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dezembro 11, 2009
Tunga surpreende e cria aquarelas delicadas em nova exposição em SP por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 10 de dezembro de 2009.
Escala monumental e materialidade são algumas das características recorrentes na obra de Tunga. Pesadas tranças feitas com metal, imensos caldeirões, tacapes repletos de pequenos ímãs são alguns trabalhos conhecidos do artista, que usa a força da gravidade como um dos elementos fundamentais de sua criação. "Quase Aurora", nova mostra de Tunga, em cartaz na galeria Millan, aparentemente contradiz tudo o que se conhece do artista. A exposição é composta basicamente por uma série de quase 50 aquarelas, desenhos etéreos, indefinidos, quase em suspensão, no sentido inverso dos objetos pesados que evidenciam sua obra. Nas aquarelas observam-se figuras evanescentes, como se seus corpos se dilatassem em gases que se expandem, às vezes transformando-se em palmeiras, às vezes misturando-se com outros corpos, às vezes simplesmente desaparecendo.
Alquimia
A sugestão de complexos processos de mutação, contudo, é que esteve sempre em suas obras, sempre marcadas por forte sugestão alquímica.
É só se lembrar de "Laminadas Almas", performance realizada na galeria Millan, em 2004, e depois no Rio, em 2006, onde a metamorfose era o tema central. Na ação, tomavam parte milhares de moscas e rãs reais junto com bailarinos e artistas, que incorporavam (simbolicamente, é claro), parte desses animais.
Sem dúvida, a simplicidade das aquarelas surpreende, mas a quase invisibilidade de seus desenhos também está presente nos campos energéticos de ímãs que Tunga usa em muitos de seus trabalhos, apontando aí outra convergência entre obras anteriores e a nova mostra.
Na produção contemporânea, há muita expectativa e pressão pela renovação da criação, pois a repetição é muitas vezes vista com desdém, e se espera que o artista consiga manter a capacidade de surpreender o tempo todo.
Em "Quase Aurora", no entanto, Tunga consegue reinventar sua própria obra, mas a partir de desdobramentos de sua linguagem, ampliando seu vocabulário sem buscar o novo pelo novo.
A surpresa, que de fato se tem, é frente à sua coerência: ele não precisou apelar a nada externo ao que já vinha realizando para se renovar por completo.
Serviço
Tunga - Quase Aurora - Desenhos inéditos
18 de novembro a 19 de dezembro de 2009
Galeria Millan
Rua Fradique Coutinho 1360, Pinheiros, São Paulo - SP
11-3031-6007
www.galeriamillan.com.br
Segunda a sexta, 10-19h; sábado 11-15h