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novembro 10, 2006
Uma grata surpresa no prédio da Prodam, por Maria Hirszman
Uma grata surpresa no prédio da Prodam
Matéria de Maria Hirszman originalmente publicada no jornal Estado de S. Paulo em 7 de novembro de 2006
Na Paralela 2006 chamam a atenção o ineditismo e os acertados encontros
Quem for à Paralela, mostra organizada por algumas das mais importantes galerias em atividade em São Paulo para divulgar a obra dos artistas que representam nesse período efervescente de Bienal, terá uma grata surpresa. Uma não, algumas. Em primeiro lugar, a mostra não tem nada daquele ranço de feira que se espera de um evento que congrega diferentes empresas do mesmo setor. A seleção feita por Daniela Bousso, diretora do Paço das Artes e que assina a curadoria dessa edição do evento, contempla trabalhos de peso e mistura de maneira adequada as obras no espaço, obtendo - por sintonia ou contraste - tensões bastante interessantes. Convém lembrar, aliás, que a primeira edição desse evento, realizada em 2004 num galpão da Vila Olímpia e com curadoria de Moacir dos Anjos, já tinha conseguido um belo resultado.
A edição atual traz, no entanto, algumas novidades interessantes. Em primeiro lugar, provavelmente em função do sucesso da primeira edição, o evento cresceu. Não necessariamente em termos de obras. É verdade que em 2006 temos 12 galerias, em vez de 9. Mas o número de artistas caiu de 160 para 146 e o espaço foi multiplicado por dois. Ou seja, a mostra tornou-se mais representativa e diversificada do que se tem produzido na arte brasileira hoje e ao mesmo tempo tornou viável a exposição de peças de grandes dimensões, algo muitas vezes difícil de apresentar nos espaços menores e menos visitados das galerias.
Por fim, outra boa surpresa do evento é a descoberta pelo público do prédio até pouco tempo ocupado pela Prodam. O pavilhão, também projetado por Niemeyer, está desocupado, devendo ser ocupado no futuro por dois museus: o MAM e o MAC. A estrutura tosca, bastante desgastada pelo uso, compõe um cenário bastante interessante e despojado. Muitas peças dialogam de forma direta com a amplidão, o desgaste e as vocações contraditórias do prédio, como a grande escultura de gesso (um Pão de Açúcar às avessas) pendurado por Carlito Carvalhosa logo na entrada do segundo piso, a pintura de Paulo Almeida fundindo a paisagem do prédio com a do espaço da Galeria Leme, que o representa, ou da grande instalação de Henrique Oliveira, feita com madeiras velhas de construção que o artista recolhe pela cidade e que utiliza para compor uma obra que dialoga tanto com a escultura como com a pintura. Expandindo-se no espaço como uma parede grávida, a obra tensiona o espaço também por meio da cor já que é também uma grande composição cromática, construída por camadas superpostas de diferentes tonalidades de rosa.
São muitos os destaques da mostra, mas chama atenção um certo ineditismo, a tendência de vários artistas de aproveitar a ocasião para testar novos caminhos. Há também interessantes encontros, como aquele promovido entre a geometria liberta de Arthur Luiz Piza e Fábio Miguez. Também chama atenção alguns trabalhos que lidam com a face comercial desse evento cultural. Logo na entrada nos deparamos com os 300 capachos de José Damasceno que mimetizam a forma dos cartões de crédito (o título é Credit Carpet) numa referência a essa incômoda situação entre comércio e arte.
Mas talvez a grande tônica a permear essas obras seja um certo lirismo, uma mescla de lirismo infantil e onírico. Ora pendendo para uma certa perversão, como a instalação de Nazareth Pacheco que nos promete uma rede fascinante de miçangas coloridas para além de uma cortina cortante de giletes (o repouso inalcançável) ou as cascas de boneca de Lia Menna Barreto, ora resgatando recordações pessoais a partir de uma relação afetiva com os materiais, como faz Marcelo Silveira na sua recriação fantasiosa e surreal de lojinha de interior ou Laura Belém com sua Árvore Papagaio, ou pipas, como se diria em São Paulo.
Mesmo com uma forte presença da investigação formal, da exploração de novas linguagens ou da necessidade de levar a arte para além do mero campo estético e colocá-la mais em sintonia com as questões levantadas, por exemplo, pela vizinha Bienal, os artistas presentes na mostra demonstram uma atenta e agradável preocupação em criar obras ao mesmo tempo conceitualmente instigantes, formalmente bem-elaboradas e visualmente belas. Como exemplo podemos citar a exuberância barroca das pinturas de Luiz Zerbini, a fascinante instalação Vaga-Lume, de Valeska Soares, o mundo encantado criado por Luiz Hermano ou a alegoria arcaica de Anna Bella Geiger.
Paralela
Pavilhão Armando de Arruda Pereira Leite (antiga sede da Prodam)
Av. PedroÁlvares Cabral, s/n.º, portão 10 do Pq. do Ibirapuera,
telefone 3088-4530. 3.ª a dom., 10 h às 21 h. Grátis. Até 19/11.
Paralela 2006
Maria Hirszman amplifica por meio de seu texto a percepção do conjunto cultural singular que atualmente representa o Parque do Ibirapuera como um imenso laboratório/museu mutante de experimentações e realizações artísticas, com a 27a. Bienal de São paulo, a FIAT Mostra Brasil no porão das Artes, as excelentes exposições organizadas pelo MAM e utilização, pela Paralela 2006 do edifício da PRODAM - empresa de processamentos de dados do município.. Em minha opinião e de mais alguns visitantes que têm aproveitado a oportunidade de felizes convergências estéticas constituídas pela presença da arte neste Parque de Todos nós, poderia não somente ser comparada como até superar o que representou a Mostra dos 500 anos, talvez a mais ousada inicativa cultural contemporânea realizada no Brasil em períodos recentes. Imagino, obviamente, o que representou a criação, no IV Centenário, do conjunto arquitetônico, ambiental e cultural do Parque do Ibirapuera e da 2a. Bienal nos anos de 1953/54. O diálogo aberto à possibilidades de leituras não lineares, criando entroncamentos, nós, nexos, atalhos e fluxos, constitui uma catografia de afetos, arquiteturas de relações, um entre-lugar (não um não-lugar) carregado de sentido e poroso a múltiplas interpretações, traduções e apropriações. Se a 27a. Bienal Internacional se dilata no tempo e no espaço(Seminário, Residências artísticas, mostras, publicações, cnexões com espaços para além do Pavilhão Ciccilo Matarazzo), a Paralela 2006
concentra, potencializa e problematiza as mais variadas matrizes problematizadoras da arte comprometida com o agora.
Ana, resolvi comentar que a Paralela está potente a partir de um comentário bacana da Maria Hirszman, que é ótima e muito querida.
Posted by: ana mae barbosa at novembro 17, 2006 4:10 PM