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dezembro 14, 2009
Mostra dedicada a Rauschenberg privilegia obras menos famosas por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 14 de dezembro de 2009.
Tomie Ohtake inaugura amanhã exposição do artista, morto no ano passado
O artista norte-americano Robert Rauschenberg (1925 -2008) costumava afirmar que a influência em sua obra de Josef Albers, com quem estudou no Black Mountain College, era "fazer o reverso" do que pregava o mestre.
No entanto, a mostra que o Instituto Tomie Ohtake inaugura amanhã, com quase cem obras de Rauschenberg, aponta o contrário: a experimentação com a cor, questão central para Albers, é um dos pontos principais das obras selecionadas.
Obviamente essa não é a vertente que levou Rauschenberg a se tornar um dos mais influentes artistas do século 20.
"Ele fez a ponte entre o expressionismo abstrato e a arte pop", diz David White, assistente do artista nos últimos 30 anos, que esteve no instituto para acompanhar a montagem da exposição. Curiosamente, Albers tampouco o admirava.
"Quando Albers via os trabalhos de Rauschenberg, ele fechava os olhos e comentava que nem queria saber quem era o autor daquelas coisas", conta o filho do artista, Christopher Rauschenberg, fotógrafo que passou pelo Brasil para expor em Brasília e também acompanhou a montagem da mostra.
Mescla de imagens
No Instituto Tomie Ohtake não estão as obras mais famosas de Rauschenberg, as "combine paintings", nas quais ele misturava a pintura aos objetos cotidianos, como colchões ou objetos empalhados, mas as 75 gravuras selecionadas apontam para um procedimento semelhante, onde ele mescla todo tipo de imagem.
"Durante uma época na história da arte, cada objeto num quadro tinha um outro significado, um cachorro podia representar o mal, por exemplo. Para meu pai, isso já não acontecia mais, ele mostrava as coisas pelo que elas são", conta Christopher.
Outro destaque da exposição são obras da série "Glut" (aglomerados), na qual ele se apropriava de restos encontrados no lixo, especialmente de metal, buscando "uma maneira de ver a beleza presente nos refugos", como diz Mimi Thompson, no catálogo da mostra.
A gravura, apesar de não ser a forma de expressão que o tornou mais famoso, esteve sempre presente em suas experimentações -quando Rauschenberg ganhou o Leão de Ouro, da Bienal de Veneza, em 1964, suas pinturas passaram a ser referência obrigatória.
Em 1953, ele espalhou 20 folhas de papel numa rua e pediu que seu amigo e colega do Black Mountain John Cage dirigisse seu carro com pneus recobertos de tinta, criando "Autombile Tire Print" (impressão de pneu de automóvel) e gerando uma radical forma de gravura.
Na mostra, esse episódio é tema da série "Ruminations" (ruminações), que aborda suas relações afetivas, como a com o próprio Cage.