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julho 24, 2013
Omar Salomão pesquisa relação entre palavra e imagem em nova mostra por Maurício Meireles, O Globo
Omar Salomão pesquisa relação entre palavra e imagem em nova mostra
Matéria de Maurício Meireles originalmente publicada no jornal O Globo em 24 de julho de 2013.
Artista abre nova exposição na galeria Mercedes Viegas
Oprocesso criativo de Omar Salomão vai por caminhos que nem ele sabe direito. Mas, se for preciso resumir em uma descrição breve sua exposição “O que eu pensei até agora e o que ainda falta pensar”, dá para dizer que ela traz um olhar poético sobre a realidade, promovendo, ao mesmo tempo, o encontro entre a palavra e a imagem. A mostra será aberta hoje, às 19h, para convidados, e amanhã para o público, na galeria Mercedes Viegas, na Gávea (que hoje também inaugura “Fabricio Lopez — Várzea”, com xilogravuras). São nove obras, em que Salomão apresenta fotografias, desenhos, cadernos, livros — e poesia.
— Eu sou poeta, meu pai (Waly Salomão) era poeta e, talvez por isso, vejo a arte pelo olhar do poeta. A poesia é uma relação de busca, de ter os olhos livres, ver as mesmas coisas com olhos diferentes — diz Salomão. — Ela traz uma delicadeza nas palavras, te permite dizer coisas com sutileza. É essa sutileza que eu tento trazer para a arte, por meio dos meus estranhamentos.
Homenagem a Ericson Pires
Não à toa, o título anterior da exposição, mais tarde trocado, era “Até as coisas mais singelas”. Segundo Salomão, ele tentou buscar, em elementos da vida — como a morte de um amigo e outras angústias —, “a fragilidade e a delicadeza das pequenas coisas”.
No texto de abertura da exposição, o filósofo e ensaísta Frederico Coelho identifica um elemento de ligação entre as nove obras: suas referências ao que é passageiro. “O transitório aqui é a própria condição de nossas vidas. Omar nos mostra que sua arte nos oferece uma ponte entre nossa vida bruta e o detalhe sempre potente dos breves belos que a compõe”, escreve Coelho.
Por isso, entram nuvens, gotas, cubos de gelo, voos de pássaros — e uma homenagem ao amigo e poeta Ericson Pires, morto há pouco mais de um ano. Ela está na obra “Obs”, em que Salomão colou o obituário do amigo publicado no jornal em um vidro úmido, sobre o qual o artista interferiu com desenhos e palavras, que foram deformadas pela umidade. Salomão teve dúvidas se devia expor a obra, por receio de ser um assunto pessoal demais.
— Ele me levou física e mentalmente para tantos lugares. É bom quando você tem um amigo que te desafia e te coloca em dúvida. O Ericson era artista 24 horas por dia, uma pessoa intensa e generosa. A falta dele é gigante, por isso quis dedicar a ele uma parede especial na exposição — diz o artista.
Outra referência às formas transitórias está em “Mercador de nuvens”, considerada pelo artista seu terceiro livro. A obra é uma caixa de luz feita de acrílico, com desenhos, poemas e fotos. As páginas podem ser combinadas na parte da frente da caixa, formando capas diferentes para o livro.
Em “Gota”, uma série de quatro fotografias mostra uma gota escorrendo pelo vidro de uma janela em momentos diferentes. Uma frase escrita à mão une as quatro fotos:
— Não desenho a frase para explicar qualquer coisa. Seria um burocrata se fizesse isso. Quando associo texto e imagem, é para que eles remetam a um terceiro elemento. Em vez de enfatizar um ao outro, eles se somam para gerar outros sentidos. Quero criar novas camadas de compreensão.
Para Salomão, a mostra, a segunda na galeria, representa uma investigação “mais confiante” sobre a relação entre a palavra e as artes visuais.
— Acho que, agora, as amarras entre esses dois campos estão mais bem atadas — diz.