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Como atiçar a brasa

 


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outubro 7, 2010

Curadores: mapeamento de olhares por Ana Cecília Soares, Diário do Nordeste

Matéria de Ana Cecília Soares originalmente publicada no Caderno 3 do jornal Diário do Nordeste em 07 de outubro de 2010.

Além de mediar a aproximação entre diferentes produções poéticas, o curador opera na formação de acervos institucionais e na produção de um pensamento crítico, afetando, dessa maneira, as diversas instâncias de legitimação da arte. Com o intuito de entender um pouco mais desse universo, os artistas visuais Pablo Lobato (MG) e Yuri Firmeza (CE) apresentam, hoje, a partir das 18h, a videoinstalação "O que exatamente vocês fazem, quando fazem ou esperam fazer curadoria?", no Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza.

O projeto

Os dois artistas viajaram o Brasil, gravando em vídeo as falas de 16 curadores convidados, a partir da pergunta que intitula o projeto, a refletir sobre o assunto. "Fizemos um mapeamento de sensibilidades acerca da questão. É tudo muito singular, em cada diálogo a gente percebeu um mundo de possibilidades de se desenvolver uma curadoria. Alguns a entendem como um ofício semelhante ao do cartógrafo. Outros, como o Paulo Herkenhoff, acreditam que o processo curatorial promove a apresentação de uma hipótese", explica Yuri Firmeza.

Para o mineiro Pablo Lobato, a parceria com Firmeza foi fundamental para aprofundar as questões que ambos discutiam desde a época em que participaram do 29º Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte - Bolsa Pampulha, em 2008. "O que tem de mais especial nesse projeto é a natureza da fala dos pesquisadores. Os artistas pensam pouco em curadoria. A maior parte do público não sabe do que se trata, e o curador trabalha de forma isolada", afirma. "O material que coletamos tem uma dimensão muito grande sobre curadoria. Além da videoinstalação, vamos produzir um livro ... A previsão de lançamento é daqui a dois meses", diz.

Dinâmica

Após a filmagem, foi feita a edição e a programação da videoinstalação - montagem formada por cinco monitores de vídeo e organizada em círculo evocando uma mesa redonda. A cada momento a imagem e/ou a fala de um curador é disparada em um dos monitores. A alternância desses disparos sugere a dinâmica de uma conversa. "O material constitui um corpo audiovisual, nos aproximando dele através dos dispositivos escolhidos: as falas, provocadas por uma mesma questão e destinadas à composição de um espaço específico: o círculo de monitores instalados. Os vídeos dentro do círculo são recursos importantes para a criação de tal ambiente", destaca Firmeza.

Fique por dentro
Participantes

Entre os curadores convidados a integrar o projeto "O que exatamente vocês fazem, quando fazem ou esperam fazer curadoria?" estão: Paulo Herkenhoff, Moacir dos Anjos, Glória Ferreira, Daniela Castro, Gaudêncio Fidélis, Jochen Voltz, Júlio Martins, Lisette Lagnado, Luisa Duarte, Marconi Drummond, Marisa Morkazel, Ricardo Basbaum, Suely Rolnik, Solange Farkas, Bitú Cassundé e Clarissa Diniz. Os artistas Yuri Firmeza e Pablo Lobato já haviam atuados juntos, ao escrever o texto "Bordas para misturar", publicado no caderno "Pensar" do Jornal Estado de Minas, onde expressaram o interesse pela investigação de certos campos de poder do sistema da arte. A videoinstalação tem suas raízes nesse momento.

Posted by Paula Dalgalarrondo at 5:28 PM

outubro 4, 2010

Jardins suspensos por Paula Alzugaray, Istoé

Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Istoé em 4 de outubro de 2010

Penetráveis inéditos de Oiticica e projetos artísticos de paisagismo ocupam ruas e parques do Rio e São Paulo

Hélio Oiticica – Museu é o mundo/ Paço Imperial, Casa França-Brasil, MAM-RJ, Praça XV, Praça do Lido, Aterro do Flamengo, Centro Cultural Cartola, Central do Brasil, RJ/ até 21/11 Festival de jardins do MAM no Ibirapuera/ Parque do Ibirapuera, SP/ até 31/12

No campo fértil da arte contemporânea, há sempre um território novo a explorar. Com as primeiras chuvas da primavera, o “Festival de Jardins do MAM no Ibirapuera” coloca no coração verde de São Paulo seis projetos de paisagistas franceses e convida três artistas brasileiros a realizar seus primeiros jardins. O evento é uma parceria com o Festival de Jardins Chaumont-sur-Loire, da França, que se insere entre os mais conceituados eventos do gênero.

Beatriz Milhazes, Ernesto Neto e Pazé são os brasileiros convidados. “São artistas cuja obra me sugeria um diálogo com jardins. A proposta foi retomar a tradição de Burle Marx: um artista versátil que usava o jardim como uma técnica plástica entre outras, como pintura e escultura. Essa seleção marca a continuação de uma tradição de paisagismo brasileiro”, diz Felipe Chaimo­vich, curador do MAM que, com o festival, dá continuidade a uma linha de mostras com enfoque ecológico.

Mas, como jovens jardineiros, os brasileiros convidados são mesmo ótimos pintores e escultores. No jardim de girassóis de Beatriz Milhazes, não há sombra da exuberante profusão de cores e formas das suas pinturas. Já “Ovogênese”, de Ernesto Neto, é mais tímido que os incríveis jardins de malhas coloridas que compõem sua exposição individual “Dengo”, na Grande Sala do MAM.
No Parque do Ibirapuera, os jardins-instalações confundem-se com os canteiros que Augusto Teixeira Mendes criou na década de 50, com inspiração em Burle Marx. No Rio de Janeiro, situação semelhante acontece com quatro penetráveis inéditos de Hélio Oiticica. A caixa preta no meio da Praça XV chama a atenção de quem passa. “É uma obra de arte...”, começa a explicar a mediadora que permanece no local para acompanhar os visitantes e os transeuntes curiosos “...de Hélio Oiticica, um dos maiores artistas brasileiros”, acrescenta ela. E, por fim: “Essa obra é um penetrável.” A palavra acarreta mais curiosidade ainda. O que seria um “penetrável”? Simples: uma obra na qual o observador pode entrar nela, penetrar.

Desde 11 de setembro, áreas públicas do Rio ganharam ares de museu. A exposição “Hélio Oiticica – Museu é o Mundo” conta com quatro penetráveis que não foram vistos na mesma mostra em São Paulo, em maio. São eles: o “PN 16”, nunca exibido em tamanho natural; “Éden”, conjunto de vários ambientes que integrou a primeira exposição do artista na Whitechapel, em Londres, em 1969; “Mesa de Bilhar – Apropriação d’après O Café Noturno de Van Gogh”, montada pela primeira vez, na Central do Brasil; e o igualmente inédito “Bólide Área Água”, na Praça do Lido. O curador César Oiticica Filho conta que expor os penetráveis em lugares públicos do Rio foi tarefa mais fácil do que em São Paulo, onde não obteve autorização da prefeitura. “Não conseguimos montar na Praça da República, que era o local original do projeto “PN 16”, agora na Praça XV do Rio”, diz. A burocracia também engoliu a obra que o artista goiano Kboco montaria no Festival de Jardins. Segundo o MAM, ele teve seu “Jardim de Skate” vetado pelo órgão de patrimônio responsável pelo Ibirapuera, que considerou que o projeto impermeabilizaria uma grande área de solo do parque. O artista contesta. “A proibição se deve a um boicote aos skatistas. A mesma postura me levou também a modificar meu projeto para a Bienal.” Kboco é o autor do terreiro “Dito, Não Dito, Interdito”, na 29ª Bienal, alvo de pichações no terceiro dia do evento. Título sugestivo para uma obra que, segundo o artista, teria sido cerceada.

Colaborou Luciani Gomes, Rio

Posted by Paula Dalgalarrondo at 3:02 PM

Bienal tem obras feitas de carne e osso por Juliana Vaz, Folha de S. Paulo

Matéria de Juliana Vaz originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de São Paulo em 3 de outubro de 2010.

Instalações de Cildo Meireles, Livio Tragtenberg e Ana Gallardo utilizam pessoas e despertam atenção de visitantes

Trabalhos carregam conotações políticas, levantam memórias afetivas e pedem a participação do público

"Está desligado?" A pergunta veio de um visitante que se aproximava da instalação que Cildo Meireles criou para a Bienal. A resposta saiu de lá de dentro: "Não. A gente tá só descansando".

De longe é impossível ver, mas a força que faz funcionar "Abajur" é humana.

A obra, referência aos porões dos navios negreiros, é iluminada e ganha movimento à medida que pessoas escondidas por baixo dela (quatro de manhã e três à tarde) empurram manivelas.

"É suportável", diz Robson Alves, 34, uma das peças daquela engrenagem. Ele já foi garçom, estoquista e figurante do filme "Lula, o Filho do Brasil", entre outros.

"Infelizmente, ganho mais aqui do que com outros trabalhos", lamenta Franco Picciolo, 38, que apita jogos de futebol de várzea.

Jaula

No andar debaixo, o compositor Livio Tragtenberg quis representar a falência do artista-gênio encarcerando-se dentro de uma jaula. Vai ficar preso, como os urubus no viveiro de Nuno Ramos, até o fim da mostra, todas as terças e quintas.

"O compositor no sentido romântico, que expressa sua personalidade através da música, é um bicho em extinção", explica o artista.

Portanto, a obra "Gabinete do Dr. Estranho" depende da interação com o público, que é convidado a gravar sua voz através de um microfone instalado fora do cárcere. Em tempo real, o artista cria e devolve os sons aos visitantes.

"Uma coisa é improvisar com músicos, outra é improvisar com não músicos. O inesperado, o não qualificado me interessam cada vez mais", diz Livio, que já esteve na Bienal de 1985.

Improvisada é também a dança na instalação "Un Lugar para Vivir Cuando Seamos Viejos" (um lugar para viver quando formos velhos), da argentina Ana Gallardo.

Ela conheceu, na Cidade do México, onde viveu por anos, idosos que dançavam em uma praça e os trouxe para dar aulas de "danzón" e desenhar nas paredes da Bienal memórias de suas vidas.

"Eles não entendiam o sistema da arte contemporânea. Tive que explicar a eles o sentido do projeto. Eles aceitaram vir por uma questão de confiança e porque queriam conhecer um lugar fora do México. Nunca tinham ido ao exterior", explica a artista.

"Construo minha obra com fragmentos de vida dos outros, por isso é importante trabalhar com pessoas."

Posted by Paula Dalgalarrondo at 2:40 PM

Bienal volta a ser epicentro das artes plásticas por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo

Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de São Paulo em 2 de outubro de 2010.

Apesar de contradições entre obras, mostra reúne trabalhos excelentes

"Há sempre um copo de mar para um homem navegar." A 29ª Bienal de São Paulo revela-se uma mostra polifônica e aí reside sua força, e também sua fraqueza.

Em torno de arte e política -questão historicamente relevante, mas que sem um foco torna-se ampla demais- coexistem obras e propostas bastante diversas, com nexos difíceis de se compreender.

Numa exposição da dimensão do pavilhão da Bienal é compreensível que a curadoria, coordenada por Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos, opte por criar distintos eixos, mas podem-se constatar algumas contradições entre as obras, o que provoca enfraquecimento do tema.

Ocorre, por exemplo, na discrepância entre o que se pode chamar de artistas "históricos" e contemporâneos. As ações radicais, em sua maioria dos anos 60 e 70, dos argentinos Alberto Greco e do Grupo de Artistas de Vanguarda, de Paulo Bruscky, Lygia Pape e Hélio Oiticica, entre outros, reduz a produção atual, com algumas exceções, a um esteticismo pueril.

FORA DE CONTEXTO

Afinal, como se pode entender nesse contexto obras de artistas como Marcelo Silveira, David Cury ou Fernando Lindote, entre outros? Essa abrangência, por demais generosa, não só enfraquece o tema como põe em xeque a produção contemporânea, o que não parece ser a intenção dos curadores.

Contudo, essa Bienal, quando consegue realizar diálogos autênticos entre passado e presente, atesta sua pertinência.

Foi assim com leitura livre do "Bailado do Deus Morto", de Flávio de Carvalho, um dos artistas-chave da mostra, com 50 atores do Teatro Oficina, no último domingo.

Quando Zé Celso, que dirigiu a ação, vestiu uma versão do traje "New Look de Verão", de Carvalho, e esbravejou impropérios como metralhadora giratória, enquanto seu grupo movia-se praticamente desnudo, ele injetou um espírito anárquico e politicamente incorreto na Bienal, comportada demais.

Mas, felizmente, ele não é exceção e, graças à polifonia da mostra, há trabalhos excelentes e, por conta dos terreiros, especialmente os da performance, da literatura e do cinema, há uma energia vibrante no pavilhão.

Assim, apesar de conceitualmente a Bienal ser muito frágil, sua complexidade e diversidade compensam a falta de organicidade e tornam, novamente, o pavilhão da Bienal o epicentro do pensamento artístico no pais.

Posted by Paula Dalgalarrondo at 2:07 PM

Site sobre cultura africana será lançado hoje na Bienal de SP por Silas Martí, Folha de S. Paulo

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de São Paulo em 4 de outubro de 2010.

Buala.org reúne artigos sobre literatura, música e artes visuais

De olho na mais nova geração de artistas africanos, um site que será lançado hoje na Bienal de São Paulo tenta mapear a produção cada vez mais forte dessa região.

Batizado de Buala, termo no dialeto quimbundo que significa casa ou aldeia, o novo portal deve cobrir todos os tipos de manifestação cultural na África, de literatura e música às artes, com foco em países de língua portuguesa.

"Existe uma nova geração de artistas que nasceu no pós-independência e começou a criar um discurso próprio", diz a portuguesa Marta Lança, editora do Buala.org. "Estão mais conscientes de seu lugar no mundo, buscando uma nova africanidade."

Já de pé, em fase de testes desde maio, o site registra por volta de 10 mil acessos por mês e tem cerca de 50 colaboradores espalhados pelo mundo, em especial em Angola, Moçambique, Cabo Verde, Portugal e Brasil.

Para além da esfera lusófona, também há colaboradores no norte africano, no Senegal e na África do Sul.
"Para nós, interessa a situação atual, aquilo que é produzido hoje nesses países", diz Lança. "Não é uma África cristalizada no tempo. Interessam as grandes transformações das metrópoles."

Toda a reformulação urbanística de Luanda, por exemplo, é assunto para um amplo ensaio publicado no site.

Também há contribuições de escritores angolanos como Mia Couto e José Eduardo Agualusa, além da cobertura de fenômenos da cultura pop, como o estilo kuduro.

"É criar esse canal de informação entre o continente e a diáspora, usar a cultura digital para conhecer o continente", diz Lança. "Muitos dos próprios africanos não têm acesso ao discurso que está sendo produzido sobre eles."

Posted by Paula Dalgalarrondo at 1:40 PM