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fevereiro 8, 2011
Cocurador da mostra que é uma das mais inovadoras do mundo, o brasileiro Adriano Pedrosa critica o espetáculo das exposições por Suzana Velasco, globo.com
Cocurador da mostra que é uma das mais inovadoras do mundo, o brasileiro Adriano Pedrosa critica o espetáculo das exposições
Matéria de Suzana Velasco originalmente publicada no Segundo Caderno do O Globo em 6 de fevereiro de 2011
Há um ano, o curador Adriano Pedrosa passa uma semana por mês em Istambul, na Turquia. De lá, ele ruma para Ramallah, Jerusalém, Beirute, Cairo, Buenos Aires, Chile, Peru e às vezes para em São Paulo, onde mora. Nas voltas pelo mundo, Pedrosa trabalha na curadoria da 12ª Bienal de Istambul — que será realizada entre 17 de setembro e 13 de novembro deste ano —, reforçando seu vínculo com a arte latino-americana e descobrindo artistas do Oriente Médio. Não há, porém, qualquer cota regional na exposição. Pelo contrário. A Bienal de Istambul foi, em 1997, uma das primeiras a abolir as representações nacionais — extintas pela Bienal de São Paulo em 2006, e ainda mantidas pela de Veneza —, firmando-se como uma das mais críticas e experimentais bienais do mundo. Foi também a primeira entre as grandes a convidar um não europeu para seu comando — a japonesa Yuko Hasegawa, em 2001. E, pela primeira vez, terá latino-americanos como curadores: Pedrosa e o costa-riquenho Jens Hoffmann.
Participantes não serão anunciados
Nomeada “Untitled (12ª Bienal de Istambul), 2011”, a exposição será inspirada no artista plástico Félix González-Torres, que nomeava suas obras de “Sem título”. O objetivo dos curadores é manter a tradição política da mostra. Mas, contrapondo-se ao ativismo do coletivo croata WHW — What, How & for Whom —, que advogava pelo comunismo na bienal de 2009, Pedrosa e Hoffmann buscam resgatar os aspectos conceitual e formal da arte política, e o artista cubano-americano é emblemático nesse sentido. Serão cinco seções inspiradas em obras de González-Torres (que não estarão fisicamente presentes), com cinco pequenas mostras coletivas e espaços para 45 artistas individualmente, numa disposição pensada pelo arquiteto japonês Ryue Nishizawa, vencedor do Prêmio Pritzker de 2010 junto com sua sócia Kazuyo Sejima.
Mas “Untitled” tem um duplo sentido. O nome serve ainda à vontade que os curadores têm de apagar o vínculo com um tema ou tipo de mostra determinado. A lista de participantes, por exemplo, não será anunciada. Só se conhecerão de fato todos os artistas incluídos quando a bienal começar.
— Há um número perverso de bienais circulando, e a maneira de consumi-las é ver o título, o nome dos artistas, os curadores. No circuito curatorial, a Bienal de Istambul tem uma atenção excepcional, e a gente quer que ela seja vista, e não consumida — diz Pedrosa, que, numa coletiva de imprensa, em 2010, apresentou um cartaz com os nomes das centenas de bienais que existem hoje.
Apesar de não divulgar uma lista, Pedrosa não faz segredo. Entre os brasileiros, estarão na Bienal de Istambul trabalhos de Leonilson, Jonathas de Andrade, Rosângela Rennó e Renata Lucas, cuja obra “Falha” certamente ficará na seção “Untitled (Abstraction)”, que deve ter ainda um ou mais “Bichos” de Lygia Clark. Em suas viagens pela América Latina, o curador vem buscando fundos para financiar a participação de alguns artistas na bienal, que tem um orçamento de 2,5 milhões (o investimento da última Bienal de São Paulo foi de R$30 milhões), para uma exposição num espaço entre oito e dez mil metros quadrados (no Pavilhão do Ibirapuera são 30 mil). Sua próxima parada de negociações será Brasília, no Ministério das Relações Exteriores.
— É uma exposição importante que nunca tem financiamento de sul-americanos. No Peru, o governo nunca apoiou seus artistas, esperamos que apoie agora a Flavia Gandolfo, que participará de uma das coletivas — diz o carioca radicado em São Paulo, que causou polêmica em 2009, quando organizou a tradicional mostra “Panorama da arte brasileira”, no MAM-SP, apenas com artistas estrangeiros.
Por sugestão de Pedrosa, seu nome foi submetido ao conselho da Fundação para Cultura e Artes de Istambul junto com o de Hoffmann, que ele já convidara para trabalhar junto na Trienal de San Juan, da qual o brasileiro foi diretor artístico. No ano passado, Hoffmann lançou a revista “The exhibitionist” (“O exibicionista”), nome que indica, mais uma vez, uma crítica à espetacularização da arte mundo afora. Numa de suas edições, Pedrosa escreveu o artigo “Sinking Venice” (“Afundando Veneza”), uma crítica feroz à Bienal de Veneza, a mais famosa exposição de artes visuais do mundo.
— A Bienal de Veneza é a bienal mais importante, que dá mais visibilidade. Mas não tem cunho crítico nenhum, não tem experimentação. Eu vou a todas, mas virou um espetáculo — diz ele, que foi curador adjunto e editor de publicações das bienais de São Paulo de 1998 e 2006. — São Paulo se mantém entre uma coisa e outra, porque tem uma história muito errática. A gente ficou quatro anos sem bienais e depois teve o mesmo curador duas vezes seguidas. Isso já é ruim, ainda mais com o Alfons Hug (alemão radicado no Brasil, curador das bienais de SP de 2002 e 2004).
Trabalho com tempo e liberdade
Em novembro de 2010, Pedrosa e Hoffmann organizaram a conferência “Lembrando Istambul”, em que falaram artistas turcos e os curadores de quase todas as bienais. Para o brasileiro, foi importante ouvir as experiências passadas e questionar padrões estabelecidos, como, por exemplo, a ausência de curadores turcos desde a quarta edição da bienal.
— A memória das exposições é importante para a gente. O catálogo, por exemplo, só vai ficar pronto depois da abertura. Não vou trabalhar com o arquiteto do Pritzker e depois não ter imagens da montagem — diz. — A bienal não tem tanto dinheiro, mas está nos dando tempo e liberdade. A gente está selecionando a moldura do trabalho, pegando o artista pelas mãos.
nnaagyr admira a luta dos curadores por novos talentos. parabéns.
Posted by: jorgecardosobranco nnagyr pintor de arte at fevereiro 19, 2011 2:42 PM