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fevereiro 19, 2014
Pós-Junho de 2013 por Paula Alzugaray, IstoÉ
Pós-Junho de 2013
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista IstoÉ em 14 de fevereiro de 2014.
Primeira exposição sobre as manifestações que sacudiram o Brasil ganha lugar no MAM-SP
140 caracteres/ Museu de Arte Moderna, SP/ até 16/3
Com a exposição “140 Caracteres”, atualmente em cartaz, o MAM-SP prova que mantém suas antenas em sintonia fina. Para abrir a programação do ano da Copa e das eleições, a instituição paulista mostra 140 obras do acervo que tematizam as mobilizações sociais que tomam o país desde junho de 2013. A curadoria é coletiva: são responsáveis pelo conceito da mostra e pela seleção das obras os 20 curadores que participaram do primeiro Laboratório de Curadoria do MAM, entre março e dezembro de 2013. Enquanto o grupo trabalhava sob a coordenação de Felipe Chaimovich, as ruas ferviam com reivindicações de todas as naturezas. O ruído e o calor da hora – que protagonizaram discussões Brasil afora e reverberaram especialmente nas redes sociais – também entraram no museu. Conduzido pelo papel que as redes sociais tiveram nas articulações das manifestações, o grupo chegou ao Twitter e ao conceito de 140 caracteres.
Política e antropologia urbana dão o tom das 140 obras dispostas na Grande Sala. Um dos ícones centrais de toda a exposição é a máscara. Ela aparece relacionada à iconografia carnavalesca em obras de Beatriz Milhazes, José Damasceno, Sergio Romagnolo e Laura Lima, com seu melancólico “Palhaço com Buzina Reta – Monte de Irônicos” (2007), e se desdobra nas faces inflamadas das fotografias “Dois Homens do Centro”, de Cris Bierrenbach, e nos autorretratos de Artur Omar. Até se desconstruir no “Choro” (2004), de Tadeu Jungle, vídeo em que o artista se revela em primeiro plano, se debulhando em lágrimas. Outros ícones de forte presença entre as multidões são os cartazes, aqui representados pela “Bandeira” (1999), de Emmanuel Nassar; ou mesmo os disfarces, sugeridos em “Arlequim”(2002), de Carmela Gross, uma camiseta metade preta, metade branca, ou na “Roupa nº 6”, de Rafael Assef, fotografia de um corpo com cortes de gilete.
As relações estabelecidas entre obras e acontecimentos são sempre muito engenhosas e é surpreendente constatar que esses trabalhos tenham sido criados muitos anos antes de 2013. Completa a exposição uma parede de obras de cunho afirmativamente político, que reúne a coleção de obras do período da ditadura militar no Brasil. Essa sala é também uma maneira de lembrar os 50 anos do golpe militar de 64. Mais uma amostra da antena do grupo curatorial do MAM, que relaciona com habilidade os últimos acontecimentos da vida sócio-política do brasileiro com sua história.