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março 25, 2011
Possibilidades acústicas por André Valença, Diario de Pernambuco
Possibilidades acústicas
Matéria de André Valença originalmente publicada no caderno Viver do jornal Diario de Pernambuco em 25 de março de 2011.
Foi de um verso de Fernando Pessoa que o artista multimídia Lucas Bambozzi (SP) tirou a razão de ser da sua instalação sonora na exposição ECO, que estreia amanhã, às 15h, e segue até o dia 29, abrindo das 13h às 17h. ´O essencial é saber ver`, diz o verso, de forma alguma contrariando essa amostra de sons, que reúne quatro obras de três estados.
Disposta a abrir os olhos do espectador para os conceitos de sonoridade, espaço-temporalidade e imagem, a ECO traz, além de Bambozzi, as obras de Ricardo Carioba (SP), Thelmo Cristovam (PE) e do grupo Chelpa Ferro (RJ), composto por Barrão, Luiz Zerbini e Sérgio Mekler.
Os trabalhos estarão expostos na Estação Cultural Senador José Ermírio de Moraes, um casarão moderno, dos anos 1950, na beira-mar de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes. ´O modernismo é indigesto`, define Bambozzi, ´o aconchego vem pela acústica também e, no modernismo, ela não é uma prioridade`. Desta forma, o antigo casarão torna-se não apenas um desafio para as instalações, mas uma tela em brancode possibilidades acústicas.
´Meu trabalho é criado em cima da arquitetura da casa`, afirma Carioba, que criou um ambiente iluminado de azul, com sons intensos e dominadores que dão a impressão de submersão. ´Os sons são como uma representação sonora do mar, como se você estivesse dentro da dinâmica da onda`, explica.
Já o Chelpa Ferro se preocupou mais com o objeto do trabalho. Eles construíram dois dispositivos: um munido de altofalantes, e o outro, de lâmpadas. Cada caixa do primeiro aparelho emite um som que tem uma correspondência luminosa no segundo. ´O nosso trabalho tem a ver com comunicação. Dentre os sons, têm vozes perdidas, código morse, pulsação, sonares, transmissões...`, diz Sérgio Mekler.
Bambozzi também se utiliza da dinâmica da comunicação, quando cria uma sala com uma projeção audiovisual e microfones. Quanto mais barulho faz o espectador, mais ruidosa fica a imagem. O falante também escuta o que diz vindo de fora da sala, onde tem um amplificador reproduzindo tudo.
O pernambucano Thelmo Cristovam fez um pouco diferente de todos. Em vez do som ser aberto, está contido em fones de ouvido, que captam as minúncias sonoras e quase impeceptíveis, como a do laguinho da casa, e as maximiza e faz remixes. O trabalho é sugestivamente instalado na cozinha, como se os sons fossem partículas pequenas, uma analogia com os microrganismos que habitam aquele espaço.
Para Carioba, as instalações artísticas, como é o caso do que está sendo exposto na ECO, são muito importantes, visto que põem em xeque conceitos clássicos de arte.