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agosto 15, 2014
Crítica: Ambiciosa, mostra 'artevida' se torna asséptica e fria por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Ambiciosa, mostra 'artevida' se torna asséptica e fria
Crítica de Fabio Cypriano originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo em 7 de agosto de 2014.
- artevida (corpo), Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, RJ - 28/06/2014 a 21/09/2014
- artevida (política), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM RJ, Rio de Janeiro, RJ - 20/07/2014 a 21/09/2014
- Paulo Bruscky - artevida (arquivo), Biblioteca Parque Estadual - BPE, Rio de Janeiro, RJ - 28/06/2014 a 21/09/2014
- Georges Adéagbo - artevida (parque), Escola de Artes Visuais do Parque Lage - Galeria Cavalariças, Rio de Janeiro, RJ - 20/07/2014 a 21/09/2014
A gênese da hoje chamada arte contemporânea teve início no final dos anos 1950, especialmente por meio de artistas que buscaram vincular arte e vida, fosse pelo uso do corpo, dando início às perfomances, fosse usando a estética como uma plataforma de transformação social.
É justamente esse momento o foco da mostra "artevida", com curadoria de Adriano Pedrosa e Rodrigo Moura, em quatro espaços do Rio de Janeiro: o Museu de Arte Moderna, a Casa França-Brasil, a Escola de Artes Visuais do Parque Lage e a Biblioteca Parque Estadual.
Trata-se de uma exposição ambiciosa, que traça um panorama da produção experimental dos anos 1950 até os anos 1980 de mais de cem artistas das Américas, Ásia, Europa e África, muitos deles desconhecidos no Brasil, como o palestino Abdul Hay Mosallam ou a turca Gülsün Karamustafa.
Em cada espaço, há um tema dominante, mas os dois que merecem destaque são o corpo, na Casa França-Brasil, com 63 artistas, e a política, no MAM, com 52.
Para reunir um grupo tão amplo e de tantas origens, há uma pesquisa de fôlego. A originalidade da mostra, aliás, está em dispor tal diversidade em torno da produção brasileira. Muitas foram as exposições que focaram esse período e seu caráter experimental, mas poucas apresentaram, como ocorre no Rio, obras de Hélio Oiticica, Lygia Clark e seus contemporâneos.
Ambos estão representados com obras que possibilitam a interação do público, como os "Parangolés", de Oiticica, que podem ser vestidos, ou os "Bichos", de Clark, que podem ser manipulados.
MOLDURAS
O problema é que, dentro desse amplo escopo, a interação com as obras é exceção. Ao expor obras realizadas em um período conturbado, como o dos artistas latino-americanos sob regimes de ditadura e com obras de forte caráter de protesto, "artevida" resulta elegante demais.
Com obras em molduras sofisticadas, que transformam o caráter político desses trabalhos em mero objeto de consumo, a mostra se torna asséptica e fria.
Será que o típico formato para o mercado acaba sendo o destino da chamada arte experimental —ou foi apenas falta de ousadia curatorial? O fato é que, para uma mostra que se chama "artevida", há arte demais para pouca vida.