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maio 14, 2010
Escultora se dividiu entre o marido e Marcel Duchamp por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 14 de maio de 2010.
Maria Martins viveu uma vida dupla. Passava parte do tempo como embaixatriz em Washington e mantinha um ateliê em Nova York, onde se encontrava com o amante Marcel Duchamp, um dos artistas mais importantes do século 20.
Em sua obra mais célebre, "O Impossível", Martins mostra um conflito entre seres masculino e feminino. São garras em riste e um ato sexual não consumado, metáfora para o amor que viveu com Duchamp.
Num poema, ela provoca o amante. "Quero que a lembrança de mim enrosque em seu corpo como serpente de fogo", diz um dos versos. "Para você, quero longas noites insones."
Em resposta à relação impossível, Duchamp decide então fazer sua obra mais enigmática, "Étant Donnés".
Ficou 20 anos trancado num ateliê secreto reconstruindo as formas de Martins para fazer a mulher que está nua num cenário fantástico. Nas cartas que escreveu para a amante ao longo dos anos 40, Duchamp implorava para que ela se casasse e fugisse com ele.
"Minha pequena, dediquemos todo o tempo possível a nós mesmos", escreveu Duchamp. "Nada vale o esforço de suar sangue pelos outros."