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março 24, 2019
Silêncios por Christine Greiner
Silêncios
CHRISTINE GREINER
Sonia Guggisberg - Silêncios, Embaixada do Brasil - Atenas, Grécia - 28/03/2019 a 17/05/2019
Ao lidar com um certo modo de interceder na vida, absolutamente desinteressado dos processos de “representação”, Sonia Guggisberg passou a pensar seus processos de criação, instaurando em suas obras, procedimentos cada vez mais políticos. O que passa a dar sentido a essas experiências é o processo de testemunhar vidas anônimas, mergulhar nos seus movimentos, dissolver as alteridades e explicitar um certo modo de percebê-las a partir de imagens, sonoridades e gestos menores.
A artista Sonia Guggisberg faz parte desta comunidade cujos integrantes vivem espalhados pelo mundo e, mesmo sem se conhecerem, compartilham uma mesma indagação: como a arte pode interferir na vida daqueles que parecem ter sido despossuídos das próprias vidas?
Além disso, o que a artista parece ter em comum com esta realidade é o fato de nunca ter chegado, em sua vida pessoal, às
áreas de risco onde decidiu agir, com expectativas ou modelos dados a priori. Trata-se antes de mais nada de uma escuta, de estar lá, de viver com, observar e se deixar transformar pelo outro.
Este projeto expositivo é motivado pela experimentação na produção artística documental e busca linguagens que possam traduzir formalmente a necessidade de interrogar a presença do silêncio intelectual a respeito do gigante deslocamento humano e refúgio contemporâneo.
A pesquisa de Sonia Guggisberg diz respeito ao redesenho de identidades empreendido por milhares de migrantes que deixam a terra natal e se lançam ao mar, sem certezas nem destino. A desconstrução de suas singularidades é inevitável e com ela, a necessidade de transformação.
Neste cenário o pesquisa busca traduzir e interrogar a presença do silêncio em diferentes instancias. O silêncio sobre a invisibilidade de milhões de pessoas, o silencio das imagens que gritam pela urgência da realidade e de suas consequências ainda sem solução, o silencio que reflete o esvaziamento de vidas, de seus passados e futuros. Trata-se de um silencio que transforma a realidade em lacuna e apresenta seu testemunho em um discurso audiovisual e sonoro.
O objetivo desta exposição é apresentar algumas destas experiências, testemunhadas em territórios como na Grécia. O que conecta a diversidade dos experimentos é o esgotamento de corpos que foram obrigados a se deslocar. Despossuídos da sua própria vida, o que lhes resta é lidar com a vulnerabilidade e os desfazimentos de si. Não se trata de utopia ou de qualquer tipo de restauração. Há uma irreversibilidade que atravessa os corpos, indagando silenciosamente o que ainda é possível fazer quando sabemos que não estamos sós.
Aqui, a arte tornou-se indisciplinar e inexoravelmente política.
A indisciplinaridade temática das obras, alimentada por bases teóricas da arte e sociologia, é espelhada formalmente pela liberdade com que se aborda diferentes linguagens. As obras a partir da documentação do real, iluminam questões latentes e buscam traduzir em imagens o transbordamento da realidade que não se fez palavra.
A mostra propõe uma análise sobre as singularidades que são obrigadas a se redesenhar a partir de mudança forçada de seus países. A desconstrução e adaptação de milhões de pessoas é inevitável. Com a utilização de recursos áudio visuais, Sonia Guggisberg relata o redesenho das identidades de diferentes origens e suas consequências ainda sem solução.