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Como atiçar a brasa

 


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outubro 13, 2010

O valor do dinheiro, segundo a arte por Roberta Pennafort, Estadão.com.br

Matéria de Roberta Pennafort originalmente publicada na sessão Cultura do Estadão.com.br em 13 de outubro de 2010.

Matheus Rocha abre mostra no CCBB do Rio

No Centro Cultural Banco do Brasil do Rio, a Galeria de Valores é onde, há dois anos, está montada uma exposição permanente sobre a história do dinheiro, criada a partir do acervo de notas e moedas do Banco do Brasil. Fica no quarto andar do prédio histórico da Rua Primeiro de Março, no centro - e costuma receber crianças em excursão.

No segundo andar, o jovem artista plástico Matheus Rocha Pitta montou a sua própria galeria, e com seus próprios valores. Ele escolheu dar o nome Galeria de Valores à mostra, na novíssima Sala A Contemporânea desde a semana passada, justamente para brincar com o perfil do edifício, inaugurado como sede da Associação Comercial, em 1906, e depois transformado em Banco do Brasil.

É a primeira individual numa instituição deste porte do mineiro de 30 anos, cujo nome há dez ressoa no circuito das artes. No período, ele se mudou para o Rio e estudou História e Filosofia.

São trabalhos inéditos, que Rocha Pitta desenvolveu de 2007 para cá e que discutem questões como a relação entre o dinheiro e a fé. Os nomes das obras aludem à vocação da casa: Fundo Falso, Fundos Reais, Jazida.

Na entrada, pilhas altas de rolos de filme velhos, que ele conseguiu na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio, fazem as vezes de uma coleção de moedas gigantescas, de dimensões variadas.

Mais à frente, está o oratório de Rocha Pitta, no qual a imagem de santos é substituída pela de notas de dinheiro e notícias de jornal de casos de corrupção em que grandes quantias são apreendidas pela polícia, recortadas pequenininho, que ele coleciona há tempos. A estrutura é de uma carcaça de TV, e a aparência é de uma caverna, já que o que sobrou do sistema da TV foi recoberto de cimento.

"É como um gabinete de adoração particular", diz Pitta, que conviveu intensamente com a forte religiosidade de sua terra, a histórica Tiradentes: na porta de sua casa havia uma das famosas igrejas barrocas da cidade.

Num terceiro ambiente, vídeos em sete monitores de segurança esquadrinham notas de R$ 1, R$ 2, R$ 5, R$ 10, R$ 20 e R$ 50 e R$ 100, expondo os detalhes, bem de perto, que as fazem verdadeiras - mas que, olhados isoladamente, as tornam irreconhecíveis.

Ao lado, está a obra principal da mostra, uma escadaria cujos degraus são formados por blocos de isopor recobertos por notas falsas. Do alto do último degrau, olha-se para baixo e vê-se uma fonte dos desejos, onde os visitantes jogam moedas.

"É um momento em que a pessoa atribui valor ao seu desejo, e é como se estivesse avaliando a própria exposição. Todo mundo tem seu poder de avaliação próprio. Não é o fato de eu estar aqui no CCBB que diz que eu sou bom", acredita Rocha Pitta, que tem prazer em circular pelas salas e observar as reações do público diverso do CCBB.

"A aproximação com a questão do dinheiro foi através da noção de crença. Vivemos numa época em que o discurso econômico justifica qualquer coisa, é como se dinheiro fosse Deus."

A nova galeria - aberta para dar visibilidade à produção de jovens artistas brasileiros de talento reconhecido - tem curadoria de Mauro Saraiva e já conta com exposições programadas até junho de 2011: o revezamento começou com Mariana Manhães e Matheus fica até 7 de novembro; em seguida, vêm Ana Holck, Tatiana Blass, Thiago Rocha Pitta e Marilá Dardot.

GALERIA DE VALORES
Sala A Contemporânea,CCBB Rio.
Rua Primeiro de Março, 66.
Até 07/11
De terça a domingo, das 10 às 21h.
Grátis

Posted by Cecília Bedê at 4:38 PM

outubro 11, 2010

Laurie Anderson, criadora multimídia desde a década de 80 por Camila Molina, O Estado de S. Paulo

Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 11 de outubro de 2010.

Cantora, compositora e artista pop abre primeira mostra no Brasil, uma retrospectiva de 40 anos de trajetória

"E se daqui a mil anos não for mais possível criar objetos artístico porque o homem terá pele e olhos supersônicos e uma mente mais aberta?" A divagação soa natural falada pela norte-americana Laurie Anderson, figura pop desde o grande sucesso da canção O Superman, em 1981. Experimental e multimídia, apesar de ter ficado mais conhecida pela música (tem diversos álbuns gravados e seu último é Homeland, de 2010) e pelas performances realizadas a partir da década de 1970, a artista Laurie Anderson é um mundo de criações ainda mais diverso e misturado do que se possa imaginar a partir de suas canções de atmosfera surreal, mas também mundana e política. É isso que se pode ver na mostra I In U/ Eu Em Tu, a primeira retrospectiva da artista no Brasil, a partir de amanhã, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo.

Cantora, compositora e violinista desde criança, com formação em história da arte e em escultura - e casada com o músico Lou Reed - Laurie Anderson, aos 63 anos, pode se valer de diferentes meios e linguagens em suas obras, mas todas têm o sentido puro do querer falar ao público de maneira simples. "É uma mostra sobre histórias, às vezes contadas em fotografias, em filmes ou em objetos. São sobre muitas coisas, como música, vida, comida, família, tristeza, amor", diz a artista ao Estado, sentada no café do CCBB. De fala doce, baixa e tranquila, Laurie, que já se apresentou duas vezes no Brasil - em 1989, no Rio, e em 2008, em São Paulo - afirmou que não quis uma exposição "acadêmica". "São 40 anos de trabalho; tentei misturar tudo".

Já na rotunda do centro cultural está a obra Handphone Table, em que histórias são contadas por vibração sonora (o visitante deve tapar os ouvidos e sente a voz de Laurie). Andando ainda mais pelas criações multimídias da artista, o público encontrará o Talking Pillow (travesseiro que conta sonhos); o Self Playing Violin (instrumento criado por ela e que toca sozinho); o Parrot (papagaio que fala em português, pela voz do ator Fabio Tavares); e uma versão de um de seus trabalhos mais recentes, a instalação Delusion, com grande projeção de imagens , sons e aqui com três narrativas (originalmente , segundo a artista, é apresentada em forma de espetáculo, participação de músicos).

A exposição reúne, assim, tanto obras (algumas, inéditas) que têm caráter mais interativo como 19 filmes, vídeos, desenhos e fotos. "A ideia era ser intimista", diz Marcello Dantas, produtor e curador da mostra - foi ele que trouxe Laurie ao Brasil em 1989 e em 2008 lançou ao CCBB o projeto dessa exposição, que chega ao Rio em março. Para a abertura da mostra, amanhã, a artista vai realizar, às 16h, a performance Duetos sobre Gelo, criada em 1975, e às 18h, uma palestra.

O produtor e curador da mostra I In U/ Eu Em Tu, Marcello Dantas, conta que o mais novo projeto da cantora, compositora e artista norte-americana Laurie Anderson em Nova York, onde ela vive, se chama "Escola da Vida". "Como ela disse, já existem escolas de arte suficientes pelo mundo." Por meio desse trabalho, Laurie vai colocar pessoas para falar sobre seus ofícios ou assuntos diversos – é que as histórias são o manancial dessa criadora, que inaugura amanhã sua retrospectiva no CCBB de São Paulo. Laurie tem uma obra multifacetada, mas ao mesmo tempo, seu grande interesse é "perguntar ao público ‘O que você pensa disso?’", como ela diz na entrevista a seguir.

Você usa a tecnologia há tempos e ainda revisita trabalhos anteriores para promover criações com novos dispositivos. Poderia falar sobre esse processo?

A tecnologia não é muito importante para mim. Ninguém está interessado em apenas apertar um botão, somos mais sofisticados do que isso. Uso a tecnologia apenas como um lápis.

Ao mesmo tempo, alguns de seus trabalhos são interativos e de alguma forma a tecnologia é uma aliada nesse segmento. Como considera a questão da interatividade?

Não diria que meus trabalhos sejam interativos. Interatividade é perguntar ao público: "O que você pensa disso?", não apertar botões. Por isso a exposição se chama I In U/Eu Em Tu. É uma maneira de encorajar pessoas a não serem apenas observadores passivos, mas que pensem "O que essa história significa para mim?". É um desafio, que pode ser muito físico também. Há os violinos que são esculturas do começo da minha carreira. Há instalações com sons. E tem uma sala é que uma espécie de filme em terceira dimensão, o meu mais recente trabalho, Delusion. Fiz também um texto sobre a parede, uma história escrita, como um grafite. Essa cidade (São Paulo) tem o melhor grafite do mundo. É como se as pessoas escrevessem suas histórias nos muros. Aí, sobre tudo que mostro, alguém pergunta: "Isso é arte?" Eu digo que não sei, mas é divertido de fazer. Na Austrália, fiz um concerto de música para cachorros.

E poderia falar sobre a performance em seu trabalho?

Não sou uma performer do tipo "Olhe para mim". Digo: "Olhe para isto!", ou "Para aquilo ali!" Meu trabalho é sobre mistura, sobre questões de identidade e sobre histórias. Por que você faz coisas? O que te motiva? Pelo o que você se importa? Com as obras, você pode entrar no seu próprio universo. Nós todos somos vítimas da sociedade de consumo. Todos querem o carro, computador, estão cegos. Acham que a vida está incompleta sem essas coisas. Eu estou mais interessada em jogar as coisas fora. É exaustivo, estressante para as pessoas. Porque a sensação é a de que nunca é suficiente. O que é isso? Não vejo mais muita alegria mais em viver na cidade. Mas eu posso escapar para a música.

Considera, então, a música a principal referência para suas criações?

Não. Para mim, agora, desenhos são os mais divertidos. Da próxima vez pode ser alguns sonhos. Mas sempre faço uma coisa de cada vez. E faço muito obsessivamente.

Já que a exposição é sobre histórias, você acha a narrativa importante na arte? Considera essas histórias que traz para seus trabalhos como narrativas?

Sim e não. Algumas não têm a forma de narrativa, são como uma divagação da mente ou uma combinação de imagens, sentimentos, sons. É uma experiência multimídia a que você tem em sua mente o tempo todo. A vida é uma bagunça e não temos um fim perfeito para as histórias. A vida é complicada. Deixo um pouco de bagunça porque penso que tento fazer um tipo de retrato da vida.

A relação entre arte e política é o tema da atual Bienal de São Paulo e gostaria de saber sua ideia sobre essa questão.

Gostaria de ir à Bienal de São Paulo assim que tiver um tempo. Essas mostras grandes me dão a impressão de não tratarem do mundo da arte, mas do mundo do mercado. Não lido bem com mercado. Meu mundo é mais da bilheteria: os que vão aos meus shows não são colecionadores de objetos, apenas compram um bilhete. Já fiz muitos trabalhos políticos em minha carreira e penso que quando se tem um governo conservador, faço trabalho político e quando o governo é liberal, faço poesia.

E como considera então este governo dos EUA, do presidente Barack Obama?

Considero entre (conservador e liberal). Obama não é exatamente tão liberal quanto nos disse. Mas tudo bem. Acho que a questão mais política que se pode pensar é: a arte pode mudar a situação política? Não sei. Penso em Bob Dylan (cantor e compositor americano), que escreveu canções nas quais romantizou os perdedores, o que se criou um sentimento de empatia. Isso muda a política porque, no sentido de que todas as coisas são políticas, pensamos: Como podemos nos relacionar com as pessoas, colaborar com cada um? Gradualmente, o ser humano vai ficando mais esperto.

Posted by Cecília Bedê at 3:44 PM

Grande vagina impressiona visitantes na Bienal de SP por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 10 de outubro de 2010.

Senhoras mais pudicas cobrem os olhos, depois voltam para ver. Crianças demoram um tanto para entender e ficam eufóricas com a descoberta. Adolescentes adoram e brincam de entrar e sair.
Está no terceiro andar da Bienal de São Paulo a obra do artista Henrique Oliveira, longo labirinto de chapas de madeira que conduz visitantes de um lado ao outro.

Não seria nada mais que uma passagem tortuosa, um percurso cavernoso de 40 metros, mas a entrada, ou saída, deixam ver que essa gruta é uma grande vagina.

Oliveira é conhecido por instalações que alteram a arquitetura dos espaços expositivos, distorcem paredes, criam passagens secretas e ondulações que parecem extravasar as dimensões mais comportadas do concreto.

No pavilhão da Bienal, "A Origem do Terceiro Mundo" é uma referência ao clássico do realista francês Gustave Courbet, que no século 19, retratou, para o escândalo parisiense, uma mulher de pernas arreganhadas, com o sexo em primeiríssimo plano.

Um monitor tenta contar a história a um grupo de alunos do ensino fundamental, mas não consegue terminar a frase que começava com um longínquo "no século 19".

Meninas no Ibirapuera, em 2010, ficam espantadas. "Gente, cruz credo", diz uma. "Meu Deus, que é isso?", diz outra, tapando os olhos.

Meninos mais tímidos olham para o chão. Aqueles mais argutos demonstram um pensamento elíptico, sem passar pelos pormenores da anatomia. "Nascemos de novo", conclui um garoto de óculos, com cara de nerd.

Sacando câmeras digitais e celulares, outros se apressam para fotografar a "boceta", termo que empregam cochichando, escondidos dos monitores e da professora.

Um senhor desembarca da grande gruta e pergunta aos meninos se eles sabem o que é aquilo. Sem resposta, declara: "Isso é uma vagina!".

Duas moças, de mãos dadas, vão até a entrada com sorrisos no rosto. "É fantástico isso", diz uma delas. "Muito linda mesmo", diz a outra, no limiar dos grandes lábios.

Posted by Cecília Bedê at 3:32 PM

Urubus saem da Bienal na madrugada por Juliana Vaz, Folha de S. Paulo

Matéria de Juliana Vaz originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 9 de outubro de 2010.

Por ordem da justiça, os três urubus-de-cabeça-amarela que faziam parte da obra "Bandeira Branca", de Nuno Ramos, em exposição na Bienal, foram retirados anteontem da mostra, por volta da meia-noite.
Segundo William dos Anjos, 32, veterinário do parque dos Falcões, as aves seriam encaminhadas diretamente para o aeroporto de Guarulhos e chegariam em Sergipe por volta das 6h de ontem.
"Os animais estão tranquilos", conta dos Anjos. "Não existia nada no relatório do Ibama que falasse em maus tratos. Foi mais uma questão política".

Rômulo Fróes, assistente de Nuno Ramos -que se encontra em viagem à Turquia até a próxima segunda-feira- atribui as polêmicas ao tamanho da Bienal. "No CCBB de Brasíla, onde a obra foi exposta antes, não teve absolutamente nada."

Desde a última sexta-feira, quando o Ibama de São Paulo deu um prazo de cinco dias para que os animais fossem devolvidos a seu local de origem, pairava a dúvida se elas sairiam ou não.
A Fundação Bienal chegou a entrar, na segunda-feira, com uma ação na Justiça Federal solicitando a suspensão da notificação, mas o juiz federal substituto Eurico Zecchin Maiolino, da 13ª Vara Cível Federal, não acatou o pedido da entidade, com a justificativa de que "mesmo após a concessão de autorização, o Poder Público está autorizado a intervir e rever o ato administrativo diante da constatação de qualquer irregularidade".

ÀS ESCURAS
Após o fechamento da exposição, às 22h de anteontem, o prédio foi evacuado.

Fróes chegou ao local pouco antes das 23h, com uma equipe técnica.

Eles entraram na instalação para retirar as aves. Em seguida, para evitar que os animais ficassem estressados, todas as luzes foram apagadas.

Os seguranças da Bienal dificultavam a visão dos jornalistas e chegaram a acender lanterna na direção dos olhos dos repórteres.

Mais tarde, os homens deixaram a porta dos fundos do prédio e entraram em um carro segurando uma caixa coberta por um pano preto.

O responsável pela obra, Nuno Ramos, diz estar ciente da decisão judicial e afirma que só comentará o fato quando voltar ao Brasil.

Posted by Cecília Bedê at 3:17 PM

Ianês volta à Bienal em busca da voz por Silas Martí, Folha de São Paulo

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 9 de outubro de 2010.

Artista que viveu nu no pavilhão vazio há dois anos faz nova performance em que reúne relatos de visitantes

De plantão na Bienal, ele vai entrevistar o público sobre memórias com a linguagem e a sensação de falta dela

Maurício Ianês não esquece o dia em que aprendeu a desenhar os contornos da letra "A". Numa sala de aula, o artista teve o que chamou depois de sua primeira experiência com a linguagem.
Quando perdeu a mãe, aos 15 anos de idade, ficou mudo diante do fato. Estava forjada sua primeira experiência de falta de linguagem, sensação de não encontrar palavras.

Na Bienal de São Paulo, Ianês agora pergunta ao público sobre essas lembranças, tentando colecionar relatos de presença e ausência do verbo que serão lidos no fim deste mês numa grande performance, com leitores espalhados pelo primeiro andar do pavilhão no Ibirapuera.

"Me interessa esse momento da linguagem como a definição do mundo, nossas memórias são contaminadas pela língua", diz Ianês. "Tento lidar com esse jogo entre linguagem, memória e a construção de um mundo."

Ele também tenta construir agora uma enorme massa sonora de relatos anônimos. Lidos ao mesmo tempo, têm um impacto difuso, sons que se desmancham no ar com fragmentos de memória.

Todos os dias, Ianês pretende ficar de plantão na Bienal, sentado numa mesa, à espera de quem quiser dividir com ele suas lembranças. "Vou ficar ali como faísca para ativar os pensamentos", diz o artista. "Quero ver até onde vai a performance nesse diálogo com o público."

É uma estratégia mais sutil do que sua ação na última Bienal, quando morou no pavilhão deixado vazio pelos curadores há dois anos. Ele começou nu uma performance sobre a dependências dos outros. Em poucos dias, já tinha roupas, comida e tudo que precisasse para viver.

POLÊMICA FÁCIL
"Essa performance agora começa mais focada, sem a polêmica fácil da nudez", diz Ianês. "Ali a gente tinha focos de sensibilização mais agudos, agora são mais tranquilos, é a mesma discussão, mas a fórmula é outra."

No fim das contas, é como se tentasse encadear uma série de tentativas fracassadas de comunicação em monólogos sobrepostos. Em vez de falas soltas, Ianês acaba orquestrando um murmúrio que pode beirar a música.

"Quero criar com a voz uma paisagem sonora", resume o artista. "Fiquei muito tempo ligado à escrita e agora vejo na voz um fenômeno originário da comunicação."
Vestido, Ianês agora fala de outro tipo de nudez. É como se apontasse a crueza da linguagem que reverbera no espaço com a mesma dependência dos outros para que possa valer alguma coisa.

Posted by Cecília Bedê at 3:05 PM