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março 19, 2011
Projeto aprovado pelo MinC prevê R$ 600 mil só para Bethânia por Bernardo Mello Franco, Folha de S. Paulo
Projeto aprovado pelo MinC prevê R$ 600 mil só para Bethânia
Matéria de Bernardo Mello Franco originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. paulo, em 18 de março de 2011.
O orçamento do futuro blog de Maria Bethânia, aprovado pelo Ministério da Cultura, reserva para ela um cachê de R$ 600 mil pela "direção artística" do projeto.
O valor equivale a 44% do total de R$ 1,35 milhão que a cantora foi autorizada a captar em dinheiro de renúncia fiscal, via Lei Rouanet.
Ela informou ontem, por meio de assessoria, que mantém a decisão de não fazer comentários sobre o assunto.
A remuneração está prevista no orçamento que Bethânia entregou à Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, responsável pela escolha dos projetos a serem beneficiados pela lei.
O documento, obtido pela Folha, apresenta a cantora como a única responsável pelas atividades de "direção artística, pesquisa e seleção de textos e atuação em vídeos" do blog de poesia.
Três páginas adiante, uma planilha de custos fixa em R$ 600 mil a remuneração do "diretor artístico" -no caso, a própria cantora.
O orçamento diz que o valor equivale a um salário de R$ 50 mil, a ser pago nos 12 meses de duração do projeto.
O cachê reservado a Bethânia supera os R$ 467 mil que ela planeja gastar com produção, edição e legendagem dos vídeos que ela promete veicular diariamente.
No pedido de verba, a produtora Quitanda Produções Artísticas classifica o blog como revolucionário:
"Em meio a tantos absurdos do mundo moderno, a tantos problemas que cercam a vida de todos, nos propomos a revolucionar a vida cotidiana de cada um."
A captação dos recursos foi autorizada esta semana, como noticiou anteontem a coluna Mônica Bergamo.
Ontem, a reportagem teve acesso a dois pareceres do ministério que embasaram a decisão. O último relata "ajustes orçamentários" na proposta original, que previa captar R$ 1,79 milhão.
A pasta não informou os itens afetados pelo corte de R$ 440 mil. Em nota, afirmou que isso só pode ser checado mediante pedido de vista do processo, em Brasília.
Incluindo o blog, o ministério já autorizou Bethânia a captar R$ 10,5 milhões para seis projetos culturais desde 2006. Por problemas no sistema de acompanhamento virtual da pasta, não era possível saber ontem a quantia que ela chegou a arrecadar.
Programa Metrópolis sobre a retrospectiva de Leonilson “Sob o Peso de Meus Amores” no Itaú Cultural
Crítica de arte e biógrafa Lisette Lagnado comenta a retrospectiva “Sob o Peso de Meus Amores” que reúne 300 obras do artista plástico no Itaú Cultural. O programa traz também depoimentos do jornalista Yan Fjeld, do artista Sergio Romagnolo e do jornalista e crítico de arte Fabio Cypriano.
Lisette Lagnado:
"Como se não houvesse uma coerência, como se um artista moderno por excelência devesse fazer uma opção por um material, por um suporte ou por uma questão e não era o caso dele. Então, você pergunta se ele tem uma atualidade hoje; eu acho que tem, sobretudo porque ele ficou sozinho. Ele é um artista que surge na Geração 80 junto com um bando de outros pintores, mas ele é o único que permanece; justamente, eu diria, por ter se distanciado dessa questão do mercado e por ter olhado essa questão interior dele, que em 89 é como nomear essa doença. Como nomear a AIDS, como falar disso, como falar de uma coisa que torna você o sujeito mais perigoso porque você é contaminado."
...
"A década de 80, que é uma década maldita, em muitos sentidos, não só por causa do boom do mercado - parece que todos os artistas eram fúteis, como se eles só pensassem no sucesso. E Leonilson vive essa passagem: ele é um sucesso e ele vê a decadência dessa geração Yuppie."
Referência:
LAGNADO, Lisette. Leonilson: São tantas as verdades. São Paulo: DBAM, 1998.
AGENDA DE EVENTOS
Leonilson - Sob o Peso dos Meus Amores, curadoria de Bitu Cassundé e Ricardo Resende, no Instituto Itaú Cultural, de 17/03/2011 a 29/05/2011
english
março 18, 2011
Muito barulho por nada por Alinne Rodrigues, O Povo
Muito barulho por nada
Matéria de Alinne Rodrigues originalmente publicada no caderno Vida & Arte do jornal O Povo em 16 de março de 2011.
Neste polêmico início da gestão Ana de Hollanda, um contrato assinado ainda no ano passado gera discussão entre os artistas: a Google agora paga ao Ecad pelos direitos autorais dos vídeos executados no YouTube
Em novembro do ano passado, quando o acordo foi firmado, não houve alarde. Desde 2007, quando o YouTube ganhou sua versão nacional, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) tentava com a Google uma forma de repassar para seus afiliados os valores pelas suas execuções no site de vídeos. Contrato assinado, o órgão recebeu o retroativo (de 2007) até junho de 2010, e, em junho próximo, chega o montante referente ao semestre de julho a dezembro do ano passado.
A situação veio à tona com a publicação de um artigo assinado por Ronaldo Lemos, fundador do site Overmundo e ex-presidente do iCommons (2006 a 2008), organização que cuida do compartilhamento de conteúdo on-line. O link do site da revista Trip está circulando fortemente no Twitter, e os comentários dos leitores não param de aumentar. O tom do texto é inegavelmente revoltante: o Ecad recebe por todos os vídeos postados no YouTube, inclusive pelo da sua banda, então você tem o direito de receber. Bom, na verdade, não é bem assim.
“O que o Ecad cobra é pelo repertório protegido, não por tudo que é tocado, então é errado pensar que o Ecad fica com a parte do dinheiro que era seu”, explica o gerente executivo de distribuição do Ecad, Mário Sérgio Campos. “Quando o usuário, no caso, a Google, paga, paga para utilizar qualquer música licenciada pelo Ecad. É uma licença em branco para usar qualquer música protegida, uma ou todas. Se você fez uma música, colocou no YouTube, mas sua música não é protegida, a gente não cobra pela sua música”, descreve.
O controle do que é postado no site é feito pela própria Google, que envia relatórios detalhados de tudo o que foi executado. “Isso é responsabilidade de quem paga. Por contrato, eles se comprometeram a passar as informações fidedignas”. Com esse relatório, o escritório faz uma amostragem de 10 mil execuções e repassa aos artistas – e vale ressaltar aqui que, pelo menos por enquanto, ninguém vai ficar milionário com o que ganhar no YouTube, uma vez que o Ecad recebe 2,5% da receita do site no Brasil, percentual considerado tímido pelo órgão.
O problema é que essa amostragem não é aleatória, mas direcionada aos artistas que possuem mais execuções. “É inviável pagar para todas, porque o valor arrecadado não são tão significativos. A receita de Internet ainda é muito pequena, não chega a um 1% da arrecadação total do Ecad. Se formos distribuir, vamos pegar um dinheiro que já é muito pequeno e dividir entre compositor, intérprete, músico, editora...”, justifica Mário Sérgio.
Cada meio de comunicação possui uma forma específica de arrecadação, quase todas por amostragem. No rádio, por exemplo, 200 mil execuções são pagas a cada três meses, escolhidas na programação das emissoras. “A gente grava dias da programação da rádio, e todas as músicas que fazem parte recebem. Tocou mil vezes ou uma vez vai receber. Como na Internet você não tem o tempo, a gente pega as mais executadas”.
Se você é um artista afiliado e não tem tantas execuções no YouTube quanto Caetano Veloso, vai acabar ficando de fora da arrecadação. Segundo o advogado autoralista e professor universitário Fábio Barros, é possível recorrer e exigir a sua parte. “Se hoje tocar uma música do John Lennon na TV, se for uma execução somente hoje, certamente esse dinheiro não vai para o John Lennon, vai para a Ivete Sangalo, porque ela está acima dele no ranking. Esse critério não é decidido por lei, então a gente tem de ser mais crítico. Quem está por fora pode cobrar da justiça. Se tiver provas de que foi executada, mesmo que em um número ínfimo, pode questionar. O Ecad arrecada até pelo que não é executado e isso é abusivo”.
Por fim, ainda resta uma questão. Fazer o upload de um vídeo gravado em um show agora deixa de ser ilegal, uma vez que o artista pode receber pelo direito autoral? “Upload não é pirataria. Pirataria visa ao lucro, então, em princípio, é um ilícito civil, porque o vídeo é disponibilizado sem a autorização devida. É algo errado, mas não é criminal”, finaliza Fábio.
Autores com maior rendimento
1 - Caetano Veloso
2 - Chico Buarque
3 - Djavan
4 - Gilberto Gil
5 - Roberto Carlos
6 - Jorge Ben Jor
7 - Vinicius de Moraes
8 - Erasmo Carlos
9 - Herbert Vianna
10 - Rita Lee
Músicas mais executadas
1 - Noites com sol, Flávio Venturini
2 – Maresia, Adriana Calcanhotto
3 - Boa sorte (Good Luck), Vanessa da Mata e Ben Harper
4 - Devolva-me, Adriana Calcanhotto
5 – Celebration, Madonna
6 - All out of love, Air Supply
7 - Brincar de viver, Maria Bethânia
8 – Relicário, Cássia Eller e Nando Reis
9 – Esqueça, Daniela Mercury
10 - Os alquimistas estão chegando, Jorge Ben Jor
março 17, 2011
Exposição reúne várias vertentes do artista cearense Leonilson por Silas Martí, Folha.com
Exposição reúne várias vertentes do artista cearense Leonilson
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha.com
Numa pintura de 1989, Leonilson construiu uma cartografia de rios que deságuam num círculo vermelho, entre eles o Tietê, o Paranapiacaba e outros braços que se chamam "Confusão", "Olhar Fundo", além de um lago azul de nome "Desejo".
Veja galeria de fotos com obras de Leonilson
Se fosse um autorretrato, algumas veias no mapa seriam Bispo do Rosário e Lygia Clark. Ele, pela loucura que guia a agulha nos traços e palavras dos bordados. Ela, pela dimensão cromática e do corpo que soube arquitetar com potência em sua obra.
Na exposição que o Itaú Cultural abre no próximo dia 16, em São Paulo, essas múltiplas vertentes da obra do artista aparecem costuradas pela leitura de seus trabalhos como repetidas e duras manifestações autobiográficas.
Leonilson, agora na maior mostra já dedicada à sua obra, é visto como o produto sofrido da solidão em mais de 300 trabalhos que construiu em sua curta carreira, abreviada pela morte aos 36 anos, por causa da Aids.
DESPEDIDA
Embora descrito como sujeito "sempre apaixonado" pelo curador da mostra Ricardo Resende, essa leitura do artista abalado pelo peso do mundo também ressurge na retrospectiva como ser fragmentário, um neorromântico que foi ao mesmo tempo espelho de sua época.
No momento em que abandona, por uma alergia aos pigmentos, as pinturas em grande escala, que o fizeram despontar na chamada geração 80 ao lado de figuras como Leda Catunda e Sergio Romagnolo, Leonilson fez como espécie de despedida o trabalho dos rios, em que se colocou no centro de um forte turbilhão de influências.
Depois disso, sua obra se volta para pequenos desenhos e bordados delicados, que desafiam a escala dos espaços expositivos.
Não por acaso, esse momento é 1989, ano da queda do Muro de Berlim, do fim das utopias e perto da descoberta da doença que tiraria sua vida --ele chegou a se referir à Aids como "peste".
CRONISTA DA ÉPOCA
Tem uma coisa solene na obra dele", diz à Folha a curadora Lisette Lagnado, autora de "São Tantas as Verdades", livro que virou referência sobre o artista. "Mas, de fato, a atmosfera dessa época transparece no que ele vai escrever, no que estava acontecendo, ele foi um cronista."
Lagnado chama esse período de "grande ressaca" que veio depois do desbunde das conquistas sociais e políticas dos anos 80, de uma democracia em construção e seus valores mais flexíveis.
Na obra de Leonilson, são trabalhos como o bordado em que escreve numa fronha a palavra "ninguém". Ou a peça em que costura quatro quadrados de cor que chama de cheios e vazios, como um pulmão que respira movido por intervalos cromáticos.
"Não deixa de ser um retrato do corpo do artista, a respiração, algo que fala sobre estar vivo", diz o curador Ricardo Resende. "Ele foi muito solitário, tímido, mas essa solidão é também um espelhamento do homem contemporâneo, são sentimentos que tocam todos."
De fato, Leonilson se via um pouco com o rosto de sua época mais do que o homem específico que sofria em carne viva.
No trabalho mais antigo da mostra, um autorretrato, constrói uma caixa de madeira com tampo de vidro. Deixa ver dentro um pedaço de feltro com a inscrição "Mirro", referência à palavra francesa para "espelho".
É como se ele fosse ao mesmo tempo esse "homem contemporâneo", com o rosto anônimo de quem vê a obra.
"Por isso eu defendi com muito ardor o trabalho dele", lembra Sheila Leirner, que escalou Leonilson para a Bienal de São Paulo em 1985. "Senti que tinha uma grande verdade no trabalho dele."
Obra montada pela primeira vez naquela Bienal, "A Grande Pensadora" será reconstruída agora para a mostra do Itaú Cultural. É um símbolo do infinito estampado no chão, um globo terrestre sobre uma base encimado ainda por uma biruta que mostra a direção dos ventos.
Deixa ver que nas pinturas, nos desenhos e nos bordados, Leonilson se deixou levar por vários entroncamentos e rotas desde o início.
Poética da vida por Ana Cecília Soares, Diário do Nordeste
Poética da vida
Matéria de Ana Cecília Soares originalmente publicada no caderno 3 do jornal Diário do Nordeste em 12 de março de 2011.
A exposição "Sob o Peso dos Meus Amores" exibe mais de 300 obras, muitas inéditas, do artista visual Leonilson. A mostra abre na próxima quarta no Itaú Cultural de São Paulo
Uma poética traçada pelo desejo (quase uma necessidade), de captar a essência da vida. Costurada em meio a fragmentos íntimos de um homem e de um artista movido a pulsão irreprimível de criar. Em Leonilson a arte se transforma em puro sentimento, luminoso, sincero e apaixonante. Sem máscaras e sem rodeios.
O artista compôs trabalhos autobiográficos, povoados por afetos, palavras, poesia, desenhos, pinturas, bordados e instalações. Elaborou uma espécie de arquivo de vida utilizando sua produção como suporte, além de outros mecanismos que também serviam a catalogação de seu cotidiano, a exemplo de: agendas, diários, cadernos e fitas gravadas.
Na década de 80, Leonilson fez parte da geração que revolucionou o meio artístico brasileiro com a retomada da pintura. Mas, é nos primeiros anos da década de 90, que ele se firma como um de nossos destaques no panorama cultural com uma obra contundente, debruçando-se sobre os dramas e as angústias do homem contemporâneo por meio de uma produção que tinha nos traços e tonalidades delicadas dos desenhos e fragilidade dos bordados sobre tecidos como o voile, uma nova temporalidade para sua obra.
Retrospectiva
Diante de um universo tão amplo, os curadores Bitu Cassundé e Ricardo Resende, que também coordena o Projeto Leonilson, desde 1996, vêm se dedicando há seis meses a curadoria da exposição "Sob o peso dos meus amores", que abre no próximo dia 16, no Itaú Cultural, na cidade de São Paulo.
Segundo Cassundé, a mostra, que recebe o nome de uma das obras do artista, conta com mais de 300 trabalhos, instalação, debates e a oficina de animação Click Play, para crianças, onde elas aprenderão a criar personagens em stop motion e produzir vídeos inspirados nas obras da exposição.
Paralelo a mostra haverá a apresentação dos espetáculos de dança "O tempo da paixão ou O desejo é um lago azul" (2004), da Companhia da Arte Andanças de Fortaleza, coordenada pela coreógrafa Andréa Bardawil; e "El Puerto" (2006) e "Dedicate" (2010), de Marcos Sobrinho, todos eles inspirados na produção de Leonilson.
A mostra também se expandirá para fora do espaço Itaú Cultural. A partir do dia 20 de março, será remontada a instalação "Sobre duas figuras" (1993), mais conhecida como "Capela do Morumbi", o local onde foi projetada pela primeira vez. Essa é uma obra póstuma que não chegou a ser vista pelo autor, que faleceu pouco antes.
"A exposição tem como eixo temático alguns aspectos estudados por mim na minha dissertação de mestrado. Assim, Ricardo e eu buscamos explorar como a palavra se localiza na obra de Leonilson, a forte ligação taxinômica em sua produção, e a ideia da obra como um grande arquivo, como a vida foi projetada e construída nela", explica o curador Bitu Cassundé.
Para Ana Lenice, irmã do artista e diretora do Projeto Leonilson, a exposição é resultado da parceria da instituição com o Itaú Cultural. "O Itaú estar digitalizando nosso material impresso. A parceria já faz um ano. A exposição traz muitas novidades, até mesmo para mim. Há muitas obras que só tinha visto por fotografias, como dois desenhos de Leonilson que vem do MoMA de Nova York. Há também obras dos acervos do Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, Museu de Arte Moderna de São Paulo e de colecionadores particulares. Vejo a exposição com muita emoção", diz.
A amiga e curadora Dodora Guimarães também anseia em ver a maior individual de Leonilson já realizada. "Fui mais que amiga de Leonilson, eu fui quem o representei aqui em Fortaleza. Nós começamos praticamente na mesma época. Ele era muito intenso em tudo aquilo que fazia. Leonilson parecia que tinha pressa de viver, tudo na vida dele acontecia rápido. Ele era dono de uma pintura livre, lúdica e alegre. Leó é um artista muito interessante, ele foi a luta, tinha vontade de mostrar seu talento", ressalta.
Outros destaques
"Sob o peso dos meus amores" traz ainda como destaque o autorretrato "Mirror", assemblagem de feltro bordado e com costura, realizado por Leonilson nos anos 1970, e a vinda pela primeira vez ao Brasil da coleção do também artista e grande amigo Albert Hien.
Pela sua dimensão e importância, esta coleção vinda de Munique ocupa todo o primeiro subsolo do espaço expositivo do instituto e apresenta 71 obras - quatro de autoria de Hien, 66 assinadas por Leonilson, e uma instalação nunca antes exibida no país: "How to Rebuild at Least One Eight Part of the World" feita a quatro mãos pelos dois artistas. A maioria das obras são inéditas.
Segundo Ricardo Resende, o diálogo que Leonilson e Hien estabelecem em seus trabalhos impressiona. "É como se fossem um espelhamento de obras. Eles se reviram um na produção do outro. A diferença é que em Hien impera o sentido da forma; em Leonilson o que pesa mais são as relações interpessoais, mas sobre as mesmas formas".
A distribuição das obras de Leonilson é estruturada a partir de mapotecas, módulos onde estarão expostos trabalhos do artista, em que o público poderá manipulá-los. Haverá trabalhos nas paredes e a projeção de oito das agendas do artista que foi recentemente digitalizada pelo Itaú Cultural. (ACS)
Coleção de imagens, gestos e palavras por Maria Hirszman, O Estado de S.Paulo
Coleção de imagens, gestos e palavras
Matéria de Maria Hirszman originalmente publicada no caderno de cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 16 de março de 2011.
Mostra que será aberta hoje oferece visão ampla da produção de Leonilson
"Leonilson por ele mesmo": este bem poderia ser o título da exposição retrospectiva do artista, figura-chave da arte brasileira nos anos 80 e 90, que será inaugurada nesta quarta-feira,16, no Itaú Cultural. Por meio de uma seleção de aproximadamente 300 trabalhos - entre os quais destaca-se uma grande quantidade de anotações e pequenos desenhos, mas que contempla também algumas pinturas e esculturas emblemáticas -, a mostra amplia as leituras que reiteradamente privilegiam em sua obra aspectos específicos - como a expressão das minorias, o recurso a materiais e gestos cotidianos ou a construção de um discurso autobiográfico -, para ensaiar uma visão mais ampla e generosa.
Foram os próprios elementos expressivos usados pelo artista em seus trabalhos que sugeriram os fios condutores a serem explorados. A palavra, que tem grande importância em sua obra, ocupa lugar de destaque. É ela e uma série de outros elementos simbólicos recorrentes (como o globo terrestre, a cadeira, os rios e o corpo humano) que criam um fluxo contínuo entre os três blocos que compõem a exposição. No núcleo inicial, os curadores Ricardo Resende e Bitu Cassundé criaram um percurso biográfico, permeado por textos, obras e objetos de Leonilson (1957-1993), mapeando aquilo que mobilizava seu olhar e seu afeto.
A mostra, a mais importante dedicada ao artista desde a retrospectiva realizada em 1995 por Lisette Lagnado, parte de uma visão de Leonilson como uma espécie de taxonomista, de colecionador de imagens, gestos e palavras. "Ele vai classificar o mundo a partir dele", explica Cassundé. Outro aspecto bastante evidente nesse primeiro núcleo é a capacidade de Leonilson de tornar arte aquilo que em princípio pertence ao mundo banal, corriqueiro. "Como se fosse uma espécie de Midas, tudo que ele tocava virava arte", acrescenta Resende. Exemplos disso são suas agendas e cadernos, que estarão à disposição do público em versões digitalizadas.
O segundo núcleo da mostra reúne obras inéditas e farto material de arquivo, pertencentes ao artista e amigo Albert Hien. Merece destaque a obra How to Rebuild at Least One eight Part of the World, feita há quatro mãos em 1996 em - mórbida coincidência - plena crise de Chernobyl. Há também na exposição alguns trabalhos de autoria de Hien, destacando a importância da troca, das influências recíprocas que marcaram Leonilson e os artistas com quem ele conviveu.
No terceiro e maior segmento estão reunidos os trabalhos de maior dimensão e mais conhecidos do artista. Lá está o pequeno desenho/poema Sob o Peso dos Meus Amores, que batiza a exposição.
Além da mostra propriamente dita, uma série de eventos em torno da produção de Leonilson devem ocorrer nos próximos dias. O Itaú Cultural organiza ainda um seminário e um ciclo de performances e a Capela do Morumbi vai receber, a partir do próximo sábado, uma reedição da antológica instalação feita pelo artista no local em 1993.
MinC autoriza Maria Bethânia a captar R$ 1,3 milhão para criar blog e gera polêmica na web, O Globo
MinC autoriza Maria Bethânia a captar R$ 1,3 milhão para criar blog e gera polêmica na web
Matéria originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Globo em 16 de março de 2011.
RIO - A cantora Maria Bethânia entrou nos Trending Topics Brasil do Twitter na manhã desta quarta-feira, depois de ter recebido autorização do Ministério da Cultura para captar R$ 1,3 milhão, destinados à criação de um blog. De acordo com a colunista Monica Bergamo, da "Folha de S.Paulo" , a página "O Mundo Precisa de Poesia" terá um vídeo diário da cantora interpretando poemas, numa série de 365 clipes dirigidas por Andrucha Waddington.
No site do MinC, onde os detalhes do projeto estão disponiveis para consulta pública, ele é descrito como "um calendário virtual, que apresentará ao público 365 pílulas diárias de pura poesia. Uma forma democrática e idealista de levar poesia para a vida das pessoas por meio da mais potente ferramenta de comunicação do mundo atual". Do total do valor solicitado, R$ 1.798.600,00, foram aprovados para captação R$ 1.356.858,00.
Os internautas que colocaram Maria Bethânia nos Trendings Topics consideraram um exagero o dinheiro recebido para colocar o blog no ar. "Pô, Maria Bethânia, R$ 1,3 milhão em lei de incentivo para criar um blog? Não conhece wordpress.com?", indagaram os @blogueirosparanaenses, referindo-se à ferramenta de publicação gratuita Wordpress.
Sobraram também críticas para o MinC, que autorizou a captação para o projeto. Pelo Twitter, o músico Lobão jogou lenha na fogueira. "Sugeriria fezermos uma campanha tipo: DEVOLVE ESSA PORRA BETHANIA!!! Daí essa MPB formada por cadáveres insepultos querendo permanecer no presente contínuo através da chapa branca". Já o grupo mombojó, de Recife, fez uma comparação com sua própria dificuldade para captar recursos públicos: "E pensar que foi uma dificuldade aprovar míseros 35 mil reais para fazer o nosso primeiro disco pela lei de incentivo a cultura..."
Sem perder tempo, um internauta piadista criou no Blogspot (outra ferramenta de publicação gratuita) o " Blog da Bethânia - um milhão de motivos de motivos pra você acessar".
Veto a repasse do MinC ameaça Brasil em Veneza por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Veto a repasse do MinC ameaça Brasil em Veneza
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 16 de março de 2011.
Lei prejudica acordo com a Bienal de SP para representação do país na mostra italiana
Legislação que proíbe repasses inviabiliza convênio que estabelece que Funarte custeie exposição de brasileiro
A representação brasileira na 54ª Bienal de Veneza "encontra-se seriamente ameaçada". A afirmação foi escrita por Heitor Martins, presidente da Fundação Bienal, em carta à ministra da Cultura, Ana de Hollanda, e ao ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota.
"Não se trata de conflito, mas é um alerta, se em 15 dias o dinheiro não chegar, o catálogo e mesmo a obra do artista podem simplesmente não acontecer", disse Martins, por telefone, de Washington (EUA), à Folha.
Em um convênio com a Funarte e o Ministério das Relações Exteriores, dono do pavilhão brasileiro em Veneza, a Bienal de São Paulo ficou encarregada de organizar a representação nacional.
Desta vez, ela será realizada por Artur Barrio.
Segundo o acordo, a Funarte paga as despesas diretas. No entanto, a lei nº 12.377, de dezembro do ano passado, proibiu o repasse de verbas do MinC para entidades privadas, o que prejudicou o acordo com a Bienal.
O ministério, contudo, estuda medidas para repassar o montante. "Queremos resolver o problema. Estamos tentando achar uma fórmula, que pode ser o Ministério das Relações Exteriores passar o dinheiro ou a alteração da compreensão de evento, que é o que foi proibido de ganhar repasse do MinC", disse à Folha Antonio Grassi, presidente da Funarte.
"Enviamos a carta aos ministros porque creio que possam agilizar o processo. Seria um vexame o pavilhão não estar pronto", diz Martins.
A reportagem tentou, ontem, falar com a ministra, mas, segundo a assessoria, ela estava em uma reunião no Palácio do Planalto.
Martins diz que a Bienal já gastou cerca de R$ 250 mil, que não são parte do convênio, no cachê dos curadores -Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos- e no catálogo.
CONVÊNIO
A 54ª Bienal de Veneza será inaugurada em 4 de junho e, pela primeira vez na década, não terá brasileiros na mostra principal, curada pela alemã Bice Curiger.
A Bienal de São Paulo tem sido a responsável pela indicação do representante brasileiro desde os anos 1990.
Em 2001, o empresário Edemar Cid Ferreira, indicado pela Bienal, pagou não só a representação de Ernesto Neto e Vik Muniz, como também mostras de santos barrocos, fantasias de Carnaval e trajes de Carmem Miranda.
Em outros países, as representações costumam ser indicadas por organismos governamentais. "Nas próximas bienais, podemos rever esse convênio", diz Grassi.
Mesmo sem ter a renovação, contudo, Martins já anunciou que o curador da 30ª Bienal de SP, em 2012, Luiz Pérez-Oramas deve indicar o representante brasileiro em Veneza em 2013.
A gritaria contra o blog de Maria Bethânia é uma mistura de ignorância, preconceito e mau-caratismo por Jorge Furtado, Casa de Cinema de Porto Alegre
A gritaria contra o blog de Maria Bethânia é uma mistura de ignorância, preconceito e mau-caratismo
Matéria de Jorge Furtado originalmente publicada no blog Casa de Cinema de Porto Alegre em 17 de março de 2011.
Ignorância, porque parte de idéia absolutamente falsa de que os produtores do blog – que pretende exercer a tarefa vital de divulgar a poesia – recebeu ou vai receber este dinheiro do governo. Juro que tenho saudade do tempo em que se lia fato ou ficção, hoje o que mais há são equívocos e mentiras, que não são um nem outro. O fato é que a única coisa que os produtores do blog receberam do governo foi a autorização para se humilhar, pedindo a empresários, de porta em porta, que considerem a possibilidade de, ao invés de entregar parte de seus impostos ao governo, patrocinar, com a vantajosa exposição de suas marcas, um blog de uma extraordinária artista brasileira, blog este que tem como objetivo divulgar a poesia, não há tarefa mais nobre. Nada garante que os produtores do blog terão sucesso em sua jornada de mendicância entre a elite empresarial brasileira, frequentemente iletrada. O mais provável é que consigam apenas uma parte desta verba e tenham que redimensionar o projeto, o que seria uma pena. Na minha opinião, o governo brasileiro deveria tirar do seu caixa o dinheiro (1,3 milhões de reais, uma ninharia perto da roubalheira do Detran gaúcho, dos pedágios paulistas, da máfia do governo Roriz/Arruda no DF, etc, etc...) e entregar para a Maria Bethânia, junto com um buquê de rosas e um cartão, pedindo desculpas pela confusão.
Preconceito contra a internet, porque – como muito bem lembrou o Andrucha, na Folha: "Se fosse documentário ou filme para ser visto por cinco mil pessoas no cinema, ninguém estaria reclamando. Parece que internet não é um meio válido. Lá [no blog], os vídeos vão ser vistos por milhões, e de graça”. A distinção que alguns ainda fazem entre os meios cinema, televisão e internet seria engraçada se não fosse um empecilho ao desenvolvimento do país. Preconceito também contra os nordestinos, nas críticas sobram piadas contra os baianos, quase todas vindas do mesmo gueto branco direitista no enclave paulista, enfim, os eleitores de Kassab e Serra, gente que lê e cita a revista Veja e beija imagens de santo para ganhar voto e acha que poesia é "uma besteira".
Mau-caratismo, porque a “polêmica” criada pela notinha da Mônica Bergamo assanha, para variar, o furor udenista que almeja – e obtém – manchetes moralizadoras. “Eu sou melhor que você”, gritam o lobão e também os três porquinhos, unidos em sua santa cruzada. Um publicitário engraçadinho – mais um – fez um blog que lhe garantiu seus 15 minutos de fama, espinafrando a Bethânia. "Criei o blog porque não recebi uma bolada do MinC e achei injusto", comenta o pândego. Pergunta: era para ser um piada? Ele pediu algum dinheiro ao MinC? Em caso afirmativo, apresentou algum projeto? Qual seria? Com que objetivo? As críticas e piadinhas sobre o caso me fazem lembrar de uma das considerações de Hamlet, matutando se vale a luta ou é melhor acabar com a agonia: “o achincalhe que o mérito paciente recebe dos inúteis”. (Na tradução do Millôr.)
Chega a ser constrangedor ter que relembrar aos mais jovens que Maria Bethânia é uma das maiores artistas brasileiras de todos os tempos. Seus incontáveis discos e shows são um valioso patrimônio nacional, seu trabalho de divulgação de dezenas de compositores brasileiros ao longo de sua carreira são uma herança que ela deixa ao Brasil. Bem vale alguns barris do pré-sal. Talvez tenham sido os show de Bethânia, lá nos anos 70, meus primeiros contatos com a poesia de Fernando Pessoa e também com a prosa-poética de Clarice Lispector. Vai aqui, a ela, meu muito obrigado.
Polêmica sobre blog é equívoco, diz diretor por Marcus Preto, Folha de S. Paulo
Polêmica sobre blog é equívoco, diz diretor
Matéria de Marcus Preto originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 17 de março de 2011.
Cineasta Andrucha Waddington defende projeto de Maria Bethânia, do qual participa, após críticas na internet
Ministério autorizou captação de R$ 1,3 mi para site com vídeos da cantora e afirma não haver irregularidade
O cineasta Andrucha Waddington, que vai dirigir os vídeos do blog O Mundo Precisa de Poesia, considera "um equívoco" a polêmica em torno da decisão do Ministério da Cultura, que autorizou, anteontem, a cantora Maria Bethânia a captar R$ 1,3 milhão para o projeto.
O texto prevê produção e veiculação de vídeos diários de 1 minuto em que Bethânia vai interpretar poemas. O plano é que sejam colocados no ar 365 vídeos. A coordenação deverá ficar a cargo do sociólogo Hermano Vianna.
Noticiada ontem pela colunista Mônica Bergamo, na Folha, a aprovação da captação do dinheiro, via Lei Rouanet, teve repercussão e críticas nas redes sociais -estava entre as mais comentadas pelos brasileiros no Twitter.
"Se fosse documentário ou filme para ser visto por cinco mil pessoas no cinema, ninguém estaria reclamando", diz Waddington.
"Parece que internet não é um meio válido. Lá [no blog], os vídeos vão ser vistos por milhões, e de graça. Preciso trabalhar com uma equipe, com o mesmo padrão de qualidade dos meus filmes."
O cineasta estima que cerca de R$ 3.500 sejam usados por episódio, contando aí despesas com som, assistente de direção, produtor, ilha de edição, mixagem e pós-produção de imagem. Ele não revela seu cachê.
Procurada, Bethânia não quis comentar o caso. Mas seus sobrinhos, Jorge Velloso e Belô Velloso, saíram em defesa da cantora no Twitter.
"Não falei com minha tia ainda, mas já adianto que ela pensou de verdade em levar cultura para vocês. Que ingenuidade", escreveu Belô.
Jorge postou: "Caetano está errado. Lobão não tem razão! Nunca!". Referia-se ao inspirador de "Lobão Tem Razão", de Caetano. Lobão foi um dos que atacaram a decisão do MinC.
"Gerar projeto de poesia é muito bacana, mas as pessoas beneficiadas com essas leis são sempre as mesmas", disse Lobão à Folha. "O que fica bastante patente nesse movimento todo é que há uma parada chapa branca para a MPB. Na outra gestão, flagraram projetos de um milhão para DVD de Ivete Sangalo, Carlinhos Brown, Claudia Leitte. Viva a Bahia!"
O MinC declarou, em nota, que "a aprovação, que seguiu estritamente a legislação, não garante, apenas autoriza a captação de recursos" e que os critérios "são técnicos e jurídicos".
O texto do ministério dizia, erroneamente, que a captação seria feita via Lei do Audiovisual -horas depois, o órgão soltou outra nota com a correção.
PARÓDIA
Entre as críticas à decisão do MinC, estava o Blog da Bethânia, uma paródia do projeto. "Criei o blog porque não recebi uma bolada do MinC e achei injusto", disse o autor do site, o publicitário Raphael Quatrocci, 28. "O humor é a melhor forma de demonstrar indignação."
Segundo ele, o blog teve cerca de 50 mil acessos ontem.
A assessoria de Bethânia disse que acha "absurdo" o conteúdo do blog falso.
março 14, 2011
Brasileiros ficaram de fora de mostra geral da Bienal de Veneza por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Brasileiros ficaram de fora de mostra geral da Bienal de Veneza
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 14 de março de 2011.
Lista de 82 artistas privilegia artistas europeus, com 40 nomes
Nenhum artista brasileiro figura entre os 82 nomes da exposição geral da próxima Bienal de Veneza, divulgados sexta passada, em Roma.
Maior e mais tradicional mostra de arte contemporânea do mundo, a Bienal de Veneza deste ano começa em junho e tem curadoria da suíça Bice Curiger, ex-diretora da Kunsthaus de Zurique e uma das fundadoras da célebre revista de arte "Parkett".
Enquanto a última edição da Bienal, em 2009, teve na mostra principal brasileiros como Renata Lucas, Lygia Pape e Cildo Meireles, a atual edição privilegiou nomes da Europa, 40 do total, e norte-americanos, 12 dos 82.
Entre os países mais bem representados, além dos Estados Unidos, estão Itália, com nove artistas, a Suíça, com oito, o Reino Unido, com sete, a Alemanha, com seis, e a França, com cinco nomes.
Da América Latina, foram escolhidos os mexicanos Gabriel Kuri, destaque do último Armory Show, em Nova York, e Mariana Castillo Deball, a argentina Amalia Pica e o colombiano Nicolás Paris.
Esses são artistas convidados pela curadoria para ocupar o espaço central da Bienal, enquanto Veneza ainda mantém seus pavilhões nacionais com artistas indicados por cada país. O Brasil escolheu Artur Barrio como seu representante neste ano.
Destaques
Entre os destaques da seleção geral estão o alemão Sigmar Polke, morto no ano passado, o francês Cyprien Gaillard, o eslovaco Roman Ondak, os suíços Pipilotti Rist e a dupla Peter Fischli e David Weiss, além dos norte-americanos Cindy Sherman, James Turrell e Trisha Donnelly.
Mostra documenta criação de novo olhar por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Mostra documenta criação de novo olhar
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 12 de março de 2011.
Trabalhos de Aleksandr Ródtchenko evidenciam período artístico que pretendia revolução da sensibilidade
Assim como os demais artistas transgressores, Ródtchenko acabou perdendo o direito de trabalhar
"É preciso incentivar o amor pela fotografia, para que as fotos sejam colecionadas, para que se criem fototecas e aconteçam exposições fotográficas de grande escala", pregou Aleksandr Ródtchenko em "A Fotografia É uma Arte", de 1931.
Escrito num tempo em que manifestos artísticos eram moeda comum, além estar inserido no contexto revolucionário da União Soviética, iniciado em 1917, o texto é representativo do caráter utópico que a arte representava para figuras como o cineasta Sergei Eisenstein e o poeta Vladimir Maiakóvski.
Junto com o fotógrafo Ródtchenko, esses artistas buscavam criar um novo homem através de uma nova sensibilidade e, por isso, a experimentação foi tão usada por todos eles.
A exposição "Aleksandr Ródtchenko: Revolução na Fotografia" apresenta um excelente panorama desse momento em 300 obras, sejam fotografias, fotomontagens, capas de livro, revistas ou cartazes, realizados entre 1924 e 1954.
"Para acostumar as pessoas a ver a partir de novos pontos de vista é essencial tirar fotos de objetos familiares, cotidianos, a partir de perspectivas e de posições completamente inesperadas", defendia Ródtchenko, em 1928.
Assim, a mostra reúne um conjunto significativo de imagens que defendem essa nova proposta, que influenciaria o olhar fotográfico, definitivamente, a partir de então.
CERCEAMENTO
Se a experimentação foi motor do início da revolução, seu cerceamento, com o endurecimento do regime soviético, chega ao ápice quando, em 1932, o partido comunista dissolve as associações culturais e o realismo torna-se arte oficial.
Desse período torna-se claro que Ródtchenko, submetendo-se à nova linha, retrata o trabalhador, mesmo que por ângulos inovadores.
No entanto, assim como os demais artistas transgressores, Ródtchenko acabou perdendo o direito de trabalhar. A mostra em cartaz só foi possível porque sua família manteve sua obra intacta e conseguiu criar a Casa da Fotografia de Moscou, sede de grande parte das imagens da exposição.
"Revolução na fotografia", assim, é não só uma excelente reunião de trabalhos, como o testemunho de uma época de transformações radicais.