|
dezembro 2, 2010
A formação de volta ao Dragão do Mar por Ana Cecília Soares, Diário do Nordeste
Matéria de Ana Cecília Soares originalmente publicada no Caderno 3 do jornal Diário do Nordeste em 2 de dezembro de 2010.
O Núcleo de Formação em Arte e Cultura do Dragão do Mar vem desenvolvendo um importante trabalho educativo ao investir em cursos, oficinas e seminários críticos nas mais diferentes linguagens artísticas. Um dos destaques é a palestra "Novas políticas estéticas", ministrada, amanhã, pela crítica literária Heloísa Buarque de Hollanda
Dentre as ações mais significativas que o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura vem realizando, recentemente, está o trabalho de rearticulação de seu Núcleo de Formação em Arte e Cultura. Com a coordenação pedagógica de Andréa Bardawil e Enrico Rocha, as ações têm proporcionado ao público em geral, uma variedade de cursos, oficinas e seminários críticos nas áreas de dança, teatro, artes visuais, literatura, fotografia, música, audiovisual, design e patrimônio.
A iniciativa é um esforço raro em Fortaleza, quase sempre, um cenário desolado, quando se trata do estímulo à criação e a formação no campo das artes. Os cursos são gratuitos e ministrados por profissionais cearenses e de outros estados brasileiros. Os participantes também recebem certificação destinada a cursos livres.
Segundo Enrico Rocha, essa é a oportunidade de reunir experiências e de discutir questões importantes aos segmentos artísticos. Ampliando o conhecimento e proporcionando aos participantes outras leituras e reflexões críticas.
"Andréa e eu assumimos, em julho desse ano, a coordenação pedagógica do Núcleo de Formação. O Seminário ´Arte, Invenção e Experiências Formativas´, realizado em agosto passado, foi que deu início a essa série de atividades. Acreditamos que a formação é fundamental para o desenvolvimento intelectual e artístico das pessoas", diz.
Rocha destaca que o projeto de rearticulação do Núcleo de Formação em Arte e Cultura, coordenado por ele e Andréa Bardawil, encerra-se no dia 17 de dezembro, mas a expectativa é que continue com ações permanentes a partir do próximo ano. "Temos o desejo de retomar a ideia dos cursos técnicos que existiam no Dragão do Mar, em seus primeiros anos de atuação. Atualmente, só temos o técnico em dança, coordenado pela Andréa, com a parceria do Senac. O curso já está em sua terceira turma, e tem duração de dois anos. O ideal é que todas as áreas sejam contempladas".
Em sua maioria, as oficinas promovidas pelo Núcleo estão sendo realizadas no antigo prédio da Capitania dos Portos (rebatizado de Capitania das Artes). "Esse espaço é maravilhoso, e em breve o Núcleo de Formação funcionará lá junto com uma parte do setor administrativo do Dragão do Mar. É interessante pensar o Núcleo e suas ações como um ambiente de encontro e debate. Além de permitir a troca e a partilha das experiências entre participantes e facilitadores", constata Rocha.
Embora venha realizando um bom trabalho, o futuro do Núcleo de Formação, ainda, é incerto. Contudo, espera-se que o próximo Governo dê continuidade a iniciativa. Não seguindo o velho hábito (nã só do Estado), de não aproveitar os projetos que dão certos de uma gestão para outra.
Crítica literária
A escritora e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Heloísa Buarque de Hollanda estará na cidade, amanhã, a partir das 18h30, para ministrar a palestra "Novas políticas estéticas". No sábado, ela vai realizar, das 9 horas às 12 horas, a oficina "Crítica hoje". As duas ações acontecem no Auditório do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.
Na palestra, a pesquisadora discutirá a estética como política afirmativa nas culturas da periferia. Considerando os movimentos minoritários que sempre se valeram de estratégias discursivas para se expressar.
"Isso ocorreu com a literatura e a criação artística das mulheres, com a cultura negra e com a cultura gay. Atualmente, entretanto, a estética como política de afirmação e transformação é o lema das culturas de periferias e favelas. Um exemplo é o hip hop, que une criação artística e política e utiliza a cultura como recurso", explica a professora.
Heloísa Buarque de Hollanda observa que a função social da arte está mostrando sinais de alterações estruturais. "Mais uma vez, é função do crítico não rejeitar estas transformações ou reduzi-las a ´retrocessos´ na história da arte, mas investir no exame dos sintomas emergentes, acompanhando os caminhos das novas políticas e estéticas com o mesmo vigor com que o impulso criador das manifestações artísticas contemporâneas vêm respondendo aos desafios deste novo milênio".
Na oficina, a discussão será voltada para a crítica literária hoje. A professora apontará os novos sujeitos, vozes e dicções que emergem com força substantiva na cena artística e literária, que vem acontecendo, principalmente, na internet. Além de procurar "saídas emergenciais" para a compreensão dos novos fenômenos culturais pós-globalização.
"Quando a crítica literária vai para a internet, ela se reconfigura. Isso interfere na criação e cria novos hábitos de leitura. Você, por exemplo, não guarda mais o poema na gaveta. Com a internet o ficcionista e o poeta dispõem de vários recursos para incrementar seu texto: áudio, imagens e hiperlinks. A ideia de autor está mudando. Particularmente, não chamo de literatura aquilo que se faz no meio digital, mas sim de práticas literárias, uma vez que tem outro sentido e uma outra dinâmica", diz.
Mais ações
Outras oficinas previstas para dezembro são: "Rádio, Loucura e Arte - Oficina de Rádio", ministrada pelo professor Mauro Sá Rego Costa (RJ) e Deisimer Gorczevski; "Modos de Fazer Arte Pública de Intervenção Comunitária" (Módulo II), pelo artista visual David da Paz; "Beuys, Lygia Clark, Oiticica, mudando o lugar da arte", também, ministrada por Mauro José Sá Rego; "Bataille e Pasolini: propostas eróticas para diálogos malditos", idealizada pela professora cearense Flávia Bezerra Memória. Além desses cursos, o projeto prevê outros, até o encerramento das ações de 2010.
A programação completa, com horários e datas pode ser acessadas através do blog do Núcleo de Formação em Arte e Cultura do Instituto (http://formacaodragaodomar.blogspot.com/).
Fique por dentro
Perfil
Heloisa Buarque de Hollanda, nascida em Ribeirão Preto (SP), em 26 de julho de 1939, é formada em Letras Clássicas pela PUC-RJ, com mestrado e doutorado em Literatura Brasileira na UFRJ e pós-doutorado em Sociologia da Cultura na Universidade de Columbia, Nova York. É coordenadora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea, diretora da Aeroplano Editora e Consultoria e curadora do Portal Literal.
Seu campo de pesquisa privilegia a relação entre cultura e desenvolvimento, dedicando-se às áreas de poesia, relações de gênero e étnicas, culturas marginalizadas e cultural digital. Nos últimos cinco anos, vem trabalhando com o foco na cultura produzida nas periferias das grandes cidades bem como no impacto das novas tecnologias digitais e da internet na produção e no consumo culturais. É uma das principais autoridades na obra da cearense Rachel de Queiroz.
Fonte: http://www.heloisabuarquedehollanda.com.br