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agosto 2, 2010
SP vê centena de obras de Keith Haring por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria por Silas Martí originalmente publicadana Ilustrada do jornal Folha de São Paulo em 31 de julho de 2010
Grafiteiro e nome central da pop art ganha maior mostra no país desde 1983, quando esteve na Bienal de SP
Exposição no Conjunto Nacional reúne raras ilustrações para "The Valley" e "Apocalypse", de William Burroughs
Não há entrada nem saída no vale. Estreito demais, tem luz do sol só por algumas horas do dia. Seus habitantes desenvolveram uma espécie de milho azul que cresce à noite. Alimenta, mas corrói a boca até matar. Só a música mantém vivo esse povo.
Keith Haring, numa de suas séries menos conhecidas, ilustrou a alegoria distópica de William Burroughs com traços mais duros do que as cores vibrantes e fantásticas de seus bonequinhos que dançam e fazem sexo. Discípulo do pop, vindo das ruas de Nova York, Haring tinha um vale pessoal.
Levou o gueto do grafite às galerias mais descoladas de Manhattan e fez de sua obra um manifesto nos anos mais duros da epidemia da Aids, doença que acabou tirando sua vida há 30 anos.
Suas ilustrações do poema "beatnik" e todo um panorama de sua produção -quase cem obras- estão agora na Caixa Cultural. Desde que esteve na Bienal de São Paulo em 1983, é a maior mostra dedicada ao grafiteiro no país.
Voltados para o lado de fora da galeria, no Conjunto Nacional, estão suas séries mais célebres, a iconografia de Haring reproduzida à exaustão em canecas, camisetas e todo tipo de suvenir.
Ele mesmo tinha uma loja, a Pop Shop, na rua Lafaeytte, em Nova York, onde vendia suas séries, numa fusão do espírito pop com a ideia de arte pública de seus murais nas estações de metrô.
Do lado de dentro, obras do começo da carreira, com traços mais crus, mostram que Haring manteve sua galeria de personagens-chave em sua visão de vida, sexo e energia, mesmo com o banho de loja que ganhou depois na condição de celebridade.
Estão lá o bebê, energia humana, o cachorro, energia animal, as pirâmides, energia ancestral, e os discos voadores, energia futurista -todos emoldurados por linhas de ação. Também dançam ao som da música que ajudou a manter vivo esse artista.