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dezembro 22, 2010
Crise no MIS por Lucia Santaella, Folha de S. Paulo
Crise no MIS
Mensagem de Lucia Santaella originalmente publicada no Painel do Leitor da Folha de S. Paulo, em 21 de dezembro de 2010, em resposta a matéria "Demissões revelam crise no MIS e Paço de Silas Martí".
ATIÇANDO A BRASA
Leia os artigos, comentários e cartas em resposta à matéria no "Dossiê: MIS e Paço das Artes - respostas à matéria da Folha de S. Paulo".
O desfalque endêmico na cultura e na educação deste país parece ser para sempre irrecuperável. Uma das razões para isso encontra-se no fato de que, cada vez mais, está se tornando difícil, senão impossível, às pessoas diferenciarem a qualidade da quantidade. Sim, de quantidade estamos empanturrados: projetos culturais como nunca se viram tantos, novas universidades que se abrem, programas de pós-graduação lato e estrito senso sem fim, MBAs em cada esquina. Artistas brasileiros, há anos radicados na Europa, começam a voltar ao país para participar da grande feira borbulhante das quantidades. Estatísticas e gráficos eufóricos colocam o Brasil nos píncaros dos grandes números. De que valem os números quando faltam pessoas capazes de separar o joio do trigo? Pior ainda, quando não se pode totalmente confiar nesses números?
A matéria publicada na Folha -- alegando uma crise no MIS e no Paço das Artes em São Paulo e que, sem contar com qualquer pesquisa mais séria e cuidadosa, demoniza a diretoria dessas instituições-- não passa de um sintoma cabal de uma outra crise bem mais profunda: a crise do julgamento de qualidade na cultura e na educação no Brasil, aliás, campos em que a qualidade é quase tudo, pois é ela que tem o pulso e que dá o norte. Sem o valor da qualidade, tudo fica errático e se dispersa em festividades levianas, episódicas e desenraizadas.
O trabalho que vem sendo realizado por Daniela Bousso à frente dessas instituições é admirável pelo teor de qualidade que tem nele imprimido. Projetos sintonizados com os ventos vivos da arte e da cultura, incentivo a novos artistas, curadorias de renomados artistas internacionais, cursos inovadores, laboratórios de pesquisa e criação nas linguagens da arte, tudo isso coloca essas duas instituições no mesmo nível de instituições de países avançados. As críticas a que injustamente uma diretoria tão acima da média está sendo submetida não passa de um sinal evidente de que a cultura deste país incorrigivelmente não passa de uma cultura do Carnaval, do oba oba, da leviandade, da ação entre amigos e da corrupção cognitiva.
Polifonia cultural em defesa do MIS e do Paço por Paula Alzugaray, Istoé Online
Polifonia cultural em defesa do MIS e do Paço
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicado na Istoé Online em 21 de dezembro de 2010, em resposta a matéria "Demissões revelam crise no MIS e Paço" de Silas Martí.
ATIÇANDO A BRASA
Leia os artigos, comentários e cartas em resposta à matéria no "Dossiê: MIS e Paço das Artes - respostas à matéria da Folha de S. Paulo".
“Duas instituições que nos últimos anos tem coberto, com qualidade e atualidade, os terrenos mais arriscados da arte contemporânea.”
Regina Silveira, artista.
“De que valem os números se faltam pessoas capazes de separar o joio do trigo?”
Lucia Santaella, semióloga.
“Dois importantíssimos espaços culturais e expositivos de São Paulo, que se dedicam aos campos experimentais da arte contemporânea”
Gilbertto Prado, artista.
“A gestão de Daniela Bousso é responsável pela reforma e reabertura do MIS, pela inauguração do primeiro laboratório público de criação com mídias digitais e pela internacionalização desse equipamento cultural, a partir de intercâmbios com centros de excelência.”
Giselle Beiguelman, artista e curadora do Instituto Sergio Motta.
“Foi pela constância de uma programação engajada nas discussões da arte contemporânea que Daniela Bousso inseriu o Paço das Artes no mapa, hoje um espaço de referência”
Juliana Monachesi, jornalista e critica de arte.
“Comparar o Paço e o MIS com qualquer outra instituição é não levar em conta que, ao assumirem posturas francamente prospectivas no campo da arte, essas instituições jamais terão resultados imediatos de público.”
Tadeu Chiareli, Diretor do MAC-USP.
“Quem vai ao MIS ou ao Paço vai em busca de arte e cultura, não para cumprir um programa turístico”
Arlindo Machado, critico.
“Por que discutir motivos concretos para o abandono do MIS, como a dificuldade de se chegar ao local ou a falta de divulgação dos trabalhos realizados por lá, se eu posso criar uma fofoca cultural usando as personas de diretores?”
Thiago Carrapatoso, jornalista.
“Se a questão é a estatística como informação seria louvável que a matéria levantasse outros números, como por exemplo, quantos funcionários foram contratados, quantas exposições, seminários, cursos, publicações e muito mais foi realizado sob a direção de Daniela Bousso.”
Kátia Maciel, artista.
“A matéria da Folha personaliza a discussão, deixando de lado o debate institucional, o momento singular da implantação das OSs em São Paulo.”
Renata Motta, Diretora do Instituto Sergio Motta.
“Num momento em que o país procura reconstituir suas instituições públicas, resgatando o poder de gestão do Estado, na área da Cultura continuam a prevalescer os interesses pessoais e as tramas de bastidor.”
Nelson Brissac, critico e curador.
A polifonia de vozes cruzadas nas redes e a diversidade dos profissionais que, em apenas dois dias, prontamente responderam à matéria “Demissões revelam crise no MIS e no Paço”, de Silas Martí, publicada na Folha de S.Paulo em 18 de Dezembro, (veja a matéria aqui) manifestando-se em defesa do Museu da Imagem e do Som e do Paço das Artes, reflete aquilo que é gerado pelas ações dessas duas instituições: a conexão entre espaços e pessoas a favor de amplo e vigoroso debate cultural.
Esses textos, publicados em sites, blogs e no Painel do Leitor da Folha de S.Paulo, apontam para fragilidade e a arbitrariedade dos argumentos do jornalista da Folha, que tenta disseminar uma idéia de crise institucional baseando-se em dados aparentemente distorcidos e em rumores não comprovados.
A artista Patrícia Canetti, diretora do Canal Contemporâneo, apurou junto ao Conselho de Administração da OS que administra as duas instituições, que a matéria está construída sobre estatísticas falsas. Segundo a autora, o levantamento feito junto aos funcionários concluiu que, na realidade, 25% consideraram a relação com a diretora Daniela Bousso “inadequada” e não 59% como publicado na matéria. O formulário ainda perguntava àqueles que haviam respondido essa opção, se a conduta poderia ser considerada “ofensiva”. Novamente a matéria informa erradamente o resultado: 14% responderam sim e não 54%. Com isso, de um total de 90 funcionários das duas instituições, apenas 3 responderam que a conduta da diretora seria “inadequada” e “ofensiva” (Fonte: tabela de resultados do Conselho de Administração da OS).
Essa ampla mobilização publica de agentes do meio cultural vem de encontro à necessidade de proteger espaços de excelência, que colocam São Paulo na linha de frente da pesquisa e da produção de arte contemporânea internacional. E de apontar para a necessidade de acertarmos o foco, quando o tema é crise institucional e políticas publicas.
dezembro 20, 2010
Jornalismo cultural sensacionalista baseado em estatísticas falsas por Patricia Canetti
Jornalismo cultural sensacionalista baseado em estatísticas falsas
Texto de Patricia Canetti, artista e criadora do Canal Contemporâneo, em resposta a matéria "Demissões revelam crise no MIS e Paço" de Silas Martí.
ATIÇANDO A BRASA
Leia os artigos, comentários e cartas em resposta à matéria no "Dossiê: MIS e Paço das Artes - respostas à matéria da Folha de S. Paulo".
A matéria “Demissões revelam crise no MIS e Paço”, publicada na Folha de S. Paulo no sábado passado, já criticada pela atitude despolitizada (A despolitização da cultura por Giselle Beiguelman), pela falta de contexto sobre as instituições (Jornalismo marrom? por Juliana Monachesi) e pela abordagem “Caras” das políticas culturais (A cultura no mundo de Caras por Thiago Carrapatoso), comete erros graves mesmo para a linha jornalística assumida pelo autor, o jornalista Silas Martí.
A matéria fundamentada em um levantamento interno feito por funcionários das duas instituições, apesar de citar alguns nomes, se baseia exclusivamente em declarações anônimas. Portanto, as estatísticas do levantamento ganham importância de testemunho e deveriam, por isso, ter sido verificadas. Se o jornalista tivesse tido o cuidado de comparar versões, perceberia algo de estranho em suas fontes.
A tabela de resultados do levantamento consolidada pelo Conselho Administrativo da OS (Organização Social) responsável pelo MIS e Paço das Artes revelam outros números:
- No quesito “relação com a diretora”, 25% dos funcionários consideraram “inadequada”, e não 59% como foi publicado na matéria;
- O quesito em questão ainda perguntava àqueles que haviam respondido “inadequada”, se a conduta poderia ser considerada “ofensiva”. Novamente a matéria informa erradamente o resultado: 14% responderam sim e não 54% como afirma a matéria.
A matéria além de divulgar dados errados omite informações importantes na abordagem de pesquisas. A resposta “ofensiva” não resultou de pesquisa espontânea, mas induzida, e foi omitido o universo dos entrevistados: 85 funcionários responderam ao levantamento.
A análise dos dados revelados nesta tabela nos traz o seguinte resultado: De um total de 85 funcionários, 3 responderam que a conduta da diretora seria “inadequada” e “ofensiva”.
Mesmo em matérias de cunho sensacionalista, entendo que o público deva ser minimamente informado sobre o contexto do assunto, principalmente quando se trata de acusações anônimas. Aqui novamente o jornalista Silas Martí pecou em não revelar aos seus leitores o currículo da personalidade atacada e sua relação com as instituições em crise.
Portanto, faltou informar que Daniela Bousso, crítica e curadora de arte, ingressou no Paço das Artes em 1987 e tornou-se diretora em fevereiro de 1997, tendo sido convidada pela Secretaria de Estado da Cultura a assumir o reposicionamento do MIS em 2007, assim como a Direção Executiva da Organização Social de Cultura responsável atualmente pelas duas instituições.
E por fim, a matéria “esquece” de informar ao público que MIS e Paço das Artes comemoraram 40 anos de existência em 2010. Além de nada revelar sobre os perfis das instituições, novamente a matéria faz uso de números equivocados na comparação de visitação com a Pinacoteca do Estado. Como disse o curador e diretor do MAC-USP, Tadeu Chiarelli, em carta publicada hoje no Painel do Leitor na Folha: "Comparar o Paço e o MIS com qualquer outra instituição é não levar em conta que, ao assumirem posturas francamente prospectivas no campo da arte, essas instituições jamais terão resultados imediatos de público."
A cultura no mundo de Caras por Thiago Carrapatoso, Trezentos
A cultura no mundo de Caras
Texto de Thiago Carrapatoso publicado originalmente no blog Trezentos em 20 de dezembro de 2010.
ATIÇANDO A BRASA
Leia os artigos, comentários e cartas em resposta à matéria no "Dossiê: MIS e Paço das Artes - respostas à matéria da Folha de S. Paulo".
Tudo é lindo, puro, branco e nada fede. Pelo contrário. Quer-se limpar o mais rápido possível a cultura que emerge em São Paulo. Recentemente, o cenário cultural da cidade presenciou ações políticas desastrosas quando o assunto se trata de arte na rua e preservação da história.
Primeiro, o alvo foram os grafites que povoavam os pilares que sustentam o engodo urbanístico Minhocão. Donada, equipes contratadas pela prefeitura resolveram “limpar” a área raspando a tinta dos desenhos e passando uma camada de pintura bege. Os grafites, nesta área da cidade marcada pelo descaso e abandono, mostravam que a região ainda pulsa. Era um sinal avisando que não importasse quanto concreto caísse na cabeça de seus moradores, a cultura e a arte ainda estariam ali, latentes, crescendo entre os vãos. Existe demanda, existe vontade, só faltam espaços para que ela consiga ser preservada (e se não há oficialmente, eles mesmos, os artistas de rua, dão um jeito para criar lugares para seus projetos).
Agora, aquele monstro ilógico de concreto e suporte para o tão exigente tráfego veicular está bege, pronto para receber a poluição, a sujeira e todos os outros detritos de uma região abandonada. É tudo limpo! É tudo moderno! É tudo esteticamente novo!
(A tempo: há iniciativas que tentam correr contra os caminhões de tinta para registrar os trabalhos desses artistas de rua. Fazendo uma busca simples, achei o Museu do Minhocão e o Mapa de Graffiti)
Logo depois, soube da demolição de um casarão na rua Augusta com a avenida Dona Antônia de Queirós. Um palacete de 1913 que não foi tombado por nenhum órgão público de preservação, como o Condephaat, Iphan ou Conpresp. Nada. O casarão foi abaixo para que, no futuro, seja construído um prédio, em uma área em que o metro quadrado poderá chegar a R$ 6 mil. Para que preservar a arquitetura histórica da cidade se se pode destruí-la para construir prédios que dão lucro? Talvez seja por isso que o prefeito da cidade, pegando um gancho na falta de atuação dos órgãos de preservação, deseja acabar – isso mesmo, acabar! – com 30% da região da Luz, carinhosamente apelidada de cracolândia, para, hum, “revitalizar” e construir o projeto da “Nova Luz”. Vamos limpar tudo! Vamos colocar o que é velho abaixo! Dê espaço para o novo, para o progresso!
E é engraçado que, ao fazer isso, Kassab quer agradar a elite, aquela mesma que paga fortunas para visitar cidades como Paris, Nova Iorque e Londres, onde diversos prédios históricos fazem parte do cenário urbano. Mas, não!, aqui no Brasil nós devemos destruir a nossa história, ruim, velha, de terceiro mundo, para dar lugar ao novo, ao moderno, ao de ponta.
Ainda não satisfeito com esses anúncios e projetos que lembram em muito uma época nebulosa da democracia brasileira, vem o prefeito e decreta: não se podem mais artistas de rua na avenida mais representativa da cidade. Tirem esses vagabundos que poluem a Paulista, com suas estátuas vivas, guitarras distorcidas e saxes desafinados! Vamos deixá-la limpa da arte que emerge na rua, da rua, para a rua! Só vamos deixar que o público consuma arte dentro de museus, espaços caros, bonitos e brancos, no Jardim Europa, ao lado de Ferraris, Porsches, Mustangs e tudo mais que representa o progresso!
(A tempo novamente: diversos grupos se organizaram para fazer uma manifestação hoje, segunda-feira, às 12h, saindo do vão do MASP. Veja a página do evento no Facebook)
E por falar em museus, há ainda o descaso por parte da mídia em cobrar os órgãos competentes sobre as iniciativas. A prefeitura vai se esbaldar com políticas assustadoras enquanto jornais como a Folha de S. Paulo, por exemplo, discutem as políticas culturais como se escrevesse para a revista Caras. Recentemente, uma reportagem do jornalão anuncia a crise do Museu da Imagem e do Som (MIS) e do Paço das Artes porque a diretora é considerada, hum, “autoritária”. O dado para isso é uma pesquisa realizada internamente e vazada para o jornalista em que alguns funcionários apontam a falta de empatia com a diretora.
Por que discutir motivos concretos para o abandono do MIS, como a dificuldade de se chegar ao local ou a falta de divulgação dos trabalhos realizados por lá, se eu posso criar uma fofoca cultural usando as personas de diretores? Por que levantar tudo o que foi feito pela instituição para averiguar se, realmente, o aspecto autoritário de um funcionário poderia provocar a falta de público em uma instituição cultural?
Tudo parece uma brincadeira, um jogo, um mis-en-scène para deturpar ainda mais a identificação cultural do brasileiro. Estamos em uma época em que, como bem disse Giselle Beiguelman, a cultura está despolitizada! Não há motivos para preocupação, não há motivos para articulação. Vamos deixar tudo sumir, jogar tudo embaixo do tapete, e sorrir! Afinal, agora, está tudo limpo!
E burro.
dezembro 19, 2010
Sobre a matéria "Demissões revelam crise no MIS e Paço" (FSP.18.12.10) por Tadeu Chiarelli, Folha de S. Paulo
Sobre a matéria "Demissões revelam crise no MIS e Paço" (FSP.18.12.10)
Mensagem de Tadeu Chiarelli originalmente publicada no Painel do Leitor da Folha de S. Paulo, em 20 de dezembro de 2010, em resposta a matéria "Demissões revelam crise no MIS e Paço" de Silas Martí.
ATIÇANDO A BRASA
Leia os artigos, comentários e cartas em resposta à matéria no "Dossiê: MIS e Paço das Artes - respostas à matéria da Folha de S. Paulo".
Impossível ler qualquer coisa sobre Daniela Bousso, o MIS e o Paço das Artes (cujas comemorações recentes de seus 40 anos passaram praticamente despercebidas pela imprensa) e não lembrar o quanto Daniela, nessas duas instituições, vem fazendo para divulgar as vertentes mais radicais da arte brasileira e internacional, além de manter aberto esses espaços para a jovem produção artística brasileira. Por outro lado, comparar o Paço e o MIS com qualquer outra instituição é não levar em conta que, ao assumirem posturas francamente prospectivas no campo da arte, essas instituições jamais terão resultados imediatos de público. O que não retira de ambas a importância singular que possuem no quadro das instituições de arte no Brasil.
Tadeu Chiarelli
Diretor do MAC-USP
Jornalismo marrom? por Juliana Monachesi, merzblog
Jornalismo marrom?
Texto de Juliana Monachesi originalmente publicado no MerzBlog em 18 de dezembro de 2010, em resposta a matéria "Demissões revelam crise no MIS e Paço" de Silas Martí.
ATIÇANDO A BRASA
Leia os artigos, comentários e cartas em resposta à matéria no "Dossiê: MIS e Paço das Artes - respostas à matéria da Folha de S. Paulo".
A reportagem da página 3 do caderno Ilustrada de hoje me surpreendeu e me senti no dever de escrever rebatendo alguns pontos do texto que exigem esclarecimentos. Há oito anos sou colaboradora do Paço das Artes, como crítica de arte da Temporada de Projetos, e minha convivência profissional com a diretora Daniela Bousso sempre foi pautada por respeito e incentivo ao diálogo e à construção coletiva de projetos e de conhecimento. Por isso me chama a atenção que o documento a que a Folha teve acesso classifique a diretora como “desrespeitosa” ou “autoritária”; não conheço o teor deste levantamento interno que teria sido realizado a pedido do conselho do Paço e do MIS, mas posso afirmar, com base em minha experiência profissional, que as duas instituições que Daniela Bousso dirige têm como característica principal a escuta constante e atenta das demandas e inquietações do meio de arte contemporânea e de novas mídias em São Paulo.
Na qualidade de público que acompanha de perto a programação das duas instituições há dez anos, posso afirmar com absoluta certeza que supostas “indefinição de planos de trabalho e exposições” e “decisões erráticas” apontadas na matéria são inconsistentes e incoerentes, uma vez que a excelência do programa de exposições de ambas as instituições é reconhecida nacional e internacionalmente. Inclusive, foi pela constância de uma programação engajada nas discussões da arte contemporânea que Daniela Bousso inseriu o Paço das Artes no mapa, hoje um espaço de referência. Do mesmo modo como vem fazendo à frente do MIS, desde sua reforma e devolução do museu à cidade de São Paulo até a programação considerada de ponta no que diz respeito à conexão entre cinema, fotografia e novas mídias. Nos últimos anos, basta mencionar mostras de Chris Marker, Gary Hill, Yang Fudong Bill Seaman e Pipilotti Rist, no plano internacional, e de Letícia Parente, Vik Muniz, Luiz Duva, Cassio Vasconcellos e Miguel Rio Branco, nomes de altíssima relevância no contexto brasileiro.
A despolitização da cultura por Giselle Beiguelman, DesVirtual
A despolitização da cultura
Texto de Giselle Beiguelman originalmente publicado no DesVirtual em 18 de dezembro de 2010, em resposta a matéria "Demissões revelam crise no MIS e Paço" de Silas Martí.
ATIÇANDO A BRASA
Leia os artigos, comentários e cartas em resposta à matéria no "Dossiê: MIS e Paço das Artes - respostas à matéria da Folha de S. Paulo".
Reportagem publicada hoje na Folha de S. Paulo afirma que existe uma crise no Paço das Artes e no MIS. A crise seria resultante de problemas de relacionamento de alguns funcionários com a diretora das duas instituições, Daniela Bousso.
O caráter – supostamente autoritário e centralizador– e a postura agressiva e desrespeitosa da diretora, de acordo com a reportagem, seriam responsáveis por problemas de gestão institucional.
As informações, em grande parte, provem de um formulário em que os funcionários puderam expressar suas opiniões sobre Daniela Bousso.
Pelo que se conclui a partir dessa reportagem da Folha, em nenhum momento foram colocadas em discussão e para avaliação questões relacionadas à política cultural do Estado.
É informado, brevemente, que há uma insatisfação da Secretaria de Estado da Cultura com os números de visitantes que o MIS recebe por mês.
Não há qualquer menção ao fato de ter sido a gestão de Daniela Bousso a responsável pela reforma e reabertura do MIS, pela inauguração do primeiro laboratório público de criação com mídias digitais e pela internacionalização desse equipamento cultural, a partir de intercâmbios com centros de excelência como o MidiaLab Prado.
Haveria que se mencionar ainda o destaque que várias mostras do MIS e do Paço tem recebido com frequência nos principais guias e cadernos de cultura e avaliar qualitativamente os impactos dessas instituições.
É preocupante que uma crise institucional em museus públicos tenha como gancho problemas de relacionamento pessoal, um documento preparado pelo conselho (e não por uma empresa ou serviço especializado em gestão de RH) e nenhuma reflexão sobre políticas públicas culturais.