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março 25, 2011
Paulo Pasta e a moradia da cor por Camila Molina, O Estado de S. Paulo
Paulo Pasta e a moradia da cor
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno de cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 25 de março de 2011.
Pintor expõe no Centro Maria Antônia, que ainda exibe as obras de Anri Sala, Bartolomeo Gelpi, Júnior Suci e Zocchio
Casa de ferreiro, espeto de pau. Com esse ditado popular o pintor Paulo Pasta sintetiza uma recente descoberta em sua trajetória, iniciada na década de 1980 - a cor é a "praia" de sua pintura, o desafio prazeroso. "Antes o buraco do meu trabalho era pensar: ‘O que pintar?’ Entendi que não é o tema, mas que meu negócio é a cor, ela é minha casa", diz o artista, que exibe no Centro Universitário Maria Antônia a mostra Sobrevisíveis, com série de novas pinturas. Nelas, as cores têm uma passagem por vezes mais silenciosa, por outras, surpreendentemente, são como "um forte sussurro" - expressão do pintor Eduardo Sued - em composições feitas a partir de uma estrutura similar e simples, a de três regiões formadas na tela a partir da criação de ‘cruzes’.
Certa vez, o escultor Amilcar de Castro escreveu uma dedicatória a Paulo Pasta dizendo que "o silêncio é a moradia da cor" - e ainda depois, afirmou que a pintura do artista era "uma reza". Outro mestre, Sued, garantiu que "Paulo é o sobrevisível de coisas não visíveis". O título da exposição, Sobrevisíveis, vem daí, da afirmação que aparece no documentário de Pedro Paulo Mendes sobre Pasta e em exibição também no Maria Antônia. No caminho trilhado pelo pintor para nos apresentar essas "coisas não visíveis", Paulo Pasta já se valeu, pela "necessidade de dar ordem", de esquemas de "formas singelas, nem abstratas, nem figurativas", afirma o crítico Ronaldo Brito, feitos a partir de ogivas, "lápis apontados", peões, cálices, até chegar à mais pura e complexa estrutura das cruzes, iniciada em 2007.
Deu-se conta, afinal, que é a cor que confere a "indeterminação, a instabilidade" - a marca contemporânea - em sua obra clássica e sóbria. "Só com a forma não daria para fazer a indeterminação", diz o artista. Cores mais tonais vão convivendo, assim, com cores fortes - há duas telas, A Ilusão das 10 Horas e Outra Lenda, nas quais, respectivamente, prevalecem o amarelo e o vermelho. Mas, de todas as obras, a preferida de Pasta é O Descanso do Pintor - com uma superfície quase branca sobre planos de rosas e outros matizes leves.
Ciclo. Além de Sobrevisíveis, o Centro Maria Antônia exibe as mostras do albanês Anri Sala - um dos maiores destaques do cenário contemporâneo e que participou da 29.ª Bienal de São Paulo -, de Bartolomeo Gelpi, Júnior Suci e Marcelo Zocchio. A exposição de Sala, com curadoria de Moacir dos Anjos, "aproxima" os vídeos Intervista (1998) e Dammi I Colori (2003). Segundo o curador, Sala ao colocar em "confronto e em tensão palavras e imagens" faz sugerir em seus filmes "um mundo que busca um entendimento entre partes que com frequência não se pode obter". Gelpi apresenta pinturas e as "duplica", escreve Tania Rivitti, nas paredes e pilastras do prédio. Suci exibe desenhos em Necessidade do Objeto e Zocchio, obras no "meio termo" entre fotografia e escultura.