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junho 9, 2010
Artistas não podem ser aprisionados por herdeiros em redomas privadas por Marcos Augusto Gonçalves, Folha de S. Paulo
Matéria de Marcos Augusto Gonçalves originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 4 de junho de 2010.
É preciso que se encontre um equilíbrio entre os poderes que herdeiros exercem sobre as obras e os direitos legados por parentes mortos e a dimensão pública da cultura, da arte e do artista.
Do modo como está, crescem as barreiras e os empecilhos para a circulação, interpretação crítica e reavaliação de bens culturais.
Em boa medida, a causa desses problemas está na perspectiva de ganhos materiais por parte de herdeiros. Isso não acontece apenas no território da arte.
São conhecidos os problemas que famílias podem criar para a veiculação de livros históricos e biografias acerca de parentes mortos.
O que muitas vezes se apresenta como intuito de proteger uma reputação não passa de disfarce para o propósito de ganhar dinheiro.
Nas artes plásticas, por características do mercado, que pode levar preços a alturas vertiginosas, a motivação material mal se disfarça. Pessoas famosas não podem ser aprisionadas em redomas privadas por filhos ou netos.
A tentativa de fazê-lo, mesmo que amparada em leis, ignora a intenção original do artista de se fazer figura pública e de divulgar sua obra -que do ponto de vista cultural se torna patrimônio de todos. Tudo tem limite.
Não sejamos hipócritas. Por que o herdeiro não pode ganhar dinheiro com o fruto do trabalho de seu antecessor e a instituição pode? Todos nós sabemos que a arte movimenta um mercado milionário e que as instituições, mesmo que se digam sem fins lucrativos, movimentam sim milhões, exploram os artistas em vida e querem enriquecer com o trabalho alheio após sua partida (muitos que morreram na pobreza, mesmo consagrados, não me deixam mentir). Eu acredito, que a (o) artista preferiria que um parente seu ficasse na gerência de seu acervo (eu preferiria) a essas sanguessugas que reduzem e faz da arte um supermercado. Isso me parece mais olho gordo, os familiares não podem tratar a obra de arte de seu antecessor como propriedade privada, mas, as instituições podem?
Nesses momentos lembram da vontade do (a) artista de tornar seu trabalho acessível, mas, na hora de expor uma obra interativa impedem a participação do público? Como fazem com os Bichos de Lygia Clark e/ou os bólides e parangolés do Hélio Oiticica. "Mas, isso é a preocupação de preservar para tornar acessível a gerações futuras",mas onde fica o respeito a proposta do(a) artista? A intenção de preservar para gerações futuras é autêntica ou a intenção de preservar é para manter em bom estado um objeto que vale milhares ou milhões para uma futura negociação?
"Mas é preciso dinheiro para manter e expor essas obras". Concordo, e por que seria diferente com os herdeiros? As instituições diminuem a obra de arte a um objeto, então não vejo justificativa em se colocar contra os herdeiros por fazerem o mesmo.
Só para deixar mais claro, deixarei um exemplo: a proposta de NÃO-OBJETOS nos Bichos de Lygia Clark deixa claro que o importante é a experiência vivida pelo interator no contato com a obra e não o objeto. O objeto foi criado com a consciência e o intuito de proporcionar a experiência, um vivo contato e findar COMO OBJETO, mas, se estender como vivência por gerações - uma vez que réplicas também podem proporcionar experiências Se sua proposta tivesse sido respeitada nem estaríamos tendo essa repercussão polêmica.
Repito! Não sejamos hipócritas!!!
Não me venha falar de acesso, de patrimônio de todos em defesa dessa ou daquela fundação e contra esse ou aquele herdeiro, se todos jogam esse jogo, se todos só pensam e NÚMERO$$$$.
A arte deve ser para todos e a arte é, por si só, acessível a todos. Mas, certos segmentos e produções artísticas estão reféns de uma elite opressora, que a vê como objeto de reafirmação de status.
Diante de toda essa baboseira, só tenho a dizer...
... SOLTE O REFÉM!!! rs
????
Posted by: ? at julho 3, 2010 8:09 PMA obra de Lygia Clark saiu da Bienal porque o seu curador assim quis.
As primeiras matérias que li, ele dizia que não tinha o dinheiro, agora ele diz que tem, portanto aonde esta a verdade? E se ele tinha é porque o valor cobrado pelos herdeiros estava dentro do normal.
A Sra. Medeiros deveria comparecer a Associação e conhecer os trabalhos feitos lá, e ver todos as inúmeras pesquisas nacionais e internacionais, mestrados,publicações existentes.
Assim como o trabalho feito com cegos, muito bonito feito pela neta de Lygia Clark.
Sou testemunha disso.
Pelo que sei este valor de 40 mil foi cobrado a outra instituição e não a Bienal e é uma multa pelo não respeito a obra da artista aonde cartazes com a foto da obra dela foi usado para convidar para essa exposição sem autorização no Nordeste,como um Museu que trabalha com artistas não respeita os direitos autorais?
Desrespeitaram sim, a familia não comunicando ainda quem seria a pessoa que que escreveria sobre a obra, provavelmente a mesma que usava o nome da artista sem autorização.
Concordo com muito do que vc diz Wanda, o direito autoral tem que ser respeitado, sim (talvez algumas alterações possam ocorrer para facilitar a difusão da arte). Só espero que isso não sirva de desculpas para encherem os bolsos e dificulte ou impeça o acesso para TODOS a arte.
Posted by: Anderson Benelli at julho 30, 2010 9:05 PM