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novembro 19, 2007
O Grande Vazio, editorial da Folha de São Paulo
O Grande Vazio
Editorial da Folha de São Paulo, originalmente publicado no dia 17 de novembro de 2007
Numa proposta que nem a filosofia desconstrucionista ousou fazer, o curador da 28ª Bienal de São Paulo, Ivo Mesquita, chamado às pressas para administrar a massa falida, sugere um modelo não-tradicional para o evento: uma exposição de arte sem obras de arte. Mesquita só não esclareceu se pretende cobrar ingressos para que os visitantes possam apreciar o Grande Vazio.
Sem recursos e tempo hábil para organizar a versão 2008 da segunda mais antiga Bienal do mundo, pretende deixar totalmente vazio um dos andares do pavilhão projetado por Oscar Niemeyer. A idéia é "convidar a um debate" sobre a instituição. Um dos pisos será dedicado à memória de eventos passados, e o térreo estará aberto a performances e exibições de vídeo.
Mesquita, cujas credenciais técnicas para ocupar o cargo são inquestionáveis, não é o maior nem o único culpado pelo desastre que se avizinha, mas faria melhor se não tentasse travestir o fracasso de modernidade.
A esta altura, o melhor e mais honesto seria suspender o evento do próximo ano e tomar as medidas necessárias para profissionalizar a administração da Fundação Bienal, a fim de que o malogro não se repita.
Não há muita dúvida de que o problema é de gestão. Num país com generosas leis de renúncia fiscal e estatais ávidas por patrocinar tudo o que se pareça com arte, soa estranho falar em falta de recursos para um evento com o porte e o prestígio da Bienal de São Paulo. Parece muito mais razoável acreditar que a organização não foi capaz de angariá-los.
É lamentável que o fiasco ocorra num momento em que o grande público se acostumava a visitar a Bienal e em que a produção de arte e o mercado brasileiro se fortalecem e ganham reconhecimento internacional.
Ser a 28ª Bienal mais recorde de visitantes, o grande espetáculo, a proposta do Ivo Mesquita que se apresenta é um desastre, com certeza não irá atrair o grande público, ainda mais se houver cobrança de ingressos, algo que não foi cogitado até o momento. Por outro lado é positivo esse grande debate em torno do "Grande Vazio" é um pouco a nossa falta de identidade aos rumos da nossa arte contemporânea que está transitório. É preciso medir as produções dentro do nosso contexto atual, é necessário referenciar e rediscutir o que feito no passado para pensar o hoje. Essa necessidade é sentida por muitos, mas contida de certo modo pela aceleração mediatica do que se produz no universo das artes contemporâneas de um modo geral. Concordo que o grande publico seja incentivado e tenha o hábito e curiosidade de vir as Bienais, museus, galerias...etc. O grande público sempre aplaude o que entende, é difícil uma pessoa traduzir algo que ela não compreende...Não é mesmo? Nosso público em grande maioria é ainda um jovem aprendiz e cheio de curiosidade. Para os educadores há a responsabilidade e o compromisso por repensar os formatos pedagógicos de ensinar a historia da arte moderna de ontem e a contemporânea de hoje em nossas instituições acadêmicas, lentamente isso já está acontecendo e sendo discutido entre os colegiados...A Bienal reverbera o que somos e o que produzimos, não é um espetáculo e sim um ponto de reflexão e de encontro com as manifestações artísticas internacionais..."O grande vazio" é a nossa realidade presente.
Não só no campo das artes, há também um grande vazio em todas as áreas cuja criação e identidade se fazem necessárias e urgentes...
Roberto Silva_artist plastico.
Ingresso no mundo das artes
Ingresso? Acho que não.
Imagino que existam muitas pessoas - todo mundo é artista, né Beuys? - como eu que me senti no direito de ocupar o prédio e divulgar meu pensamento artístico de forma "formiga".
Há muito tempo tenho questionado a instituição "feira de arte". Quem me fez primeiro pensar foi o arquiteto Paulo Mendes da Rocha ao pintar as paredes de "cinza médio" e espalhar bancos de praças no pavilhão da bienal que participou como arquiteto a alguns anos atrás.
Depois, ao visitar a Documenta de Kassel, percebi que feira de arte é tudo igual, só muda de endereço.
Arte-evento.