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junho 7, 2010
Tempo em foco por Camila Molina, O Estado de S. Paulo
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 7 de junho de 2010
Para pensar os conceitos de efêmero e permanente, PhotoEspaña 2010, festival que se consolida cada vez mais na Europa, começa amanhã com 69 mostras em Madri, Cuenca e Lisboa, além das oficinas
O festival nasceu PhotoEspaña nasceu como um disparador para que a Espanha começasse a marcar seu espaço no território da fotografia. Acima, obra de Helen Levitt (Estate of Helen Levitt/Divulgação).
"É fácil reconhecer que uma das qualidades mais indiscutíveis da fotografia é sua capacidade de induzir e conferir interesse aos assuntos mais inesperados", define o moçambicano Sérgio Mah, diretor artístico do PhotoEspaña, o festival internacional do gênero fotográfico que vem cada vez mais se tornando uma referência no cenário europeu, ao lado dos franceses de Arles e de Perpignan. Conhecido apenas pelas iniciais PHE, o evento, em sua 13.ª edição, dá o início oficial de suas atividades amanhã e se estende até 25 de julho, promovendo 69 mostras, debates, oficinas e leituras de portfólios nas cidades espanholas de Madri e Cuenca e, pelo terceiro ano, também incluindo Lisboa (Portugal), que abriga no Museu Coleção Berardo exposição da nova-iorquina Collier Schorr.
"O diferencial em seu modelo foi a história de que é um festival em Madri e, por isso, espalhado em infinitas programações, diferentemente de outros em cidades pequenas, onde todos os participantes, de uma forma ou de outra, se esbarram pelas ruas ou nas programações", diz o fotógrafo brasileiro Pio Figueiroa, do coletivo paulistano Cia de Foto, selecionados para o PHE 10. O festival espanhol, por exemplo, se espraia por espaços importantes da capital, como o Museu Reina Sofia, a Casa de Américas, o Real Jardim Botânico, o Matadero Madrid e o Instituto Cervantes. E ainda consegue oferecer exposições de peso, como a mostra que apresentará antologia da produção da americana Helen Levitt (1913-2009) "suprema fotógrafa-poeta das ruas e da gente de Nova York", como definiu o crítico Adam Gopnick - é sua a imagem, feita em 1940, que ilustra acima esta página -, ou do húngaro László Moholy-Nagy (1895-1946), um vanguardista, professor da Bauhaus.
Território. Para voltar um pouco na história, o PhotoEspaña foi criado na década de 1990, quando Madri ainda era quase que uma capital provinciana em termos de fotografia, com poucos espaços expositivos dedicado ao gênero e ínfima inserção de obras fotográficas nos acervos de suas instituições. O festival nasceu, assim, como um disparador para que a Espanha começasse a marcar seu espaço no território da fotografia. Por trás do evento está a La Fabrica, editora e galeria centrada no gênero fotográfico, mas também o aporte do governo espanhol e de patrocinadores, numa maneira de internacionalizar o festival tal é o objetivo da diretora-geral do PHE, a francesa Claude Bussac.
Outro destaque. No Museu Reina Sofia estará a coletiva 'Manhattan: Uso Misto', com imagens da década de 1970. Obras de Gordon Matta-Clark e Zoe Leonard. Foto: Divulgação
O PhotoEspaña tem como característica convidar um curador para que ele faça um projeto linear de três edições seguidas do evento. Este é o último ano de Sérgio Mah como diretor artístico do PHE. O moçambicano tem apreço por temas simples, que conseguem aglutinar estrelas da fotografia e uma gama de questões - em 2008, o mote escolhido por ele foi Lugar; em 2009, Cotidiano; e agora é a vez do Tempo.
Singularidade. "Foi uma sequência de três temas muito abrangentes mas decisivos para refletir a pertinência e a singularidade do fotográfico na cultura contemporânea, não só em termos estéticos e conceituais, como em termos ontológicos e políticos", diz Mah, em entrevista por e-mail ao Estado.
"Por outro lado, procurei promover um entendimento do fotográfico muito para além da fotografia porque, atualmente, o cinema, a escultura, a pintura são também formas de conceber e experienciar o fotográfico", continua ele, exemplificando que na edição passada um dos destaques do festival foi a mostra de fotos pintadas do artista alemão Gerhard Ricther. Outro ponto central de sua curadoria é um interesse pela década de 1970, marcada por mudanças sociais e políticas e, ainda, época de aproximação entre os chamados "fotógrafos-artistas" e os "artistas que utilizam a fotografia", como define Mah.