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dezembro 8, 2009
7ª Bienal do Mercosul: a minha escuta por Cecília Bedê
7ª Bienal do Mercosul: a minha escuta
Ficções do Invisível / Absurdo / Projetáveis / Desenho das Idéias
Cecília Bedê
Especial para o Canal Contemporâneo
Ficções do Invisível
“Se a arte é uma representação, estes artistas colocam em cena o que está por trás da cena. Se a arte é uma máquina, arrancam a couraça e nos mostram as suas engrenagens. Se é um corpo, expõem os músculos e os órgãos”.
A frase que da entrada para o último texto-relato sobre meu percurso pela 7ª Bienal do Mercosul é da curadora geral Victória Noorthoorn, responsável também pela montagem da mostra Ficções do Invisível.
Ficções do Invisível, seguiu o conceito definido como mote geral da Bienal – a evidência aos processos artísticos – porém, não se trata de expor aspectos da construção formal ou conceitual da obra, mas sim da construção dos processos internos de cada artista, enquanto sujeito social, com características diversas, que normalmente são sublimados pela obra acabada.
A exposição trouxe, vídeos e instalações que separados por imensas cortinas pretas, formavam ilhas dentro da imensidão escura. Em cada uma das ilhas, um artista desvelava uma realidade, seja ela pessoal e interna ou da ordem da convivência com o outro, com a cidade, país, com a arte. Os discursos são diretos e as linguagens escolhidas, correspondiam a essa velocidade de diálogo entre, artista – contexto – público.
Um sofá vermelho e poltronas antigas de frente para um telão. Uma mulher de vestido vermelho canta solenemente e por trás de toda a pompa, denúncia. O vídeo da artista argentina Ana Gallardo, A Boca de Jarro, aborda assuntos como o turismo sexual infantil, a prostituição como meio de sobrevivência e o descaso que ocorre dentro do seu país.
O paradoxo criado entre a cena montada e o texto cantado, nos coloca em uma posição incômoda e tudo se torna um tanto ridículo. A cena perpassa a virtude da tragédia e o grotesco da comédia, o épico e o burlesco como definiu um dia Aristóteles. E aqui, a artista aponta para uma situação que não é desconhecida de ninguém consciente, o medo de encarar o real. E ela continua cantando...
Absurdo
A 7ª Bienal do Mercosul teve sua inauguração no dia 16 de outubro de 2009 com evento de abertura as 18h30 desse mesmo dia. Até minutos depois da cerimônia oficial, um dos galpões continuava fechado. A única coisa que se via, eram toneladas de areia sendo depositadas dentro e fora do armazém. Lá estava sendo montada a mostra Absurdo, curadoria da artista Laura Lima.
Absurdo operou sobre a estranheza e a instabilidade, real ou ficcional, para a criação de um novo lugar. Estranho e instável como metáfora ou fato. Após sua abertura, ansiedades contornadas, esses conceitos se concretizaram, ao andar, ver e ouvir.
No fundo do armazém existia uma espécie de predinho branco, onde ao entrar e subir uma escada chegava-se a uma sala escura. Lá dentro os vídeos Lucia e Luis dos artistas chilenos Cristóbal Leon, Joaquin Cociña e Niles Atallah. Lucia e Luis são duas crianças que nos contam fatos e desabafam suas angústias. Lucia está contente, ela ama Luis, Luis tem raiva, xinga e com um sopro varre os móveis de sua casa escura. Tudo era surreal e apaixonante, a animação envolvia e deslocava o espectador para um outro lugar.
Projetáveis
No Santander Cultural, prédio localizado no centro de Porto Alegre, muito próximo ao Cais do Porto, estava a exposição Projetáveis, curadoria do artista argentino Roberto Jacoby. A mostra era o do resultado de uma seleção entre projetos enviados de diversas partes do mundo. As obras selecionadas deveriam se encaixar na categoria criada pela organização da Bienal, “Projetáveis”. A essa categoria se encaixavam trabalhos que do projeto à projeção evidenciassem a criação de sentido poético em diálogo com as novas mídias, fosse como plataformas de criação ou apenas de distribuição.
Vídeos, animações, filmes, net art, jogos interativos, transmissões online e ambientes imersivos ocuparam o prédio do Santander. Tal mergulho na rede, na interatividade e na processualidade teve dois momentos de interrupção. O primeiro veio ao me deparar, no vão principal do prédio, na maior de todas as paredes que tinham a função de projetar, com uma grande “etiqueta”. Lá estavam sendo projetados os nomes dos artistas, os títulos das obras, patrocinadores etc.
A segunda surpresa veio no momento em que subia uma das escadas do prédio. Uma projeção sonora do Coletivo C.D.M. (Centro de Desintoxicação Midiática), que em tom de rádio AM, liam trechos de diários do artista John Cage e frases de efeito criadas pelos próprios componentes do coletivo. Em uma dessas subidas ouvi: “Diga sempre aos outros o que eles devem ser, ou se não, eles serão eles próprios”. Se foi Cage ou o coletivo o produtor dessa frase eu não sei, o que interessa é a plataforma de chegada no receptor. A projeção no ar, sem visualidade, chegou tão rápido quanto a velocidade da internet.
A mostra Projetáveis se propôs a receber trabalhos de investigações atuais e ao expor as obras selecionadas nos põe diante dos novos desafios de se pensar uma exposição em espaços físicos.
Desenho das Idéias
Iran do Espírito Santo, Sem título, 2009
Essa é a primeira imagem que se tinha ao entrar no prédio do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) que abrigou a exposição Desenho das Idéias, curadoria de Victória Noorthoorn. Iran do Espírito Santo instalou na parede seus vários tons de cinza criando uma espécie de janela para um dentro. Não nos leva para outro lugar se não ao próprio trabalho, ao desenho inicial, à aplicação da tinta, aos cálculos feitos, ao processo de construção, aos cinzas.
A exposição abrigava trabalhos de diversas linguagens, épocas e realidades sociais e políticas mas sem pretensão historicista. Registros de performances, poemas visuais e sonoros, objetos e instalações. Do macro ao micro, de dentro pra fora. O mais transparente possível. Se o conceito de toda a Bienal era a investigação processual, uma exposição de desenhos foi essencial para revelar processos, projetos e criar diálogos com todas as linguagens presentes em todas as outras exposições da Bienal. Não é a toa que essa exposição foi considerada pela curadoria como a “Caixa de Ressonância”.
FIM
7ª Bienal do Mercosul: a minha escuta: Uma introdução / “A Árvore Magnética”, por Cecília Bedê
7ª Bienal do Mercosul: a minha escuta: Biografias Coletivas / Texto Público / Radiovisual, por Cecília Bedê
Qual é o sentido deste texto medíocre? Uma descrição de uma exposição mais medíocre ainda? Confeço que não entendi...
Posted by: Luis at dezembro 10, 2009 9:13 PMOi Luis,
Obrigada por ter lido o texto. Pena que do seu comentário não posso tirar nenhum proveito...