que seria a ideia original.
Chamada Mostra de Arte Pública do Rio, deve reunir os mesmos nomes nos mesmos moldes, mas ainda não tem data para acontecer.
Norman Foster fará maratona do artista no Rio
Enquanto não se concretizam os planos mais ambiciosos de Vik Muniz, já está confirmado para agosto, no Rio, um dos eventos que fariam parte de sua Semana de Arte.
Pela primeira vez no Brasil, o curador suíço Hans Ulrich-Obrist, da Serpentine, em Londres, fará uma de suas famosas maratonas de entrevistas.
Nos encontros que vem fazendo pelo mundo, Ulrich-Obrist reúne artistas, curadores e outras personalidades para entrevistas em série, chegando a durar 48 horas, em geral sobre um tema comum.
No Rio, ele vai falar sobre o futuro das cidades com o arquiteto britânico Norman Foster e também deve entrevistar a dupla de artistas Gilbert & George, um dos maiores nomes da arte do Reino Unido.
Serão 50 convidados no total, divididos entre 30 brasileiros e 20 de fora.
Muitas das entrevistas de maratonas passadas já estão publicadas no Brasil em livros que saíram pela editora Cobogó, que compilou suas conversas com Yoko Ono, Merce Cunningham, Robert Crumb, Jeff Koons e brasileiros como o curador Walter Zanini e o poeta Augusto de Campos.
Segundo Malu Barreto, namorada de Muniz e produtora do evento ao lado da espanhola Isabela Mora, os demais nomes da maratona carioca não estão confirmados, mas Ulrich-Obrist já tem em mente outros brasileiros que pretende entrevistar.
Entre os nomes dessa nova leva de conversas, estão o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, do Oficina, e os músicos Tom Zé e João Gilberto. (SM)