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novembro 3, 2010
Governo vai abrir consulta pública sobre política de museus, Folha.com
Matéria originalmente publicada na Folha.com em 2 de novembro de 2010
O Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), autarquia ligada ao Ministério da Cultura, deve divulgar nesta quarta-feira (3) a versão preliminar do Plano Nacional Setorial de Museus, que estabelece diretrizes da política do setor para os próximos dez anos.
A intenção do governo é deixar o documento disponível para consulta na internet até o dia 13 de novembro. Qualquer pessoa interessada pode participar, sugerindo propostas e acessando o texto no site do instituto (www.museus.gov.br). As contribuições devem ser enviadas para o e-mail pnsm@museus.gov.br.
O plano setorial de museus fará parte do Plano Nacional de Cultura. A versão em consulta pública foi elaborada com as propostas debatidas nas plenárias do 4º Fórum Nacional de Museus, realizado em julho deste ano.
O Ibram foi criado em janeiro de 2009, com a assinatura da lei 11.906. A autarquia sucedeu o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) na gestão dos museus federais.
Documenta 13 tem recorde de organizadores em 2012 por Fábio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 2 de novembro de 2010
Equipe de 14 curadores é complementada por 11 conselheiros vindos de áreas distantes do mundo da arte
Dois geneticistas, uma zoóloga, um arqueólogo e um físico estão entre os 25 membros da equipe de organização da Documenta 13 anunciados, na última sexta, em Berlim, pela diretora artística do evento, Carolyn Christov-Bakargiev.
Nunca a mostra, que ocorre a cada cinco anos e é considerada a mais importante nas artes plásticas, contou com um grupo tão grande em sua organização.
Christov-Bakargiev esteve em São Paulo para a abertura da 29ª Bienal e adiantou à Folha sua equipe, com o compromisso de que ela fosse divulgada apenas após a entrevista coletiva alemã. "Pela colagem das pessoas que estou divulgando se chega ao conceito da Documenta", afirmou no jardim do hotel onde se hospedou aqui.
PERCURSO DE VOZES
A equipe está dividida em dois times: um composto por 14 agentes -como ela chama os curadores- e outro por 11 conselheiros, quase todos especialistas de áreas distantes do campo da arte. "Minha Documenta não é apenas minha Documenta. É um momento num percurso e, nele, há muitas vozes."
Pela amplitude desse coral, pode-se antever que a mostra em Kassel, na Alemanha, programada para 2012, poderá tocar temas inusuais no circuito das artes, como teletransporte -área de pesquisa do austríaco Anton Zeilinger- ou ciborgues -assunto de um manifesto de 1985, da zoóloga norte-americana Donna Haraway.
Ambos estão entre os conselheiros, assim como o escritor mexicano Mario Bellatin, que tem publicado no Brasil "Flores" (Cosac Naify, R$ 39, 153 págs.), e o artista francês Pierre Huyghe.
Já entre os agentes, encontra-se a espanhola Chus Martínez, uma das cocuradoras da 29ª Bienal, e o lituano Raimundas Malasauskas.
"Ele organizou uma exposição de hipnose com trabalhos feitos para o cérebro dos visitantes e a mostra ocorria apenas em quem era hipnotizado", afirmou Christov-Bakargiev, sobre o evento no museu Tamayo, no México.
Para ela, contudo, reunir temas e experimentos como esse não é inusitado: "Arte é um campo aberto para tudo e os artistas redefinem o campo da arte o tempo todo. Algo que não é considerado arte pode passar a ser definido como tal. Então, acho que estou sendo bastante normal."
Quando esteve em São Paulo, a diretora participou de um debate no Instituto Goethe onde anunciou o título provisório da Documenta, inspirado na forma de escrever de Gertrude Stein (1874-1946): "A dança era muito frenética, viva, de chocalhar, tinir, rolar, contorcer e durar muito tempo".
Durante a entrevista, Christov-Bakargiev chegou a pedir a uma assistente para enviar o título à reportagem. "Eu o escrevi para não me lembrar, mas experimentar um título performativo."
Proibição eleva interesse e gera longas filas por Leneide Duarte-Plon , Folha de S. Paulo
Matéria de Leneide Duarte-Plon originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 2 de novembro de 2010
"Kiss the Past Hello", a exposição de fotos de Larry Clark no Museu de Arte Moderna de Paris, transformou-se no maior sucesso do outono, graças à polêmica gerada pela proibição a menores de 18.
Resultado: em três semanas, recebeu 28,1 mil visitantes. O museu estima que receberá 120 mil visitantes até 2/1. Na última quinta, uma fila quilométrica, digna de uma mostra de Picasso ou Monet, formava-se diante do museu.
Duas sexagenárias comentavam que nunca viram tantos jovens numa exposição em Paris.
"Isso é ridículo", vociferou Catherine Bignon, ao saber que não poderia entrar com a filha de 17 anos na mostra. Para ela, as fotos não são mais chocantes do que o que um adolescente vê no cinema, na TV e na internet.
"A prefeitura censura", acusaram os contrários à proibição, entre eles o jornal "Libération", que publicou na capa uma das fotos (jovens em ato sexual).
O prefeito de Paris, Bertrand Delanoë, divulgou um comunicado defendendo a proibição. A seu ver, o limite de idade era a única maneira de não censurar nenhuma imagem.
Célia Meguedad e Aurélie Fantou, 20, não concordam com o veto. Para elas, os adolescentes veem cenas tão chocantes quanto as de Clark. "Talvez fosse o caso de proibir a menores de 15", diz Meguedad.
Representantes do Partido Verde no Conselho de Paris pediram ao prefeito a retirada da proibição. Para a ex-candidata do Partido Socialista à presidência, Ségolène Royal, bastaria avisar os pais sobre o conteúdo de algumas fotos.
Sem negar valor artístico ao que viu, Véronique Kieslowski, 48, opina que a decisão do prefeito é compreensível: "A proibição se justifica pelo teor das fotos, chocantes mas não pornográficas".
Mostra de Takashi Murakami em Versalhes irrita conservadores por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 2 de novembro de 2010
Descendentes da família real querem fim de exposições de arte contemporânea no palácio
Depois de Jeff Koons, em 2008, japonês ocupa antiga residência de Luís 14 com obras de apelo alucinógeno e pop
Enquanto não cessa a discussão em torno da mostra de Larry Clark em Paris, o palácio de Versalhes, nos arredores da capital francesa, virou alvo de outros ataques.
Mesmo sem drogas e sexo explícito, obras do japonês Takashi Murakami, de pegada quase alucinógena e excessos pop, desagrada quem prefere ver algo mais clássico nas salas do palácio rococó.
Versalhes recebeu há dois anos uma mostra do norte-americano Jeff Koons, famoso por seus cachorrinhos gigantes, suas obras de claro apelo comercial e também por ter se casado com a estrela pornô italiana Cicciolina.
Na época, Charles-Emmanuel de Bourbon, um dos descendentes da família real francesa, tentou sem sucesso fechar a exposição de Koons.
Agora, o príncipe Sixte-Henri de Bourbon, primo de Charles-Emmanuel, e a Coordenação pela Defesa de Versalhes, grupo ultraconservador, tentam barrar Murakami, a segunda mostra de arte contemporânea a ocupar os salões e aposentos da antiga residência do rei Luís 14.
"Acontece algo muito grave no palácio", diz Arnaud Uinsky, um dos diretores da Coordenação pela Defesa de Versalhes, à Folha. "Nosso governo, que se diz democrático, põe nosso patrimônio cultural a serviço dos estrangeiros, de um artista inimigo da cultura e da civilização."
HIROSHIMA CULTURAL
Nos textos divulgados pelo grupo, Murakami é acusado de não ser autor real de suas obras, feitas com dezenas de assistentes, e de "exorcizar seus fantasmas eróticos" em esculturas. Também lembram a parceria entre o artista e a grife Louis Vuitton.
"Expor Murakami nos apartamentos reais é um verdadeiro Hiroshima para a cultura francesa, isso é a indústria, a publicidade, o marketing", diz Uinsky. "Versalhes está sendo oprimido pelo desvio de poder."
No caso, o grupo contra contemporâneos em Versalhes se opõe ao poder de Jean-Jacques Aillagon, ex-ministro francês da Cultura e hoje à frente do palácio. Desde o início de sua gestão, há três anos, Aillagon vem aumentando o número de visitas aos salões reais com mostras de arte contemporânea.
Segundo Laurent Brunner, diretor de exposições em Versalhes, o público aumentou 45% com a mostra de Murakami, que chega a receber 15 mil visitantes por dia. Em 2008, Jeff Koons levou 1,4 milhão de pessoas ao palácio.
"Há grupos de extrema direita, uns poucos velhos, que tentam impedir as exposições", diz Brunner à Folha. "Mas o moderno tem lugar em Versalhes, que não é mais a residência dos reis, é um palácio vivo."
Juventude censurada por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 2 de novembro de 2010
Restrição à exposição de Larry Clark em Paris e retirada de obras na Suíça reacende debates em torno do artista
Um casal de adolescentes faz sexo numa banheira, outros dois transam no banco de trás de um carro estacionado. Alguns brincam com revólveres ou aparecem injetando drogas direto na veia.
Isso há mais de 30 anos. Já não são garotos e garotas aqueles que estão nas fotografias de Larry Clark, hoje também sexagenário. Mas a polêmica em torno delas está mais fresca do que nunca.
Clark está acostumado a ter seus filmes, clássicos cult como "Kids", de 1995, proibidos para menores de 18 anos, mas a mesma restrição de sua retrospectiva agora no Museu de Arte Moderna de Paris, a mais ampla da carreira, tem acirrado os ânimos.
Essa é a primeira vez que uma mostra de Clark sofre esse tipo de censura. Imagens da série "Tulsa", de 1971, e "Teenage Lust", de 1983, já rodaram o mundo. Estiveram em Paris, na Maison Européenne de la Photographie e também foram mostradas há cinco anos em Nova York.
Agora, numa França em convulsão com greves e manifestações contra reformas de Nicolas Sarkozy, jornais não deixam passar em branco a autocensura do museu, a ira do artista e as opiniões contra e a favor.
"É um ataque à juventude, ficaram com medo e proibiram a mostra", diz Clark à Folha. "Isso é como deixar adolescentes verem pornografia na internet e não deixar que vejam arte sobre eles dentro de um museu."
Em artigo, o jornal "Libération" acusou o museu de censura, o que motivou uma resposta do prefeito de Paris, Bertrand Delanoë, em defesa do MAM, que é municipal.
"É nosso dever evitar o risco de interdição judicial", diz o comunicado. "Não é uma atitude pudica, mas desejo de permitir a expressão da liberdade artística."
Engrossando a histeria em torno de Clark, um grupo de ultradireita, a Aliança Geral contra o Racismo e pelo Respeito à Identidade Francesa e Cristã, processa o MAM, exigindo o fim da mostra, que acusa de "feiura estupefaciente, grande vulgaridade e rara obscenidade".
No rastro do escândalo, o Centro Paul Klee, em Berna, tirou duas obras de Clark de uma coletiva, alegando que toda polêmica poderia ofuscar os demais trabalhos.
"É uma atitude covarde", diz Clark. "Isso tudo é bobagem, é só política, mas sou um artista que faz seu trabalho e que não controla o que as pessoas acham disso."
Gostem ou não, Clark adiantou à Folha que volta a Paris no ano que vem para rodar um novo filme, agora sobre a juventude francesa.