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agosto 12, 2018

O Poder da Multiplicação por Gregor Jansen

Arte reprodutível na América do Sul e na Alemanha: do pré-digital ao pós-digital ou da gravura, passando pelo xerox, até o 3D.

MARGS, Porto Alegre - 11 de setembro - 11 de novembro 2018
SPINNEREI Halle, Leipzig – março 2019

Vera Chaves Barcellos (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 1938)
Marcelo Chardosim (Porto Alegre, 1989)
Carlos Vergara (Santa Maria, Rio Grande do Sul, 1941)
Hélio Fervenza (Santana do Livramento, Rio Grande do Sul, 1963)
Helena Kanaan (Bagé, Rio Grande do Sul)
Rafael Pagatini (Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, 1985)
Regina Silveira (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 1939)
XADALU (Porto Alegre, 1985)
Flavya Mutran (Porto Alegre, 1968)
Tim Berresheim (Heinsberg, 1975)
Hanna Hennenkemper (Flensburg, 1974)
Olaf Holzapfel (Görlitz, 1967)
Ottjörg A.C. (Heidelberg, 1958)
Thomas Kilpper (Stuttgart, 1956)
juntamente com a DIE WELT-Kunstedition, a Edition 46 do suplemento Magazin do
Süddeutsche Zeitung e o Feuilleton do F.A.S (edição dominical do Frankfurter Allgemeine
Zeitung).

Nós vivemos em meio a uma cultura em que os processos de reprodução
há muito conquistaram a hegemonia sobre os processos de produção.

Boris Groys

A reprodução compreende tanto todos os procedimentos manuais, mecânicos e eletrônicos de multiplicação ou cópia de um modelo como também a obra produzida por meio de reprodução. O conceito surge etimológica e historicamente com o verbo francês reproduire (›produzir novamente‹), registrado pela primeira vez no início do século XVI. Na ciência da arte, o conceito ganha relevância no século XVIII para denominar a transposição que reproduzia um monumento em suporte gráfico. Diferentemente do exemplar único, da réplica, da cópia ou da duplicata, reproduções são fabricadas em múltiplos exemplares teoricamente idênticos. A isso está geralmente associada uma troca de suporte, de tamanho e de dimensão. Inicialmente, reproduções de obras de arte só eram possíveis como cópias manuais (por exemplo, os tipos da escrita medieval), através de trabalhosos processos de fundição (cópias de estátuas da antiguidade) ou por meio de matrizes de madeira (estampagem de tecidos). Reproduções ou tiragens múltiplas são sobretudo instrumentos de comunicação contra o conceito autoritário de originalidade. Elas servem à propagação em massa, inclusive de propaganda (política) dos mais variados matizes - e à banal propaganda.

O projeto O poder da multiplicação é uma contribuição artístico-teórica à reflexão sobre a questão da reprodução hoje em dia. A exposição, com a curadoria de Gregor Jansen, diretor da Kunsthalle Düsseldorf, apresenta e põe em conexão 14 artistas contemporâneos do Brasil e da Alemanha.

Os visitantes da exposição experienciam a arte como aquilo que constitui positivamente uma sociedade. Devido à distância menor entre obra de arte e apreciador, a arte reprodutível transmite a ideia de que a participação ativa na estruturação da sociedade é possível e necessária. O projeto investiga as condições do pós-digital no pré-digital. A matriz da discussão sobre o original e sua reprodutibilidade no sentido de Walter Benjamin remonta ao século XV, quando impressão de livros, xilogravura e água-forte provocaram o surgimento de uma arte (e uma revolução) reprodutível em massa. Uma arte que desde sempre incluía classes sociais mais amplas, sendo assim mais democrática, socialmente crítica e menos representativa do poder. Trinta anos após o surgimento dos meios digitais, com os quais o acesso à informação e a reprodução se tornaram naturais, questões a respeito dos fundamentos estruturais, da possibilidade da reprodução e de seus conteúdos atualmente voltam a ser discutidas. Na era digital, questões imanentes aos suportes, como por exemplo sobre a relação entre original e cópia e sobre o teor de verdade da imagem, são totalmente ressignificadas.

Flavya Mutran coloca para si mesma e para nós a questão fundamental da imagem, abordando o problema da fotografia nos termos da teoria da mídia. Ao mesmo tempo, podem ser encontrados gestos políticos radicais, como nos casos de XADALU e de Marcelo Chardosim, que se engajam política e socialmente por meio da cópia em serigrafia, trabalhando de forma produtiva por melhores condições de vida. Uma complexa adaptação e ampliação de técnicas conhecidas de impressão pode ser encontrada em Carlo Vergara, Ottjörg A.C., Thomas Kilpper e Olaf Holzapfel, enquanto Helena Kanaan considera performativamente também o despir da pele e a clonagem do corpo. Do mesmo modo, Vera Chaves Barcellos, Regina Silveira e Hanna Hennenkemper dirigem seus olhares para transformações corporais e ao mesmo tempo midiáticas, que, no caso de Tim Berresheim, finalmente rumo ao puramente digital, descrevem de forma ilusionista e visionária uma nova era.

Em tempos de crise econômica, como é a situação atual em muitos países sul-americanos, a cultura e especialmente a arte adquirem um papel importante. A arte pode funcionar como um antídoto contra as tendências de polarização que estão ganhando força ao redor do mundo. Para a superação dessa cisão, é especialmente apropriada uma arte antielitista, de crítica social, distributiva. Uma rede sul-americana de ateliês conecta-se a toda uma pluralidade de tradições no campo da arte gráfica, atualizando-as ao proporcionar-lhes o acesso a contatos internacionais e novas técnicas.

Nos anos 1950, um grupo de artistas criou, no interior do Rio Grande do Sul e na capital Porto Alegre, os "clubes de gravura", nos quais trabalhavam e ensinavam coletivamente. Sua divisa era: arte para o povo. Assim, eles lançaram as bases para um dos mais importantes centros de arte reprodutível no Brasil. Até hoje existem na cidade diversos ateliês de arte gráfica, bem como uma linha de pesquisa em arte reprodutível na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

“O poder da multiplicação” é um projeto do Goethe-Institut desenvolvido em conjunto e com apoio de diversas instituições brasileiras e alemãs. Paralelamente à exposição será publicado um catálogo da exposição, editado pelo Goethe-Institut Porto Alegre.

Um videogame, desenvolvido por um grupo de pesquisa da Universidade Federal, complementará a exposição, discutindo de maneira lúdica questões em torno da reprodutibilidade. Ensaios, entrevistas, fotos e vídeos no site www.aura-remastered.art oferecem a possibilidade de um aprofundamento no assunto e na análise das obras exibidas.

Posted by Patricia Canetti at 1:00 PM