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agosto 18, 2014
Direção de escola do Parque Lage muda após governo adotar novo modelo de gestão do espaço por Caio Barretto Briso e Elenilce Bottari, O Globo
Direção de escola do Parque Lage muda após governo adotar novo modelo de gestão do espaço
Matéria de Caio Barretto Briso e Elenilce Bottari originalmente publicada no jornal O Globo em 16 de agosto de 2014.
Na quinta, Claudia Saldanha pediu demissão do cargo de diretora. Secretaria de Cultura escolheu OS para administrar o parque
RIO — Professores da Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage e artistas foram surpreendidos, na última quinta-feira, por um e-mail intitulado ‘‘Até breve!’’. Era de Claudia Saldanha, que, na mensagem, comunicava seu pedido de demissão após seis anos como diretora da escola. Seu afastamento acontece pouco mais de um mês depois de Evangelina Seiler entregar seu cargo de diretora da Casa França-Brasil, no Centro. As instituições têm em comum o fato de serem administradas pela Organização Social Oca Lage, escolhida pela Secretaria estadual de Cultura para implantar um novo modelo de gestão, mais moderno, nas unidades, a exemplo do que acontece em outros lugares, como na Pinacoteca de São Paulo.
Presidida pelo artista Márcio Botner, a Oca Lage tem 22 conselheiros, entre colecionadores, curadores e artistas, que se reúnem a cada dois meses. Uma reunião está marcada para a próxima terça-feira, quando uma nova diretora será escolhida para a EAV. Só depois desse encontro, a entidade se pronunciará sobre as duas demissões. Procurada, a Secretaria estadual de Cultura afirmou, por nota, que Evangelina Seiler e Claudia Saldanha foram convidadas a permanecer em seus cargos, após a OS assumir a gestão compartilhada, “mas preferiram seguir outros caminhos”. Ainda segundo a notas, Plano Diretor da EAV será “mantido e atualizado". Claudia Saldanha não foi localizada para comentar sua saída.
Em sua carta de despedida, Claudia lembrou os seis anos em que esteve à frente da EAV, quando, segundo ela, houve aumento do número de alunos de 500 para 2 mil, a criação de novos cursos e atividades e um plano diretor inédito saiu do papel.
— Temos dúvidas em relação ao futuro, por isso vamos nos reunir hoje (ontem). Claudia engrandeceu a escola. Sua saída cria um clima de incerteza e instabilidade — diz a artista plástica Anna Bella Geiger, professora da EAV.
— É natural que a nova gestão tenha sua própria concepção sobre como gerir a escola. Só não deixaram claro que concepção é essa — diz o artista e professor Franz Manata.
Ex-diretor da escola, o artista plástico Luiz Áquila também lamentou a saída de Claudia e afirmou que torce para que a linha institucional da EAV seja mantida:
— Eu não tenho elementos para julgar a saída de Claudia. Torço para que a escola continue a mesma fundada por Rubens Gerchman que, de tão perfeita, ficou marcada como escola livre e experimental. A Escola de Artes Visuais é o coração pulsante da arte do Rio — afirmou Áquila, que dirigiu a escola nos anos 80:
— Naquela época, tínhamos até ameaça de despejo. A associação de amigos sempre conseguia recursos para garantir o funcionamento. Ao assumir, a Claudia deu um salto de qualidade extraordinário na escola. Lembro que o subsolo dos ateliês de gravuras era uma catacumba. Ela mudou tudo isso. As instalações agora são ótimas.
A artista plástica Suzana Queiroga destacou o trabalho de Claudia na defesa do Plano Diretor da instituição:
— Esse plano era uma reivindicação antiga, queríamos uma escola forte. Acho uma pena ela sair, mas talvez eu fizesse o mesmo. Entendo que a a criação da OS modificou um organograma existente há décadas.
O presidente do conselho da Oca Lage, Paulo Vieira, disse que a saída de Claudia era esperada, e a transição foi planejada. O presidente da OS é o artista Márcio Botner, que foi aluno da EAV de 1991 a 1994, para onde retornou como professor, de 2004 a 2012. Ele foi vice-presidente da Associação dos Amigos da EAV Parque Lage, de 2007 a 2014. Segundo ele, o objetivo da OS é dar rapidez de gestão, maior autonomia e fazer uma ponte entre a EVA e a Casa França-Brasil:
— O modelo OS de gestão é muito bem sucedido há anos. O objetivo é gerir equipamentos públicos com a agilidade da iniciativa privada. Ela profissionaliza a gestão. Fui, por oito anos, até 2014, o vice-presidente da Associação de Amigos da EAV, que buscava captar recursos para os projetos da escola. A OS irá profissionalizar isso — disse Botner, afirmando que Claudia Saldanha foi muito importante para a escola e que a saída dela foi a pedido. — Ela entendeu a mudança como encerramento de um ciclo.