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junho 1, 2010
Pai violento inspirou mortes simbólicas em várias obras por Fábio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 01 de junho de 2010.
Poucos artistas conseguiram atravessar um século e continuar afinados com a produção contemporânea. Louise Bourgeois é um desses casos raros.
Nascida na França e vivendo em Paris, nas décadas de 1920 e 1930, testemunhou o auge do modernismo em sua capital mundial, chegando a ser assistente de Fernand Léger (1881-1955), uma das personalidades do período.
Contudo, foi em Nova York, para onde se mudou em 1938, que se destacou como artista. Aliás, isso só ocorreu nos anos 1970, já que, por três décadas, o trabalho dela foi praticamente ignorado.
"Toda a minha obra, nos últimos 50 anos, todos os meus temas foram inspirados em minha infância. Minha infância jamais perdeu sua magia, jamais perdeu seu mistério, jamais perdeu seu drama", declarou no livro "Destruição do Pai. Reconstrução do Pai".
Possivelmente aí esteja a chave para a compreensão tardia da obra, afinal, foi só na década de 1970 que a junção entre vida e arte se tornou um modo de produção reconhecido.
As esculturas de aranhas, uma das maiores marcas da artista, têm inspiração tanto na infância -os pais trabalhavam com tapeçaria- como numa visão um tanto perversa do universo feminino. Em São Paulo, uma das aranhas está no Museu de Arte Moderna, no Ibirapuera.
Bourgeois ainda "matou" o pai em "A Destruição do Pai" (1974), uma jaula com mesa de jantar e cama, lugares vinculados aos prazeres, mas que, no imaginário da artista, também serviam para os filhos destruírem o progenitor, que, no caso dela, era um homem violento.
Numa das imagens mais famosas, uma foto tirada por Robert Mapplethorpe (1946-1989), Bourgeois, sorriso irônico, segura "Fillette" (1968), escultura em formato de pênis de látex. A imagem capta muito da essência da obra da artista: abordar temas complexos com formas simples e orgânicas.