|
junho 30, 2010
Mostra leva arte de rua de Nador ao museu por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de São Paulo em 25 de junho de 2010.
"Pinturas de Exteriores" escapam da contradição, por deixar claro desconforto da artista com o sistema da arte
Quando pichadores e grafiteiros buscam se institucionalizar, adequando suas obras aos espaços asseados de museus e galerias, ganha relevância a trajetória de Mônica Nador, que segue sentido contrário à tendência.
Nador surgiu como artista nos anos 80, a chamada década do retorno à pintura. No entanto, ao invés de seguir comportada nessa nova velha onda, declarou que "gastava-se tinta demais dentro dos museus, quando o mundo é que precisava de cores".
Desde então, seu trabalho mais reconhecido têm sido as "paredes pinturas", projeto que desenvolve em conjunto com diversas comunidades, em especial no Jardim Miriam, zona sul de São Paulo.
É lá que funciona o Jamac (Jardim Miriam Arte Clube), criado em 2004, que tem Nador à frente e mudou a aparência de dezenas de casas da região e de outras cidades.
"Pinturas de Exteriores", em cartaz na Estação Pinacoteca com cerca de 20 obras, poderia tornar-se, nesse contexto, uma contradição com as ideias de Nador.
No entanto, isso não ocorre, pois a exposição deixa explícito que o desconforto com o sistema da arte é inerente ao seu trabalho. Mesmo no limite do que se pode chamar decorativa -com repetições de padrões, como um papel de parede- sua obra é irônica o suficiente para desestabilizar esse conceito.
Além do mais, a mostra se completa com um trabalho feito por jovens integrantes do Jamac. A coerência entre suas paredes e as pinturas revela como é possível superar a possível dicotomia entre a rua e o museu.