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maio 3, 2010
Novo secretário é neófito na cultura por Fernanda Mena, Folha de S. Paulo
Matéria de Fernanda Mena originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 3 de maio de 2010.
Andrea Matarazzo, 53, carrega sobrenome de peso no meio artístico e não tem nenhuma experiência em gestão da área
O novo secretário de Estado da Cultura de São Paulo, Andrea Matarazzo, não é especialista no assunto, mas costuma se identificar, em relação à cultura, como um "apreciador".
Apesar de a mudança ainda não ter sido anunciada pelo governador Alberto Goldman (PSDB-SP), Matarazzo deve assumir a pasta ainda neste mês.
Neófito na área, o empresário e ex-ministro disfarça a falta de experiência em gestão cultural com um sobrenome de peso no meio artístico.
Nesse métier, ele é conhecido como sobrinho de Ciccillo Matarazzo, que foi criador da Bienal Internacional de São Paulo, do Museu de Arte Moderna (MAM) e da companhia cinematrográfica Vera Cruz.
Nos tempos de escola, Matarazzo e a irmã Claudia saíam do Colégio Dante Alighieri para almoçar na casa de Ciccillo, no Conjunto Nacional.
"Os almoços reuniam gente diversa e interessante da vida cultural paulistana. Eram conversas malucas de artista que só muitos anos depois eu fui entender", lembra Claudia Matarazzo, chefe do cerimonial do governo do Estado, para quem o irmão "é um esteta".
Vaidoso, Matarazzo gosta de ternos bem cortados. Manda fazê-los no mesmo alfaiate que atende ao apresentador Silvio Santos. Gosta de flores e cuida com preciosismo das gardênias e de um pé de limoeiro que tem no jardim de sua casa no Morumbi, construída ao estilo de uma vila italiana pelo arquiteto Gian Carlo Gasperini.
Do convívio com o tio, ele herdou o gosto pelas artes plásticas e os quadros que decoram a casa. É lá -entre obras de Lasar Segall, Luiz Paulo Baravelli e Paulo von Poser- que Matarazzo reúne amigos, políticos, artistas e ao menos dois membros da família para longos almoços de domingo.
O ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB-SP), um dos melhores amigos de Matarazzo, é habitué dos almoços, quando vai da mesa direto para a frente da televisão. Ali, acompanha os jogos de futebol do dia, entre colheradas do suflê de chocolate com calda de baunilha que sempre faz sucesso com os convidados e o dono da casa, um chocólatra convicto.
Mais rara nesses encontros é a presença do também ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP). O trânsito fácil entre esses dois polos do tucanato paulistano, representados por Serra e Alckmin, é característica da atuação de Matarazzo.
A própria dança das cadeiras entre ele e o secretário da Cultura João Sayad tem sido interpretada como mais um episódio dessa costura.
"É surpreendente [a indicação de Andrea Matarazzo], por um lado, porque não sei o que esperar. Por outro, confirma que a cultura é uma área de negociação política, onde se acomodam determinados interesses numa determinada conjuntura", diz Ismail Xavier, crítico e professor de cinema na USP.
"Pior do que o Sayad é impossível", dispara o diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa. "Tenho esperança de que Matarazzo descubra a cultura e seu potencial produtivo."
Para Emílio Kalil, diretor de produção da Bienal, Matarazzo "é um homem muito preparado para a coisa pública" e deve fazer uma boa gestão.
O novo secretário começou a carreira como estagiário do banco Bradesco, aos 18 anos. Atuou em negócios da família, como a Metalúrgica Matarazzo, e ingressou na carreira política.
Como ministro das Comunicações do governo de Fernando Henrique Cardoso, em 2000, censurou entrevista de João Pedro Stédile, dirigente do MST, à TVE. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) interviu para convencer Matarazzo, seu primo, de que a medida fora exagerada. "Temos diferenças de opinião, mas nos respeitamos mutuamente", disse.
Foi à frente da subprefeitura da Sé e da secretaria das Subprefeituras de São Paulo, entre 2005 e 2009, que Matarazzo anunciou projetos até hoje inconclusos: construção de garagens subterrâneas no centro, reforma da praça Roosevelt e revitalização do bairro da Luz.
Também nesses cargos que protagonizou suas ações mais contundentes. Primeiro, foi acusado de perseguir os desafortunados: moradores de rua e dependentes de crack foram alvos de operações policiais e da rampa "antimendigo". Depois, numa guinada, passou a mirar os bem-sucedidos: fechou bares, casas noturnas, escritórios e até um desfile de Cris Barros.
Tal atuação espelha a do protagonista do seriado de TV preferido de Matarazzo, "House": um médico se preocupa mais com doenças do que com seus próprios pacientes.