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maio 28, 2010
Sem limites por Michele Rolim, Jornal do Comércio
Matéria de Michele Rolim originalmente publicada Panorama no Jornal do Comércio, em 26 de maio de 2010
O que é arte? Para que serve a arte? Ela é feita para ficar isolada dentro de um museu? Essas e outras questões serão discutidas na exposição Horizonte expandido, que abre hoje e segue até o dia 15 de agosto, no Santander Cultural (Sete de Setembro, 1.028 - de terça a sexta, das 10h às 19h; sábados, domingos e feriados, das 11h às 19h). A mostra reúne 72 obras de alguns dos nomes mais importantes nas artes visuais nas décadas de 1960 e 1970.
A iniciativa parte da comemoração dos 10 anos do projeto Areal. Concebido em 2000 pelos pesquisadores e artistas Maria Helena Bernardes e André Severo, propõe a realização de trabalhos artísticos normalmente não financiados por instituições convencionais do circuito de arte contemporânea. “Os trabalhos financiados ou feitos a convite devem ter um caráter expositivo, e a nossa proposta é que não tenha uma finalidade predeterminada, ou seja, que a gente comece uma experiência artística sem saber como ela vai terminar”, explica Maria. A dupla optou por viajar pelo Interior e Litoral do Rio Grande do Sul documentando através de livro e filmes as impressões dos lugares e das pessoas. “Vamos para os lugares e nos deixamos impressionar. Traduzimos isso, seja na literatura, cinema e artes plásticas. O projeto é isso: o não saber”, enfatiza Severo.
E é essa mesma dupla que assina a curadoria. Segundo eles, a proposta é mostrar as referências pelas quais o projeto se guia. “Quando fomos convidados, pensamos por que escolheram logo nós, que desistimos de trabalhar com exposições há algum tempo. Mas tínhamos uma dívida com o movimento que nos influenciou”, argumenta Severo.
Eles contam que receberam carta branca para montarem no espaço do Santander as obras - instalações, vídeos, imagens, fotografias e documentos - como os artistas queriam que elas fossem vistas. Para isso, não há mediação convencional, e sim uma biblioteca e documentos referentes a esses artistas, além de pesquisadores para falar sobre o assunto. “Queremos que as pessoas vivam suas próprias experiências”, defende Maria Helena. Também haverá 10 percursos (nas quartas pela manhã), nos quais os curadores caminharão pelo espaço expositivo conversando sobre a vida e obra dos artistas presentes. “Vamos falar sobre o sentido que esta exposição tem para a cidade e para nós”, acrescenta Severo.
Voz, face e escrita
Ao total, são 16 artistas reunidos na exposição Horizonte expandido. A mostra reúne obras de nove coleções internacionais, como Fundación Cisneros, Eletronic Arts Intermix e James Cohan Gallery. Estão presentes obras significativas para a história da arte, como o filme Spiral Jetty, de Robert Smithson, com sua célebre intervenção paisagística. “Esse autor deixou uma carreira promissora como escultor para realizar outro tipo de experiência, que não se limitasse à necessidade de expor”, explica Maria Helena Bernardes, responsável pela curadoria ao lado de André Severo.
Também estão expostas as atividades de Allan Kaprow, o criador do happening, e séries fotográficas e filmes de Ana Mendieta, Marina Abramovic e Chris Burden, em que se apresentam experiências dramáticas, seja pelo caráter político ou pela provocação dos próprios limites físicos, emocionais e existenciais.
O público gaúcho terá acesso, pela primeira vez, a obras de Gordon Matta-Clark, Nancy Holt, Vito Acconci, Dennis Openheim e os precursores da performance filmada, VALIE EXPORT (em letras maiúsculas mesmo) e o holandês Bas Jan Ader, além de performances caracterizadas por movimentos repetitivos protagonizados por Bruce Naumam. “Um dos destaques é a produção de Jan Ader que levou em conta tão radicalmente o conceito de arte e vida que acabou desaparecendo no mar quando estava realizando o seu último trabalho”, conta Maria.
A iniciativa também dá destaque para Victor Grippo, principal artista conceitual argentino. Além de Dan Graham e Vito Aconcci, que assinam filmes que marcaram a história da performance conceitual. Joseph Beuys e Hélio Oiticica ganham ênfase nos depoimentos e testemunhos de suas trajetórias marcadas por profundo entendimento da arte como forma de vida. “Tivemos o cuidado de escolher obras em que os artistas são uma presença viva na sala de exposição, o público pode ouvir a voz, ver a face e ler o manuscrito. A intenção é promover um encontro de fato com o público”, diz Severo. A entrada é franca.