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outubro 1, 2007
Curador reorganiza obras do acervo, por Tereza Novaes, Folha de São Paulo
Curador reorganiza obras do acervo
Matéria de Tereza Novaes, originalmente publicada na Folha de São Paulo, no dia 1° de outubro de 2007
Quatro temáticas orientam novo sistema para exposição das peças do acervo; até abril segundo andar será modificado completamente
"A Arte do Mito" dá início ao novo formato de exibição; Teixeira Coelho pretende investir ainda em mostras temporárias internacionais
Quem conhece o acervo do Masp talvez não note grande diferença com a inauguração da exposição "A Arte do Mito", que poderá ser vista pelo público a partir da próxima quarta.
Mas, quando o quarto e último módulo da série, "A Arte Religiosa", entrar em cartaz, em abril do ano que vem, a mudança será bastante nítida.
Isso porque a nova configuração das obras do acervo está sendo gradual. "A Arte do Mito" ocupa apenas 25% da sala, ao fundo do segundo andar. O restante permanece mais ou menos como antes. Os outros dois temas são "A Natureza das Coisas", com paisagens e naturezas-mortas, e "Ver e Ser Visto", que enfoca retratos.
A idéia do curador-chefe, Teixeira Coelho, que assumiu o cargo há 14 meses, é eliminar a apresentação cronológica e por escolas que até agora organizava a coleção. "A vantagem do corte temático é que assim fazemos um contato direto, uma aproximação entre as obras que não tem barreiras", explica.
Houve ainda outras mudanças no salão do segundo andar. As novidades são as paredes pintadas com cores que absorvem a luminosidade e a mudança nos painéis que exibem as telas, que ganharam disposição diferente e abriram corredores de ponta a ponta da sala. "É uma vasta avenida, que reproduz um pouco os cavaletes da Lina", compara Teixeira.
Os famosos cavaletes de Lina, aliás, não estão nos planos imediatos do curador. "Os cavaletes são coisa do passado. Não dá mais. Eles quebravam sozinhos. Às vezes, de manhã, os funcionários encontravam as obras no chão", diz Coelho. Ele não descarta, porém, usá-los em outras ocasiões, como na mostra de Alex Flemming, realizada neste ano.
Segundo ele, a reconfiguração permitirá um pequeno aumento no número de obras expostas. Ao término, serão cerca de 260 peças -ainda muito pouco diante das 8.000 que compõem a coleção do museu.
"Deveriam colocar um busto do Ciccilo Matarazzo e um do Chateaubriand em cada esquina da Paulista", brinca Teixeira, que é professor de política cultural da ECA-USP.
As doações do primeiro formam a coleção do MAC-USP, que Teixeira já dirigiu; a do segundo deram origem ao acervo que ele dirige atualmente.
Além do acervo renovado, o Masp deve continuar realizando mostras temporárias.
"Da Bauhaus a (Agora!)", no subsolo, e "Arte e Ousadia - O Brasil na Coleção Sattamini", no primeiro andar, ficam em cartaz até o dia 28. A próxima grande inauguração será a tradicional mostra de fotos da Coleção Pirelli, em dezembro. Outras novidades só em 2008.
"Por mim, saía ontem", diz presidente do Masp
Matéria de Tereza Novaes, originalmente publicada na Folha de São Paulo, no dia 1° de outubro de 2007
Aos 75, Júlio Neves afirma que não tem interesse em continuar à frente do Masp e que não pretende se reeleger em 2008
Atual presidente foi eleito pela primeira vez em 1994 e já ganhou sete pleitos; sua gestão é criticada por profissionais das artes
O Masp entrou na vida do arquiteto Júlio Neves quando a atual sede ainda estava em construção. Em 1967, o brigadeiro Faria Lima, na época prefeito de São Paulo, convocou o então diretor do Instituto de Arquitetos para uma missão: acompanhar as obras do novo edifício na avenida Paulista.
"Ele chegou para mim e falou assim: "Você não quer ir lá no museu que estamos construindo na Paulista? Mas vai lá e vê se consegue fazer essa mulher gastar menos dinheiro". Era a Lina [Bo] Bardi", lembra Neves.
O futuro presidente do Masp não conseguiu fazer com que Lina gastasse menos. "Ela não estava nem aí", diz ele.
"Lina era uma pessoa de uma personalidade extraordinária, ela fez o que ela achou que tinha de ser feito, e o Figueiredo Ferraz viabilizou", conta, destacando o engenheiro que calculou a estrutura do prédio.
A construção já estava avançada, e Neves permaneceu até o seu término, quando foi convidado para entrar no conselho.
A primeira eleição que ele ganhou para a presidência do Masp foi em outubro de 1994. Foi vitorioso nas seis que se sucederam. Na primeira, tinha o objetivo de "pacificar" as duas tendências que brigavam dentro do museu -de um lado estava José Mindlin, do outro, Roberto Costa de Abreu Sodré.
"Era amigo de todos. De repente, saiu uma briga danada lá. E o pessoal mais ligado ao Sodré e ao Mario Pimenta achou que deveria me candidatar. Falei: "Tá bom, fico por dois anos, depois vocês assumem". Só que morreu o Mario Pimenta e depois o Sodré", conta.
O escritório do arquiteto assina projetos como o prédio da Fecomércio, na Bela Vista. Neves já ocupou a presidência da Nossa Caixa, entre 1970 e 1971, convidado pelo então governador Sodré. Sua gestão à frente do museu tem recebido críticas de profissionais ligados à arte.
Chega
Aos 75 anos, ele afirma que não pretende se reeleger presidente do Masp em 2008. "Por mim, eu saía ontem. Não tenho interesse. Chega", afirma.
Mas, quando o assunto é sua sucessão, ele tergiversa e discursa sobre a necessidade de profissionalização. "O problema do Masp é uma questão de sustentabilidade. A diretoria tem de ser remunerada, executiva, o museu não pode depender de mim, do A ou do B."
Por ser uma organização sem fins lucrativos, o Masp não paga os dirigentes. Neves, que descreve sua rotina como "trabalho, trabalho e trabalho", garante que metade de seu tempo é dedicado ao museu. A manutenção do prédio, que passou por grande reforma em sua gestão, é uma das principais contribuições que crê ter dado ao Masp. Evoca o arquiteto Rino Levi para situar a importância dos cuidados com o prédio: "Ele dizia com aquela voz: "Arquitetura moderna, se não tiver manutenção adequada, dá ruínas belíssimas'".