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Como atiçar a brasa

 


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fevereiro 18, 2011

Después de ARCO por Rosa Olivares, Exit-express.com

Después de ARCO

Matéria de Rosa Olivares originalmente publicada no Exit-express.com em 18 de fevereiro de 2011.

No quería hablar más de ARCO. Pero parece que si no lo hago estoy faltando a un deber insoslayable. Todos los suplementos culturales, las revistas, los colorines de los diarios, los culturales televisivos, los periódicos de provincias, hasta los más lejanos y en ciudades en que la mayoría de sus lectores ni saben ni les importa que es eso de “arco”, le dedican todo el espacio dedicado a la cultura, al arte. Y todos decimos más o menos lo mismo, es decir apenas nada. Cada vez me recuerda más a esa información deportiva que se da antes y después de los partidos, que se infla de nada hasta que ya cansa, cuando lo único que realmente importa es, sería, el partido en sí mismo. Todos damos opiniones, como si importasen algo, igual que todo el mundo sabe más que el entrenador de turno de lo que habría que hacer para ganar. Y ARCO, como cualquier partido de fútbol, tiene una duración concreta, apenas cuatro o cinco días. Lo que dura una feria ¿Y después de ARCO, qué?

No conozco ningún país, ninguna ciudad en donde la existencia de una feria de arte sea tan importante. Parece que en España todo se centra en esos cinco días de febrero. Y eso es absolutamente falso. Ni el mercado español depende exclusivamente de ARCO, aunque sea ciertamente importante, ni mucho menos el arte español, para el que ARCO significa un encuentro coyuntural en el que puedes no encontrarte con nadie. Son muchos los artistas que no están en ARCO, son muchas las galerías que tampoco están en ARCO, y desde luego ni la teoría, ni la crítica, ni la creación dependen en absoluto de ARCO. Y la verdad es que cualquier profesional, aunque sea galerista, sabe que hay más vida, incluso que existe una vida mucho mejor y más interesante más allá de ARCO. Vamos, que ya está bien de dedicarle tantas páginas y tantos comentarios cuando pasados esos cinco días de febrero esas personas no van a interesarse por lo que les pasa a los museos, ni a los artistas, ni por nada que tenga que ver con el arte español. Aunque algunos no lo crean, no es el mercado lo único que mueve el mundo del arte. Después de ARCO los coleccionistas deberían seguir comprando, visitando galerías, leyendo revistas, y los artistas seguirán –sin duda– trabajando, exponiendo; las galerías haciendo sus exposiciones, intentando algo más que llegar hasta el año que viene al próximo ARCO.

Olvidamos lo más sencillo de todo: ARCO es una feria. En Basilea o en Londres, ni en México siquiera, los directores de los museos del lugar no se preocupan de si la feria es la adecuada o no; los políticos la visitan, pero ni salen en los periódicos; la vida cultural no se para durante las ferias en ningún lugar del mundo. Cada uno tiene sus funciones, y cumplirlas adecuadamente es lo que debería importarles. Y no querer decirle al entrenador de tu equipo que alineación debe poner. Al final, tal vez ARCO sea realmente importante, no se entiende si no, que todo el mundo quiera tener la solución, la última palabra, la verdad.

Dejemos que esos cinco días de feria pasen lo mejor posible, que los dados giren y que todos ganemos un poco o un mucho. Y hasta el año que viene, cada uno a lo suyo y todos a seguir adelante.

Posted by Paula Dalgalarrondo at 4:09 PM

Desentendimentos impedem a semana de arte do Rio por Catharina Wrede, O Globo

Desentendimentos impedem a semana de arte do Rio

Matéria de Catharina Wrede originalmente publicada no segundo caderno do jornal O Globo em 15 de fevereiro de 2010.

Vik Muniz pretende dar continuidade ao projeto sozinho

Anunciada com entusiasmo e recebida em forma de grande notícia para a cidade, a Semana de Arte do Rio, que aconteceria em maio, naufragou. Os sócios das empresas Prole, Nau e FAAP, responsáveis pelo projeto, que previa intervenções de grandes nomes brasileiros e estrangeiros pela cidade, seminários e um prêmio, e pretendia se firmar como o maior evento de arte do Rio, reconhecido pelo mundo, se desentenderam. Segundo Vik Muniz, o curador convidado, o problema não foi orçamentário.

— Fiz tudo para o projeto funcionar. Até conseguir o dinheiro eu consegui, mas estava na mão de outras pessoas. Eu não tinha ideia da complexidade que é trabalhar com a iniciativa privada. Eram pessoas de áreas muito diferentes, que achavam, num otimismo utópico, que teriam opiniões unificadas — diz o artista.

Malu Barreto, mulher de Vik e diretora da Prole, lamenta:

— É muito chato isso, porque já estava tudo pronto em termos de produção, trabalhamos um ano inteiro nisso. E falo como mulher do Vik mesmo, por conta do comprometimento dele com os artistas...

William Passos, um dos donos da Prole, diz, em nome de todos os sócios da Semana, não saber o que vai acontecer:

— Não sei se a sociedade vai se desfazer ou não. Estamos com tudo parado, vendo possibilidades do que pode ser feito.

Mesmo com o fim, Vik diz que quer dar continuidade à ideia:

— Fiquei muito triste, e isso me deu mais vontade de fazer. Isso tem que ser trabalhado de alguma forma, é só uma questão de achar as pessoas certas para trabalhar.

Posted by Paula Dalgalarrondo at 3:35 PM | Comentários (2)

Categoria originalidade por Nina Gazire, Istoé

Categoria originalidade

Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na Istoé em 11 de fevereiro de 2011.

ABRE ALAS/ A Gentil Carioca, RJ/ até 19/3

Todo ano é a mesma coisa. Semanas antes do Carnaval, pipocam os sambas-enredos e as mulatas da hora requentam a programação das emissoras de tevê. Felizmente, em meio a tão pouca originalidade, aparecem as boas-novas. Como o time de 20 estreantes selecionados no projeto “Abre Alas”, a já tradicional exposição de abertura de atividades da galeria A Gentil Carioca. Entre os destaques da sétima edição do evento, os trabalhos da jovem fotógrafa carioca Julia Pombo e do músico experimental Siri (foto).

A curadoria este ano ficou a cargo do trio Daniela Name, Bernardo Mosqueira e Bob N., a partir de um método de seleção equivalente a um autêntico baile de máscaras: com a identidade dos candidatos mantida em segredo. “Decidimos trazer um mix de críticos, curadores e artistas, para que o crivo de seleção não passasse só pela galeria. Primeiro analisamos os trabalhos enviados, mas sem revelar a autoria. O artista correspondente só é descoberto depois que as obras estão selecionadas”, afirma Laura Lima, artista e uma das diretoras da galeria ao lado de Marcio Botner e Ernesto Neto.

Além de receber artistas brasileiros iniciantes ou sem representação em galerias, ao longo dos anos o projeto passou também a abrigar trabalhos de artistas estrangeiros. Questionada sobre a característica dessa nova geração que participa da exposição, Laura Lima é categórica: “Sentimos que os artistas estão menos dependentes e mais gestores de si mesmos. Sabem se apresentar e fazer um portfólio de qualidade.” A exposição “Abre Alas” já revelou nomes que hoje são destaques na arte brasileira e internacional, como Mariana Manhães, Gustavo Esperidião e a inglesa Rachel Reupke. Este ano, o evento terá uma novidade. No dia do lançamento do catálogo, em 7 de março, durante o Carnaval, a galeria irá promover um desfile, com direito a concurso de fantasias. Para participar, basta comparecer com sua fantasia mais original.

Posted by Cecília Bedê at 11:20 AM

Feira de arte moderna Arco faz 30 anos, Estadão.com.br

Feira de arte moderna Arco faz 30 anos

Matéria originalmenten publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 18 de fevereiro de 2011.

Um dos principais eventos de arte contemporânea do mundo abre suas portas nesta sexta trazendo mais de 1200 obras de 26 países.

Uma das principais feiras de arte contemporânea do mundo, a Arco, abre suas portas ao público em Madri, na Espanha, nesta sexta-feira, celebrando 30 anos.

Uma retrospectiva especial com fotografias das três décadas da feira marca estas nova edição, que traz pinturas, esculturas, fotografias e instalações de 197 galerias de 26 países, inclusive o Brasil.

Os organizadores esperam superar a média de 150 mil visitantes de 2010.

A ARCO permanecerá aberta até o próximo domingo com ofertas a todo o tipo de colecionador. A peça mais cara da feira custa R$ 2,7 milhões e a mais barata R$ 700,00.

Dividida em três seções - Solo Projects Focus, Opening e Arco 40 -, a edição 2011 exibe mais de 1.200 obras que vão da chamada vanguarda histórica às performances ao vivo.

Entre os destaques deste ano estão galerias de países emergentes. A Rússia é a nação homenageada. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Posted by Cecília Bedê at 10:48 AM

SP recebe olhar geométrico de Ródtchenko por Silas Martí, Folha de S. Paulo

SP recebe olhar geométrico de Ródtchenko

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 18 de fevereiro de 2011.

Primeira retrospectiva do artista russo no país, a partir de amanhã, mostra como sua obra transformou a fotografia

Ele abusou de ângulos tortos e inusitados e inventou retratos que juntam vários instantes em uma única imagem

Foi no sótão de um teatro que Aleksandr Ródtchenko nasceu. Descia uma escada íngreme e dava direto no palco. "Vi minha primeira paisagem ali", lembra o artista russo. "A vida do teatro era a vida verdadeira, e o que estava lá fora -eu não tinha ideia."

Ródtchenko começou moldando paisagens com flores artificiais que seu pai montava para os cenários das peças. Depois foi depurando sua estética até começar a fotografar e provocar a maior revolução na imagem capturada já vista até hoje.

Quando passou a ter alguma ideia do que se passava lá fora, alargou os horizontes do teatro onde nasceu para o palco da Rússia às voltas com a revolução iniciada em 1917.

Entendeu que a nova ordem política pedia outra ordem estética e deixou um receituário para retratar a vida na crueza de seus ângulos. Mais de 50 anos depois que fez sua última fotografia, essas manobras da objetiva, o rigor obsessivo e a métrica de uma poética visual que forjou a fotografia moderna estão juntas na retrospectiva com 170 de suas obras que a Pinacoteca do Estado abre amanhã em São Paulo.
"A arte do futuro não será a agradável decoração de apartamentos", escreveu o artista morto em 1956. "Até agora não percebemos este fato chamado vida, que só necessitaria ser organizado e depurado de ornamentos."

Já sem as flores do palco, Ródtchenko encarava o teatro da vida real, em desfiles cívicos, retratos de amigos e parentes, cartazes e fotomontagens, com forte rigor geométrico. Desafiava o olhar duro, o ponto de vista único, com sobreposições de imagens, a violação do negativo, e enquadramentos curtos, de baixo para cima.

"Quero fazer fotos incríveis, nunca feitas, da própria vida, reais", escreveu. "Fotos simples e complexas ao mesmo tempo, que espantarão e arrebatarão as pessoas."

Num de seus retratos mais célebres, enquadra a própria mãe com uma lente no olho se esforçando para ler -só muito velha é que começou a entender a palavra escrita.

Seu livro some e o rosto e os óculos ocupam todo o plano, num prelúdio à reinvenção do olhar que Ródtchenko começava então a montar. Também não deixa de encarnar ali certa vontade de desestruturar a ordem, um paralelo entre a leitura tardia da mãe, a Rússia em convulsão, e uma releitura da forma propalada pela fotografia.

CRISTALIZAR O HOMEM

Emprestou seus experimentos visuais para dar cara e carne aos versos de Vladimir Maiakóvski, poeta que retratou noutra de suas séries mais emblemáticas.

Ele rodeia seu retratado com a câmera, que surge em múltiplos ângulos, lápis no bolso e cigarro na boca. "Cristalize o homem não pelo retrato "sintético" mas de vários instantâneos em momentos e condições diferentes", escreveu. "Preze tudo que é real e contemporâneo."

E para essa realidade contemporânea, motor também dos filmes de Dziga Vértov e Sergei Eisenstein, ele olhou com os ângulos tortos do cinema. Uma escada vista de baixo destrói a perspectiva do quadro. De lado, ganha a textura contrastada que embala os passos de uma moça.

Sua "Moça com Leica", fotografada com a câmera deitada e alvejada de pontos de luz que atravessam a penumbra, também se transforma em imagem com pele. É o real transfigurado pelo olhar atento, aquilo de arrebatar e espantar que ele queria.

Posted by Cecília Bedê at 10:41 AM

fevereiro 16, 2011

Semana de Arte, retrospectiva de Louise Bourgeois e feira ArtRio vão movimentar circuito carioca em 2011 por Suzana Velasco, O Globo

Semana de Arte, retrospectiva de Louise Bourgeois e feira ArtRio vão movimentar circuito carioca em 2011

Matéria de Suzana Velasco originalmente publicada no jornal O Globo em 27 de dezembro de 2010.

RIO - O Rio está mesmo em alta e receberá alguns dos maiores nomes da arte contemporânea mundial em 2011. De 15 a 22 de maio, obras públicas de pesos-pesados como o dinamarquês Olafur Eliasson e o belga Wim Deloye serão espalhadas pela cidade, na Semana de Arte do Rio. O evento terá ainda uma individual do sul-africano William Kentridge, na Casa França-Brasil, além da participação de brasileiros como Tunga e Adriana Varejão. Também cotado para a Semana de Arte, o britânico Antony Gormley vai expor, em maio, suas esculturas no CCBB, que terá mostras de Mariko Mori e Tim Burton durante o ano.

Em junho, mais arte pública: uma das imensas aranhas de Louise Bourgeois - que completaria 100 anos em 2011, mas morreu este ano - será instalada no Aterro do Flamengo, antecipando a retrospectiva da artista francesa naturalizada americana que ocupa o MAM em setembro. O museu ainda terá individuais dos brasileiros Carlos Zilio, Luiz Zerbini, Fernanda Gomes, Roberto Cabot, José Resende e Elisa Bracher.

Em agosto, o Paço Imperial vai expor gravuras do britânico Lucian Freud. E, no mês seguinte, a cidade terá a primeira ArtRio - Feira Internacional de Arte Contemporânea do Rio, que, além de galerias nacionais e estrangeiras, terá projetos especiais, com curadoria de Agnaldo Farias, Eduardo Brandão e Marcos Dana.

Outras exposições internacionais programadas são as do americano Andy Warhol, do italiano Gabriele Basilico e de artistas contemporâneos iranianos, no Oi Futuro. Entre os brasileiros, o Rio verá Rubens Gerchman e Raymundo Colares, na Caixa Cultural, e Fayga Ostrower e Mira Schendel, no Instituto Moreira Salles.

Posted by Paula Dalgalarrondo at 5:33 PM | Comentários (1)

Impressões de Goeldi por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Impressões de Goeldi

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 15 de fevereiro de 2011.

Meio século depois de sua morte, maior gravurista do país segue como forte influência entre artistas

Quando chegou ao Rio em 1919, Oswaldo Goeldi não olhou para as amplas avenidas da cidade que tentava imitar Paris. Nem se deslumbrou com o sol dos trópicos que não via desde a infância.

Suas obras anularam a luz. Maior gravurista do país, Goeldi olhou com desconfiança para a ideia de progresso que tentava se firmar e retalhava em suas matrizes de madeira tipos marginais, sombras e desequilíbrios que políticos e artistas do momento ignoravam sem medo.

Faz 50 anos que Goeldi foi encontrado morto no quarto em que vivia de favor nos fundos de uma casa no Leblon, no Rio, hoje demolida.

Nenhuma grande exposição ou publicação está sendo planejada para relembrar a data, mas a atitude do artista que recusou a euforia vazia do período entre guerras é mais atual do que nunca.

Nascido no Rio em 1895, Goeldi passou infância e juventude na capital suíça. Trouxe de lá seus contornos angulosos, a fatura fibrosa da estética expressionista.

Eram contrastes de alta voltagem, quase sempre pendendo para o negro, que não encontraram acolhida fácil no Brasil e até hoje causam estranhamento no plano internacional, já que críticos estrangeiros não esperam esse peso do país do Carnaval.

"Ele alerta que as coisas são mais complicadas do que essa euforia nos faz crer", diz Moacir dos Anjos, curador que levou obras de Goeldi à última Bienal de São Paulo. "Nas gravuras dele, as pessoas são sempre solitárias, apressadas, criam uma tensão com o espaço público."

Nuno Ramos, artista que estava na mesma Bienal e construiu uma alusão à herança de Goeldi com urubus enjaulados sobre torres de areia socada no vão central do pavilhão, vê nas obras do artista uma
"vedação noturna para um sol excessivo".

"Goeldi tem um foco poético nítido, uma compreensão da vida como algo mais pesado, mais puro", diz Ramos. "É uma visão noturna, antitrópicos, algo de ordem alucinada, difícil, que está um pouco de costas para o país."

VISÃO NOTURNA

Essa recusa à alegria, que no plano formal se deu pela recusa à onda construtiva que Goeldi viu surgir, é hoje reenquadrada à luz de um país míope para as próprias mazelas, perdido na festa do pré-sal, trem-bala, Copa do Mundo, Olimpíada e afins.

Em cartas que escreveu a amigos na Europa, Goeldi dizia não ser capaz de "pegar um pouquinho do ardor deste sol lá fora". Em vez da orla cintilante, descrevia os subúrbios, com seus "portos abandonados, com navios encalhados, apodrecendo".

"Ele tem uma tristeza, uma melancolia", resume Noemi Ribeiro, pesquisadora que reuniu toda a correspondência de Goeldi. "É uma imagem de denúncia, de confronto com o progresso, a eletricidade, os carros, o rádio. Ele achava que não adiantava todo esse progresso."

E, na construção de suas imagens, Goeldi refreava essa mesma noção de avanço vertiginoso. É lenta a fatura dos traços, a dinâmica dos sulcos precisos na madeira.

Cada paisagem, vizinhança desarranjada tomava forma num ritmo alternativo à realidade, um descompasso já entranhando nas linhas arestadas de suas gravuras.

"Aquilo que a gravura demanda em termos de esforço, de tempo, media os embates intelectuais que ele tinha naquele momento", observa Dos Anjos. "Há um rigor ético e formal, como se ele tivesse tempo de meditar sobre o que estava vivendo na hora."

Dessa forma, Goeldi entrou para a história e se valoriza agora, por sugerir outro caminho. Foi o artista que soube começar pelo avesso, cavando formas a partir de uma "intuição muito forte".

Posted by Paula Dalgalarrondo at 5:19 PM | Comentários (1)

fevereiro 15, 2011

Bienal dos latinos por Camila Molina, O Estado de S. Paulo

Bienal dos latinos

Matéria de Camila Molina originalmente publicada no jornal O Estado de S.Paulo em15 de fevereiro de 2011.

Anunciado curador da 30.ª edição da mostra brasileira de arte, em 2012, o venezuelano Luis Pérez-Oramas detalha seu projeto

O Retorno das Poéticas é o título do projeto do venezuelano Luis Pérez-Oramas para a 30.ª Bienal de São Paulo, que ocorrerá em 2012. Definido pela instituição como o curador-geral da próxima edição da mostra, Oramas sai a partir de abril de licença temporária do MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), onde é curador de arte latino-americana, para se dedicar ao desenvolvimento da exposição brasileira. "Discute-se muito sobre o esgotamento do modelo Bienal, mas acho que com a de São Paulo é o contrário, porque ela tem uma história própria e um vínculo orgânico com a cidade", diz Oramas ao Estado, em entrevista por telefone.

Potencializar, como afirma o venezuelano, a relação entre o local e o internacional, com força na arte latino-americana, que vive seu "momento de ouro", vai ser o desafio de seu projeto para a 30.ª Bienal de São Paulo, programada para ser inaugurada em setembro do próximo ano no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque do Ibirapuera. "Todas as ideias globais começam sendo ideias locais", continua Oramas. "A 30.ª Bienal será de revelação de artistas da América Latina que não foram suficientemente reconhecidos, sejam os de metade de carreira ou jovens", diz.

Colocar um estrangeiro com o estofo de Luis Pérez-Oramas à frente da próxima edição do evento vai ao encontro da política de internacionalização engendrada pela atual direção da Fundação Bienal de São Paulo. Mais ainda, não é de agora a relação do curador, que vive em Nova York, com o Brasil. Nascido em Caracas, em 1960, em 1998, ele fez a curadoria de mostra do pintor venezuelano Armando Reverón (1889-1954) na 24.ª Bienal de São Paulo; em 2007, foi cocurador da 6.ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre; e recentemente foi o responsável pela exposição O Alfabeto Enfurecido, com obras da suíço-brasileira Mira Schendel e do argentino León Ferrari e que entre 2009 e 2010 foi exibida no MoMA, no Museu Reina Sofia (Madri) e na Fundação Iberê Camargo. Ainda, o trabalho de Oramas - que também já foi curador da Coleção Patricia Phelps de Cisneros - no museu de Nova York tornou-se fundamental para a entrada de obras de artistas brasileiros para o acervo da instituição norte-americana, uma das mais importantes do mundo.

Campos. Desde outubro a Fundação Bienal de São Paulo veio realizando o processo de seleção do curador-geral da 30.ª mostra, iniciado com a sugestão de um primeiro time de 20 candidatos. Ao chegar ao filtro de 3 nomes, a instituição pediu, em novembro, que fizessem projetos para avaliação. O de Luis Pérez-Oramas, escolhido pela diretoria da Bienal, já tem seu orçamento em torno de R$ 25 milhões, como afirma o presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Heitor Martins. Também estão previstas itinerâncias da 30.ª mostra em 2013. Oramas ainda indicará a representação brasileira na 55.ª Bienal de Veneza.

Definindo ainda O Retorno das Poéticas, o curador, que escolheu como cocuradores o alemão Tobi Maier e o artista gaúcho André Severo, cita que a próxima edição vai ser uma exposição balanceada entre "o excesso e o escasso" - no ano passado, a 29.ª Bienal exibiu 850 obras de 159 artistas - e com número considerável de obras criadas especialmente para o evento. "Uma Bienal de articulações e não de individualidades", completa Oramas. Sua meta é anunciar a lista de artistas até setembro deste ano.

O curador indica quatro "zonas" importantes de seu projeto, como a questão da memória; o tema de "como as poéticas alternam formas conhecidas"; as derivas na arte contemporânea; e as "vozes" - das obras e do público de arte.

Nesse sentido, a 30.ª Bienal não vai se restringir à mostra no prédio da instituição, mas contemplar o que o curador chama de "campos expandidos", ou seja, atividades que envolvam internet, rádio, comunidades locais, museus e instituições e o projeto educativo, que mais uma vez será coordenado pela artista e educadora Stela Barbieri.

Números

25 milhões de reais é o orçamento prévio da 30ª Bienal de São Paulo, programada para ser inaugurada em setembro de 2012

700 mil reais é o montante usado para a representação nacional brasileira este ano na 54ª Bienal de Veneza, que terá uma instalação de Artur Barrio, artista português radicado no Brasil

12 a 15 itinerâncias da 30ª Bienal pelo Brasil, em 2013, já integram o projeto selecionado

Posted by Paula Dalgalarrondo at 2:14 PM

Privatizar ou politizar a cultura? por Giselle Beiguelman, DesVirtual

Privatizar ou politizar a cultura?

Matéria de Giselle Beiguelman originalmente publicada na revista DesVirtual em 13 de fevereiro de 2011.

Nem bem começou a gestão de Ana de Hollanda no Minc vem dando o que falar ( e o que protestar ). O primeiro ato de repercussão foi a retirada da licença Creative Commons do site do Ministério da Cultura.

O argumento inicial que coisas públicas são públicas e não necessitam lastro de licenças me parece absolutamente correto. Contudo, a alternativa de trocar a licença Creative Commons por uma advertência – “O conteúdo deste site, produzido pelo Ministério da Cultura, pode ser reproduzido, desde que citada a fonte”, conforme se lê no rodapé do site – é pior.

Sou muito mais Andre Gorz que Lawrence Lessig. Ou seja, interessa-me muito mais a anarquia potencial e corrosiva dos hackers – os dissidentes do capitalismo digital, como Gorz define em O Imaterial – que as estratégias de acomodação, dentro da legalidade, da cultura do compartilhamento.

Em síntese, minha posição é por deixar tudo aberto e copyleft, sem gradações e matizes que criam esferas do que é permitido e o que não é, e correr o risco de fomentar a dissidência e redirecionar os processos.

Se o Minc quiser apostar na ética do compartilhamento e da autorregulação que sempre imperou na Internet, limando a licença CC, tem todo meu apoio e certamente de muitos outros. Se for para direcionar a discussão para o âmbito da privatização da cultura estou/estamos fora.

Uma entrevista concedida pela Ministra Ana de Hollanda à Folha de S. Paulo justifica essa dúvida e corrobora a hipótese de Rodrigo Savazoni e de outros pensadores/ativistas que admiro muito (como Cícero Silva, Andre Lemos, Ronaldo Lemos, Ivana Bentes, Caribe, Sergio Amadeu, Erick Felinto, Henrique Antoun, entre vários outros que por algum lapso não cito), chamando a atenção, com diferentes enfoques, para o fato de que o “caso da licença CC” já indicava um deslocamento político que fazia jus ao ECAD e a uma visão comercial velhaguardista da cultura.

Confesso que insisti por um bom tempo em acreditar que essa era uma visão redutora do problema e que a Ministra estava mal assessorada no tema. Afinal as coisas públicas (especialmente conteúdos disponibilizados nos sites dos órgãos governamentais) são bens comuns e não demandam nenhuma licença de uso (muito menos advertências!) .

Mas a entrevista de Ana de Hollanda à Folha me obriga a repensar minha posição e convida a uma reflexão mais acurada. Nessa entrevista, a Ministra fala sobre a recém-criada Secretaria da Economia Criativa. Defende que “tratar a cultura como indústria vai permitir emancipar o mundo da criação e livrá-lo dos “vícios” das leis de incentivo.”

Ivana Bentes aponta com clareza as implicações desse racicíonio quando afirma “É claro que temos que repensar a Lei Rouanet, do Audiovidual e outras, mas não existe sustentabilidade sem financiamento nem muito menos Indústria. A questão não é criar nova mediação industrial e “profissionalizar” os artistas PARA a Indústria. Há uma inversão total. Ao invés de financiar o precariado/artistas, o autônomo, o novo Minc se propõe a financiar o Capital, a Indústria!”

A discussão sobre Economia Criativa é estratégica, ninguém discorda. Mas ela não pode ser feita sobre uma perspectiva tradicional, retomando velhos modelos de produção industrial. Tem que ser feita investindo nas possibilidades que se abrem nos circuitos de criação pós-industrial, como o mercado de apps tem demonstrado.

Nesse contexto, o que poderia ocupar o debate sobre Economia Criativa seriam outras políticas culturais (e não modelos industriais). Políticas comprometidas, por exemplo, com mais investimentos nos Pontos de Cultura, refletindo sobre eles como estratégias para fomentar as dissidências criativas e novas formas de politizar a cultura em todas as suas instâncias e vertentes.

Posted by Paula Dalgalarrondo at 2:01 PM | Comentários (1)

Ana de Hollanda, o Comando de Caça aos Commonistas e a transição conservadora? por Rodrigo Savazoni, Reforma Direito Autoral

Ana de Hollanda, o Comando de Caça aos Commonistas e a transição conservadora?

Matéria originalmente publicada no site Reforma da Lei de Direito Autoral em 31 de janeiro de 2011.

A opção pela retirada da licença Creative Commons do site do Ministério da Cultura é reflexo de um posicionamento político assumido pela ministra

A opção pela retirada da licença Creative Commons (CC) do site do Ministério da Cultura é reflexo de um posicionamento político assumido pela ministra Ana de Hollanda. Não se trata de medida menor ou ação isolada, e sim é parte de uma estratégia que resultou no estremecimento da relação do Ministério da Cultura com as forças defensoras do compartilhamento do conhecimento e da colaboração cultural.

Durante o governo Lula, a liberdade foi tônica: na política de valorização do software livre e no reconhecimento das novas formas de produzir e circular informação pelas redes interconectadas. O mundo, então, voltou seus olhos para o Brasil, país que em várias áreas do conhecimento voltou a apontar caminhos e produzir respostas globais – como ocorreu na época do surgimento da poesia concreta, da Bossa Nova e da arquitetura de Niemeyer.

No centro do capitalismo, as indústrias criativas (do copyright) produzem leis para restringir a livre circulação e vedar a inovação. Por aqui, o Ministro “Hacker” Gilberto Gil, com aval do presidente Lula, apontou a seta pra direção oposta. Esse embate segue em curso, e o Brasil agora irá aderir ao movimento conservador?

Entre 2003 e 2010, as licenças Creative Commons foram adotadas pelo Ministério da Cultura, pela Radiobrás (e segue sendo utilizada na EBC), no programa Café com o Presidente, na distribuição pela internet de A Voz do Brasil (!) e no Blog do Planalto, entre outros exemplos.

Gestores públicos sabem que os símbolos têm poder. Um site público com a marca de uma licença flexível é diferente de um site público que em seu rodapé exibe a marca do copyright seguida da mensagem “Licença de Uso: O conteúdo deste site, produzido pelo Ministério da Cultura, pode ser reproduzido, desde que citada a fonte”.

O primeiro exemplo é de um site que valoriza ativamente os commons (ou seja, os ambientes não comerciais que são utilizados em benefício de toda a coletividade). Trata-se, portanto, de uma ação afirmativa no sentido de construir ambientes de troca, de fortalecer o comum onde o padrão é ditado pelo individual. No outro caso, reconhece-se o império do comércio e abre-se uma exceção, frágil e inconsistente, na direção da liberdade.

No caso da decisão da ministra Ana de Hollanda, a retirada da logomarca do Creative Commons foi feita sem que nenhum dos atores ligados às políticas de cultura digital, dentro e fora do ministério, tivessem sido ouvidos.

A decisão foi tomada antes mesmo de seu secretariado ter sido formalmente nomeado, o que ocorreu na sexta-feira da semana passada, em meio às reações das redes culturais.

Por que a pressa? O que se queria demonstrar com isso? Fomos questionados sobre o que estaria por trás de nossa reação a essa decisão. O que está por trás da decisão da Ministra? Quem são seus assessores nessa escolha? Essas perguntas não foram respondidas.

Em sua resposta pública, o Ministério usa os mesmos argumentos historicamente expostos pelos advogados que defendem o ECAD. Em defesa da decisão da ministra, os primeiros a se manifestarem foram representantes das entidades mantenedoras do escritório de arrecadação. Músicos e compositores, em sua maioria com mais de 50 anos, detentores de uma obra ou uma herança saíram em defesa da Ministra, em uníssono, conformando o que dei o nome de Comando de Caça aos Commonistas (CCC).

Informações de bastidor dão conta de que ninguém dentro do novo Ministério da Cultura a assessorou nessa decisão. Suspeita-se que advogados ligados às entidades que mantém o ECAD sejam os conselheiros.

O novo secretariado do Ministério da Cultura esteve reunido em imersão este fim de semana. A conversa já terminou, conforme registrou Marta Porto no Twitter.

Resta saber se essa equipe, que conta com vários apoiadores dos movimentos pela liberdade do conhecimento e da cultura digital, se posicionou diante da decisão da Ministra e se há margem para um diálogo em outros termos a partir de agora.

Fato é que, nesses últimos dez dias em que o tema invadiu a blogosfera, a imprensa alternativa e a grande mídia, o assunto demonstrou ser de amplo interesse público, e não algo secundário, como o Ministério da Cultura chegou a acreditar ao tomar a decisão arbitrária de remover a licença CC do site.

A evolução da conversa para um bom termo deveria nos levar a uma discussão sobre quais políticas de cultura são as que devemos construir em contexto digital. É o que esperamos da presidenta Dilma.

Posted by Paula Dalgalarrondo at 1:48 PM

Leis de incentivo criam dependência, entrevista com Ana de Hollanda, Folha de S Paulo

Leis de incentivo criam dependência, entrevista com Ana de Hollanda

Matéria originalmente publicada no Mercado da Folha de S. Paulo em 14 de fevereiro de 2011.

Para a ministra Ana de Hollanda, tratar a cultura como indústria vai permitir emancipar o mundo da criação

Titular da Cultura afirma que economia criativa pode preparar ambiente para que produção seja difundida

Para a ministra Ana de Hollanda, tratar a cultura como indústria vai permitir emancipar o mundo da criação e livrá-lo dos "vícios" das leis de incentivo. Leia trechos de entrevista da ministra da Cultura concedida à Folha.

Folha - Por que criar uma Secretaria da Economia Criativa?

Ana de Hollanda - Essa é uma demanda do século 21. As áreas de design, arquitetura e moda representam a maior parcela da cadeia produtiva da indústria criativa e a Cultura não encampava como um assunto seu.

A moda está presente em outros ministérios, mas estava fora da Cultura. E moda é cultura, é criação. Aplicada na indústria. Como o design.

Estamos revendo a forma de tratar a criação artística e cultural. Existiam ações, iniciativas isoladas.

Falta uma política mais consistente...

As pessoas vivem muito de eventos, de produzir eventos pela Lei Rouanet. A lei foi criando certos vícios.

Não só no mundo artístico mas também no das empresas. Temos de pensar uma política mais organizada, sistemática, para que a cadeia produtiva possa trabalhar do começo ao fim, da criação até a distribuição e a venda.

A lei fez mal para a cultura?

A lei tem suas virtudes e é boa para eventos especiais. Mas um trabalho permanente ela não permite.

Os artistas vivem de elaborar "n" projetos para ver em qual edital emplacar. Uma exposição que vai durar um mês e o artista fica três em pré-produção, depois em pós-produção, fazendo aquilo render o máximo. Isso não é profissão.

A economia criativa pode preparar o ambiente para que isso flua, para que a produção seja difundida.

Como a secretaria trabalhará?

Precisamos profissionalizar o mundo da criação, que é muito informal. Do artesão ao escritor, músico, ator e artista plástico, as pessoas vivem na dependência de agentes intermediários e não se profissionalizam.

Vamos trabalhar com outros ministérios: Desenvolvimento, Trabalho, Justiça.

A sra. diria que a Lei Rouanet é como o Bolsa Família, e a economia criativa, uma porta de saída?

Acho radical a comparação. Há eventos grandes para os quais a lei é fundamental. Mas temos de trabalhar nesse sentido. Não será a curto prazo, mas temos de buscar caminhos para emancipar o mundo da criação.

Vai ter orçamento no ministério para apoiar também a moda, o design, o software?

Essas áreas já são mais sustentáveis, mais estruturadas. Não existe disputa de verba, vamos atrair muito mais recursos.

Posted by Paula Dalgalarrondo at 1:23 PM

fevereiro 14, 2011

Vida instantânea por Paula Alzugaray, Istoé

Vida instantânea

Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 11 de fevereiro de 2011

Exposição apresenta o realismo gráfico de Ródtchenko, o pintor que reinventou a fotografia na Rússia dos anos 20

Aleksandr Ródtchenko: revolução na fotografia/ Pinacoteca do Estado, SP/ de 19/2 a 10/5

Pintor, escultor e artista gráfico, o russo Aleksandr Ródtchenko (1891-1956) foi o primeiro a levantar a bandeira da fotografia instantânea, um recurso estético inovador nas primeiras décadas do século XX. É certo que Henri Cartier-Bresson se tornaria um dos mais geniais olhares do instantâneo, mas, quatro anos antes de o francês dar o disparo que se tornaria um dos maiores ícones do século XX – o salto suspenso sobre a poça d’água nos fundos da Estação de Saint-Lazare, em Paris –, Ródtchenko já havia clamado: “Não minta! Fotografe e seja fotografado. Cristalize o homem não pelo retrato ‘sintético’, mas de vários instantâneos feitos em momentos diferentes. Preze tudo o que é real e contemporâneo. E seremos seres reais, não de brincadeira.” Em 1928, Ródtchenko já era tão pioneiro quanto seus companheiros poetas e pintores construtivistas da vanguarda russa. Conhecer esse olhar realista que influenciaria gerações e gerações – entre as quais os artistas concretos brasileiros – é o privilégio possibilitado pela mostra “Aleksandr Ródtchenko: Revolução na Fotografia”, que antes de chegar a São Paulo passou por Paris, Berlim, Amsterdã, Londres e Rio de Janeiro.

Para Ródtchenko, ser contemporâneo na Rússia dos anos 20 era ser fotógrafo. A desconstrução da pose foi seu primeiro recurso para chegar a uma linguagem fotográfica que se tornaria universal. A fotografia de sua mãe, de olhos fechados, tirada em 1924, está entre seus primeiros instantâneos. A imagem seria capa da revista “Soviétskoe Foto”, assim como muitos retratos do poeta Vladimir Maiakóvski viraram capas de livros e o retrato de Lilia Brik, musa do poeta, estamparia diversos cartazes, sempre desenhados por Ródtchenko.

Com cerca de 300 obras, entre fotografias, fotomontagens, capas de livros, revistas e cartazes, a mostra elucida como o artista construiu uma identidade gráfica a serviço do socialismo soviético que seria idealizada para sempre. O último segmento da exposição mostra o trabalho fotojornalístico dos anos 30 e 40, que confirma seu olhar gráfico sobre o mundo. Especialmente nas imagens de esportes, Ródtchenko toma o partido de uma forte estetização da realidade, transformando operários e esportistas em semideuses. Uma postura que seria definitivamente apropriada alguns anos depois por Leni Riefenstahl, propagandista do Terceiro Reich.

Posted by Paula Dalgalarrondo at 6:26 PM