|
março 8, 2010
Galeria expõe obras de artista vetadas por família de Oiticica por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 8 de março de 2010.
Venezuelano Jorge Pedro Núñez faz trabalhos com imagens do brasileiro
Um dos artistas selecionados para o polêmico Panorama da Arte Brasileira "sem brasileiros", com curadoria de Adriano Pedrosa, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, no ano passado, não mostrou as obras previstas para a mostra.
O venezuelano Jorge Pedro Núñez apresentaria colagens e fotomontagens que se apropriam de trabalhos de Hélio Oiticica (1937-1980), como os Metaesquemas e as Cosmococas, mas a família de Oiticica não autorizou sua apresentação por considerá-los plágio.
O MAM optou então por não comprar uma briga. No catálogo da mostra, contudo, estará a carta em que Núñez tentou convencer, em vão, os Oiticica a autorizar a exibição. As obras "não autorizadas", além de várias outras que se apropriam de outros artistas, como os quadrados de Josef Albers, estarão expostas, a partir de amanhã, na galeria Luisa Strina.
Apropriação é uma das modalidades mais praticadas na produção contemporânea. Ela pode ser vista nas colagens e gravuras de Rauschenberg, até recentemente em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, e mesmo no trabalho de Oiticica, que para criar suas Cosmococas utilizava fotografias, capas de discos, jornais e livros, como "Notations", de John Cage.
Em sua carta, Núñez explica que se trata de uma "homenagem" ao artista e que sua série de Cosmococas foi feita a partir do catálogo "Quasicinemas", da retrospectiva de Hélio Oiticica organizada pelo argentino Carlos Basualdo no New Museum, em Nova York. "Nem consultei a família Oiticica porque acho que esses trabalhos não têm nada a ver com plágio", disse Luisa Strina na montagem da mostra, anteontem. A Folha tentou falar com Cesar Oiticica, mas não obteve resposta. Além de Núñez, Strina apresenta também a série de 12 desenhos do argentino Matías Duville, "Esto Fue Otro Lugar".
Feitos em grande escala e apresentados no térreo da galeria, os desenhos lembram imagens de ficção científica criadas no início do século 20.