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setembro 19, 2010

OAB pede para Bienal de SP retirar obra polêmica por Gustavo Fioratti, Folha de S. Paulo

Inimigos_GilVicente_cartazderua.jpg
Inimigos, intervenção pública de Gil Vicente - cartaz de rua no Recife, publicado originalmente no e-nforme Ano 6 N. 5, em 18 de janeiroo de 2006.


OAB pede para Bienal de SP retirar obra polêmica

Matéria de Gustavo Fioratti originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 18 de setembro de 2010.

Série "Inimigos" retrata artista atentando contra a vida de figuras públicas

Ordem dos Advogados ameaça processar instituição caso quadros de Gil Vicente sejam mantidos

A Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo divulgou ontem nota pública pedindo para que os trabalhos do artista pernambucano Gil Vicente sejam excluídos da Bienal de São Paulo, que abre no próximo dia 25.

Os dez desenhos da série "Inimigos" retratam o próprio artista atentando contra a vida de figuras públicas. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o papa Bento 16 e o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, por exemplo, aparecem sob a mira de uma pistola. O presidente Lula, por sua vez, com uma faca na garganta.

"Essas obras fazem apologia à violência e ao crime, revelam o desprezo do autor pelas figuras humanas e demonstram um desrespeito contra as instituições públicas", diz o presidente da OAB/SP, Luiz Flávio Borges D'Urso. "Se elas não forem retiradas, a curadoria da Bienal corre o risco de estar cometendo crime."

Risco de processo

Segundo D'Urso, o pedido ainda não é judicial. Mas, caso a curadoria da Bienal decida manter as obras, a OAB deve encaminhar solicitação de abertura de processo pelo Ministério Público.
Agnaldo Farias, um dos curadores desta edição da mostra, diz que as obras não serão retiradas. Segundo ele, a OAB-SP está incentivando um ato de censura.

"Esse trabalho é uma ficção, ela vem do imaginário. Na dramaturgia, também há inúmeros casos de representação de atentados contra instituições públicas. A OAB de São Paulo vai pedir para que esses autores não sejam mais exibidos também?", questiona Farias.

Opinião tacanha

"A representação artística deve ter limites. Se as figuras retratadas não fossem reconhecíveis, aí sim poderíamos tratá-las na esfera da ficção", rebate D'Urso.

O criminalista Alberto Zacharias Toron considera "tacanha" a opinião do presidente da OAB. "Falar em incitação ao crime é de uma grande incompreensão sobre o papel da arte", argumenta o advogado, doutor em direito penal pela USP, ex-diretor do conselho federal da própria OAB.

Segundo Toron, a liberdade de expressão do artista é garantida pela constituição do país.

Segundo o autor das obras, que tem 2 m por 1,5 m e são feitas com carvão, elas não foram pensadas para incitar a violência.

"Eu não mataria ninguém, nem quero que outras pessoas façam isso. A violência que eu retrato parte do próprio mundo político contra um país inteiro", explica Vicente.

O trabalho, reitera o artista, fala diretamente sobre uma insatisfação. "Nada muda na mão de políticos. O país continua cheio de miseráveis. A morte que eu apoio dessas pessoas é simbólica."

Gil Vicente diz que não comparece às urnas desde que iniciou a criação da série "Inimigos", em 2005. "Eu tenho consciência de que ter esperança nessas figuras é bobagem. Não vou mais cair nessa", afirma.

Frases

Não sou contra a criação de trabalhos como este. Sou contra a exibição deles. Isso não é censura. Crianças e jovens em formação vão passar por ali. Se elas não forem retiradas, a curadoria corre o risco de estar cometendo crime.
Luiz Flávio Borges D'Urso, presidente da OAB/SP

Eu não mataria ninguém, nem quero que outras pessoas façam isso (...) Nada muda na mão de políticos. O país continua cheio de miseráveis. A morte que eu apoio dessas pessoas é simbólica.
Gil Vicente, artista

Esse trabalho é uma ficção, ela vem do imaginário. Na dramaturgia, também há inúmeros casos de representação de atentados contra instituições públicas.
Agnaldo Farias, um dos curadores da Bienal

Eu assisti ao filme "Rambo", e até agora não matei ninguém.
Leda Catunda, artista plástica

Posted by Patricia Canetti at 11:42 AM