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agosto 13, 2010
Mostra Entre 6 amplifica a pintura por Pollyanna Diniz, Diário de Pernambuco
Matéria de Pollyanna Diniz originalmente publicada no caderno Viver do jornal Diário de Pernambuco em 12 de agosto de 2010.
Reunir seis artistas numa exposição que toma como ponto de partida a pintura. Pode parece lugar-comum, monótono até. Não foi o que aconteceu no Museu Murillo La Greca, em Parnamirim, na mostra Entre 6, que será aberta hoje, às 19h. Andrei Tomaz, Rodrigo Mogiz, Bruno Vieira, Flávio Lamenha, Thiago Martins de Melo e Elton Lúcio conseguem surpreender porque vão além, sugerindo ao público pontos de interseção entre a pintura e outros meios, como a fotografia e o vídeo.
A exposição é a primeira deste ano do projeto Amplificadores, que está comemorando cinco anos, dando visibilidade aos artistas mais jovens. São propostas de exposições normalmente capitaneadas por um curador, que tem a tarefa de reunir os artistas. No caso de Entre 6, foi o pernambucano Bruno Vieira, quem teve a ideia de se inscrever no edital e, para tanto, começou a reunir colegas que pudessem agregar novos formatos e visualidades. Pensou primeiro em partir da paisagem, como tinha feito em 2008, na galeria Mariana Moura, em Boa Viagem. Decidiu depois ampliar o conceito para pintura.
No seu trabalho, obras da série Vista inevitável, Vieira traz paisagens e a linha do horizonte. Uma visão plácida? Poderia até ser, não fosse pelo suporte utilizado: cortinas persianas. Um elemento desarticulador, desagregador. Se normalmente abrimos a cortina para apreciar a vista, aqui é o contrário. Ao fazê-lo, a obra está 'desfeita'.
Noutra parede, o mineiro Rodrigo Mogiz expõe um trabalho delicado, mas impactante. Eles fazem parte da série Mapas imaginários. O artista mistura desenho, bordado, pintura. Linhas, alfinetes, cortes e recortes num tecido fininho, de algodão, a entretela. Há inclusive algumas camadas deste tecido sobrepostas. O artista usa como referência o universo da obra Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Usa a iconografia do interior, fala da natureza, da violência, do afeto.
Outro trabalho que também trata de afeto - e do contraponto, a solidão-, é do também mineiro Elton Lúcio. São pequenos quadros que partem do desenho, mas são pintados,em acrílica sobre papel. Trazem personagens únicos numa tela cheia de linhas, listras. Percebe-se a perspectiva, o horizonte, as formas, onde o vazio também está nas pessoas.
Complementam a mostra as fotografias de Flávio Lamenha (SP), a pintura de Thiago Martins de Melo (MA) e um vídeoinstalação de Andrei Tomaz (SP). De tanto registrar exposições, o fotógrafo Flávio Lamenha decidiu começar a experimentar - e foi convencido pelos amigos de que o que estava fazendo era arte. Ele é o próprio modelo, múltiplo, de suas fotos. Numa brincadeira que pode reproduzir a Santa Ceia ou uma galeria de arte. As pinturas de Thiago Martins de Melo parecem colagens, com várias camadas de tinta e planos. Ele usa a fotografia e leva ao quadro o autoretrato e a sua relação íntima com a esposa. Por fim, a vídeoinstalação de Andrei Tomaz vai desconstruir imagens do público, através de uma webcam. A visitação ao museu é de terça a sexta, das 9h às 12h e das 14h às 17h; e aos sábados, das 14h às 17h.
Mostra em SP reúne 30 obras raras de Sergio Camargo. estadão.com.br
Matéria originalmente publicada no caderno Cultura do estadão.com.br em 13 de agosto de 2010.
No ano passado, um relevo em madeira do escultor carioca Sergio Camargo (1930-1990), datado da década de 1960, foi arrematado por mais de US$ 1,5 milhão em leilão da Sotheby?s, em Nova York. É um fato, mas o curador e professor Paulo Venancio Filho quer acreditar que os altos preços alcançados atualmente pelas obras do escultor não sejam parte apenas de um fenômeno. "Que isso possa se traduzir em interesse de vê-lo", diz Venancio, completando que apesar de toda a aura de consagração de Camargo na recente história da arte brasileira, ele não é tão conhecido assim do público.
Por isso, a exposição "Sergio Camargo - Claro Enigma", que será inaugurada amanhã para convidados e a partir de domingo aberta a visitação no Instituto de Arte Contemporânea (IAC), em São Paulo, é uma oportunidade de se ver reunido um conjunto significativo de 30 obras do escultor, passando, de uma maneira fluida, por sua trajetória entre as décadas de 1950 e 1980. A mostra, com curadoria do próprio Venancio, ressalta, justamente, peças raras do artista, todas elas pertencentes a coleções particulares brasileiras - apenas uma escultura em mármore de Carrara, de 1978, é emprestada do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
"Não é uma retrospectiva", diz o curador, completando que sua ideia foi evitar na seleção obras do espólio do artista porque "essas são sempre mostradas". Desde que o escultor morreu, há exatos 20 anos, sua última exposição individual de mais peso ocorreu em 1999, no Palácio do Itamaraty. O IAC, legalmente criado em 1997, foi fundado para institucionalizar a obra de quatro artistas, Sergio Camargo, Willys de Castro, Mira Schendel e Amilcar de Castro. "Claro Enigma" é a primeira individual que o instituto dedica ao escultor.
Além de esculturas, relevos, croquis e fotografias (fazendo menção à sua arte pública), a exposição se completa com a exibição do documentário "Se Meu Pai Fosse de Pedra", dirigido pela filha do artista, Maria Camargo. Estão previstos também um ciclo de palestras, com participação de Paulo Venancio Filho e de convidados como o crítico britânico Guy Brett (dia 17/9) - que teve grande contato com o escultor e foi um dos impulsores de criadores como Hélio Oiticica e Lygia Clark na Europa - e lançamento, em setembro, de livro de poesias e escritos de Sergio Camargo recolhidos por sua filha Maria e pela escultora Iole de Freitas e reunidos em edição feita pela Editora Bei e pela escritora Beatriz Bracher. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Museu Lasar Segall recebe lote de peças do artista, estadão.com.br
Matéria originalmente publicada no caderno Cultura do estadão.com.br em 13 de agosto de 2010.
O Museu Lasar Segall, na Vila Mariana, único museu federal em São Paulo, recebeu oficialmente em doação ontem, da família do pintor Lasar Segall, o último lote de expressivas obras, documentos, mobiliário, matrizes e objetos. Além da cessão definitiva da casa anexa, de 700 metros quadrados, projeto do arquiteto Jorge Wilheim. O lote passa a integrar agora o acervo da instituição, hoje com mais de 3 mil obras, que é público.
Atualmente gerido pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), ligado ao Ministério da Cultura, o museu foi idealizado por Jenny Klabin Segall em 1967 e implementado pelos filhos do pintor, Mauricio e Oscar Klabin Segall (já falecido).
Mauricio Segall, seus filhos e Beatriz Segall (nora do pintor), além de convidados como o ensaísta e crítico literário Antonio Candido, participaram da cerimônia de doação de todo o lote - 8 mil documentos, 5.304 fotografias, 501 objetos - incluindo peças pessoais de trabalho do artista -, 171 matrizes de gravuras, 12 móveis e mais 8 obras. Também presente ao evento, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, anunciou a doação de uma 9.ª obra: uma aquarela de 1956.
Oficialmente, desde janeiro o Museu Lasar Segall não pertence mais à família. Foi quando foram derrubadas as últimas salvaguardas que mantinham o patrimônio do museu ainda passível de ser retomado pela família - como a sede da instituição, projeto modernista de Gregori Warchavchik, residência de 1936, onde viveu Lasar Segall.
O ministro Juca Ferreira disse que Lasar Segall, que nasceu na Lituânia, poderia ter sido um artista de peso no ambiente de vanguarda da Europa, mas preferiu instalar-se no Brasil, onde "disseminou conhecimento técnico sofisticadíssimo" e demonstrou em sua obra grande comprometimento com a cultura brasileira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
agosto 12, 2010
Coleção Pirelli se volta a artistas do Pará e da Bahia por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S.Paulo em 11 de agosto de 2010.
No vale do Amanhecer, fiéis se vestem como reis e rainhas. Guy Veloso extrai dessa devoção alegórica um preto e branco faiscante, luz que estoura os limites da fotografia e parece descascar a película até o pó de prata.
Suas imagens agora no Masp, entre as aquisições atuais da coleção Pirelli, resumem a força da seleção de artistas da Bahia e do Pará.
Veloso, paraense escalado para a próxima Bienal de São Paulo, registrou homens e mulheres de um dos templos da doutrina. Olhos abertos formam um contraponto entre a crueza da fotografia e a teatralidade barroca da seita.
São olhares em êxtase que ultrapassam os limites desse claro-escuro, numa vertigem quase colorida. É o mesmo salto de Bauer Sá, baiano negro que só fotografa negros. Preto sobre preto, suas construções lembram a pegada contraditória do minimalismo de Mario Cravo Neto, que oscilava entre densos monocromos e a volúpia do Carnaval e do candomblé.
Mas vai além dessa lembrança. Pele e olhos na obra de Sá vêm com a plasticidade de Robert Mapplethorpe e os excessos de Richard Avedon -hibridismo que ecoa a miscigenação do ponto onde a África se juntou à América.
É a mesma marca de Mariano Klatau Filho, paraense que funde em suas imagens sequências de fotografia real, reproduções de pintura e quadros de filmes e vídeos.
Uma paisagem marítima roça o retrato de um garoto à luz do sol. Noutra montagem, uma tela de Edward Hopper, mulher nua que olha pela janela, se separa de uma cena de "21 Gramas", com Sean Penn pelado e sozinho fumando um cigarro. Parecem estar todos naquele mesmo ponto entre a fantasia e a devoção.
Murillo La Greca inaugura exposição Entre 6, globo.com
Matéria originalmente publicada na seção Diversão do site globo.com em 9 de agosto de 2010.
Evento será nesta quinta-feira (12), às 19h; essa é a primeira das três mostras, selecionadas pelo projeto Amplificadores 2010, que acontecem ainda este ano
O Museu Murillo La Greca inaugura na próxima quinta-feira (12), às 19h, a exposição "Entre 6". Essa é a primeira das três mostras, selecionadas pelo projeto Amplificadores 2010, que acontecem ainda este ano.
"Entre 6" põe em foco a presença da pintura em outras mídias, o seu impacto na variedade de meios possíveis no campo da arte e a própria pintura atual. A proposta apresenta artistas que trabalham na fronteira entre esses meios e habitam áreas de interseção com a pintura como a fotografia e o vídeo.
A proposta dessa exposição coletiva “Entre 6” surgiu da tecla Enter das mensagens instantâneas, dos e-mails trocados, diálogos via msn, skype, debates, ligações, conexões via web, “Entre” significa estar entre uma coisa e outra, entre um discurso pictórico, de conceitos e de uma prática manual, a qual implica uma mistura de tintas, cores, formas.
O trabalho, que fica em cartaz até 10 de setembro, foi produzido pelos artistas Andrei Tomaz (SP), Rodrigo Mogiz (MG), Bruno Vieira (PE), Flávio Lamenha (SP), Thiago Martins de Melo (MA) e Elton Lúcio (MG).
Murillo La Greca realiza laboratório de mediação
Atividade é para elaborar plano de trabalho para visitas guiadas ao Museu para a exposição “Entre 6”, mostra de arte contemporânea que abrirá o projeto Amplificadores 2010
O Núcleo de Arte Educação do Museu Murillo La Greca, equipamento cultural da Prefeitura do Recife, realiza entre 7 e 12 de agosto, o Laboratório de Mediação – Eu Faria Assim... para a exposição “Entre 6”. A mostra de arte contemporânea abrirá o projeto Amplificadores 2010.
A atividade é voltada para educadores, estudantes, artistas e demais interessados em construir coletivamente as propostas de trabalho para a condução de visitantes na ocasião da exposição. Para provocar, mediar e contribuir com a sistematização das propostas, o Museu conta com a participação do arte educador Carlito Person.
As aulas acontecem nos dias 7 e 9, das 14h às 17h e 10, 11 e 12, das 9h às 12h. As inscrições são feitas por telefone e o laboratório é gratuito.
ENTRE 6
"Entre 6" integra a seleção de obras apoiadas pelo Projeto Amplificadores 2010, que busca evidenciar novos artistas e disponibilizar um espaço para discutir-se questões curatoriais. A mostra “Entre 6” é composta por trabalhos dos artistas Andrei Tomaz (SP), Rodrigo Mogiz (MG), Bruno Vieira (PE), Flávio Lamenha (SP), Thiago Martins de Melo (MA) e Elton Lúcio (MG).
Serviço:
Exposição Entre 6
Abertura dia 12 de agosto de 2010|às 19h
Visitação de 12 de agosto a 10 de setembro de 2010
De terça à sexta | das 9h às 12h e das 14h às 17h
Sábados das 14h às 17h
agosto 10, 2010
Fios de arte em alta tensão por Camila Molina, Estado de S. Paulo
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno Cultura do jornal Estado de S. Paulo em 10 de agosto de 2010.
Obra do americano Fred Sandback é exibida pela primeira vez no Brasil
É uma obra mínima, mas carregada de potência: a partir do simples ato de esticar linhas em espaços com apenas fios de lã ou cordas elásticas, o artista norte-americano Fred Sandback (1943-2003) propõe trabalhos a serem vivenciados pelo público, constrói lugares de fina tensão, opera na bi e na tridimensionalidade. "Uma linha tem direção - um ponto de origem e um ponto de término. Uma linha é ainda uma discreta entidade que existe ao todo em um mesmo tempo", definiu em 1970 Sandback conclamando as diretrizes de sua obra ao longo de uma trajetória de quase 40 anos.
"Ele construiu um paradigma do que se pode fazer com o mínimo de recursos, uma opção como uma ética", diz Lilian Tone, curadora brasileira do Departamento de Pintura e Escultura do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) e, agora, da primeira mostra do escultor no Brasil: Fred Sandback: O Espaço nas Entrelinhas, uma grande exposição que se desmembra em três locais - hoje, será inaugurada para convidados o maior segmento dela, no Instituto Moreira Salles do Rio; e depois, dia 17, as outras duas ramificações no espaço paulistano da instituição e no Centro Universitário Maria Antonia, também em São Paulo.
A mostra se fez a partir de parceria entre o Instituto Moreira Salles (IMS) e o Fred Sandback Archive, espólio do artista, perpassando sua carreira entre 1968, quando ainda cursava a Yale School of Art, até sua morte, e reunindo não só uma amostra variada de suas esculturas espaciais como desenhos, gravuras e um relevo negro em madeira. Apresenta, de uma forma direta que, como já definiu o escultor e ressalta a curadora, "existe mais de uma maneira para desenhar uma linha" - infinitas, talvez, feitas por ele, a partir de 1974, majoritariamente, com fios de lã.
Austeridade. Sandback é um aclamado criador contemporâneo que, segundo Lilian Tone, se distinguiu na geração americana do pós-Guerra, mesmo que com a influência de criadores do chamado minimalismo, entre eles, Donald Judd e Robert Morris. "A clareza inefável exalada pelas esculturas de Sandback - com sua presença aérea e serena, sua reação fluida ao contexto espacial - permeia todos os aspectos de sua produção, assim como o convite aberto para o espectador navegar pela inter-relação da obra com o lugar", ela escreve em texto de apresentação. Lilian exalta, ainda, que a obra de Sandback nos revela hoje "um conceito de escultura expandida" particular: "Não é vazia nem plena" e a cada lugar em que é recriada, configura uma situação espacial única e ganha ainda cor, com o uso de fios coloridos."
É curioso relacionar na obra de Fred Sandback, com sua construção de volumes no espaço - desde a década de 1970, quando eclodiam no cenário artístico as chamadas instalações - e criações de brasileiros. "No Brasil há grupo de artistas que pensam a escultura via processo, construção", analisa Lilian Tone, que está no MoMA desde 1991. Ela destaca "aproximações conceituais" entre Sandback e Lygia Clark - até com Mira Schendel - no sentido da criação de uma obra que insere o espaço cotidiano, mas é possível ainda se pensar numa relação do escultor com Waltercio Caldas, que expandiu o conceito de objeto - e inclusive já criou obra com fios de lã soltos, fazendo "algo mais sensual". "Entretanto, Sandback nunca deixou o fio no ar, existe sempre uma geometria, uma austeridade", diz Lilian.
Por ser a primeira exposição de Sandback aqui, este é o momento de introduzir sua obra para os brasileiros. "Infelizmente, não teríamos espaço para fazer um diálogo com criadores nacionais", afirma a curadora. O IMS prepara alentado catálogo que vai incluir imagens feitas in loco e ainda os escritos do artista.
QUEM FOI
FRED SANDBACK
ESCULTOR
O artista nasceu em 1943 em Bronxville, Nova York, e morreu em 2003. Primeiro, estudou filosofia na Yale University, depois, escultura na Yale School of Art and Architecture (onde conheceu os minimalistas Donald Judd e Robert Morris). Entre 1981 e 1996, a Dia Art Foundation manteve o Museu Fred Sandback em Winchendon, Massachusetts, e em 2003 a instituição colocou permanentemente várias de suas obras na unidade de Beacon (NY).
FRED SANDBACK: O ESPAÇO NAS ENTRELINHAS
RIO DE JANEIRO
Instituto Moreira Salles. Rua Marquês de São Vicente, 476, (021) 3284-7400. 12h/ 20h (sáb. e dom., 11h/ 20h; fecha 2ª). Grátis. Até 24/10. Abre hoje, 19h30.
SÃO PAULO
Instituto Moreira Salles. Rua Piauí, 844, Higienópolis, 3825-2560. 12h/ 19h (sáb. e dom., 13h/ 18h.; fecha 2ª). Grátis. Até 24/10. Abertura dia 17/8, 19h30.
Centro Universitário Maria Antônia. Rua Maria Antonia, 242, Higienópolis, (11) 3255-2009. 10h/ 21h (sáb. e dom., 10h/ 18h; fecha 2ª). Grátis. Até 24/10. Abertura dia 17/8, terça.
PALAVRAS DELE
Ambiente
"Meu trabalho não é ambiental. É presente no espaço pedestre, mas não é tão forte ou elaborado a ponto de obscurecer seu contexto. A obra não toma conta do espaço, mas coexiste com ele. A arte ambiental cria um novo ambiente e encobre o anterior e isso está tão distante do que almejo assim como uma pintura realista." (1975)
Escultura
"Acredito que em minha obra, o tempo, para o espectador, tem papel diametralmente oposto ao de uma escultura mais ou menos clássica. No David de Michelangelo, por exemplo, você tem de andar em volta do trabalho para coletar os fragmentos individuais de informação necessários para a compreensão da obra como um todo. Isto implica que o processo de percepção dura até você chegar a uma sensação da unidade. Em contraste, nas minhas obras, a unidade é dada desde o começo, e o processo subsequente de percepção pode durar eras." (1975)
Mac abre sede em dezembro, Estadão.com.br
Matéria originalmente publicada no caderno Cultura do Estadão.com.br em 10 de agosto de 2010.
Museu se prepara para mostrar seu acervo no novo prédio no Ibirapuera
Na atual sede. O diretor do museu, Tadeu Chiarelli: atividades terão como eixo obras da coleção e suas lacunas, ele afirma "Supermuseu", com área expositiva de 10 mil m², anexos (um deles, um grande galpão) e um futuro jardim de esculturas, é como define Tadeu Chiarelli, diretor da instituição, o novo Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, com a inauguração de sua sede, dia 4 de dezembro, no prédio onde funcionava o Detran (Departamento Estadual de Trânsito), no Ibirapuera.
O edifício, projetado por Oscar Niemeyer em 1954, ainda está em obras para se tornar espaço museológico - e uma previsão anterior dizia que sua inauguração ocorreria em outubro, durante a 29.ª Bienal de São Paulo. "Vale a pena perder a Bienal para fazer a inauguração com espaços expositivos", diz Chiarelli. Sendo assim, em dezembro, o novo MAC será aberto com grandes exposições. Por quatro andares do prédio estará abrigada Arte Moderna e Contemporânea - Séculos 19-21, com cerca de 1,2 mil das 10 mil obras da coleção do museu (e enfoque na arte conceitual); em salas pequenas, mostras monográficas dos artistas Di Cavalcanti, Yolanda Mohaly, León Ferrari, José Antonio da Silva, Rafael França e Julio Plaza (bem representados no acervo); no anexo (espaço para criação), exibições inéditas de Mauro Restiffe (de registros da reforma do prédio) e de Carlito Carvalhosa; e ainda em dois pisos do edifício, exposição de "artistas emergentes brasileiros" sob o título Arte Contemporânea 2000-2013. "É uma postura retrospectiva e prospectiva, que era a tônica do (Walter) Zanini (primeiro diretor do MAC, fundado em 1963)", afirma Chiarelli.
Encontros. Mas por agora, enquanto o museu ainda tem sua sede na Cidade Universitária, um ciclo de encontros públicos com artistas, a partir de hoje, dá início às atividades do novo projeto da instituição sob a gestão, até 2014, de Chiarelli, nomeado diretor do MAC em 21 de abril. A jovem artista Sofia Borges participa hoje, entre 17 e 19 h, do primeiro bate-papo, com entrada gratuita.
Em agosto, o ciclo ocorre todas as terças-feiras, no mesmo horário, no auditório do museu (Rua da Praça do Relógio, 160, tel. 3091-3559) tendo a presença, sequencialmente, a cada dia, dos artistas Marco Willians, Gilberto Mariotti e Guilherme Peters. A programação, semanal, ainda se estende por setembro - com falas de Felipe Prando, Deyson Gilbert, Marlon de Azambuja e a dupla Luciana Ohira/Sergio Bonilha; outubro - com Fábio Tremonte e Vitor Cesar; e novembro - com Fernando Piola e Pino. Mais informações podem ser consultadas pelo e-mail ceema@usp.br. O programa nasceu da vontade de se resgatar mais uma iniciativa de Zanini, a de trazer os artistas para o museu.
Planos. A obra de transformação do antigo prédio do Detran em museu está sendo financiada, com recursos em torno de R$ 54 milhões, pela Secretaria de Estado da Cultura. Pelo novo projeto, o edifício da Cidade Universitária será dedicado a atividades didáticas e a área que o MAC tem no Pavilhão da Bienal será devolvida à entidade. O trânsito de todo o acervo (que inclui coleções como a do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira) ocorrerá, acredita Chiarelli, até o fim do 1.º semestre de 2011. Ele afirma também que a manutenção do museu será de cerca de R$ 700 mil mensais e está ainda em discussão se esse montante terá apoio da Secretaria Estadual.
Obras de Matheus Rocha Pitta analisam circulação do dinheiro por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 10 de agosto de 2010.
Trabalhos de mais três artistas completam mostra na Vermelho
Um velho televisor aparece sem as entranhas elétricas. Na casca de plástico, estão coladas imagens de montanhas de dinheiro apreendidas em operações policiais. Cédulas têm a anatomia escancarada em monitores de vigilância. Matheus Rocha Pitta também criou um fundo falso para dinheiro de mentira atrás da Vermelho.
"Esses valores saem de uma circulação comercial e entram num esquema midiático", diz Rocha Pitta. "Vira uma imagem consumida como um emblema da lei."
Numa animação, o artista esmiúça as cores do logotipo da TV Globo, dando verniz perverso ao símbolo dessa circulação espetacular.
É uma descontrução que pauta também as obras de André Komatsu e Héctor Zamora, no andar de cima.
Enquanto Komatsu faz uma árvore atravessar uma mesa e constrói uma torre de entulho, Zamora recria tijolos em novos formatos. São tentativas mais ou menos sutis de subverter a ordem dos sistemas. Na arquitetura de Komatsu, tinta e azulejos antigos extrapolam os limites do quadro e desfazem a harmonia de suas placas e retângulos áureos. Fotografias de Zamora mostram um prédio modernista cheio de bananas prensadas contra as janelas. Começam ainda verdes e depois amadurecem num amarelo que destoa da paisagem.
MATHEUS ROCHA PITTA, ANDRÉ KOMATSU, HÉCTOR ZAMORA E JOÃO LOUREIRO
QUANDO abertura hoje, às 20h; de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 17h
ONDE Vermelho (r. Minas Gerais, 350, tel. 0/xx/11/3138-1520)
QUANTO grátis
Arte, ensino e liberdade por Ana Cecília Soares, Diário do Nordeste
Matéria de Ana Cecília Soares originalmente publicada no Caderno 3 do jornal Diário do Nordeste em 10 de agosto de 2010.
Reflexões sobre a formação em artes visuais e as relações entre o capital e a cultura foram questões debatidas nos últimos dias do Seminário Arte, Invenção e Experiências Formativas, no Centro Dragão do Mar
O que se espera de um espaço dedicado ao ensino de arte? Onde começa a formação de um artista? Como construir uma visão crítica quando se está inserido num sistema de ensino engessado? Um balaio de questionamentos se formava à medida que as professoras Cláudia Saldanha, Ana Maria Tavares e Suely Rolnik aninhavam a plateia com suas reflexões, durante os dois últimos dias do Seminário Arte, Invenção e Experiências Formativas, do Núcleo de Formação do Programa Dragão do Mar Educativo, realizado na semana passada.
Com a proposta de apresentar ao público cearense um modelo de ementa em que as práticas artísticas são experimentadas sem restrições, com ênfase em seus aspectos interdisciplinares e transversais, Cláudia Saldanha trouxe à tona o trabalho que a Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), no Rio de Janeiro, vem desenvolvendo ao longo de seus 35 anos. Responsável pela direção do espaço, destacou a importância conquistada pelo lugar como ponto de referência na formação de artistas de todo o País.
"A EAV foi fundada em 1975, em pleno período da ditadura militar. A ousadia já começava aí. Idealizada por Rubens Gerschman, a escola contou com a colaboração de grandes nomes das artes visuais brasileiras: Mário Pedrosa, Lygia Pape, Lina Bo Bardi e Celina Tostes. Ela é uma espécie de Éden da intelectualidade do Brasil, um espaço de troca de ideias, de conversas", ressalta Cláudia.
O espaço funciona na antiga residência, em estilo eclético, projetada pelo arquiteto Mário Vodrel em 1920, sob encomenda do armador brasileiro Henrique Lage, para sua esposa, a cantora lírica italiana Gabriela Besanzoni. O local já abrigou eventos culturais importantes, como a montagem da peça "O Rei da Vela" elaborada por José Celso Martinez Corrêa, uma exposição inédita de fotografias de Mario de Andrade, inúmeros shows musicais, com artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Cazuza, Fagner e Chico César, realizados no projeto "Verão a Mil", organizado por Xico Chaves.
"Em 1967, Glauber Rocha filmou Terra em Transe no Parque Lage, e, em 1968, a piscina ficou nacionalmente famosa, quando Joaquim Pedro de Andrade fez dela o grande caldeirão da cultura brasileira em ´Macunaíma´. O momento era de total efervescência e dois grandes cineastas brasileiros filmavam seus clássicos utilizando o palacete como locação, em plena ditadura militar", destaca.
Atualmente, a EAV oferece cerca de 60 cursos, direcionados não só às artes visuais, apesar de este ser seu foco principal, mas também a música, dança, teatro e literatura. Além do programa para artistas, há outros cursos destinados a historiadores, pesquisadores e demais interessados em aprofundar o conhecimento e o contato com a arte. "A escola não mudou muito... Ela é livre para incorporar em seu projeto as tendências atuais e, assim, vai se reinventando e se reestruturando conforme o ritmo da própria sociedade", conclui.
"Arte é investigação"
A artista plástica e professora da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP), Ana Maria Tavares, também compartilhou suas inquietações, através da palestra "A Formação em Arte: O Artista Investigador e o Fortalecimento do Contexto-Acadêmico: 1970 - 2010".
Para a professora, o artista precisa de liberdade para experimentar suas propostas poéticas, mas as instituições de ensino, em sua maior parte, ainda apresentam uma estrutura curricular fechada ao novo. Ela destacou que a formação em artes deve envolver os museus, as instituições culturais e o público.
"A experiência da arte deve ser expandida, compartilhada e sentida. A arte em estado bruto é uma abstração. É o modo de sentir e de pensar do artista. A arte nasce do território da incerteza", enfatiza. "O próprio museu se coloca em xeque. Parte da tarefa do artista é questionar a instituição, a sua prática e o sistema. O artista é o inventor, o público o campo aberto, e a obra a porta de entrada entre os dois".
Capital e cultura
Para finalizar os cinco dias do seminário, encerrado no último sábado, a pesquisadora e crítica de arte Suely Rolnik teceu uma crítica ao sistema capitalista, que articula as experiências humanas e as manipula de forma a dinamizar o mercado. "O sistema capitalista opera, puxando-nos o tempo inteiro para o consumo de subjetividades ´pret-à-porter´. Isso ocorre na ânsia de nos repaginarmos, nos reinventarmos para lidar com nossas condições de seres angustiados - por não podermos alcançar os modelos projetados a partir dos braços desse mesmo sistema - tal como a mídia faz, por exemplo", explica. Nesse contexto, observa que a própria experimentação se tornou um modelo "prêt-à-porter", expressão que vem do francês "prêt" (pronto), e "à-porter" (para levar), mas que tal fato não significa que chegamos a um esgotamento. Nascem outras questões.
Formas do infinito por Adriana Martins, Diário do Nordeste
Matéria de Adriana Martins originalmente publicada no Caderno 3 do jornal Diário do Noredeste em 10 de agosto de 2010.
"O Número", exposição do artista pernambucano José Patrício, tem abertura hoje, no Centro Cultural Banco do Nordeste
Da fruição estética à reflexão sobre temas complexos como morte, infinito e vazio. Esse é o caminho percorrido pela obra do pernambucano José Patrício, cuja exposição "O Número" será aberta hoje à noite, no Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza. Com curadoria de Paulo Herkenhoff, a exibição reúne os principais trabalhos do artista nos últimos seis anos.
Em vez de tinta e pincel, Patrício foi buscar em matérias-primas menos ortodoxas o fundamento de sua arte. O pernambucano já trabalhou com papel, botões, peças de bijuteria, bonecos e outros objetos, utilizados como módulos que se repetem para formar diferentes composições geométricas.
Dentro de um processo contínuo de experimentação e pesquisa, em 1999 o artista adotou as pedras de dominó para a realização de suas composições. As pecinhas tornaram-se marca definitiva em sua obra.
"O módulo é um elemento que existe individualmente. Pode ser uma peça de dominó, um dado, um botão. Procuro então diversas formas de agrupar esses módulos para conseguir a ideia de totalidade, algo que represente o todo", explica.
Além das obras fixas, com peças de dominó coladas em suportes de madeira, há os enormes painéis efêmeros, montados e desmontados a cada exibição. "Aqui no BNB, por exemplo, temos uma instalação chamada ´Expansão Múltipla´, montada no piso de uma área ao lado do hall. O local é ideal porque a obra pode ser visualizada do primeiro andar, de forma mais inteira", ressalta o artista.
Dominós aos milhares
É a segunda vez que "Expansão" é exibida ao público - a primeira foi na Pinacoteca do Estado de São Paulo. "Uso milhares de pedras de dominó. Aqui elas foram montadas em quatro dias, com a ajuda de uma equipe", revela. Segundo Patrício, cada quadrado desse grande "tapete" é feito com jogos de 28 pedras iguais, separadas previamente (pedras só com os números 2 e 4, ou 5 e 3, por exemplo). "Assim, crio ritmos e estruturas distintas", detalha.
A aparente oposição entre matemática e arte é um dos aspectos interessantes do trabalho de Patrício, e ponto de partida para outras reflexões. "Para construir a obra, preciso fazer cálculos, ver quantos jogos de dominó vou precisar para fazer um quadrado, por exemplo. Se faltar uma única pedra, esse trabalho de precisão e concisão não é possível", enfatiza.
Ainda assim, segundo ele, a matemática entra como coadjuvante. "Temos uma regra básica, mas a distribuição das pedras é feita em total liberdade. Estamos lidando com duas coisas: o projeto, a definição do que vai ser a obra, e a liberdade dentro desse projeto. Assim, a peça torna-se completamente diferente a cada vez que for montada", justifica.
Além da grande instalação próxima ao hall, a exposição no CCBNB conta ainda com mais duas instalações. Uma delas, chamada "Jogo Cor", é interativa. "São quatro mesas coloridas, cada uma com quatro cadeiras, pintadas com quatro cores: amarelo, vermelho, azul e verde. Em cada mesa há um jogo de dominó. A ideia é as pessoas sentarem e jogarem, participarem da obra".
A segunda instalação chama-se "Zero Jogo" e traz exatamente o oposto da anterior. "Trata-se de uma mesa com dois bancos sobre a qual há um jogo de dominó apenas com peças de número zero. Isso remete à impossibilidade do jogo, não há espaço para o desejo de ganhar", explica Patrício.
Evolução
Além das instalações, a exposição reúne mais de vinte obras de parede. "Essa é a grande exposição da minha carreira, e a segunda vez que exponho em Fortaleza. A primeira foi em 2003, no Museu do Centro Cultural Dragão do Mar", recorda
Assim, ´O Número´ revela a evolução do trabalho de Patrício. "Trata-se de uma obra extremamente singular. Pensamos nessa exposição como uma síntese do momento de maturidade dele. O critério foi trazer as melhores peças e, ao mesmo tempo, mostrar a diversidade de linguagens", ressalta o curador Paulo Herkenhoff.
Ao revisar os últimos anos da carreira de Patrício, a exposição também contribui para revelar as principais reflexões suscitadas pelo artista. "Várias peças demonstram que ´tudo muda o tempo todo´, como diz a música. Isso é algo recorrente em meu trabalho. Uso as mesmas quantidades de pedras, mas o resultado final é sempre diferente".
Patrício também ressalta que as obras transitam entre o "um" e o "todo". Assim, elas apontam para a infinitude, "coisa que talvez não alcancemos em pensamento objetivo", analisa. Para Herkenhoff, há questões ainda mais complexas embutidas no trabalho do recifense. "Patrício compreende que o inconsciente numérico é parte da civilização moderna, com suas estatísticas, cálculos, percentuais", observa.
Para o curador, a "poética do número criada pelo artista sugere reflexões sobre temas existenciais. "Por exemplo, o zero refere-se ao vazio. Ora, não teríamos o vazio dentro de nós?", questiona. "Por outro lado, essa acumulação de pedras de dominó remonta ao indizível, ao infinito, que em determinado nível significa nosso próprio confronto com a vida e a morte".
FIQUE POR DENTRO
Trajetória
NASCIDO EM 1960, o pernambucano José Patrício estudou na Escolinha de Arte do Recife, de 1976 a 1980, orientado pela gravadora Thereza Carmen Dias. Cursou Ciências Sociais e, sob a orientação de outro gravador, José de Barros, frequentou o Ateliê Livre de Gravura em Metal, do Centro de Artes da UFPE. Realizou em 1983 sua primeira individual e, dois anos depois, recebeu prêmio de artista mais promissor do Salão de Artes Plásticas de Pernambuco. Entre 1994 e 1995 viveu em Paris, estagiando no Atelier de Restauration d´ Art Graphique do musée Carnavalet.
Elogio aos números por Isabel Costa, O Povo
Matéria de Isabel Costa originalmente publicada no caderno Vida e Arte do jornal O Povo em 10 de agosto de 2010.
A partir de amanhã (11), o público cearense vai poder conferir a exposição José Patrício: o número, com curadoria Paulo Herkenhoff. A mostra reúne trabalhos em cores, dominós e quebra-cabeças
O artista nasceu no Recife, Pernambuco, em 1960 e sempre viveu direcionado para a terra natal. Graduou-se em Ciências Sociais e estagiou no Atelier de Restauration d’Art Graphique do Musée Carnavalet (Paris). Já o curador tem vasta produção bibliográfica, foi diretor do Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro e consultor da Coleção Cisneros (Caracas). Além de ter assumido, entre 1997 e 1999, a curadoria geral da XXIV Bienal de São Paulo. Dessa união de influências, correntes e experiências nasceu a exposição José Patrício: O número que será aberta nesta terça-feira (10), no Centro Cultural Banco do Nordeste, em Fortaleza.
José Patrício é o artista plástico que utiliza dominós, dados, números e quebra-cabeças de maneira inusitada. Uma das discussões desta mostra é a sociedade moderna onde quase tudo pode ser quantificado. Ele considera “importante a questão do lúdico que é gerada”. “A utilização do número da matemática cria essas obras dentro do conceito de liberdade”, explica, em conversa por telefone com o Vida & Arte. Mas ressalta que o público não precisa entender o material exposto apenas a partir dos algarismos, pois o olhar e a mensagem impregnada vão além disso.
O curador Paulo Herkenhoff destaca as questões sociais. “Você tem o zero. O que é o zero? O que é o vazio? Nos leva a nossa própria condição de refletir sobre um vazio interior”, pontua. Herkenhoff ainda completa: “Tudo se resume a números na sociedade contemporânea. O número vai se espalhando, penetrando a sociedade”.
O desenvolvimento da mostra começou há tempos. Paulo Herkenhoff estava no Recife e encontrou o artista. Logo surgiu a partilha entre temas e ideias e, depois, o interesse por realizar um projeto juntos. Aconteceram encontros no Rio de Janeiro e em Recife, conversas, anotações, estudos. Tudo sendo articulado aos poucos.
“O trabalho de construção dependeu muito da curadoria, pois ele escolhe as obras que vão participar”, considera José Patrício. Falando sobre sua própria atividade, Paulo Herkenhoff afirma: “Um curador, antes de tudo, tem que ser capaz de enunciar as razões das suas escolhas. Por isso uma curadoria não é uma espécie de decoração de interiores, nem é uma ação de shopping. Exige um trabalho de discernimento”.
Em uma das obras, existem 46.872 pregos convidando as pessoas para aguçar o tato. No intuito de entreter por alguns momentos e convidar também para uma reflexão existe a instalação Jogo Cor. Com suas mesas coloridas e convidativas, vai oferecer a oportunidade de realizar partidas de dominó no meio da exposição. Basta que os visitantes sentem e utilizem as peças dispostas sobre as mesas. Sem cerimônia, sem restrições. E assim são construídos os frutos de José Patrício. Sobressalto de cores, formas, comparações entre formas e volumes, algarismos e uma pitada de interatividade. Nas palavras de Paulo Herkenhoff “nós temos metáforas, analogias, metonímias”.
EMAIS
O curador Paulo Herkenhoff (foto) está preparando um livro chamado José Patrício: Cogitações sobre os números. A publicação vai reunir imagens, textos e materiais referentes a exposição. A previsão de lançamento é para antes do término de José Patrício: O número.
agosto 9, 2010
Visuais e livreiros debatem por Camila Molina, Estadão.com.br
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno Cultura do Estadão.com.br em 5 de agosto de 2010.
Motivado pelo incidente envolvendo recentemente a família da artista Lygia Clark (1920-1988) e a 29.ª Bienal de São Paulo (a curadoria decidiu retirar a participação da criadora na mostra, a partir de setembro, por causa das imposições colocadas por seus herdeiros), o Ministério da Cultura realizou anteontem no prédio da instituição reunião para se discutir a contribuição do setor de artes visuais para a reforma da Lei de Direitos Autorais. Participou um grupo pequeno de curadores, críticos, artistas e diretores de instituições. A consulta pública da lei vai até o dia 31 e recebeu até ontem 4 mil sugestões.
"Não se pode legislar em cima das exceções", disse a coordenadora do site Canal Contemporâneo, Patricia Canetti, que esteve no encontro. "Existe excesso na maneira com que a família Clark, extremamente patrimonialista e mercantilista, trata a obra da artista, mas por que não se fala também da parcela das instituições?", ela indaga. A "radicalidade", como diz, do que ocorreu no episódio entre a 29.ª Bienal e a Associação Cultural O Mundo de Lygia Clark, dirigida pelo filho da artista, Alvaro Edwards Clark, serve para abrir o debate, que é mais amplo.
Na época de negociações para se fechar a lista de participantes da 29.ª Bienal de São Paulo, a curadoria do evento decidiu, "por questão de atitude" e não por dinheiro, como afirmou Agnaldo Farias, declinar da artista alegando que Alvaro Clark pediu "no mínimo" R$ 45 mil. Havia imposições sobre uso de imagem da criadora e sobre o autor do texto para o catálogo da exposição. Alvaro Clark afirmou ao Estado em junho que "simplesmente passou ao curador do evento, Moacir dos Anjos, o valor justo cobrado à participação da obra de uma artista do porte de Lygia, em mostra considerada a mais importante de nosso cenário cultural brasileiro". "Por telefone, fui informado pela curadoria do evento que a obra de Lygia não entraria por questões financeiras. E só."
"Ainda falta definir muitas coisas, mas é um projeto de lei que se adapta. As críticas são equivocadas porque o projeto não retira em nada os direitos de autores, mas tenta esclarecer", diz a crítica Glória Ferreira. "Um ponto que precisa ser melhorado e definido é a questão do uso de obras para recursos criativos", aponta ainda.
Já Patricia Canetti afirma que a lei não aborda o tema da arte digital. "Mas isso teria de ser estabelecido entre o Ministério da Cultura e o Ministério de Ciências e Tecnologia", diz. Outro problema, segundo Patricia, é que no projeto do MinC "a lei não entende que exposição pode ser considerada como obra de um curador, produtor e até de artistas", pondera. "Se uma mostra for vista como obra poderia se abrir uma brecha para se tratar dos excessos dos herdeiros."
Livros. Na segunda-feira, o Ministério da Cultura discutiu (a portas fechadas) a legislação com a Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (Abrelivro), maior fatia editorial do mercado nacional, em São Paulo.