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maio 21, 2018
Escultura e movimento na obra recente de Analívia Cordeiro por Fernando Cocchiarale
Escultura e movimento na obra recente de Analívia Cordeiro
FERNANDO COCCHIARALE
O trabalho de Analívia Cordeiro combina princípios da espacialidade planar concretista (apreendida por meio da convivência cotidiana com seu pai, Waldemar Cordeiro, pioneiro da arte concreta brasileira nos anos 50) com a sistematização da teoria de Laban (aprendida com Maria Duschenes).
A esses princípios conceituais soma-se sua disponibilidade experimental permanente para a investigação poética demeios visuais eletrônicos (vídeos) e computacionais dos quais lançou mão, desde o início de seu processo criativo em 1973. São dessa época as coreografias especificamente concebidas para apresentação em vídeo, situando a produção da artista num território em que dançae artes visuais se entrelaçavam.
A antiga divisão da produção artística em artes do espaço (pintura, escultura, desenho e arquitetura) e artes do tempo (música, teatro e dança) considerava a oposição entre a efemeridade destas últimas e a permanência objetual das artes plásticas.
Romper com a sequência dos atos de uma peça teatral, com a sucessão temporal de sons da música ou com movimentos corporais, tornou-se um critério experimental que despertou crescente interesse tanto de artistas, quanto de teóricos e pesquisadores da contemporaneidade.
Seus trabalhos mais recentes foram feitos com base no software Nota-Anna – criado por ela e por Nilton Lobo −, que é capaz de condensar num único espaço vetores essenciais de sequências do movimento corporal humano.
Três chutes (dois de Pelé e um de Bruce Lee) estão na origem dessas esculturas e desenhos de Analívia Cordeiro. São trabalhos cujo sentido, portanto, ultrapassa a contemplação das qualidades formais quase abstratas das obras para alcançar um campo experimental resultante da objetivação de fluxos do movimento em esculturas e desenhos inesquecíveis.