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novembro 3, 2014
EAV 75.79 – um horizonte de eventos por Lisette Lagnado
We live in a transplanted culture
Memory
Burnt perfume
Burnt poem
Proposition for a culture that would be:
non-white, non-european, non-colonial,
non-geographical
O artista Rubens Gerchman (1942-2008) escreveu este poema em Nova York, onde residiu depois de ganhar o prêmio do Salão Nacional de Arte Moderna, em 1969. Como conduzir um programa “não-branco, não-europeu, não-colonial, não-geográfico”, e onde fazer circular esta ideia de cultura?
Não há terreno mais fértil para tamanha ambição do que uma escola. Mais ainda, uma escola de arte. Em 1975, Gerchman assume a direção do então Instituto de Belas-Artes e logo chacoalha sua estrutura. Desse embate surge a Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, erguido como “jardim da oposição”, enquanto ainda vigora no país um regime político militar.
A mostra “EAV 75-79 – Um horizonte de eventos” é uma dupla celebração. Além de dar destaque aos protagonistas que marcaram a gestão inaugural, comemora a possibilidade de tornar público o projeto Memória Lage que, graças a um edital da Petrobras de 2012, se empenha em sistematizar, catalogar e digitalizar doze mil documentos que hoje compõem os arquivos da Escola. A curadoria de Helio Eichbauer e Marcelo Campos é o primeiro fruto de uma iniciativa que não deve ser restrita a olhar para o passado, mas como fonte inesgotável de pesquisas.
Atualizar o ensino da arte no Brasil está na origem da EAV. Será que a proposição de Gerchman vingou? Esta pergunta, entre outras, deverá orientar em 2015 os festejos de 40 anos de aniversário da Escola de Artes Visuais.
Lisette Lagnado
Diretora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage