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março 11, 2011
Adriano de Aquino cria projeto enxuto para o festival Europalia por Suzana Velasco, O Globo
Adriano de Aquino cria projeto enxuto para o festival Europalia
Matéria de Suzana Velasco originalmente publicada no jornal O Globo em 24 de fevereiro de 2011.
Paulo Herkenhoff deixa a curadoria do evento dedicado ao Brasil
No site do festival belga Europalia, que será dedicado ao Brasil este ano, há uma extensa lista de exposições com curadoria-geral de Paulo Herkenhoff. O crítico de arte, porém, deixou o projeto, e a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, nomeou o artista plástico Adriano de Aquino para cuidar do evento bienal de arte e cultura. Existente desde 1969, ele é sempre dedicado a um país e organizado em parceria entre o Estado belga - que está há 255 dias sem governo - e o homenageado. Aquino e sua equipe viajaram ontem para apresentar aos organizadores o novo conceito do festival, que será realizado de 4 de outubro de 2011 a 15 de fevereiro de 2012, incluindo artes visuais, teatro, música, dança, literatura TV e debates.
O diretor de Relações Internacionais do Ministério da Cultura, Marcelo Dantas, afirma que Herkenhoff nunca fora oficializado como curador, apenas apresentara um projeto que extrapolou o orçamento do MinC, sobretudo após o recente corte de gastos com a mudança de governo. Em vídeo no site do Europalia, porém. Herkenhoff aparece discursando numa grande coletiva de imprensa na Bélgica, em novembro passado. E, convidados pelo curador, artistas como Eduardo Frota e Rosana Palazyan já trabalhavam em projetos para o festival.
– O Paulo seria o curador, mas isso nunca foi formalizado. Houve um certo afobamento, anunciaram cedo demais uma programação quando nem o orçamento estava definido – diz Dantas. – A mudança de governo se somou a uma situação dura de restrição de recursos, sendo o Ministério da Cultura um dos que mais sofreram os cortes. O plano do Paulo foi elaborado sem restrições orçamentárias, bastante além dos meus parâmetros, que já eram otimistas. Ele pediu para se afastar. Não podemos esbanjar, estamos com dificuldade até para pagar os Pontos de Cultura.
Entusiasmo como tema
O orçamento ainda está sendo analisado pela ministra e só será divulgado na volta da viagem à Bélgica. Aquino diz que são irrelevantes a troca de curador e a reclamação de artistas de os recursos não terem sido liberados até hoje.
– O governo mudou, a única coisa que permanece é o compromisso do Estado brasileiro com o Estado belga – diz Aquino, que foi secretário de Cultura do Estado do Rio de 1999 a 2001. – Às vezes você se precipita, faz convites sem assinar contratos. O artista quer o dinheiro para produzir, eu entendo, também sou artista.
Enquanto o projeto de Herkenhoff - que não foi encontrado para falar sobre o assunto - tinha como base a ideia de antropofagia, Aquino quer nortear o festival em torno do tema “Espontaneidade, entusiasmo e alegria: o outro de nós". As artes visuais serão o destaque, mas não haverá mais de 20 exposições, como proposto por Herkenhoff. Aquino quer levar não só a arte moderna e contemporânea, mas também obras dos séculos XVIII e XIX, e inserir temas de economia, política e meio ambiente, já que o festival vai começar na época de uma cúpula Brasil-União Européia. Cada uma das outras áreas, como teatro e música, terá curadores específicos, mantidos em segredo.
– Não sou curador, por isso chamei um grupo de notáveis para pensar no que essa cultura herdada da Europa efetivamente produz de diferente. E acredito nessa característica muito forte da cultura brasileira que é o entusiasmo – diz Aquino.
Leia: Europalia: Relato das negociações por artistas, curadores e produtores
Europalia: Carta à Ministra da Cultura Ana de Hollanda / Ao Presidente da FUNARTE Antonio Grassi