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janeiro 19, 2011
O que faz diferença? por Ricardo Tamm
O que faz diferença?
Pelo oitavo ano consecutivo, O Globo anunciou o resultado do “Prêmio Faz Diferença”, do próprio jornal (com patrocínio da FIRJAN), contemplando indivíduos, grupos, empresas, e projetos, que se destacaram ao longo do último ano em suas respectivas áreas de atuação, e cujas iniciativas resultaram em benefício para a sociedade, a cidade, o país, o mundo.
A despeito do fato de que uma premiação sempre peca por omissões e esquecimentos, chama a atenção a ausência das artes visuais como categoria, ao longo de todos esses anos. Note-se que entre os eventos de destaque do ano do Segundo Caderno do jornal, as Artes Visuais estão presentes, como a Literatura, a Música, as Artes Cênicas, o Cinema, e a TV. Áreas estas que – exceção feita às artes visuais – participam também do “Prêmio Faz Diferença 2010”, junto com: o Mundo, o País, o Rio, o Desenvolvimento do Rio, a Economia, a Razão Social, a Ciência/História, o Esporte, a moda (Ela), a cultura jovem (Megazine), e a Revista do jornal; a indicação de um artista plástico na categoria da revista, este ano, parece confirmar a excepcionalidade à regra. Deve haver algum motivo (um eventual esquecimento teria sido corrigido antes da oitava edição). Mas qual?
Será que as artes visuais, mesmo com a crescente expansão do mercado e valorização das obras, amplamente divulgadas pelo jornal, não conseguem fazer diferença na sociedade? Nem qualquer iniciativa para a formação, a circulação, a preservação, ou a informação sobre artes visuais na última década fez muita diferença para justificar a categoria?
É claro que um prêmio não é a única medida de avaliação de qualquer tipo de produção. Mas é um reconhecimento público e uma espécie de consagração de uma obra, um projeto, um programa. Especialmente um prêmio do próprio jornal, que divulga e promove o que é premiável ao longo do ano. E que, mesmo reconhecendo a área como assunto para farto noticiário, não a considera capaz de fazer diferença na sociedade do século 21 (até onde conhecemos).
O que faz então a arte contemporânea? Se não faz diferença, faz o mesmo, repete-se, não importa. Seria assim uma arte incapaz, que não diz à sociedade como o fazem outras artes e meios. Mas não seria essa indiferença, ou incapacidade crítica, promovida pelo jornal mesmo?
Uma página semanal dedicada às artes visuais é notícia recente – após longa temporada de críticas esporádicas –, que vem preencher de alguma maneira a lacuna, servindo para a informação e a crítica periódica sobre o que está em cartaz, aqui ou alhures. Suas colunas críticas vem desenvolvendo leituras louváveis às obras e exposições escolhidas. Falta a abordagem de diferenças estéticas e conceituais, ou a discussão sobre os movimentos do mercado, por exemplo. Parece que, com muitas matérias promocionais e apenas uma crítica semanal (em tão exíguo espaço, sempre louvável), tudo vai bem. Será?
A crítica periódica de arte, como toda crítica, desenvolve-se justamente pelas diferenças na recepção e, principalmente, pela sua possibilidade de discussão. É necessário expor a diversidade de visões e discursos sobre o que se apresenta sob o título e a instituição da arte. É preciso acompanhar estratégias comuns e específicas, mudanças de curso, sortes, enganos, manipulações, tudo o que acontece nesse meio – sobre o qual não tem havido, por aqui, muito dissenso. Onde não se discute publicamente a variedade dos circuitos que se estabelecem sob a mesma rubrica artística, e tampouco se questiona o que se faz na cidade em nome da arte
A arte contemporânea é reconhecida por colecionadores, comerciantes, curadores e críticos de arte, dentro de um círculo delimitado de agentes legitimadores. A produção artística fora do circuito institucionalizado por esses agentes é frequentemente considerada marginal, anacrônica, exótica, ingênua, popular – sendo algumas vezes reconhecida quando apropriada por um representante (artista, curador) do circuito central. Aí então, não como expressão autônoma, mas sim de segunda mão, mediada por uma obra, ou um olhar reconhecidamente contemporâneo
Quanto à cidade, não havendo um projeto esteticamente orientado para a ocupação do espaço urbano por parte da administração municipal (para este tipo de ação parece que não é preciso orientação), torna-se indispensável a discussão pública sobre essa ocupação – atual e futura. Há que se questionar se fazem ou não diferença para a cidade: a proliferação de estátuas em bronze, esculturas permanentes, e exposições temporárias (de vacas, presépios, homenagens); ou a difusão de grafites, intervenções, e peças promocionais no espaço público. Se não fazem diferença positiva, por que divulgar acriticamente esses eventos?
A maioria das críticas à arte contemporânea publicada na imprensa nos últimos anos, por sua vez, além de genérica, insiste em tomar como termo de comparação a genialidade de artistas do final do século 19, e começo do século 20. A história e o mercado os consagraram indiscutivelmente e milhares de estudos apontam-lhes os méritos. O problema das leituras comparativas ao passado (mais ou menos distante) é que as artes visuais contemporâneas incorporam histórias e caminhos que levaram mais tempo para se tornarem comuns, acessíveis – do meio para o final do século 20, mesmo se já apontados no início do século –, assumindo novas formas de apresentação e contato com o público. A experimentação se tornou uma conquista e uma realidade para toda a arte a partir dos anos 1960/70, incluindo as técnicas mais tradicionais, como possibilidade de expressão e discurso artístico. Neste sentido não há limites para a criação, para o exercício experimental da liberdade, de Mário Pedrosa, mesmo com lápis e papel.
A dificuldade crítica seria tentar encontrar antigos parâmetros onde já não os há. Ao menos totalizantes. Nem estéticos, nem formais. Se qualquer solução é possível, em qualquer meio, também o é a sua recepção, e leitura. Mesmo o termo contemporâneo é passível de diversas interpretações. O que não é mais possível é a leitura pretensamente capaz de dar conta do todo, onde as diferenças serviriam apenas para confirmar a própria visão geral ou seriam ignoradas. A possibilidade, hoje, são leituras parciais (assumidamente ou não) que algumas vezes, como numa curadoria, tentam organizar sentidos e aproximações em larga escala. Acontece que os grandes sentidos de leitura temática, que vão pautar as grandes exposições, ou serão restritivos, insuficientes, ou serão abertos para outros sentidos, paralelos, sobrepostos, cruzados, imprevistos.
Lidar com isso não é fácil. O que não significa que nada seria passível de crítica. Pelo contrário. A questão é em que bases vai se sustentar essa crítica. Se vai conseguir justificar o ponto de vista, e convencer, ou não. No mínimo vai representar a possibilidade de outras visões e leituras, ainda que, ou sobretudo, no dissenso.
A própria arte contemporânea incorporou formas e discursos diversos, se abriu para outros sentidos, e em todos os sentidos. Atingiu a pura idéia. Abstraiu a matéria de que seria feita (se o fosse). O que não a impediu, nem a livrou, de se apresentar de alguma maneira, de alguma forma. Tornou-se experiência, som, luz, ambiente, palavra, proposta, ação. Incorporou ou se perdeu em todas as formas de arte. Talvez o nome genérico a tenha induzido à expansão de suas possibilidades formais. Na história da arte moderna e contemporânea, manifestos literários, manifestações performáticas e obras antiarte cruzam fronteiras desde as primeiras décadas do século 20, superando os limites entre artes antes distintas.
Talvez a arte contemporânea se mantenha apenas por força de um mercado que necessita de circulação e renovação para o seu investimento (capaz de tal valorização que dificilmente qualquer outro bem, móvel ou imóvel, conseguiria alcançar). Talvez se mantenha por necessidade estética própria; plástica, visual, sensorial, em um campo de contato e fruição capaz de afetar-nos íntima e coletivamente – e de assim se manter, mantendo-nos.
Um renomado arquiteto contemporâneo vem procurando uma razão biológica e genética para a necessidade de arte em todas as suas formas, para a paixão e o prazer estético, quais sejam os seus parâmetros. Se ele vai conseguir encontrar, ou se faz sentido procurar por essa via, não vem ao caso. O que interessa é a busca e a paixão estética, bem como as variações de parâmetros dentro da diversidade de informações e ambientes nos quais estamos inseridos/inserimo-nos, e que vão permear a presença, e possível diferença, da arte na sociedade atual.
Retratos da arte quando jovem por Nina Gazire, Istoé
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na Istoé em 14 de janeiro de 2011
O que é ser um artista jovem? É possível pensar em uma produção de arte que seja jovem, independentemente da idade do artista? Essas são algumas das questões que o curador Adriano Casanova propõe no projeto “20 e Poucos Anos”, que entra em sua última semana de exibição na Baró Galeria, em São Paulo. “O objetivo é questionar como uma produção pode ser jovem sem ser determinada pela idade”, diz o curador. As questões colocadas por ele são pertinentes. A exposição identifica artistas que iniciaram suas criações em idade avançada, mas cujos trabalhos apresentam o frescor e as problemáticas típicas de início de carreira. Por outro lado, há artistas de 20 e poucos anos que alcançaram rapidamente a “maturidade”. Seja pela contudência do trabalho, seja pela relativamente imediata assimilação no mercado de arte, caso de Flávia Junqueira, 25 anos, que acaba de sair da faculdade e já é representada por uma grande galeria paulistana, a Zipper.
Discutir essas contendas é algo que não se dá apenas pela escolha dos artistas para a exposição, 12 ao todo, mas que envolve uma reflexão mais ativa. No dia da abertura da mostra, críticos e artistas se propuseram a debater, com o público, os mitos da juventude artística. Outra questão levantada é o peso da tradição da pintura como cânone dentro da arte contemporânea. Exemplo é o trabalho de Fábio Barolli, 30 anos, que resgata o tríptico, estrutura comum dentro da pintura sacra, trazendo-o para um contexto atual, no qual o artista realiza um autorretrato em que aparece mutilado. Já a série “Iconografia do Videogame – Street Fighter vs. Mortal Kombat” (foto), de Danilo Ribeiro, 27 anos, parece fazer um paralelo com a pintura de Diego Velázquez. Ao se autorretratar jogando videogame diante de uma tela pintada, Ribeiro evoca a mesma estratégia praticada pelo mestre espanhol em “Las Meninas”, em 1656: quebrar o espelho que separa a realidade e sua representação. “Aqui a pintura funciona como simulacro. É o jogo que o artista joga consigo mesmo”, diz Casanova, que em 5 de fevereiro inaugura nova etapa do projeto, apresentando obras selecionadas de artistas iniciantes que apresentaram seus portfólios durante os debates de dezembro.
Laura Lima e o antiarquivo por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 14 de janeiro de 2011
A criação do mundo e a criação artística são evocadas e desorganizadas em quatro instalações da artista mineira
Laura Lima foi a primeira artista brasileira a vender uma performance: em 1995, “Quadris”, em que duas pessoas encaixadas pelos quadris deslocam-se como um caranguejo pelo espaço, foi adquirida pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo. Mas, mesmo catalogada como performance na coleção, a artista rejeita a terminologia. Prefere referir-se a esse núcleo de trabalhos que toma o corpo como matéria, evocando o título da série “Homem=carne/mulher=carne”. Talvez para indicar o desafio de toda arte contemporânea: situar-se no hiato entre as coisas inteligíveis. “Nunca encontrei nenhuma palavra satisfatória. Tenho um glossário interno em minha obra que me serve muito bem”, afirma a artista, que, ao inventar terminologias conceituais, aproxima-se do modus operandi de Helio Oiticica, que sempre rejeitou a palavra instalação para referir-se a seus trabalhos com termos como sistemas espaciais, programas in progress, parangolés etc. As obras em exposição na individual “Grande”, na Casa França-Brasil, no Rio, dão seguimento a essa navegação por territórios ainda não catalogados.
As práticas de arquivamento e de catalogação são colocadas em xeque logo na entrada da exposição. A primeira coisa que o visitante encontra é o Mágico Nu em sua oficina/ateliê. “Este mágico possui as mangas curtas, seus segredos estão expostos, sua oficina-ateliê tem prateleiras ortogonais e caóticas. O mágico faz esculturas incessantemente, organiza e desorganiza a estante constantemente”, conta Laura. O trabalho desse mágico antiarquivista é observado por um casal, aninhado em uma imensa rede de mais de 30 metros. Esse casal compõe a obra “Pelos + Rede”, em que a mulher tem os pelos pubianos alongados e o homem, as sobrancelhas. Seriam eles mais uma obra fictícia desse mago que produz esculturas em um torno de argila? Ou frutos da imaginação de um criador imperfeito?
Não uma, mas muitas histórias são tecidas no passo a passo de cada visitante dentro da exposição. “O narrador dessa história é o deslocamento do espectador no espaço”, diz Laura. “O espectador monta seu próprio arsenal poético.” Essa fábula-exposição culmina em “Baixo”, obra em que uma pessoa está deitada em um lugar com teto rebaixado a 60 cm, e na obra-surpresa “Escolha”, em que o espectador opta se irá entrar em território desconhecido sem nenhuma informação prévia. Onde, eventualmente, poderá ser transformado em mais uma escultura de argila moldada pelo Mágico Nu.
janeiro 18, 2011
Ana de Hollanda penou por recurso da Rouanet por Larissa Guimarães, Folha de S. Paulo
Matéria de Larissa Guimarães originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 18 de janeiro de 2011
Ministra pediu R$ 167 mil para álbum em 2007, mas projeto foi arquivado
Projetos baseados em obras dos Buarque de Hollanda pediram R$ 8,5 milhões e captaram apenas 9% do valor
Em reforma no Congresso Nacional, a Lei Rouanet já trouxe dissabores para a própria ministra da Cultura, Ana de Hollanda, que é cantora e compositora, assim como o irmão Chico Buarque.
Em 2007, o projeto para a gravação do CD "Só na Canção" chegou ao Ministério da Cultura, pedindo autorização para captar R$ 167 mil.
O projeto acabou arquivado por "falta de complementação de documentos", e o disco acabou saindo em 2009, mesmo sem patrocínio pela Lei Rouanet.
A burocracia é apenas um dos pontos que a classe artística critica dentro da lei, principal mecanismo de financiamento da cultura no país.
A lei permite que produtores culturais apresentem projetos para buscar patrocínio junto à iniciativa privada. As empresas, por sua vez, podem abater até 100% do valor no Imposto de Renda.
SEM SORTE
Outros projetos que levam o sobrenome Buarque de Hollanda também não tiveram melhor sorte.
Levantamento feito pela Folha (2000-2010) mostra que há ao menos outras 18 propostas baseadas na obra do clã -de regravações de músicas de Chico até filme sobre livros de Sérgio (veja alguns no quadro acima
Somados, esses projetos pediram quase R$ 8,5 milhões em recursos da lei. Desse montante, só foram captados cerca de R$ 765 mil - 9% do valor pedido
A maioria dos projetos pedindo recursos via Lei Rouanet foi arquivado por não conseguir patrocínio dentro do prazo estipulado. Isso é o que acontece com a maior parte dos produtores culturais que vão em busca de dinheiro da Lei Rouanet.
REFORMA
A aprovação da reforma da lei no Congresso deverá ser um dos maiores desafios para a ministra em sua gestão.
Em breve entrevista logo após assumir o cargo, ela adiantou que considera a mudança da lei "uma questão polêmica", pois já ouviu queixas e elogios quanto ao texto enviado pelo governo ao Congresso há um ano.
Até agora, a proposta que altera a Rouanet foi aprovada na Comissão de Educação e Cultura, e ainda precisa passar por mais duas (Finanças e Constituição e Justiça
O projeto de reforma da lei define novos critérios de distribuição dos recursos da Rouanet. A proposta prevê que a renúncia fiscal seja apenas um dos mecanismos de financiamento de cultura.
O texto também estabelece uma série de critérios para a avaliação de projetos culturais que são financiados por empresas privadas.
Procurada na sexta-feira, a assessoria da ministra informou que Ana de Hollanda tinha compromissos e não poderia responder a questões sobre a Lei Rouanet.
IAC adia saída de prédio da USP e negocia mudança por fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 19 de janeiro de 2011
Museu deve cumprir calendário até 27/2
Não é hoje que o IAC (Instituto de Arte Contemporânea) deixa sua sede, na rua Maria Antônia -como havia solicitado o reitor da USP, João Grandino Rodas, por decisão da própria universidade.
De acordo com a assessoria de imprensa da USP, as instituições estão "negociando a desocupação do espaço, que até o momento não tem data definida".
Representantes da USP e do IAC reuniram-se no final do ano passado, e o provável é que se respeite o calendário da mostra em cartaz, "Avesso do Avesso", com obras da artista Mira Schendel (1919-1988), programada para ocorrer até o dia 27/2.
A USP formalizou um convênio de colaboração com o IAC por cinco anos em 2001 e o renovou por mais cinco em 2006. A atual reitoria, porém, não renovou o convênio, encerrado ontem. Por carta, o reitor determinou que o IAC saísse no dia seguinte ao fim do contrato, que seria hoje.
O secretário de Cultura do Estado de São Paulo, Andrea Matarazzo, propôs à direção do IAC que doe o acervo com mais de 3.000 documentos à Pinacoteca, que manteria o núcleo de documentação e pesquisa da instituição
"O IAC tem um conselho bastante honrado, e nos interessa manter diálogo com eles. A Pinacoteca tem todas as condições de cuidar do acervo da instituição", disse Matarazzo à Folha.
Entre os documentos, encontram-se cartas e documentos fotográficos de Sérgio de Camargo (1930-1990), Willys de Castro (1926-1988), Hércules Barsotti (1914-2010) e Carlos Cruz-Diez. Já as mostras programadas, segundo Matarazzo, poderiam ocorrer em espaços do Estado.
A assessoria de imprensa do IAC afirmou que a instituição "estuda alternativas".
Modernismo inspirou política de preservação por Ana Paula Sousa, Folha de S. Paulo
Matéria de Ana Paula Sousa originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 18 de janeiro de 2011
O texto que norteia toda a política de preservação cultural e arquitetônica foi escrito por ninguém menos que Mário de Andrade.
O poeta modernista debruçou-se sobre o assunto a pedido de Gustavo Capanema, o famoso ministro da Educação do governo Getúlio Vargas, que considerava imprescindível a construção de um instrumento e de um órgão capazes de "preservar obras de arte brasileiras de toda a espécie
Bem ao feitio modernista, Andrade rompeu com o caráter de excepcionalidade do tombamento, aquele que imagina que só castelos, palácios ou raridades deveriam ser preservados.
Esse texto motivou a criação, em 1936, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Com o passar do tempo, Estados e municípios foram criando seus órgãos de tombamento, como o Condephaat, em SP, e o Conpresp, na capital paulista. Todas essas instituições trabalham com o modelo de conselheiros.
O Conpresp é autônomo, mas tem, entre seus nove conselheiros, representantes das secretarias municipais de Cultura, Desenvolvimento Urbano, Habitação e Negócios Jurídicos, e da Câmara Municipal. Também têm assento a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Conselho Regional de Engenharia (Crea), o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) e o DPH.
Mesmo que o Conpresp vote pela abertura do processo de tombamento, não há nada que o proprietário possa fazer antes da decisão final do órgão.
REAÇÃO
Procurado pela reportagem da Folha, o proprietário do imóvel que abriga o Belas Artes, Flávio Maluf, não retornou as ligações.
Mas, a princípio, as alternativas que lhe restam são entrar com um mandado de segurança ou esperar a decisão final e, aí sim, pedir a revisão do caso no Conpresp. Ele pode, ainda, pedir a desapropriação indireta, uma vez que tinha um contrato na mão e o Estado limitou seu negócio.
MAC tem entrega de edifício adiada por fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 15 de janeiro de 2011
Reforma no antigo Detran deveria ter sido concluída mês passado; secretário promete entrega para até março
Estado assume custos de mudança do acervo e iluminação do novo prédio, que, a princípio, caberiam à USP
Ainda não será em seu aniversário, no próximo mês de abril, quando comemora 48 anos, que o Museu de Arte Contemporânea da USP irá abrir as portas de sua nova sede, no antigo prédio do Detran, no Ibirapuera.
A reforma do edifício, que por contrato deveria ter acabado em 23 de dezembro passado, ainda segue em três dos sete andares do prédio. "Foi uma reforma complexa, mas agora faltam só detalhes, em fevereiro ou março o prédio será entregue", afirma Andrea Matarazzo, secretário de Cultura do Estado.
Com o prédio entregue, serão necessários de dois a três meses para a transferência dos acervos e a montagem das exposições. "Atrasos são comuns em obras de qualquer porte. Perfeitamente compreensível no caso do novo MAC", diz Tadeu Chiarelli, diretor do museu.
A nova sede, segundo Matarazzo, ainda vai ganhar um outro apoio na reta final, por um protocolo de intenções com a USP, segundo o qual a secretaria responsabiliza-se pelos custos da mudança, da cenografia e da iluminação do novo prédio.
"Só a iluminação irá custar cerca de R$ 2 milhões, enquanto as outras tarefas ainda estão sendo estimadas", conta Matarazzo, que é categórico: "Será o mais bonito museu da cidade".
MIS
As artes visuais, ao que parece, terão atenção especial do secretário reempossado no cargo. Uma de suas prioridades é alterar a situação do MIS (Museu de Imagem e Som). "Ele precisa de mais atenção porque é o menos aproveitado. Por isso, estou iniciando conversas com o Leon Cakoff, da Mostra de São Paulo, e com o André Fischer, do Festival Mix Brasil, para que eles depositem seus acervos no MIS ", conta Matarazzo.
Ampliação também é projeto para a Pinacoteca do Estado. Para ela, o secretário estuda a construção ou reforma de edifícios históricos no interior do Estado, que abriguem algumas peças do acervo da instituição.
Botucatu e Ribeirão Preto são algumas cidades que já estão em estudo. "Existe demanda para isso e, além de um acervo fixo, esses espaços também receberiam mostras temporárias", defende Matarazzo.
Cultura seca estrutura e revê programas por Catia Seabra e Laura Mattos, Folha de S. Paulo
Matéria de Catia Seabra e Laura Mattos originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 14 de janeiro de 2011
Presidente da emissora estabelecerá metas para a programação, que incluem custo, audiência e repercussão
João Sayad diz à Folha concordar com opinião do secretário da cultura de SP de que o foco deve ser produção de infantis
Sob a ameaça de explosão de um passivo trabalhista de R$ 160 milhões, a Fundação Padre Anchieta -administradora da TV e da rádio Cultura- tem um lava-rápido em sua sede. Instalado ao lado de uma funilaria, tem dois empregados dedicados à lavagem dos carros de funcionários e da frota da TV.
O lava-rápido da TV pública, que não existe nem na Globo, está com os dias contados. Presidente da fundação desde junho, João Sayad, 65, instalou um programa de enxugamento de atividades da fundação que fogem de sua missão: a programação.
Entre as medidas traçadas estão a não renovação de contratos para colocar no ar a TV Justiça e a TV Assembleia -com a consequente demissão de 285 funcionários- e a terceirização da produção de programas da TV Cultura.
A meta é que apenas 30% da programação sejam produzidos pela emissora. Nessa cota, fora as "pratas da casa", como "Roda Viva" e "Vitrine", estão os programas infantis, nos quais a Cultura se destaca.
A decisão está alinhada à opinião de Andrea Matarazzo, titular da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, à qual a Fundação Padre Anchieta é vinculada.
Para comprar programa de produtoras independentes, fará editais neste ano.
Também pretende usar recursos públicos, como o Fundo Setorial Audiovisual, do Ministério da Cultura, e ampliar os patrocínios de empresas por meio de incentivo fiscal, com a Lei Rouanet.
"Queremos concentrar nosso reduzido talento administrativo na telinha e no rádio. O foco da TV é o seu público", afirmou Sayad para justificar a não renovação dos contratos com a TV Assembleia e a TV Justiça.
Para Sayad, essas operações não só consomem a energia da equipe como impõem encargos trabalhistas.
E, nas contas do presidente, o valor dos contratos não oferece, por exemplo, uma reserva de recursos para cobrir custos das eventuais ações na Justiça do Trabalho.
"Essas outras atividades, que imaginávamos dar uma margem [de recursos], nos causam grandes problemas administrativos e trabalhistas", argumenta Sayad.
CORTES
A redução na folha de pagamento, com a demissão dos quase 300 funcionários que faziam a TV Justiça e a Assembleia, é uma tentativa de conter a evolução do passivo contingente trabalhista (valor de ações de ex-funcionários que estão pleiteando na Justiça indenização).
O montante, que pode estourar a qualquer momento se a emissora perder a batalha judicial, já chega a R$ 160 milhões, praticamente o dobro do que o Estado de São Paulo repassará este ano à fundação (R$ 84 milhões).
Sayad afirma que esses 285 funcionários não ficarão desempregados. Ainda que sem garantia formal, diz que serão incorporados às novas equipes que produzirão a TV Justiça e a TV Assembleia.
Representante dos funcionários no conselho da fundação, José Maria Lopes acompanha a negociação e diz acreditar que mais de 90% serão reaproveitados.
Além da redução de pessoal, Sayad contratou uma empresa de consultoria para regularização da situação jurídica dos funcionários.
Fora as medidas administrativas -como a criação de um comitê para avaliação de contas- a reestruturação prevê até mudanças na iluminação da emissora.
A decisão é clarear a imagem. "Estamos reprogramando a imagem fotográfica. Há uma reclamação secular que a Cultura é escura. Sempre achei isso. Contratamos um iluminador e vamos fazê-la clara, cheia de luz."
A programação também será revista. Os programas serão avaliados segundo cinco critérios: custo, audiência, share (porcentagem de telespectadores dentre as TVs ligadas no horário), repercussão e "diferença" (se as redes comerciais têm ou não programa semelhante).
Sayad não descarta o fim de programas cuja audiência esteja abaixo de parâmetros que serão fixados. Sob o argumento de que a internet pode oferecer conteúdo mais elitizado, prega a popularização de programas. "Depois da internet, o público específico não precisa ocupar horário nobre da TV. Tenho preocupação com audiência
De acordo com Sayad, programas eram incluídos na grade sem prévia avaliação só por ter sido financiado por alguma empresa, sem custo à Cultura. "É um esforço para que a grade não seja suja por um programa só porque tinha verba e fazer com que o telespectador, ao zapear, fale: "Aqui, só tem porcaria"."