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fevereiro 3, 2011
Google cria ferramenta para visitação virtual de museus em 360 graus, O Globo
Artigo originalmente publicado no caderno Tecnologia do jornal O Globo em 1 de fevereiro de 2011.
RIO e LONDRES - A Google lançou nesta terça-feira uma ferramenta on-line que permite a visitação virtual de 17 importantes museus em todo o mundo e a visualização de suas mais de mil obras de arte. Por meio da tecnologia Street View e de um veículo exclusivamente desenvolvido para o projeto, o Google Art Project fotografou em 360 graus o interior de lugares como o MoMA, de Nova York, o Museu Van Gogh, em Amsterdã, a Tate Britain e a National Gallery, de Londres. O resultado é que pode-se andar pelas galerias assim como se passeia pelas ruas com o Google Street View, pelo qual também é possível acessar o Google Art Project.
"O projeto começou quando um grupo (de funcionários da Google) apaixonado por arte se juntou para pensar quando poderíamos usar nossa tecnologia para ajudar museus a tornar sua arte mais acessível" afirmou Amit Sood, chefe da nova ferramenta.
Além disso, cada um dos 17 museus escolheu uma única obra de arte de seu acervo para ser fotografado com câmeras de altíssima resolução, ou "gigapixel" (veja a lista completa no fim desta matéria). As imagens contém cerca de 7 bilhões de pixels, o que significa, segundo a Google, que é mais de mil vezes mais detalhada do que uma foto comum de câmera digital. Por meio da tecnologia do Picasa, serviço de fotos da empresa, um zoom especial permite que se esmiuce esses quadros em microdetalhes.
Todas as obras de arte listadas no Google Art vêm acompanhadas de informações como títulos originais, os anos em que foram criadas, suas dimensões e a quais coleções já pertenceram. Os usuários também podem criar suas próprias coleções e compartilhá-las pela web.
Embora a maioria das grandes galerias há anos venha promovendo a divulgação on-line de seus acervos, especialistas disseram na cerimônia de lançamento realizada nesta terça-feira na Tate Britain que o site da Google buscaria levar a experiência da arte on-line a um novo patamar.
- O serviço pode mudar o jogo - disse Julian Raby, da Freer Gallery of Art, parte da Smithsonian Institution, em Washington, uma das 17 galerias participantes.
Amit Sood, chefe do projeto, disse que o objetivo é acrescentar mais museus e obras de arte à ferramenta. Mas, segundo o jornal britânico "The Telegraph", a Google enfrenta dificuldades para expandir a funcionalidade. Certos museus seriam contrários à ideia de ter um carrinho circulando e fotografando tudo entre seus corredores e disponibilizando as imagens on-line. O jornal cita o Prado de Madri e os museus do Vaticano, em Roma. A publicação listou outros problemas do serviço :
"É um problema filosófico denso, mas meu instinto me diz que eu preferiria visitar a National Gallery e ver 'Os Embaixadores' de Holbein com meus próprios olhos a examiná-lo por meio do prisma de "super-alta resolução" da Google. Sempre. O Google Art Project é uma fonte maravilhosa, mas não substitui a experiência de olhar de verdade para uma obra de arte."
Mesmo admitindo que um site não substitui os museus de verdade, a Google está confiante nos horizontes abertos pela ferramenta. O brasileiro Nelson Mattos, vice-presidente de engenharia da gigante de buscas, disse que o site do Art Project permitiria que crianças de América Latina, Índia e África, com pouca chance de ver os originais, tivessem experiência próxima à real por meio da internet.
- Isso na verdade representa um grande passo adiante na maneira pela qual as pessoas vão interagir com esses belos tesouros da arte de todo o mundo - disse, acrescentando que o Google planejava expandir o site ao longo dos anos. - Obviamente não acreditamos que essa tecnologia levará as pessoas a não virem a museus Esperamos que o oposto venha a ocorrer.
Julian Raby, da Freer Gallery of Art, acredita que o Google Art Project venha a oferecer uma nova experiência de fruição da arte on-line:
- Os museus até o momento eram obcecados com informação, e o que o Google Art Project permite é a criação de uma experiência emocional. Não vejo a ideia como alternativa a visitar um museu, e sim como estímulo para que as pessoas venham e vejam as obras ao vivo.
Segue a lista completa das obras capturadas em ultra-alta resolução:
- Alte Nationalgalerie, Berlim - "No conservatório" / Edouard Manet
- Freer Gallery of Art, Smithsonian, Washington DC - "A princesa da terra da porcelana" / James Whistler
- The Frick Collection, Nova York - "São Francisco no deserto" / Giovanni Bellini
- Gemaldegalerie, Berlim - "Retrato do O mercador Georg Gisze" / Hans Holbein the Younger
- Museu Kampa, Praga - "A Catedral" / Frantisek Kupka
- The Metropolitan Museum of Art, Nova York - "A colheita" / Pieter Bruegel, o Velho
- MoMA, Museu de Arte Moderna, Nova York - "A noite estrelada" / Vincent van Gogh
- Museo Reina Sofia, Madrid - "A garrafa de anis do mono" / Juan Gris
- Museo Thyssen - Bornemisza, Madrid - "Jovem cavaleiro numa paisagem" / Vittore Capaccio
- Galeria Nacional, Londres - "Os embaixadores" / Hans Holbein, o jovem
- Palácio of Versailles, France - "Marie-Antoinette de Lorraine-Habsbourg, rainah da França e seus filhos" / Louise Elisabeth Vigee-Lebrun
- Rijksmuseum, Amsterdam - "Vigília noturna" / Rembrandt
- Museu Hermitage, São Petersburgo - "Retorno do filgo pródigo" / Rembrandt
- Galeria Tretyakov, Moscou - "A Aparição de Cristo diante do Povo" / Aleksander Ivanov
- Tate Britain, Londres - "Nenhuma mulher, nenhum grito" / Chris Ofili
- Galeria Uffizi, Florença - "O nascimento de Vênus" / Sandro Botticelli
- Museu Van Gogh, Amsterdã - "O quarto" / Vincent van Gogh
"Art Project", a iniciativa do Google que leva a arte para todos por Fernando Puchol, Exame.com
Matéria de Fernando Puchol originalmente publicada na Exame.com em 1 de fevereiro de 2011
Site lançado pelo Google permite visitar o arcevo de 17 dos principais museus do planeta
Londres - Os amantes da arte terão uma ferramenta imprescindível chamada "Art Project", iniciativa do Google, que permite que qualquer utilizador descubra e visualize virtualmente mais de mil obras de 17 dos principais museus do mundo, com uma qualidade de imagem excepcional e com a possibilidade de interagir com todas elas.
O Metropolitan Museum of Art, Hermitage, Palácio de Versalhes, Rijksmuseum, Tate, Reina Sofía e o Thyssen estão entre as instituições que colaboraram com este projeto, que propõe também um percurso virtual de 360 graus pelas galerias dos museus graças à tecnologia street-view.
Obras como "Noite estrelada" de Van Gogh, do Moma de Nova York, "A aparição de Cristo ao povo" de Alexander Ivanov da Galeria Tretyakov de Moscou, ou "O nascimento de Vênus" de Sandro Botticelli da Galleria degli Uffizi poderão ser vistas com um detalhe minucioso.
O Google conseguiu as obras com uma resolução de 7 bilhões de pixels (uma qualidade de imagem mil vezes superior à das câmaras digitais convencionais), o que permite ver com visão microscópica os detalhes do traço das obras.
As imagens são acompanhadas das explicações em vídeos do YouTube, de uns três minutos de duração, com especialistas da arte.
O projeto foi apresentado na galeria Tate Britain, cujo diretor Nicholas Serota destacou que o "Art Project" "dá uma oportunidade sem igual de aproximação às grandes obras de arte".
O vice-presidente tecnológico do Google para a Europa, África e o Oriente Médio, o brasileiro Nelson Mattos, considerou que se trata "de um grande passo adiante na maneira na qual as pessoas interagem com estas maravilhosas peças de arte" e ressaltou que facilitará o acesso à arte para milhões de pessoas que não podem visitar um museu.
Mattos afirmou ainda que o "Art Project" nasce com a vocação de chegar a outros museus importantes que não estão na lista, como os renomados Louvre e Prado.
Amit Sood, diretor do projeto, não quis entrar em detalhes sobre as razões que impediram que estes museus estivessem na lista, mas afirmou que "a porta segue aberta".
O procurador de internet, que financia integralmente este programa, conseguiu colocá-lo em andamento em um ano e meio, graças à participação de um grupo de trabalhadores do próprio Google que embarcou no que a empresa chama de "projetos 20%".
Trata-se de programas de incentivos aos empregados da companhia, que passam a dedicar um quinto de sua jornada de trabalho a pensar em iniciativas que potencialmente poderão se transformar em um produto, como ocorreu com o "Art Project".
Miguel Ángel Recio, diretor-gerente do Thyssen, se mostrou muito satisfeito com o produto e convencido de que, longe de afastar os visitantes dos museus, este projeto servirá para estimular novas visitas e atrair "outro tipo de usuário".
"Para nós é muito positivo, porque servirá para atrair pessoas que até agora não conhecem nada", disse Recio.
A página que os internautas poderão visitar é www.googleartproject.com.
Google leva acervo de grandes galerias para a internet, Folha de S. Paulo
Matéria de Reuters/Londres originalmente publicada na Tec da Folha de S. Paulo em 1 de fevereiro de 2011.
O Google quer levar o mundo das grandes galerias mundiais de arte aos lares, com um novo site que oferece visitas virtuais usando a tecnologia do serviço Street View aliada à capacidade de construir coleções privadas e imagem de altíssima resolução.
Embora a maioria das grandes galerias há anos venha promovendo a divulgação on-line de seus acervos, especialistas disseram na cerimônia de lançamento realizada terça-feira na galeria Tate Britain, de Londres, que o site do Google buscaria levar a experiência da arte online a um novo patamar.
"O serviço pode mudar o jogo", disse Julian Raby, da Freer Gallery of Art, parte da Smithsonian Institution, em Washington, uma das 17 galerias participantes.
Nelson Mattos, vice-presidente de engenharia do Google, disse que o site do Art Project permitiria que crianças da América Latina, Índia e África, que teriam pouca chance de ver os originais, tivessem experiência próxima à real, por meio da Internet.
"Isso na verdade representa um grande passo adiante na maneira pela qual as pessoas interagirão com esses belos tesouros da arte de todo o mundo", disse, acrescentando que o Google planejava expandir o site ao longo dos anos.
Mattos e os curadores de arte presentes no lançamento disseram estar confiantes em que, não importa o quanto a tecnologia avance, o novo site jamais substituirá as visitas a museus.
"Obviamente não acreditamos que essa tecnologia levará as pessoas a não virem a museus", acrescentou. "Esperamos que o oposto venha a ocorrer."
Raby acredita que o Art Project venha a oferecer uma nova variedade de experiência no que tange a observar arte on-line.
"Os museus até o momento eram obcecados com informação, e o que o Google Art Project permite é a criação de uma experiência emocional", disse.
"Não vejo a ideia como alternativa a visitar um museu, e sim como estímulo para que as pessoas venham e vejam as obras ao vivo", acrescentou.
Entre as galerias participantes estão a Uffizzi, em Florença; o Palácio de Versalhes, na França; o Museu Kampa, em Praga; o Museu Van Gogh, em Amsterdã; e o Museu Estatal Hermitage, em São Petersburgo, Rússia.
fevereiro 2, 2011
Com vendas pífias, feira de arte on-line não substitui tradicionais por por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 31 de janeiro de 2011.
Sistema do site travou nas primeiras duas horas do evento virtual
Parecia simples e sofisticado, mas a realidade da esfera virtual impôs alguns obstáculos à realização da VIP Art Fair, primeira feira de arte on-line, encerrada ontem.
Mesmo com as maiores galerias do mundo, como Gagosian e White Cube, e as poderosas brasileiras Fortes Vilaça, Luisa Strina e Nara Roesler, a feira teve vendas pífias.
Isso porque o sistema travou nas primeiras duas horas do evento virtual, impedindo a comunicação entre muitos colecionadores e galeristas.
"Desde o minuto um o site não funcionou", reclama Mariana Carvalho, da Luisa Strina. "As pessoas se decepcionaram, perderam o tesão", acrescentou Fernanda Figueiredo, da Nara Roesler.
Com estandes virtuais vendidos entre US$ 3.000 e US$ 20 mil, valores de feira do mundo real, a VIP amealhou galerias participantes de olho na economia que fariam sem sair de casa, sem transportar obras e sem as festas.
À DERIVA
Mas muitos negócios ficaram à deriva. "Nós tivemos alguma procura, mas não foi um sucesso", diz Alexandre Gabriel, da Fortes Vilaça. "Não tem o frisson do real, ninguém se sente pressionado a fechar uma compra."
Daí que o Viewing in Private, ver em segredo, que dá nome à feira acabou virando "Viewing in Pajamas", na ironia de um crítico, ou seja, ver de pijama, não de Prada.
"Isso não vai substituir as feiras tradicionais, até porque nós também gostamos das festas", diz James Cohan, diretora da VIP. "Mas acreditamos nessa plataforma."
janeiro 31, 2011
Em entrevista polêmica, Francis Ford Coppola dispara: "Quem diz que artista tem que ganhar dinheiro?", O Tempo Online
Em entrevista polêmica, Francis Ford Coppola dispara: "Quem diz que artista tem que ganhar dinheiro?"
Matéria originalmente publicada em O Tempo Online em 31 de janeiro de 2011.
Francis Ford Coppola levanta polêmica ao discutir questões como dowload e direito autoral
O aclamado diretor Francis Ford Coppola, que tem no currículo a trilogia "O Poderoso Chefão", "Apocalypse Now", dentre vários outros sucessos de público e crítica, refletiu sobre questões contemporâneas acerca do direito autoral e downloads gratuitos em uma entrevista concedida ao site "The 99 percent".
Trechos extraídos da entrevista publicados no site Gizmodo Brasil, mostram que o cineasta assume uma posição radical acerca dos temas. "Talvez os estudantes que baixam filmes e músicas estejam certos. Talvez os artistas não devam ser pagos", afirmou.
Coppola levanta uma discussão remetendo aos primórdios das produções artísticas: "Nós precisamos ser espertos nesses assuntos. É preciso lembrar que há míseros cem anos, e olhe lá, os artistas trabalham com dinheiro. Artistas nunca tiveram dinheiro. Artistas tinham um patrono, seja ele o líder do estado ou o duque de algum lugar, ou a igreja, ou o papa. Ou eles tinham outro emprego. Eu tenho outro emprego".
Para quem não sabe, Coppola investe na indústria de vinhos, o que garantiu a ele, além de seus estrondosos sucessos de bilheteria, uma segurança financeira que muitos cineastas não podem se dar ao luxo de ter.
Em relação à tradicional ideia dos ídolos do rock serem milionários, Coppola também se posiciona: "Essa ideia de que o Metallica ou qualquer outro cantor de rock tem de ser rico é algo que não necessariamente vai acontecer daqui para frente. Porque, como estamos entrando em uma nova era, talvez a arte seja gratuita. Talvez os estudantes estejam certos. Eles devem ter o direito de baixar músicas e filmes. Eu vou levar um tiro por dizer isso. Mas quem disse que a arte custa dinheiro? E, portanto, quem disse que os artistas têm que ganhar dinheiro?"
Certamente o posicionamento do diretor, que possui mais de 40 anos de experiência na indústria cinematográfica, ainda vai reverberar muito pelos corredores do mainstream e do cinema independente.
A entrevista está no artigo de Ariston Anderson e pode ser lida na íntegra, em inglês, aqui.
Regras Claras por Hermano Vianna, O Globo
Regras Claras
Artigo de Hermano Vianna originalmente publicado no Segundo Caderno do jornal O Globo em 28 de janeiro de 2011.
O plano era passar um tempo sem falar em direito autoral por aqui. Há outras coisas interessantes no mundo. Também seria deselegante parecer estar pressionando a ministra da Cultura a ter rápida posição sobre o assunto. Posse em ministérios exige calma e tempo. Como a história de Ana de Hollanda comprova disposição para diálogo, pensava que era isso que pedia em suas primeiras manifestações como ministra, declarando que só voltaria a falar sobre a reforma da Lei do Direito Autoral quando tivesse tempo para estudar com calma o projeto apresentado pela gestão Juca/Gil.
Estava então imerso em outros temas quando fui surpreendido pela barulheira no Twitter. A causa? O site do MinC, na calada da noite, havia trocado o licenciamento Creative Commons por declaração vaga: “O conteúdo deste site, produzido pelo Ministério da Cultura, pode ser reproduzido, desde que citada a fonte.” Diante do protesto, foi publicada nota de esclarecimento, falando erroneamente em referência e não em licenciamento: “A retirada da referência ao Creative Commons da página principal do Ministério da Cultura se deu porque a legislação brasileira permite a liberação de conteúdo. Não há necessidade de o ministério dar destaque a uma iniciativa específica. Isso não impede que o Creative Commons ou outras formas de licenciamento sejam utilizados pelos interessados.” Esclarecimento nada esclarecedor, que coloca ponto final em conversa que não teve início.
Volto ao assunto Gov 2.0, que dominou esta coluna recentemente. O site cultura digital.br, hóspede dos debates sobre o Marco Civil da Internet e a Classificação Indicativa, iniciativas do Ministério da Justiça, tem seu conteúdo publicado sob uma licença Creative Commons (CC). O blog do Palácio do Planalto tem licença CC (diferente da usada no culturadigital.br). O site da Casa Branca dos EUA “é” CC. O blog do Departamento de Finanças da Austrália é CC (bit.ly/bo90EU). Já o OpenData do governo britânico é diferente: não tem licença CC. Porém, seus responsáveis criaram uma outra licença, a Open Government Licence (bit.ly/cS6EGp), parecida com uma licença CC, mas com outros detalhes e finalidades.
O MinC deveria ter seguido o exemplo do governo britânico. Ninguém é obrigado a usar licenças CC. Mas alguma licença é necessária (assim como, mesmo com uma legislação trabalhista geral, precisamos assinar diferentes contratos ao iniciar novos trabalhos). A declaração do MinC (“O conteúdo deste site, produzido pelo Ministério da Cultura, pode ser reproduzido, desde que citada a fonte”) não é uma licença, não tem validade jurídica. Sim: a legislação brasileira já permite a “liberação” de conteúdo. As licenças CC-BR são totalmente baseadas na legislação brasileira — não propõem nada que essa legislação não permita. Sua novidade é dar uma redação juridicamente clara para a autorização prévia de alguns, não todos, tipos bem específicos de utilização desse conteúdo. Por exemplo: sua reprodução, sua tradução, sua “remixagem” etc. — dependendo da licença escolhida.
Se o novo MinC não queria sigla CC em seu site, que pelo menos se desse tempo para criar uma nova licença válida em tribunais, como fez o governo britânico. Isso não se faz apressadamente. Bons advogados são necessários para esse trabalho, que pode custar caro aos cofres públicos (vantagens das licenças CC: já estão prontas, são válidas juridicamente, são compreensíveis em qualquer lugar do mundo e ninguém precisa pagar para utilizá-las). Com a pressa, o conteúdo do site do MinC e as pessoas que reproduzem esse conteúdo estão agora desprotegidos. (E com muitas dúvidas. Um exemplo: o conteúdo do site pode ser usado para finalidades comerciais? Acredito que sim, mas o texto não deixa isso claro.) Essa atitude não incentiva a defesa dos direitos autorais e sim cria um clima de “ninguém precisa licenciar nada” ou vale tudo.
Já há muita complexidade no debate sobre direito autoral. O MinC não pode atuar para criar confusão. Precisamos de licenças e regras claras. O CC prega exatamente o contrário do liberou geral. Com suas licenças todo mundo fica sabendo exatamente o que pode ou não fazer com cada conteúdo, seguindo as determinações de seus próprios autores. Ninguém “abre mão de seus direitos” e sim exerce mais plenamente seus direitos ao estabelecer o que pode ser feito com suas obras. Para “liberar” (prefiro dizer “autorizar”) alguns usos do conteúdo produzido seja em sites governamentais ou privados, precisamos deixar clara que liberação é essa. Sem algum tipo de licença, a lei entende que ninguém pode fazer nada com esse conteúdo, sem autorização a cada vez que for usado para qualquer fim. Uma experiência como a Wikipedia, onde podemos a todo momento editar o texto dos outros, seria ilegal se não acontecesse com licença clara que autoriza a reedição contínua.
Não estou aqui para pedir a volta da licença CC. Quanto mais licenças, melhor: aumentam nossas opções, segurança e legalidade. Seria ótimo que o MinC fizesse a crítica das licenças CC, para aperfeiçoá-las em outras licenças. Que comece logo o diálogo, com calma e tempo. Agradeço a Caetano Veloso por ter, em sua coluna do domingo passado, expressado seu desejo que é uma (boa) ordem: precisamos de uma “conversa produtiva” entre todos os grupos interessados em “levar o Brasil para a frente sem perder a dignidade”.
Direitos autorais, segundo a neta da Lygia Clark por Alessandra Clark, Luis Nassif Online
Direitos autorais, segundo a neta da Lygia Clark
Artigo de Alessandra Clark originalmente publicado no Luis Nassif Online em 24 de janeiro de 2011.
Meus caros, sou neta de Lygia Clark. gostaria de saber se algum dia ligarão para a Associação cultural "O Mundo de Lygia Clark" e perguntarão o que nós pensamos a respeito de tudo isso, ao invés de ficarem se derretendo em lamúrias pela internet com falsos testemunhos sem opinião própria.
então, como jamais entrarão em contato, resolvi dar 5 minutos do meu dia para responder a este blog (muito bom - por sinal).
A verdade é que muitos reclamam de barriga cheia. todos querem sobreviver da arte. críticos querem vender seus textos, curadores querem vender seus projetos, empresário querem vender seus produtos. só esquecem que a fonte de todas as suas pesquisas são os artistas. enquanto o artista está vivo, é fácil encontrá-lo e pedir autorização para publicar seu legado. o artista, emocionalmente envolvido paga a alma pra conseguir ver seu trabalho exposto. quando o artista morre, os herdeiros se vêem numa posição muito difícil - terem em suas vidas uma Obra para tomar conta. Essa obra é o filho de uma pessoa, eternamente dependente, que passa a conviver diariamente com essas pessoas. isso quer dizer que os herdeiros passam a ter todos os positivos e os negativos desse 'f'ilho' que apareceu repentinamente.
vou dizer os Deveres: cuidar, zelar, respeitar. se vocês não sabem o que isso quer dizer, eu vou dizer: manter o arquivo documental impecável limpo, sem fungo, organizado, apto a ser entregue como objeto de pesquisa... pra quem???? para pessoas que queiram pesquisar, publicar, expor... mas essas pessoas não querem dar nenhuma contra partida para ajudarem... infelizmente, como a falta de respeito em relação aos artistas é enorme, as pessoas acham que os herdeiros têm a obrigação de manter tudo isso e não querem ajudar...
exemplo: já recebi pedidos de pesquisa aonde pessoas gostariam de publicar livros e não tinham verba destinada a direitos autorais... mas o livro é inteiramente patrocinado com verba pública (Lei Rouanet), todas as pessoas envolvidas no projeto sendo muito bem remuneradas (pela tabela de valores dos serviços no ministério) e não se tem verba para o artista... e depois o livro ainda é vendido nas livrarias a 150 reais. isso eu não acho justo. é falso moralismo dizer que estão disponibilizando cultura... disponibilizar cultura a 150 reais não é disponibilizar.
eu vou dizer o que é disponibilizar: disponibilizar é deixar acessível sem custo a a custo que a pessoa possa pagar. 1/3 de salário mínimo não é disponibilizar. sinto muito. EU disponibilizo. eu tenho a documentação da Lygia Clark disponível para pesquisa gratuita. quem quiser, pode ligar a marcar pra fazer sua pesquisa. eu libero direitos autorais gratuitamente - lógico se todos estiverem doando seus esforço também. por que só nós """artistas/herdeiros"""" temos que nos sujeitar a ceder...
se o governo fizesse por onde, cuidando do legado de cada artista, ele poderia exigir alguma coisa. mas infelizmente, não faz. a Lei Rouanet hoje é usada de forma imprópria. Nos sujeitamos as departamentos culturais de grandes empresas que fazem verdadeiros leilões de patrocínio que acabam sendo distribuídos a lobistas.... mas isso,,,, estamos nos Brasil, já deveríamos estar acostumados.
bem, passei mais de 5 minutos. me empolguei. desculpem-me. mas, está aqui o recado, se alguém tiver alguma dúvida, a Associação Cultural "O Mundo de Lygia Clark" está aberta a perguntas e a pesquisas. isso é gratuito. o resto, não é nossa obrigação moral ceder. analisamos caso a caso.
Atenciosamente,
Alessandra Clark - Uma amante da Arte e herdeira por tabela.
Ato de ministra provoca protesto por Jotabê Medeiros, O Estado de S.Paulo
Ato de ministra provoca protesto
Matéria de Jotabê Medeiros originalmente publicada no jornal O Estado de S.Paulo em 21 de janeiro de 2011.
Adeptos do compartilhamento digital e do software livre lamentam supressão do Creative Commons do site do MinC
A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, provocou nesta quinta um verdadeiro tiroteio verbal no Twitter. As manifestações foram decorrência da decisão da ministra de retirar do site do Ministério da Cultura as licenças Creative Commons, o que foi interpretado por militantes do compartilhamento digital como um ato de guerra em relação ao copyleft - e também uma adesão às teses mais conservadoras do direito autoral no País.
Diversos sites de direitos livres, do Brasil e do exterior, organizaram protestos na internet durante todo o dia. Endereçaram mensagens para a ministra Ana de Hollanda e seu principal colaborador, Antonio Grassi (ainda sem cargo). "Urgente! Começa o retrocesso no Ministério da Cultura!", escreveu Sérgio Amadeu. Diversos fóruns pelo compartilhamento na net, como o Espaço Liberdade, organizaram discussões. Muitos demonstravam desapontamento com a decisão, que consideram que faz regredir a discussão sobre o software livre.
Veja também:
- Creative Commons responde ao ministério
- O que é Creative Commons
- Estilo de Ana já seimpõe no Ministério da Cultura
Ronaldo Lemos, diretor do centro que gerencia o Creative Commons, da Fundação Getúlio Vargas, viu uma decisão "política" no caso. "A visão da ministra, pela remoção do Creative Commons, e pelo que disse em seu discurso de posse, é a visão das entidades arrecadadoras, é a visão do Ecad", afirmou.
Lemos também acha que a retirada, pelo MinC, dos logotipos das licenças configura uma infração legal, pois compromete a identificação do conteúdo já produzido pelo Creative Commons. "Ao fazer isso, o MinC viola não apenas a licença, como também os direitos autorais subjacentes a cada obra."
O Ministério da Cultura, que foi pioneiro na adoção dessa solução jurídica para os direitos autorais, só se manifestou no final da tarde desta sexta em nota enviada à reportagem sobre o fato, noticiado pelo jornal O Estado de S.Paulo. Inicialmente, o MinC recusou-se a comentar o assunto, que tem causado acalorados debates na internet. Eis a íntegra da nota:
"A retirada da referência ao Creative Commons da página principal do Ministério da Cultura se deu porque a legislação brasileira permite a liberação de conteúdo. Não há necessidade do ministério dar destaque a uma iniciativa específica. Isso não impede que o Creative Commons ou outras formas de licenciamento sejam utilizados pelos interessados."
Os manifestantes lembram que a própria ministra, em seu site pessoal, disponibiliza vídeos de músicas para as quais não tem autorização, de forma não comercial, e que uma das lutas do Creative Commons é justamente tentar trazer para a legalidade práticas como essa.
Durante a gestão de Gilberto Gil, o Ministério da Cultura aderiu festivamente ao Creative Commons - Gil se tornou, em 2004, o primeiro compositor brasileiro a ceder direitos de uma canção à licença. O governo federal passou a utilizar maciçamente as licenças - o próprio Blog do Planalto é licenciado dessa forma. O advogado americano Lawrence Lessig, criador do Creative Commons, esteve há um ano com a então candidata Dilma Rousseff na Campus Party, em São Paulo. "Ela deixou claro que queria continuar o trabalho progressista do ministro Gil. Eu ficaria muito surpreso se ela voltasse atrás em sua posição", disse Lessig ontem ao Estado.
Ana de Holanda e ECAD atacam política de Lula por Sergio Amadeu, Carta Maior
Ana de Holanda e ECAD atacam política de Lula
Artigo de Sergio Amadeu da Silveira originalmente publicado na Carta Maior em 25 de janeiro de 2011.
O movimento de software livre, de recursos educacionais abertos e os defensores da liberdade e diversidade cultural votaram em Dilma pelos compromissos que ela afirmou em defesa do bem comum. No mesmo dia que a Ministra Ana de Holanda atacou o Creative Commons retirando a licença do site, a Ministra do Planejamento Miriam Belquior publicou a normativa que consolida o software livre como a essência do software público que deve ser usada pelo governo. É indiscutível o descompasso que a Ministra da Cultura tem em relação à política de compartilhamento do governo Dilma. O artigo é de Sergio Amadeu da Silveira.
Os defensores da indústria de intermediação e advogados do ECAD lançam um ataque a política de compartilhamento de conhecimento e bens culturais lançada pelo presidente Lula. Na sua jornada contra a criatividade e em defesa dos velhos esquemas de controle da cultura, chegam aos absurdos da desinformação ou da mentira.
Primeiro é preciso esclarecer que as licenças Creative Commons surgiram a partir do exemplo bem sucedido do movimento do software livre e das licenças GPL (General Public Licence). O software livre também inspirou uma das maiores obras intelectuais do século XXI, a enciclopédia livre chamada Wikipedia. Lamentavelmente, os lobistas do ECAD chegam a dizer que a Microsoft apóia o software livre e o movimento de compartilhamento do conhecimento.
Segundo, o argumento do ECAD de que defender o Cretaive Commons é defender grandes corporações internacionais é completamente falso. As grandes corporações de intermediação da cultura se organizam e apóiam a INTERNATIONAL INTELLECTUAL PROPERTY ALLIANCE® (IIPA, Associação internacional de Propriedade Internacional) e que é um grande combatente do software livre e do Creative Commons. O Relatório da IIPA de fevereiro de 2010 ataca o Brasil, a Malásia e outros países que usam licenças mais flexíveis e propõem que o governo norte-americano promova retaliações a estes países.
Terceiro, a turma do ECAD desconsidera a política histórica da diplomacia brasileira de luta pela flexibilização dos acordos de propriedade intelectual que visam simplesmente bloquear o caminho do desenvolvimento de países como o Brasil. Os argumentos contra as licenças Creative Commons são tão rídiculos como afirmar que a Internet e a Wikipedia é uma conspiração contra as enciclopédias proprietárias, como a Encarta da Microsoft ou a Enciclopédia Britânica.
Quarto, o texto do maestro Marco Venicio Andrade é falso até quando parabeniza a presidente Dilma por ter "restabelecido a soberania de nossa gestão cultural, anulando as medidas subservientes tomadas pelos que, embora parecendo modernos e libertários, só queriam mesmo é dobrar a espinha aos interesses das grandes corporações que buscam monopolizar a cultura". O blog do Planalto lançado pelo presidente Lula e mantido pela presidente Dilma continua com as licenças Creative Commons. Desse modo, os ataques que o defensor do ECAD fez a política dos commons lançada por Gilberto Gil, no MINC, também valem para a Presidência da República.
Quinto, o movimento de software livre, de recursos educacionais abertos e os defensores da liberdade e diversidade cultural votaram em Dilma pelos compromissos que ela afirmou em defesa do bem comum. No mesmo dia que a Ministra Ana de Holanda atacou o Creative Commons retirando a licença do site, a Ministra do Planejamento Miriam Belquior publicou a normativa que consolida o software livre como a essência do software público que deve ser usada pelo governo. É indiscutível o descompasso que a Ministra da Cultura tem em relação à política de compartilhamento do governo Dilma.
Sergio Amadeu da Silveira é professor da UFABC. Sociólogo e doutor em Ciência Política. Foi presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação e primeiro coordenador do Comitê Técnico de Implementação do Software Livre na gestão do presidente Lula.
Ministra da Cultura dá sinais de guerra ao livre conhecimento por Renato Rovai, Blog do Rovai
Ministra da Cultura dá sinais de guerra ao livre conhecimento
Artigo de Renato Rovai originalmente publicado no Blog do Rovai em 21 de janeiro de 2011.
A ministra da Cultura Ana de Holanda lançou uma ofensiva contra a liberdade do conhecimento. Na quarta-feira pediu a retirada da licença Creative Commons do site do Ministério da Cultura, que na gestão de Gilberto Gil foi pioneiro em sua adoção no Brasil.
O exemplo do MinC foi àquela época fundamental para que outros sites governamentais seguissem a mesma diretriz e também publicassem seus conteúdos sob essa licença, como o da Agência Brasil e o Blog do Planalto.
A decisão da ministra é pavorosa porque, entre outras coisas, rasga um compromisso de campanha da candidata Dilma Roussef. O site de sua campanha foi publicado em Creative Commons o que denotava compromisso com esse formato.
Além desse ato simbólico, que demonstra falta de compromisso com o livre conhecimento, a ministra pediu o retorno ao Ministério da Cultura do Projeto de Lei de Revisão dos Direitos Autorais, que depois de passar por um debate de sete anos e uma consulta pública democrática no governo Lula, estava na Casa Civil para apreciação final e encaminhamento ao Congresso Nacional.
O que se comenta é que a intenção da ministra é revisar o projeto a partir das observações do ECAD, um órgão cartorial e que cumpre um papel danoso para a difusão da cultura no Brasil.
Para quem não conhece, o ECAD é aquele órgão que entre outras coisas contrata gente para fiscalizar bares e impedir, por exemplo, que um músico toque a música do outro. É uma excrescência da nossa sociedade cartorial.
Este blog também apurou que Ana de Holanda pretende nomear para a Diretoria de Direitos Intelectuais da Secretaria de Políticas Culturais o advogado Hildebrando Pontes, que mantém um escritório de Propriedade Intelectual em Belo Horizonte e que é aliado das entidades arrecadadoras.
Como símbolo de todo esse movimento foi publicado ontem no site do Ministério da Cultura, na página de Direitos Autorais, um texto intitulado “Direitos Autorais e Direitos Intelectuais”, que esclarece a “nova visão” do ministério sobre o tema. Vale a leitura do texto na íntegra , mas segue um trecho que já esclarece o novo ponto de vista:
“Os Direitos Autorais estão sempre presentes no cotidiano de cada um de nós, pois eles regem as relações de criação, produção, distribuição, consumo e fruição dos bens culturais. Entramos em contato com obras protegidas pelos Direitos Autorais quando lemos jornais, revistas ou um livro, quando assistimos a filmes, ou simplesmente quando acessamos a internet.”
Essa ofensiva de Ana de Holanda tem várias inconsistências e enseja algumas perguntas:
A principal, o governo como um todo está a par desse movimento e concorda com ele?
Afinal a presidenta Dilma Roussef se comprometeu, como Ministra da Casa Civil e candidata à presidente da República, a manter o processo de revisão dos direitos autorais e promover a liberdade do conhecimento. E um desses compromissos foi firmado na Campus Party do ano passado, em encontro com o criador das licenças Creative Commons, Lawrence Lessig.
O atual ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, quando candidato ao governo de São Paulo, também se comprometeu com esta luta, inclusive numa reunião que contou com a presença deste blogueiro, na Vila Madalena, em São Paulo.
O que a atual presidenta e o ministro Mercadante pensam desta inflexão?
E o pessoal do PT ligado à Cultura, o que pensa disso?
Muitos dos militantes petistas da área comemoraram a indicação de Ana de Holanda.
Alguns entraram em contato com este blog para dizer que os compromissos anteriores não seriam rasgados.
E agora, o que eles pensam dessas decisões da ministra?
Dilma Roussef foi eleita também para dar continuidade ao governo Lula. Se havia interesse em revisar certas diretrizes na área da Cultura e que vinham sendo implementadas com enorme sucesso e repercussão nacional e internacional, isso deveria ter ficado claro. Isso deveria ter sido dito nos diversos encontros que a candidata e gente do seu partido tiveram com esses setores.
Essas primeiras ações do MinC não são nada alentadoras. Demonstram um sinal trocado na política do ministério exatamente no que de melhor ele construiu nos anos de governo Lula.
Não há como definir de outra forma essa mudança rota: é traição com o movimento pela democratização da cultura e da comunicação.
A ministra precisa refletir antes de declarar guerra a esse movimento social.
E o PT precisa assumir uma posição antes que seja tarde.
Porque na hora H, não é com o povo do ECAD e com o da indústria cultural que ele conta.
PS: Conversei com um amigo que entende de conteúdos licenciados em Creative Commons e ele me disse que a decisão da ministra de mudar o licenciamento do site vale exatamente nada no que diz respeito ao que foi produzido na gestão anterior.
Aquele conteúdo foi ofertado em Creative Commons e o Ministério não pode simplesmente revogar a licença de uso.
Se isso for feito, o Ministério infringe a licença Creative Commons e se torna um infrator de direitos.
MinC abre polêmica após retirada da licença Creative Commons do site do ministério por André Miranda e André Machado, O Globo
MinC abre polêmica após retirada da licença Creative Commons do site do ministério
Matéria de André Miranda e André Machado originalmente publicada no jornal O Globo em 22 de janeiro de 2011.
Anunciada quinta-feira (20/1), gerou chiadeira nas redes sociais a decisão do Ministério da Cultura (MinC) de retirar de seu site a licença Creative Commons, que dá mais opção de escolha aos autores sobre o uso de sua obras. Ontem [sexta, 21/1], por exemplo, muitas mensagens no Twitter questionaram a ministra Ana de Hollanda a respeito do assunto. O MinC apressou-se a explicar, em nota, que a alteração no site não está relacionada a mudanças de mentalidade do governo:
"A retirada da referência ao Creative Commons da página principal do Ministério da Cultura se deu porque a legislação brasileira permite a liberação de conteúdo. Não há necessidade de o ministério dar destaque a uma iniciativa específica. Isso não impede que o Creative Commons ou outras formas de licenciamento sejam utilizados pelos interessados".
Quem reforçou o coro de descontentes foi o vice-coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da FGV, Carlos Affonso. Segundo ele, retirar a menção à licença e simplesmente dizer que o conteúdo do site pode ser copiado, desde que o crédito seja dado, cria um problema jurídico pela falta de transparência.
– Uma licença Creative Commons é um contrato como qualquer outro e diz exatamente o que o internauta deve fazer para utilizar o conteúdo pretendido – diz Carlos. – Longe de tirar direitos do autor, procura ampliá-los e dar a ele o direito de escolha sobre o que quer ou não compartilhar. A atitude da ministra denota má compreensão da natureza das licenças.
Ele também alerta que a decisão do ministério pode afetar a imagem do Brasil lá fora:
– Nos últimos oito anos, o país vem servindo de exemplo para a comunidade internacional com suas iniciativas culturais no âmbito da internet, e essa atitude retroage, sendo um tanto preocupante.
O Brasil foi o terceiro país a adotar o Creative Commons no mundo, depois de Finlândia e Japão. Hoje, no mundo, há aproximadamente 350 milhões de licenças desse tipo.
A decisão do ministério despertou mais dúvida em relação à forma com que a ministra Ana de Hollanda vai tratar os direitos autorais no Brasil. Isso porque, em sua primeira entrevista coletiva, poucos dias após ser confirmada no cargo, em dezembro, Ana afirmou que o projeto da nova Lei do Direito Autoral, que vinha sendo preparado pela gestão de seu antecessor, Juca Ferreira, poderia ser revisto. Uma das bases do projeto, que ainda não foi enviado ao Congresso, era justamente a maior flexibilização dos direitos do autor.
Ana disse, ainda, que considerava importante o papel do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) como representante de um setor da sociedade, e deixou claro que era contrária ao controle da entidade, diferentemente do que propõe o projeto de lei.
Ana Paula Santana, secretária do Audiovisual, disse que a discussão sobre direitos autorais exige paciência:
– Não vai ser a retirada de um selo que vai definir se o MinC vai atuar ou não acerca da questão dos direitos autorais pela internet e do compartilhamento da criação artística. Aliás, a ministra tem afirmado e reafirmado que é a favor da cultura digital. A criação da ideia de economia criativa já é uma afirmação dessa cultura digital como o pilar de uma nova política. O problema é que a discussão sobre os direitos autorais não é tão simples quanto parece e exige cautela, paciência e, especialmente, responsabilidade, uma vez que qualquer ação pode ferir a criatividade de um artista. Essa discussão é uma prioridade para o ministério e para a secretaria. [Colaborou Rodrigo Fonseca]
Ana de Hollanda define primeiro escalão da cultura por Ana Paula Sousa, Folha de S. Paulo
Ana de Hollanda define primeiro escalão da cultura
Matéria de Ana Paula Sousa originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 21 de janeiro de 2011.
Três semanas depois de ter tomado posse, a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, anunciou a composição de seu secretariado.
Ao contrário de seu antecessor, o cantor Gilberto Gil, que, em 2003, fez uma festa cheia de música e discursos para dar posse ao primeiro escalão, a nova ministra preferiu a discrição.
Como tem feito desde que assumiu a pasta, Hollanda preferiu "falar" por escrito, por meio de sua assessoria de comunicação.
As duas únicas novidades --ambas antecipadas pela Folha-- são estruturais. Uma delas é a criação da Secretaria da Economia Criativa, a ser comandada por Cláudia Leitão, socióloga e ex-secretária de Cultura do Ceará.
A outra é a junção das secretarias de Cidadania Cultural e Identidade e Diversidade. A nova secretaria, que passa a somar os dois nomes --Cidadania e Diversidade-- foi entregue à mineira Marta Porto, que coordenou o escritório da Unesco, no Rio.
A terceira mulher a figurar na comissão de frente do MinC é a advogada Ana Paula Santana, que entrou na Secretaria do Audiovisual em 2002, como estagiária, sob o comando do então secretário Orlando Senna, e agora chega ao cargo mais alto da pasta.
Da gestão anterior, se mantêm o secretário de Fomento, Henilton Menezes, o presidente do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), José do Nascimento Jr, e o presidente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Luiz Fernando de Almeida. O ator Sergio Mamberti, que fez parte do MinC durante todo o governo Lula, também permanece na nova administração, agora como secretário de Políticas Culturais.
Veja, a seguir, a lista completa do novo staff
Secretário-executivo: Vitor Ortiz
Secretário de Articulação Institucional: Roberto Peixe
Secretário de Políticas Culturais: Sérgio Mamberti
Secretária do Audiovisual: Ana Paula Santana
Secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural: Marta Porto
Secretária da Economia Criativa: Cláudia Leitão
Secretário de Fomento e Incentivo à Cultura: Henilton Menezes
Diretor-geral da Agência Nacional de Cinema (Ancine): Manoel Rangel
Presidente da Fundação Biblioteca Nacional: Galeno Amorim
Presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa: Emir Sader
Presidente da Fundação Cultural Palmares: Eloi Ferreira
Presidente da Fundação Nacional das Artes (Funarte): Antonio Grassi
Presidente do Instituto Brasileiro de Museus: José do Nascimento Jr
Presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional: Luiz Fernando de Almeida
Como entrar em alpha por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé Independente em 28 de janeiro de 2011.
Budismo, meditação, moda e design compõem a obra tecnológica da artista japonesa Mariko Mori
Paula Alzugaray
Mariko Mori – Oneness/ Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília/ de 25/1 a 3/4
Acordar, lavar o rosto, vestir-se apropriadamente e colocar-se em alerta para enfrentar mais um dia de trabalho. Essa é a rotina típica de um estado beta de consciência. Mas, quando algo inesperadamente relaxante acontece, algo próximo a uma frequência meditativa, ou a um estado contemplativo, ondas alpha são ativadas. Ao sonhar acordado, entra-se em theta. Mas é em delta que a consciência se apaga e a velocidade das ondas cerebrais chega a zero. Para vivenciar e reconhecer os quatro principais estados do funcionamento cerebral de uma só vez, recomenda-se entrar em “Wave UFO”, escultura penetrável que integra a exposição “Oneness”, uma antologia de trabalhos da artista japonesa Mariko Mori. Nessa cápsula interativa de arquitetura futurista, o visitante terá suas ondas cerebrais transformadas em cores por um programa computacional. A noção budista de unidade, que aproxima todos os seres viventes, é a base de “Wave UFO” e da maior parte das obras expostas em Brasília até 3 de abril.
Mariko surgiu no contexto da arte internacional em meados dos anos 90, junto ao aclamado Takashi Murakami. Antes de se tornar artista, trabalhou como modelo em Tóquio e estudou moda em Londres. A partir de sua experiência como modelo de suas próprias criações, iniciou uma série de autorretratos em que interpreta diferentes papéis e estereótipos femininos da cultura japonesa, como as garotas dos mangás, as gueixas durante a cerimônia do chá e outras “realidades criadas”. “O mundo da moda é um fenômeno social e assim como a tecnologia é uma realidade artificial”, diz a artista, que trocou Tóquio por Nova York porque diz não haver encontrado no Japão o ambiente para sua liberdade de expressão.